Declaração do Comitê de Ligação pela IV Internacional (CLQI)
em defesa incondicional da Síria contra o imperialismo: Tirem as mãos da Síria!
O CLQI é composto pela Liga Comunista (Brasil), pelo
Socialist Fight (Inglaterra) e pela Tendencia Militante Bolchevique (Argentina)
28 de agosto de 2013
Temos todas as razões para suspeitar que o ataque químico
com gases sarin e mostarda (os mesmos utilizado pelos EUA contra o Vietnã), que
mataram centenas de pessoas nos subúrbios de Damasco foi mais um trabalho do
terrorismo imperialista na região. Todavia, os meios de comunicação
imperialistas e Obama tentam atribuir ao governo sírio o ataque com armas
químicas para justificar o bombardeio contra a Síria. Do mesmo modo como as
forças pró-imperialistas do KLA fabricaram a farsa do Massacre de Racak no
Kosovo em 1999 (todos os mortos eram combatentes do ELK) [1] para justificar o
bombardeio da Iugoslávia, exatamente como eles provavelmente estão fazendo
agora, para acusar o regime sírio de ultrapassar a “linha vermelha” e recorrer
a Armas de Destruição em Massa. Mentiras como estas foram usadas para
justificar a invasão do Iraque em 2003 e fabricar o incidente no Golfo de
Tonkin usado para justificar a Guerra no Vietnã. [2] É também uma reminiscência do incidente Gleiwitz um ataque encenado por forças nazistas que se apresentam como poloneses em 31/08/1939, contra a estação de rádio alemã Sender Gleiwitz em Gleiwitz, Alta Silésia, Alemanha (a partir de 1945: Gliwice, Polônia), na véspera da II Guerra Mundial na Europa. Isto foi usado para justificar a invasão da Polônia em 1939. [3]
Tem sido sempre assim, a espiral da barbárie imperialista
eclipsa um crime cometendo outro maior. O ataque do terror imperialista usando
armas químicas contra centenas de crianças e adultos na Síria ocorreu
imediatamente na sequência de um evidente Golpe de Estado no Egito, seguido por
um sangrento massacre de centenas de oposicionistas egípcios pelo governo
militar golpista pró-imperialista. Agora, cinicamente, o imperialismo segue sua
escalada terrorista ameaçando punir a Síria “para que não volte a usar armas
químicas”, quando sabemos que desde meados da década passada os próprios EUA
vem fornecendo armas e outras formas de ajuda para os mercenários terroristas
na Síria. O governo dos EUA tem alistado aliados no Ocidente e no Oriente Médio
e já começou a mover sua enormes máquinas mortífera aérea e naval para cometer
um novo genocídio contra os povos árabes. Eles usaram mentiras e manipulação da
mídia para alcançar este objetivo, como em operações anteriores, no Kosovo,
Afeganistão, Iraque, e, mais recentemente, na Líbia.
Nós reivindicamos a posição marxista ortodoxa de apoio
incondiciona à Síria nesta agressão e na guerra contra os “rebeldes”
patrocinados pelo imperialismo. Devemos seguir a tática de Lenin e Trotsky
diante da ameaça de Kornilov na Rússia em 1917. Defendemos o esmagamento dos
mercenários da FSA e da Frente Al-Nusra. Somos a favor de uma Frente Única
Antiimperialista (FUA) com Assad. Exigimos que Assad arme a classe trabalhadora
e faça uma convocação para o alistamento de toda a população no exército contra
os mercenários e o imperialismo. Mas nós não apoiamos o governo Assad. Esta é
uma questão de princípio. Os leninistas-trotskistas não apoiaram, não apoiam,
nem apoiarão qualquer governo capitalista. Como Lenin disse:
“Nem mesmo agora devemos apoiar o governo de Kerensky. Isto
seria uma falta de princípios. Vamos lutar juntos contra Kornilov? Claro que
vamos! Mas não é a mesma coisa [lutar contra o golpe de Kornilov e apoiar
Kerensky], há aqui uma linha divisória, que
alguns bolcheviques passaram por cima dela desviando-se para uma posição
conciliadora e deixando-se levar pelo curso dos acontecimentos. Vamos lutar e
estamos lutando contra Kornilov, assim como as tropas de Kerensky o fazem, mas
não apoiamos Kerensky. Pelo contrário, nós denunciamos a sua fraqueza. Existe
uma diferença. É uma diferença muito sutil, mas é uma diferença essencial que
não deve ser esquecida.” [4]
Rejeitamos a noção abjeta de que o imperialismo está
patrocinando qualquer tipo de “revolução” na Síria, o que ele faz é repetir o
que fez pela derrubada de Gaddafi na Líbia, assim como disfarçadamente apoia o
Golpe militar no Egito. Aqueles que justificam seu apoio aos “rebeldes
mercenários” na Líbia pelo assassinato do embaixador americano na Líbia há um
ano ou justificam seu apoio ao Golpe de Estado egípcio pelo apoio dos EUA a
Irmandade Muçulmana e a Morsi quando ele estava no governo, esquecem que o
imperialismo não tem amigos ou inimigos permanentes, apenas interesses
econômicos e geo-políticos. Os fundamentalistas foram apoiados no Afeganistão
nos anos 1980 e 90, mas o imperialismo lutou mais tarde contra eles no Iraque e
no Afeganistão. Aqueles que o imperialismo
armou na Líbia voltaram-se contra ele no Mali. Aqueles que agora o
imperialismo está patrocinando na Síria, através dos seus governos títeres no
Golfo, Qatar, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, mais tarde irão
combatê-los em uma nova arena. Mas se os EUA derrubarem Assad e derrotarem o
Hezbollah, terão alcançado simultaneamente seu mais importante objetivo
geo-político estratégico na região: ele vai remover a ameaça a Israel
representada pelo Hezbollah, a mais importante força de combate guerrilheira em
toda a região. Os EUA limparão o terreno para o próximo ataque contra o Irã. O
fato de ter que facilitar a ascensão de regimes bárbaros que podem futuramente
vir a enfrentar Israel é uma questão secundária para o imperialismo. A CIA
comemorou a queda de Cabul para o Taleban e o linchamento do ex-presidente
Mohammad Najibullah no Afeganistão em Setembro de 1996.
A ONU é, efetivamente, uma loja de brinquedos onde os
imperialistas permitem que as demais nações do mundo brinquem com os brinquedos
da diplomacia em questões secundárias, enquanto ele segue usando-a para
defender seu negócio, independentemente do que elas pensam. O imperialismo
ocidental bombardeou a Iugoslávia em 1999, apesar do Conselho de Segurança da
ONU não aprovar. O Imperialismo dos EUA considera a ONU como um instrumento
dele, pois é o seu principal financiador e país sede da Organização. A ONU é
assim apenas um escritório de retaguarda do Pentágono. A divisão no Conselho de
Segurança da ONU é inevitável e não pode mais ser conciliada já que o
imperialismo exerce um papel permanentemente predatório global - econômica, política
e militarmente. Isto deve significar guerra contra a Rússia e a China a médio
prazo. As consequências sociais sobre todos os continentes são nada mais que
danos colaterais para esse “antro de ladrões!” como Lenin descreveu a Liga das
Nações, em 1920.
Rejeitamos qualquer caracterização deste ataque ou de que a
guerra na Síria desde 2011 seriam um conflito “por procuração”
inter-imperialista liderada imperialismo ocidental contra o “imperialismo
oriental russo-chinês”. Os EUA e seus aliados no Reino Unido, França, Alemanha
e Japão controlam a esmagadora maioria dos recursos econômicos e militares do
planeta e são ainda mais belicosos agora do que as potências imperialistas eram
antes Primeira Guerra Mundial e Segunda Guerra Mundial. Eles estão patrocinando
a guerra por causa da queda da taxa de lucro do capitalismo, pois esta é a
única maneira de impulsionar uma taxa de lucro para suas corporações
transnacionais e os centros financeiros em Wall Street, na City de Londres,
Paris, Hamburgo e Tóquio.
O simples anúncio do ataque à Síria já turbinou os preços do
petróleo, mercadoria hegemonizada pelas “Sete Irmãs” controladas pelos os EUA e
Grã-Bretanha (Exxon, Mobil, Gulf, Socal, Texaco, Shell, BP) , cujos principais
parceiros no Oriente Médio, não por acaso, são Arábia Saudita, Qatar e Emirados
Árabes Unidos, justamente os principais financiadores diretos dos mercenários
sírios. “Em Nova Iorque, o preço do barril de petróleo crude [antes de ser
refinado] para entrega em outubro aumentou 3,23 dólares para 112,24 dólares o barril,
o máximo desde 03/05/2011. Já em Londres, o preço do barril de Brent, para
entrega em outubro, alcançou o máximo de seis meses, ao subir 26% para 117,34
dólares o barril. Os Estados Unidos, França e Reino Unido estão próximos de uma
intervenção militar na Síria, após a alegada utilização de armas químicas no
país.” (RTP, “Preço do petróleo sobe com receios sobre impacto de intervenção
militar na Síria, 28/08/2013) [5]
Essa guerra pode muito bem detonar a Terceira Guerra
Mundial. É essencialmente uma guerra global por mercados entre o bloco da OTAN
e o núcleo burguês da Rússia e China. As burguesias chinesas e russas não tem
sido fortes o suficiente para assegurar suas áreas de influência. Vemos isso
nos sucessivos recuos forçados da China na África, primeiro na Líbia, em
seguida, no Mali e, mais recentemente, na República Centro- Africano. Mas, se
comparados ao do imperialismo, os recursos da Rússia e da China combinados são,
de fato, insignificantes. Portanto, esta é uma guerra imperialista, patrocinada
pelo Ocidente, uma contra-revolução que também realiza uma limpeza étnica dos
curdos no norte da Síria, a fim de declarar um estado islâmico baseado na lei
Sharia com todas as consequências terríveis para mulheres e todas as minorias
sexuais que não professam a fé muçulmana sunita.
O patrocínio do terrorismo muçulmano sunita tem sido a principal
orientação estratégica dos EUA, através da CIA, desde a queda de Saddam, que
escolheu no xiita Irã o principal adversário objetivo na região. A Divisão de
Atividades Especiais da CIA realizou muitas ações secretas e “atividades
especiais”, como bombardeios de civis iraquianos xiitas em mercados para
promover a “violência sectária” em seu favor. Essa é a óbvia razão pela
crescente popularidade do governo Assad, não só entre as comunidades de
minorias étnicas, mas também entre os muçulmanos sunitas urbanos que querem
defender, no mínimo, o nível dos direitos e liberdades seculares que têm sob
Assad. Por isso, rechaçamos absolutamente a caracterização que este seja um
conflito sectário entre sunitas/xiitas, assim como o conflito na Irlanda do
Norte não é uma mera disputa sectária religiosa entre católico/protestantes. A
religião é sempre um manto ideológico sob o qual as pessoas são levadas a lutar
como aparência superficial sobre interesses econômicos, sociais e políticos
materiais reais. As linhas divisórias em ambos os conflitos, como em todo o
mundo semi-colonial, estão entre as forças do imperialismo e as forças
anti-imperialistas. Os revolucionários estão sempre inequivocamente no campo
anti-imperialista.
Aqueles que não lutam pela derrota de seus próprios
imperialismos na guerra e, neste ataque, fracassaram no primeiro obstáculo. Não
tem nenhuma utilidade para a classe trabalhadora. Sua principal motivação em
defender a falsa “revolução síria” é ganhar a aceitação da burocracia sindical,
sua camada social-imperialista, que é o principal pilar do capitalismo nas
fileiras da classe operária.
Saudamos o heroísmo dos bravos soldados do Exército Nacional
Sírio que sofreram terríveis baixas na defesa do direito à autodeterminação do
seu país contra a agressão patrocinada pelo imperialismo. Eles têm todo o
direito de obter armas e ajuda do Irã ou da Rússia. As “Forças Especiais”
imperialistas têm estado no terreno na Síria desde 2011. Das fileiras desses
lutadores anti-imperialistas da classe trabalhadora podem vir as forças para o
futuro partido socialista revolucionário que, por sua vez, acertará contas com
Assad e seu nacionalismo burguês reacionário cuja política econômica é quase
tão anti-operária e neo-liberal como a de qualquer país imperialista. Estamos
confiantes de que os rebeldes pró-imperialistas e seus apoiadores serão jogados
na lata de lixo da história por essas forças antiimperialistas.
Como socialistas revolucionários e antiimperialistas não
defendemos as posições nem a prática de governos nacionalistas burgueses
reacionários como as do “Líder supremo “ do Irã, Ali Khamenei, Saddam Hussein,
Muammar Gaddafi ou de Bashar al-Assad. Estes foram e são tiranos brutais e
pró–imperialistas. Nós nunca podemos esquecer o favor que Assad pai, Hafez al-Assad,
fez para os sionistas e para o imperialismo ocidental permitindo o terrível
massacre dos palestinos no campo de refugiados de Tel al-Zaatar, durante a
Guerra Civil Libanesa em 12/08/1976. E eles têm brutalmente oprimidos sua
própria classe trabalhadora, proibindo greves e executando e prendendo
dirigentes sindicais e impondo sindicatos estatais corporativos para oprimir os
trabalhadores. Mas há países oprimidos e opressores; nações imperialistas e as
nações semi-coloniais. Esta é a essência do imperialismo como dizia Lenin. Os
humanitários social-patriotas liberais que apontam para a terrível ação dos
tiranos semi-coloniais ou equiparam os seus crimes com os do próprio
imperialismo, merecem desprezo universal. Eles seguem a tradição de escolher um
“terceiro campo”, seguem a tradição terceirocampista, como Max Shachtman, ao
proclamar “nem o imperialismo, nem Assad, defendemos a classe trabalhadora”.
Esta tendência agora contamina a grande maioria dos grupos auto-proclamados
trotskistas internacionalmente. Todavia quase ninguém mais consegue ver os
rebeldes reacionários como genuínos revolucionários ou ver uma potencial
revolução dentro da manipulação imperialista. Nós não podemos lutar pelo
socialismo em nosso país aceitando a manutenção do espólio do império extraído
da opressão brutal de trabalhadores semi-coloniais e camponeses.
Nós estamos inequivocamente com Lenin sobre esta questão :
“Um ponto central no programa social-democrata deve ser
precisamente a divisão das nações entre opressoras e oprimidas, o que constitui
a essência do imperialismo, o que é mentirosamente ocultado pelos
sociais-chauvinistas e por Kautsky. Esta divisão é desprezada pelos pacifistas
burgueses e pelos utopistas pequeno-burgueses que acreditam na concorrência
pacífica entre as nações independentes no capitalismo, mas é uma divisão
essencial do ponto de vista da luta revolucionária contra o imperialismo” [6]
Se os governos burgueses da Rússia, China e Irã não
capitularem novamente e o imperialismo for consequente com seus próprios
interesses teremos uma Terceira Guerra Mundial. Nesse conflito, os
revolucionários não elegem um terceiro campo ideal confortável, não podem ser
confundidos como meros pacifistas, nem também nutrem ilusões nas burguesias
russa, chinesa, iraniana ou síria. A saída para a humanidade diante da barbárie
que nos ameaça está na luta pela derrota dos EUA e seus aliados, na vitória das
nações oprimidas e na reconstrução da IV Internacional, o partido mundial da
revolução socialista.
Abaixo o ataque imperialista contra a Síria!
Defender o direito à autodeterminação da Síria!
Derrotar os rebeldes patrocinados pelo imperialismo do
Exército Sírio Livre e a Frente Al- Nusra!
Armar toda a classe trabalhadora e os pobres das cidades
para combater o imperialismo e seu exército rebelde mercenário!
Formar comitês de trabalhadores nas cidades e no exército
para conseguir a vitória nessa guerra!
Destruir o Estado sionista de Israel, para formar um Estado
operário palestino multi-étnico!
Avançar para um governo de trabalhadores como parte de uma
Federação Socialista do Oriente Médio!
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Notas:
[1] Guerra ilegal da OTAN contra a Sérvia/As mentiras do Massacre Racak No Kosovo, http://www.youtube.com/watch?v=Z-muEj_E0PY
[2] Em 2005, um estudo interno da Agência de Segurança Nacional (NSA) concluiu que o Maddox havia se envolvido em um conflito com a Marinha norte vietnamita no dia 2 de agosto, mas não haviam navios de guerra norte-vietnamitas presentes durante o incidente de 4 de agosto. A pesquisa afirma que no dia 02/08: No 1505G, o capitão Herrick ordenou para abrir fogo se os barcos inimigos se aproximassem até dez metros. O 1505G Maddox disparou três rodadas para avisar aos barcos comunistas. Essa ação inicial nunca foi relatado pela administração Johnson, que insistiu em que os barcos vietnamitas atirou primeiro. No dia 04/08: Não se trata da existência de versões diferentes sobre o que aconteceu, é que nenhum conflito aconteceu naquela noite. [...] Na verdade, a Marinha da Hanoi não estava envolvida em qualquer operação ou ação de confronto naquela noite, apenas no resgate de dois dos barcos danificados em 2 de agosto. O incidente do Golfo de Tonkin, onde navios de guerra dos EUA foram supostamente atacadas por norte-vietnamitas PT Boats, citado pelo presidente Lyndon B. Johnson como uma legítima provocação que obrigou a realização da escalada belicista dos EUA no Vietnã, foi uma farsa encenada que nunca aconteceu. Isto é uma repetição exata do que Bill Clinton fez em 1999 e que Bush e Blair fizeram para atacar o Afeganistão e o Iraque em 2001 e 2003 e podemos ter certeza de que é o que Obama está fazendo agora na Síria.
http://en.wikipedia.org/wiki/Gulf_of_Tonkin_Incident
[3] Gleiwitz incidente, http://en.wikipedia.org/wiki/Gleiwitz_incident
[4] VI Lênin, Carta ao Comitê Central do POSDR http://www.marxists.org/archive/lenin/works/1917/aug/30.htm
[5] Preço do Petróleo sobe com receios sobre Impacto de Intervenção militar na Síria http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=676575&tm=6&layout=121&visual=49
[6] Lenin , V.I., “O proletariado revolucionário e o direito das nações à autodeterminação”, 16/10/1915