Islamofobia no Brasil e ateísmo pró-imperialista
O governo golpista de Temer-Meireles-Serra-Moraes aproveita
agora das olimpíadas para aumentar os mecanismos da repressão e coação contra o
conjunto da população trabalhadora. De acordo com os interesses golpistas, essa
manobra é fundamental para estabelecer no Brasil um regime contrarrevolucionário
que possibilite a ampliação do terror de Estado policial e militar suficiente
para executar o programa golpista: privatização da Petrobrás, liquidação do SUS
e da educação públicas, aposentadoria aos 70 anos, jornada de trabalho de 80h
semanais, etc. Para isso, estão usando o megaevento centrado no Rio de Janeiro,
onde os bairros proletários já estão sob ocupação militar através das UPPs, como
tubo de ensaio. Um dos ingredientes desta ofensiva está na justificativa para
criar artificialmente uma onda islamofóbica no Brasil. Para isso,
providenciaram a prisão arbitrária e espetaculosa de vários proletários identificados
como “possíveis terroristas” e assim, surfando retardatariamente da “guerra ao
terror” imperialista, criam uma histeria com o apoio do bombardeio da mídia
venal (Globo, Veja e assemelhados). A islamofobia tem provocado o aumento da
xenofobia, do racismo e das agressões contra a comunidade islâmica no Brasil e
aos imigrantes e refugiados em geral. Tudo isso, com a ajuda inestimável
prestada pelo covarde governo golpeado do PT que aprovou a legislação
antiterror contra toda resistência popular a ofensiva patronal e imperialista.
Reproduzimos abaixo uma análise feita pela LC-TMB sobre o progressivo artigo "New Atheism, Old Empire" (Novo Ateísmo, Velho
Império, clique aqui para acessar o artigo original), escrito por Luke Savage para a revista "Jacobin" que desmascaram
essa espécie de neoateísmo reacionário.
O novo ateísmo pró-imperialista nasceu na década de 1970. É
uma expressão ideológica da necessidade do imperialismo recolonizar o Oriente
Médio. Quando os EUA romperam em 1971 os acordos de Bretton Woods e substituíram
unilateralmente o padrão ouro pelo simples poder militar dos EUA sobre o
planeta e o controle da principal fonte energética mundial, o petróleo. Foi
então que o imperialismo faz a segunda ofensiva imperialista na região depois
da 2ª guerra mundial. Na primeira ofensiva foi imposto o Estado sionista contra
todos os povos oprimidos da região. Um aspecto da nova recolonização foi uma
suposta democratização no Oriente Médio, usando o estado de apartheid sionista,
de um lado, e o neoateismo islamofobico, de outro, enquanto setores
fundamentalistas islâmicos eram peões extremamente úteis aos EUA no Afeganistão
e em todo o mundo árabe-muçulmano para lutar contra a URSS e expansão do
comunismo no Oriente Médio, contando com o apoio do sionismo Hamas para
desestabilizar a esquerda secular da OLP.
3 elementos, em situações e momentos diferentes, o sionismo,
o fundamentalismo islâmico e neoateismo foram e seguem sendo funcionais para
imperialismo. Como assinala o texto de Luke Savage: "O neoateismo deve seu
sucesso popular e comercial inteiramente à 'guerra ao terror' e a sua utilidade
como um instrumento intelectual da geopolítica imperialista".
Um dos seus principais representantes, em "The End of
Faith", por exemplo, argumenta:
"O Islã, mais do que qualquer outra religião criada
pelos seres humanos, tem todos os ingredientes de um culto profundo da morte".
Em outro lugar ele escreve:
"As outras grandes religiões do mundo têm sido fontes
férteis de intolerância, mas é claro que a doutrina do Islã coloca problemas
exclusivos para o surgimento de uma civilização global." E para defender a
guerra no Iraque como uma missão civilizadora humanitária: "Nós não
estamos em guerra com o terrorismo estamos em guerra com o Islã"
Como cita Savage, um dos mais populares neoateistas
“Dawkins apoiou entusiasticamente o político da extrema-direita holandesa Geert Wilders, que pediu a proibição do Alcorão – um livro que ele compara com o “Mein Kampf” [de Hitler] – ao lado de mesquitas e dos imigrantes de países muçulmanos. Em 2009, Wilders enfrentou um processo judiciários por seus discursos de ódio, e por seu filme de 2008 “Fitna” que está repleto de imagens racistas como cabeça de Muhammad identificada com uma bomba-relógio. Dawkins: ‘Com a força de 'Fitna' sozinho, eu te saúdo [Wilders] como um homem de coragem que tem a coragem de resistir a um inimigo monstruoso."
Estes ideólogos do imperialismo "neo-liberal" são
ideólogos "leigos" das grandes empresas que atingiu o seu apogeu com
Obama que impulsiona uma reação pseudodemocratizante no Oriente Médio pela
"Primavera Árabe", um movimento contraditório que combinava revoltas
espontâneas contra os efeitos da crise económica no norte da África e no
Oriente Médio, que na ausência de uma liderança revolucionária passa a sofrer
influência de agentes imperialistas na região para tentar avançar a
recolonização onde Bush falhou e onde os seus planos foram frustrados pela
resistência de uma década de "guerra ao terror".
Assim como nos anos 70 e 80, durante a "Primavera
Árabe" o imperialismo também apelou para mercenário fundamentalismo
islâmico, saindo relativamente vitorioso na superexploração do petróleo da Líbia
(ainda que tenha se convertido em um problema político para a administração
Obama-Clinton quando se nota uma relativa autonomia das regiões balcanizadas em
negociar com as grandes corporações petrolíferas) e falhou na Síria, celeiro do
fenômeno do autodenominado “Estado Islâmico” (ISIS), armado, financiado e sócio
do imperialismo na extração de petróleo na região.
A partir de então, o imperialismo cria seu pior Frankstein, recorrendo
cada vez mais aos mercenários fundamentalistas, especialmente agora com ISIS,
para justificar uma nova ofensiva militar em toda zona. Como uma criação do
imperialismo, o ISIS, faz o trabalho sujo, enquanto o imperialismo articula uma
luta simulada, justificando no “combate ao terrorismo” a intervenção miliar, de
inteligência e política permanente na região, os investimentos dos EUA na
corrida armamentista. Tudo isso se vincula com o contra-ataque do império no
cenário criado pela crise imperialista de 2008 de expansão da influência da
China e Rússia no Médio Oriente (especialmente Irã e Síria), do Hezbollah no
Líbano e do Hammas, hoje inimigo do imperialismo e de Israel, por que a luta anti-imperialista
foi extremamente polarizada na Palestina, obrigando-o a representar resistência,
ainda que deformadamente, para suplantar a submissão e cumplicidade da OLP
(Fatah) com o sionismo desde a segunda intifada.
"Novo ateísmo, velho império" trata desses "pensadores"
que em nome dos valores do Iluminismo ocidental – valores que eles renegam para
se incorporarem outro aspecto mercenário
do imperialismo – para justificar a tortura ou ataques preventivos genocidias
contra o mundo árabe. Eles são algo como a ala "Iluminista" da sangrenta
ofensiva imperialista no mundo árabe.
Apesar da utilidade extrema de neoateísmo para o
imperialismo no imediato, é possível que um imperialismo pós-Obama, em um
contexto de maior peso da ala conservadora dos democratas no governo, apoie-se
mais nos outros elementos de dominação como o sionismo, as igrejas evangélicas
pró-sionistas, nos televangelistas, todos os inimigos do evolucionismo. Neste
contexto, as neoateístas vão perder força no meio da intelligentsia imperialista
e até venham a se parecer "de esquerda" em relação aos novos
governantes da Casa Branca. Tudo isso vai ser um prelúdio de uma nova cruzada,
onde o imperialismo reacionário buscará retroceder com todas as forças a roda
da história.
Somente uma nova internacional revolucionária dos trabalhadores, defensora do
ateísmo militante mas que não se deixe confundir sobre quem são os maiores
inimigos do progresso da humanidade poderá unir todos os povos e religiões oprimidas
Oriente Médio aos interesses históricos do proletariado para além das
diferenças religiosas na luta pela federação multiétnica das repúblicas socialistas.
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