páginas dO Bolchevique é atacada pelos seguidores
de Paulo Delgado/PT e defensores da "reforma psiquiátrica"
O último nº de "O Bolchevique" trouxe um artigo sobre saúde mental que visava fazer um contraponto e levantar em toda a "esquerda" um debate sério sobre a grave problemática da saúde pública, em particular a mental. Tal artigo gerou grande repercussão, devido ao bombardeio ideológico promovido pelas burocracias - a serviço do governo - na sua defesa radical da "anti reforma manicomial".
Procuramos fazer um debate no terreno da ciência médica, um princípio elementar da luta política e ideológica dos comunistas. Foi isso que nos motivou lançar em português "O Método Histórico de Karl Marx", um libelo contra o obscurantismo religioso e filosófico. A discussão sobre a reforma psiquiátrica é encoberta por uma nuvem de fumaça ideológica profundamente obscurantista; foi idealizada e implementada por pessoas que nada entendem de saúde mental, com apoio de uma minoria de médicos cooptados por esta política que, concretamente - como denunciamos - propõe: 1) a desresponsabilização do Estado no que tange ao tramento dos doentes mentais; 2) a divisão dos setores que militam profissionalmente na área da saúde, enfraquecendo seu movimento por ramo de produção, seus sindicatos e organizações; 3) promover a "economia" e o ajuste fiscal, destinando verbas da saúde para o cumprimento dos compromissos com o imperialismo e a burguesia dos governos desde FHC até Dilma.
Os dados apresentados no "O Bolchevique",
extraídos de matéria que ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de imprensa em 2008
("Sem Hospitais Psiquiátricos morrem mais doentes mentais", Soraya Aggege)
estão conjugados com a opinião embasada de pessoas como Nora Volkow, bisneta de
Trotsky, psiquiatra e especialista em drogadição, Valentim Gentil, mestre em
medicina psiquiátrica, professor da USP, Eliza Brietzke, doutora em psiquiatria
e autora do blog "A Psiquiatria e Você", Eduardo Kalina, maior
autoridade latino americana em dependência química e doenças mentais e diretor
médico do "Brain Center" em Buenos Aires, Santiago Kovadloff, filósofo
argentino e parceiro de Kalina em várias obras como "Cerimônias da
Destruição", e tantos outros. Um de nossos críticos qualificou nossas
fontes como "inconfiáveis"... talvez ele prefira a opinião do senhor
Paulo Delgado, que por sua defesa dos interesses da classe dominante tornou-se simultaneamente
membro do Conselho Permanente de Educação da Confederação Nacional da Indústria,
do Conselho de Responsabilidade Social da FIESP e do Conselho Político e Social
da Associação Comercial de São Paulo.
A falência dos Centros Assistência Psicossocial é uma
crônica de um fato anunciado. O tratamento de enfermidades da gravidade das
doenças mentais não pode ser feito de forma puramente ambulatorial, jogando os
doentes para suas famílias e posteriormente para a marginalidade.
Resta evidente que o modelo manicomial que teve vigência
principalmente na época da ditadura, tinha como um de seus principais objetivos
políticos o de "internar" militantes como "loucos" e
submetê-los a toda forma de torturas, como o Eletrochoque.
Ocorre que a depressão é hoje uma epidemia própria da
crescente barbárie imperialista que se alastrou por quase todos os países do
mundo, atingindo mais de 10% da população brasileira. O desenvolvimento de
antidepressivos efetivamente eficazes, comprometidos pelos interesses da
grandes multinacionais farmacêuticas, estão somente na sua terceira geração e
ainda carecem de um desenvolvimento tecnológico muito mais avançado, pois
somente na década de noventa, com a descoberta dos chamados "exames por
imagem", é que a neuropsiquiatria conseguiu começar a estudar o cérebro
humano em uma pessoa viva; até então as experiências eram realizadas com cadáveres
ou com animais. O avanço com os exames por imagem têm jogado uma certa luz
sobre a ciência médica, mas em particular a neurociência, um dos campos mais
obscuros e desconhecidos da humanidade em termos de medicina.
Sabemos que as mazelas crescentes produzidas pelo
capitalismo contemporâneo só serão eliminadas com a eliminação do próprio
capitalismo através da revolução social. Ao mesmo tempo, fazemos uma frente
única com alguns cientistas para tratar de atender as demandas imediatas das
vítimas deste modo de produção decadente.
Alem disto, o preconceito é o maior aliado da ignorância,
que de mãos dadas apóiam precipitadamente perversas políticas públicas
burguesas, que nada são que respostas aos ajustes fiscais propostos pelo FMI e
organismos internacionais do imperialismo. No caso da depressão, mas da metade
dos casos graves chegam a um ponto em que o doente não responde a nenhum tipo
de medicação antidepressiva, permanecendo em um estado de semi-catatonia e com
risco elevado de suicídio. O Eletrochoque era uma prática bárbara, mas assim
como o uso de sangue sugas deu origem a transfusão de sangue, este método deu
origem à moderna Eletro Convulso Terapia - ECG, aplicada em última instância,
quando o deprimido usou todos os medicamentos sem reação. A medicina - a boa
medicina psiquiátrica - é criteriosa e tem obtido bons resultados com esta
terapêutica. Reproduzimos a opinião da médica psiquiátra, Doutora, Elisa
Brietzke, formada pela UFRGS e hoje clinicando em São Paulo:
“A eletroconvulsoterapia (também conhecida como ECT)
consiste na aplicação de uma corrente elétrica na região das têmporas, sob
condições de anestesia (com o paciente dormindo e sem sentir nada). É
sabidamente um dos tratamentos mais eficazes da psiquiatria para depressões
muito graves, no transtorno bipolar e na esquizofrenia, e também tem uma
indicação naqueles casos em que, por algum motivo, o paciente não pode fazer
uso de medicamentos, como na gravidez. É interessante que, esse método,
permanece no imaginário de algumas pessoas não como um método de tratamento,
mas como um método de tortura, como se fosse um tratamento cruel ou desumano.
Acho interessante que, a maioria das pessoas que criticam o ECT nunca
presenciou uma sessão de ECT e muitas vezes, sequer conversou com um paciente
ou com um familiar de paciente que tenha sido submetido a esse método.
Recentemente o programa "Profissão Repórter" exibiu uma sessão de
ECT, o que foi muito esclarecedor pra muita gente. Depois do programa, algumas
pessoas que não são médicas, vieram comentar comigo o assunto, sempre com
aquele teor de"Nossa! Tanto barulho por uma coisa tão simples!". O
que acaba acontecendo, sempre que o preconceito ocupa o lugar da ciência, é que
a controvérsia acaba tomando uma cara muito mais política e econômica do que
propriamente médica. O que acontece com a ECT é que ela não faz parte da tabela
do SUS. E o que isso quer dizer? Quer dizer que se o hospital quiser oferecer o
ECT para os seus pacientes, ele vai ter que arcar com todos os custos, sem
receber absolutamente nada por isso. O que acaba acontecendo é que somente
hospitais universitários, que tem interesse em oferecer formação em ECT aos
seus residentes ou que sejam de serviços de ponta possuem preparo e aparelhagem
para ECT. E, o que é mais grave. A grande maioria dos hospitais com esse perfil
estão concentrados nas regiões sul e sudeste, deixando uma grande parte da
população desassistida. E, justamente, uma parcela da população que é portadora
de quadros psiquiátricos graves. Está na hora da sociedade refletir sobre o que
precisa ser feito para proteger as pessoas que são portadoras de transtornos
mentais e oferecer a elas o melhor tratamento possível para o seu caso. Esse é
um direito fundamental de todo o ser humano.”
A consciência política da Doutora Brietzke são louváveis, mesmo ela não sendo uma militante marxista. É uma cientista, estando conosco no combate ao obscurantismo. Reproduzimos aqui no blog o quadro publicado no "O
Bolchevique" e convidamos nossos leitores, simpatizantes e adversários a
lerem a matéria com critério e se são realmente pessoas comprometidas com o
avanço social, cultural e político da humanidade, juntem-se a nós na luta para que o preconceito e o
obscurantismo sejam eliminados.
Yuri Iskhandar