TRADUTOR

sábado, 7 de julho de 2012

CARTA AOS LEITORES

Medidas ‘anti-crise’ de Dilma,
matando a sede com água salgada
Editorial d'O Bolchevique #10
Gravura retratando a crise econômica de 2008
Estímulo ao crédito, redução do IPI, redução de juros bancários, ‘PAC das compras do governo’,... as medidas anti-crise de Dilma, de pesadas transferências de recursos estatais ao grande capital, expropriando trabalhadores através do arrocho salarial e do super-endividamento das famílias, ao mesmo tempo que retardam também potencializam a crise no Brasil


Na década passada, o governo Lula tentou blindar os capitais instalados no Brasil dos efeitos das crises econômicas (2001 e 2008), reorientando parte das exportações de commodities do país, que antes se dirigia a Europa e EUA, para a China, que no mesmo período suplantou os EUA como “locomotiva” da economia internacional.
Esta reorientação nas exportações, embora tenha retardado paliativamente a chegada da crise no Brasil, apenas acentuou o caráter semi-colonial agro-exportador do país. A aposta na China, que converteu-se no principal parceiro comercial do Brasil, favoreceu setores da classe dominante ligados ao extrativismo, como a Vale do Rio Doce, os magnatas da Soja associados a Monsanto, Eike Batista, etc., que acumularam enormes fortunas assim como os banqueiros.
Quanto à produção de bens de consumo, que até 2008 estava voltada para a exportação e ficou prejudicada com o estouro da crise internacional, o governo do PT apresenta como saída, o escoamento através do estímulo ao consumo em cascata: expansão do crédito das empresas e da população, renúncia fiscal e por fim antecipação e aumento das compras às indústrias pelo próprio Estado.

No começo de 2012, saltando de júbilo pelo estímulo ao consumo, o burguês que por muito tempo reinou como dono do maior oligopólio varejista do país, Abílio Diniz, comemorou: “O Brasil não é o País do futuro, é o de agora”, acreditando que o país estaria safando-se da crise ao trocar o “consumo externo pelo interno”. Todavia, indicando qual a perspectiva do crescimento econômico “brasileiro”, poucos meses depois, Diniz transfere definitivamente o controle acionário do grupo que inclui o Pão de Açúcar, as Casas Bahia e o Ponto Frio, para o controle da multinacional francesa Casino.

Sob os efeitos da crise e do aumento dos custos de produção, a “fábrica planetária” chinesa começou a desacelerar. Vale destacar que a China encareceu porque foi forçada pelo crescimento dos protestos salariais operários, por um lado e, por outro, através do estímulo ao consumo interno e criação de um mercado e de uma pequena burguesia que dê escopo a sua recriada sociedade burguesa.

Diante do declínio da demanda por commodities como o ferro e o petróleo brasileiros por parte da China, o governo Dilma dobra a aposta no consumo interno, aumenta o preço dos combustíveis, facilita o crédito e, através do “pleno emprego”, estimula o aumento da massa salarial do conjunto da população sem aumentar os salários, precarizando o trabalho e criando a escravidão por dívida da população trabalhadora. Disto trataremos mais adiante.

UM CANTEIRO DE OBRAS INÚTEIS
SOB UM “REGIME ESPECIAL DE CONTRATAÇÃO”

Assim como ocorrera nos EUA, também no Brasil uma parte do crédito expandido inflou a bolha imobiliária, alavancando a expansão da construção civil. É necessário destacar também que país virou “um canteiro de obras” para conter a queda da taxa de lucro, investindo em uma valorização de capitais que não competem no mercado mundial no sentido de que não se exportam e, por outro lado, que não têm que competir com as mercadorias importadas, impulsionando os chamados, setores ‘não trançáveis’.

Inclusive o crescimento da construção civil, um ramo produtivo, não esteve dirigido à realização de obras infra-estruturais, de transportes ou energia, mas voltado primeiramente ao desvio de recursos estatais para acumulação privada através do superfaturamento das obras – não por acaso a Delta é a principal empreiteira do PAC, do qual Dilma é “mãe”, e o pivô do maior escândalo de corrupção em evidência no momento – em nome da construção de obras inúteis para o desenvolvimento estrutural do país, como estádios de futebol e construções de luxo. Daí porque também o governo Dilma tenha realizado uma escandalosa legalização dos esquemas de corrupção através da criação de “regimes especiais de contratação”.

Quando acabar a festa, provavelmente com o fim dos Mega-eventos, os trabalhadores da “6ª economia mundial” vão sentir a ressaca com força, descobrindo que o país perdeu competitividade no mercado mundial e ganhou uma crise com efeitos como os que hoje são sentidos por nossos irmãos gregos e espanhóis.

Ao mesmo tempo em que a China desacelera, a Petrobrás revelou dados menos superestimados do Pré-Sal, deixando claro que o grande negócio que tornaria o país não só auto-suficiente, mas também “potência petrolífera mundial”, não passa de propaganda enganosa da era frente populista. Em conjunto com esta revelação, se evaporaram em 2 dias 14 bilhões de reais do valor de mercado em ações das empresas do mega-especulador tupiniquim Eike Batista, cujas empresas super-alavancadas por negócios como o do Pré-Sal já haviam “perdido” R$23 bilhões de valor de mercado em 2011.

Apesar do Pré-Sal responder por nada mais do que 5% dos 2,02 milhões de barris diários produzidos no País, quase metade (49%), ou US$ 43,7 bilhões, dos investimentos totais na área de produção da Petrobras (http://www.petrobras.com.br/pt/) “vai para a camada do pré-sal”, segundo o Plano de Negócios da empresa até 2016, anunciado no dia 25/06. O Petróleo brasileiro é caro e pobre e o país não possui refinarias. Mas o PAC atenuará este problema? Veremos: Por exemplo, as obras da Refinaria Abreu e Lima, no Estado de Pernambuco, estão com atraso de três anos. Foram orçadas em US$ 2,3 bilhões em 2005 e não sairão por menos de US$ 20,1 bilhões, quase dez vezes mais. As revelações foram feitas pela nova direção da Petrobrás para se cacifar diante da direção anterior indicada por Lula, como parte da luta intestina no interior da burocracia estatal frente populista. Sob o domínio do capital mais uma vez os grandes capitalistas donos dos grandes conglomerados de empreiteiras e o capital financeiro drenarão muito capital para seus bolsos e as refinarias continuarão a não existir assim como apesar do potencial energético o país continuará dependente também na área petrolífera.

ATÉ O AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO,
ESTAGNADA HÁ 30 ANOS, DEPENDE DA REVOLUÇÃO SOCIAL

Além de perder competitividade e manter seus “gargalos estruturais”, há 30 anos a produtividade anual da força de trabalho do Brasil possui uma evolução desprezível em relação ao crescimento mundial no mesmo período, ou seja, está estagnada. “Levantamento feito com 17 países da América Latina mostra que a produtividade do trabalhador brasileiro — medida pelo quociente entre PIB e pessoal ocupado — está entre as mais baixas: na 15ª colocação, segundo dados da instituição de pesquisa americana The Conference Board. No ranking mundial o Brasil aparece na 75ª posição. Com uma produtividade de US$ 19.764 por trabalhador no ano passado, o Brasil vai ficando para trás: de um ano para o outro, é estimado um avanço de 1,4% — abaixo da média da América Latina (2,1%) e aquém da mundial (2,5%). Nos países ricos, a produtividade alcança US$ 105 mil nos EUA e US$ 78 mil na Alemanha. ‘Esse indicador é a síntese da baixa qualificação do trabalhador brasileiro, dos gargalos estruturais e do baixo investimento. Também está refletido nesses números o modelo econômico do país, calcado na produção de commodities. Não investimos em produtos de maior valor agregado. Nessas condições, não há como crescer 4%, 4,5% de forma sustentada’, analisou Marco Tulio Zanini, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).” (Globo Economia, 18/03/2012).

Um país que assegura o desenvolvimento da produtividade do trabalho domina aqueles que possuem uma baixa produtividade. A revolução burguesa resolveu para um conjunto de países capitalistas a questão da criação de condições para uma maior produtividade do trabalho. A era frente populista acentua esta atrofia colonial, exaure como nunca antes as riquezas energéticas e a força de trabalho do proletariado a serviço dos capitalistas aqui instalados. Por esta incapacidade histórica de todas as variantes de governos burgueses em realizar as tarefas da revolução burguesa pendentes, é evidente que somente uma revolução proletária pode também na questão da produtividade do trabalho libertar o Brasil do parasitismo imperialista pago a um altíssimo custo pelo proletariado.

O endividamento das famílias é o maior em sete anos. Segundo último levantamento do Banco Central, dívidas consomem quase 43% da renda anual da chamada classe média e dos trabalhadores em geral.

A expansão do crédito e do consumo interno é um recurso “anticíclico” (contra os efeitos da sobreacumulação de capitais e da queda tendencial da taxa de lucro) aplicado retardatariamente por grande parte dos chamados países periféricos depois de ter sido esgotado nos EUA e EU. Note-se que os países periféricos seguem tardiamente a crise dos centrais detonadas precisamente pela expansão de crédito (bolha imobiliária em 2008 nos EUA e agora das dívidas na UE). Nações “emergentes” que através do desenvolvimento desigual e combinado haviam sido menos afetadas pela crise passada e até obtido alguma vantagem comparativa com a crise nas metrópoles, agora tendem a imergir em uma nova crise.

No último relatório do BIS (Banco de Compensações Internacionais) a instituição alerta para o risco de que Brasil, China, Turquia e Indonésia possam ser as bolas da vez porque o crédito tem crescido muito mais do que o PIB destes países. “A diferença entre o crescimento dos empréstimos e o da produção, o ‘gap do crédito’, chegou a 13,5 pontos percentuais nos últimos três anos no Brasil.” (Estado de São Paulo, 26/06/2012). Durante o governo Dilma, o endividamento da população trabalhadora com o sistema bancário passou de 6% do PIB para mais de 16%. Isto reflete a perspectiva de esgotamento da política de estímulo ao consumo e expansão do crédito pelo governo Dilma.

MARX E O SISTEMA DO CRÉDITO:
ALAVANCANDO A SUPER-ESPECULAÇÃO AOS SEUS LIMITES EXTREMOS

O BIS, conhecido como “banco central dos bancos centrais”, obviamente não está preocupado com o endividamento das famílias trabalhadoras, mas tão somente com a bolha que tende a estourar a partir de sua inadimplência. O BIS e os analistas burgueses também não se dispõem a explicar porque a expansão do crédito, uma varinha mágica capaz de dinamizar o consumo, provoca crise, além do que todos os comentaristas tratam de fazer, que é incutir culpa na “irresponsabilidade” do trabalhador ou trabalhadora que sem salário suficiente capaz de custear sua vida, tomou emprestado e não foi capaz de controlar suas economias, algo quase impossível diante da agiotagem do capital financeiro. Todavia, este fenômeno é conhecido dos marxistas há mais de um século. Como nos ensinara Marx em sua principal obra:

“Se o sistema de crédito aparece como alavanca principal da superprodução e da super-especulação no comércio é só porque o processo de reprodução, que é elástico por sua natureza, é forçado aqui até seus limites extremos, e é forçado precisamente porque grande parte do capital social é aplicado por não proprietários do mesmo, que procedem, por isso, de maneira bem diversa do proprietário, que avalia receosamente os limites de seu capital privado, à medida em que ele mesmo funciona. Com isto ressalta apenas a valorização do capital, fundada no caráter antitético da produção capitalista, permite o desenvolvimento real, livre, somente até certo ponto, portanto constitui na realidade um entrave e limite imanentes a produção que são rompidos pelo sistema de crédito de maneira incessante... Ao mesmo tempo, o crédito acelera as erupções violentas desta contradição, as crises e, com isso, os elementos da dissolução do antigo modo de produção” (O papel do crédito na produção capitalista, O Capital, Volume III, Tomo I).

Obviamente Marx tinha em mente a Inglaterra do final do século XIX que no momento era o centro do capitalismo mundial. Então como esta formulação pode se aplicar ao Brasil de hoje, uma semi-colônia periférica responsável por menos de 2% da produção de riquezas do planeta? Primeiro precisamos entender que Marx aponta neste mesmo capitulo dO Capital que o sistema de crédito é necessário para equalizar a taxa de lucro sobre a qual se assenta toda a produção capitalista.

A ‘FINANCEIRIZAÇÃO’ NÃO É A CAUSA,
MAS UM DOS EFEITOS DA CRISE

Mas que os leitores não deduzam daí que a crise tem como causa motriz a expansão do crédito, recaindo na tendência do senso comum completamente estranha à economia política marxista a explicar a crise mundial pela “financeirização” do capital, pelo “desprendimento do capital financeiro especulativo da produção real”, pela “hegemonia do capital financeiro”, por ataques especulativos e outras bobagens bem em moda dentre muitos que se proclamam marxistas. A “financeirização”, o que Marx já chamava de “super-especulação”, é uma conseqüência da expansão do crédito, um recurso “anti-cíclico” artificial para conter a queda tendencial da taxa de lucro a partir de uma contra-tendência.

As crises capitalistas não têm suas causas em fatores externos ao processo de valorização e acumulação de capital. O capital financeiro é a fusão do capital bancário com o industrial e não existe isto de “capital bom”, o produtivo-industrial e o “capital mau”, o especulativo-bancário. O teórico e militante trotskista Abraham Leon destacava que a tese maniqueísta que acabamos de refutar já servira também de argumento à reação fascista para justificar o confisco do “capital usurário judeu”.

Se a causa da crise fosse a especulação financeira, como cacarejam muitos pseudo-marxistas, a saída para a mesma estaria dentro da própria economia capitalista, seria a reorientação econômica para investimentos na “economia real”, industrial produtiva, como advogam o reformismo oportunista. A LC rompeu com estas concepções bastante comuns no pseudo-trotskismo, dedicando-se a aprender a economia política marxista, ferramenta essencial do materialismo histórico e dialético e, portanto do programa do partido revolucionário do proletariado.

A EXPANSÃO DO CRÉDITO É ÁGUA SALGADA,
QUE AGRAVA A SEDE AO CONTRÁRIO DE SANÁ-LA,
MAS NÃO É ELA A CAUSA DA SEDE

A chave da depressão que atingirá o Brasil deriva dos ciclos de recessão e crescimento da produção de capitais da indústria de manufaturados dos EUA, que corresponde a 1/3 da indústria mundial e que determina o padrão de rentabilidade, de preços e de concorrência mundiais. A vantagem relativa da qual os capitais instalados no Brasil se beneficiaram vem se esgotando após sofrer o impacto da retomada da produção industrial nos EUA nos últimos três anos. A inundação do mercado mundial com novas remessas de dólares combina-se com a pauperização da força de trabalho estadunidense, a expansão do exército de desempregados e a desvalorização brutal da massa salarial para pressionar para baixo o preço das mercadorias, exigindo medidas de ampliação da demanda por parte dos países capitalistas periféricos, medidas que resultam em efeitos distintos quando aplicadas a economias tão distintas como a Rússia, a China, países dependentes ou o Brasil semi-colonial.*

A própria retração econômica não passa de um efeito e não causa da crise que decorre justamente do fenômeno inverso, a sobre-acumulação de capitais e a influência das altas e quedas da taxa de lucro sobre as economias. É então que para tentar evitar a depressão os capitalistas recorrem, dentre outros truques paliativos, à expansão do crédito buscando ampliar as bases da demanda e dinamizando a velocidade da circulação monetária. Portanto, ao alavancar a superprodução e a super-especulação, como aponta Marx, a expansão do crédito, de uma só vez retarda a erupção ao passo que acentua as dimensões do caráter antitético da produção capitalista e, portanto, potencia a crise que foi retardada.

Na origem do retardo da recessão nacional está o impacto combinado e desigual da crise no Brasil. A crise detonada pela expansão do crédito nos EUA em 2008 e agora na Europa produziu recessão e demissões em massa. O relativo deslocamento de investimentos dos países centrais para o Brasil abriu 2,5 milhões de vagas de trabalho em 2010, ano apontado como ápice da escalada do emprego no país, quando atingiu-se o auge do que o governo falsamente denomina de “pleno emprego”.

Todo este capital monetário excedente combina-se com os mega-eventos fomentando uma grande especulação imobiliária, a valorização da renda da terra e agudizando o “problema da habitação” através do encarecimento do crédito hipotecário pela elevação do preço dos imóveis, enquanto aparentemente tenta seduzir a população trabalhadora com a redução das taxas de juros. Quem não pode participar deste cassino é desalojado, como é o caso das populações pobres que moram precariamente e dos que não conseguiram pagar o preço da casa própria. Não por acaso, a PLR, um engodo capitalista, que compromete o operário com o lucro que os patrões obtêm à custa de sua super-exploração, converteu-se em uma das principais demandas das campanhas salariais, principalmente entre o proletariado fabril, simplesmente porque esta quantia que corresponde a 2 ou 3 meses de salários alivia o sufoco das famílias soterradas em dívidas.

AS MEDIDAS ANTI-CRISE DE DILMA ARMAM
UMA BOMBA DE TEMPO CONTRA O PROLETARIADO

Como anunciou Marx no Manifesto do Partido Comunista: “De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las.” Os efeitos colaterais do remédio que vem retardando o ingresso do Brasil na crise a potenciam, fazendo com que ela possa chegar com mais força no Brasil quando acabar a festa. Isto demonstra o quanto são frágeis as bases materiais sobre as quais se assentam os setores da chamada classe média que tomaram crédito e no afã de ter um negócio próprio montaram empreendimentos de pequena e média escala que em sua imensa maioria acabam em falências miseráveis quando o ciclo de acumulação capitalista no país se conclua e com ele a era petista.

No dia seguinte à divulgação no Brasil do relatório do BIS, em uma tentativa de ofuscar a má notícia que se soma à estagnação industrial e às perspectivas de um crescimento do PIB inferior a 2%, foi lançado um novo pacote de medidas para estimular a economia. O ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciou que a União comprará neste ano R$ 6,6 bilhões a mais do que o previsto no Orçamento de 2012 em máquinas e equipamentos e bens produzidos no Brasil. No total, serão R$ 8,4 bilhões. Segundo o ministro, a União comprará 8.000 caminhões, a um custo de R$ 2,2 bilhões, 3.000 patrulhas agrícolas (com tratores e outros equipamentos), 3.500 retroescavadeiras e motoniveladoras, 50 perfuradoras para poços em época de seca, 2.100 ambulâncias, 160 vagões de trens urbanos, 500 motocicletas, 40 blindados para o Ministério da Defesa, 30 veículos lançadores de mísseis, 8.700 ônibus escolares e cerca de R$ 450 milhões em móveis escolares, entre outros. Associadas a estas compras, foi reduzido de 6% para 5% ao ano a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), referência dos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, a chamada Bolsa BNDES. Todavia, o montante adicional de compras anunciado fará pouco efeito sobre o PIB, uma vez que representa o acréscimo de 0,22% em 2012. O mercado financeiro recebeu friamente o PAC das compras do governo. Só para comparação, a restituição do Imposto de Renda feito no mês de junho foi de R$2,4 bilhões. Este ano já está perdido e cada vez mais as previsões apontam para baixo, para algo entre a estagnação e a recessão.

PAUPERIZAÇÃO RELATIVA ATRAVÉS DA ESCRAVIDÃO POR DÍVIDA

O leitor verá na edição número 10 d’O Bolchevique, no artigo “‘Crédito fácil’ de Dilma: Dando ‘mais corda para o enforcado’”, a sobre endividada população trabalhadora, e enforcando mais aos bancários” alguns elementos do que estamos falando, onde resgatamos caros conceitos marxistas que fundidos à análise da realidade das massas atual nos servirão de ferramenta para construir o programa revolucionário para o nosso tempo.

Ao contrário do “crescimento virtuoso” tão propalado pelo Ministro da Fazenda, o país entrou em um círculo vicioso em que cada vez mais tratou de criar a situação que o BIS alerta como preocupante: a de compensar a estagnação da produção comprometida, tanto pela estratégia agro-exportadora quanto pela crise econômica mundial, com a expansão do crédito, inflando as bolhas do endividamento das famílias e imobiliária.

A população sofre duas formas de empobrecimento: a pauperização relativa (aumento da distância entre o valor produzido pelo trabalhador e a parcela dessa riqueza produzida da qual este se apropria) do operariado estruturado e dos trabalhadores assalariados em geral que estão empregados e a pauperização absoluta de uma parte do Exército Industrial de Reserva, constituída por vítimas da grande indústria, mutilados por acidentes de trabalho ou adoecidos mentalmente pelo assédio moral e extrema super-exploração quando estavam empregados, imigrantes indocumentados levados à opressão extrema, camponeses expulsos de suas terras, órfãos, filhos de pobres que já nascem mendigos, que são arrastados em direção ao lumpemproletariado, para os quais foram criadas drogas que os definham e ceifam suas vidas como o crack. A luta contra a pauperização seja ela absoluta ou relativa é um combate onde se traça o destino da humanidade, trata-se de defender da ruína a classe revolucionária dentre os escravos contemporâneos, a classe que dá sustentação a toda humanidade e que precisamos impedir que caia na ruína, tornando-se “O Povo do Abismo”, expressão lapidar que é título do livro de Jack London.

Boa parte da popularidade do governo Dilma se assenta nas ilusões e no entorpecimento disseminados pelo endividamento fácil em favor da especulação imobiliária, da indústria automobilística e para a aquisição de bens simbólicos de ascenso social como celulares, tablets, eletrodomésticos (mini-máquinas), criando a ilusão na população trabalhadora de “ingresso na classe média” mediante a compra por super-endividamento de alguns “sonhos de consumo”, quase sempre, artificialmente estimulados.

Contra estas ilusões é preciso explicar às massas trabalhadores que todos os seus “sonhos de consumo” são produto de seu trabalho e a ela devem pertencer. É preciso formular um programa correspondente a estas demandas, que coloque ao lado da luta por um salário mínimo vital: a criação do 14o salário que incorpore definitivamente aos rendimentos fixos o que hoje é pago em forma de PLR, tendo como referência o teto máximo já conquistado, a abolição de todas as dívidas dos trabalhadores com o pagamento de sua casa própria e expropriação dos especuladores imobiliários, assim como o congelamento dos aluguéis, juros negativos com o capital comercial e com o capital financeiro, rumo à estatização de todo os bancos, grandes redes de supermercado, lojas comerciais e do grande capital imobiliário sob o controle dos trabalhadores.

Em cada greve e em cada luta específica é preciso trabalhar pacientemente, com calma e objetividade, para conquistar as massas contra a ideologia legalista e conformista burguesa incutida nelas e que as adormece, sobretudo os setores mais atrasados e despolitizados. Entre os trabalhadores organizados sindicalmente o centro deste combate é a disputa pela consciência política da classe operária da influência do lulismo e de seus apêndices da oposição pequeno burguesa ao governo Dilma (PSOL, PSTU,...), ou seja, a construção de uma nova direção política particularmente para a classe operária que participa da produção de riquezas, sobre a qual se assenta toda a sociedade brasileira. Para isto, é fundamental também furar o bloqueio da divisão sindical inter-burocrática da classe patrocinada pelo Estado capitalista, através da construção de oposições classistas na base de todas as centrais sindicais, combatendo a reforma sindical e defendendo um único sindicato por ramo de produção e a unidade de toda classe em uma só central.

O conjunto dos partidos burgueses e pequeno-burgueses da esquerda já no anúncio das coligações eleitorais realizam um verdadeiro streap tease, descortinando o fino e transparente manto socialista e deixando a mostra seu cretinismo eleitoral e oportunismo deslavado. As alianças ultra-oportunistas chocaram muitos que ignoravam que Maluf já era base aliada do governo federal quando Lula foi beijar o pé do arqui-reacionário corrupto para consolidar o apoio do mesmo à candidatura petista à prefeitura de São Paulo. Em medida similar, como adiantamos em primeira mão após o Congresso do PSOL, o partido de Ivan Valente se coligará com o não menos corrupto PTB e tutti quanti. O PSTU, por sua vez, salivando por um vereador a qualquer custo, trata de avermelhar a Frente Popular favorita à prefeitura de Belém composta pelo carrasco do funcionalismo municipal, Edmilson Rodrigues, do PSOL, e pelo PCdoB, convertido na era Lula em partido marginal da burguesia. Juntos estes partidos conspirarão contra as campanhas salariais de correios, bancários, petroleiros, metalúrgicos,... no segundo semestre. Sem cair no anarco-sindicalismo estéril, a vanguarda revolucionária dos trabalhadores precisa construir uma frente única para opor ao eleitoralismo uma ativa perspectiva classista e revolucionária.

A LC, em sua curta existência, deu passos importantes, através da construção do Comitê de Ligação pela Quarta Internacional, para romper com o isolamento nacional que não poupa nenhum agrupamento da deformação nacional-trotskista. Mas temos plena consciência de que, residindo a maior parte de nossas pequenas forças militantes em categorias de trabalhadores que não fazem parte diretamente da produção, um longo caminho ainda há por percorrer para o recrutamento do proletariado com o qual construiremos o partido trotskista internacionalista de combate. Mas colocar a questão de maneira franca, sem enganos e auto-enganos já representa um passo significativo para o alcance de nossos objetivos organizativos e estratégicos.

Humberto Rodrigues

* Diferenças entre países capitalistas dependentes e semi-coloniais: Como países dependentes consideramos aqueles que, sem emancipar-se da penetração econômica do imperialismo, conservam uma importante independência política, expressada sobretudo pelo fato de poder responder militarmente contra as ofensivas das próprias potências imperialistas, isto hoje em dia compreende aos chamados “Estados nucleares” que sendo nações burguesas não fazem parte dos centros imperialistas. (Nota de Leon Carlos da TMB argentina, antecipando um conceito que estamos desenvolvendo no CLQI e do qual trataremos no futuro).