Carta de ruptura com a Liga Operária
A Liga Comunista publica a carta de ruptura de Ernesto Lopes com a Liga Operária. O camarada é trabalhador de uma importante categoria de Guarulhos. Em um momento histórico de profunda desmoralização da vanguarda de esquerda entre a classe operária, a LC é brindada com esta adesão ao seu programa, reafirmando o acerto de nossa jovem corrente por reconstruir o trotskismo principista dentro do proletariado.
Aos companheiros da Liga Operária!
Venho neste momento comunicar publicamente meu desligamento de toda atividade militante, bem como toda relação "formal" que me vincula à Liga Operária. Minha região de atuação politica nestes quase dois anos junto aos companheiros, foi entre os trabalhadores da cidade de Guarulhos. Fazendo uma avaliação de minha militância junto à Liga Operária, acredito que as divergências de caráter teórico-programático são gritantes, e ao longo do tempo estas divergências foram ganhando corpo e se tornaram enormes, por isso, não vejo mais motivo de estar dentro da organização. Tentarei esclarecer o mais breve possível os principais pontos onde discordo dos companheiros referente a questões teóricas:
Aos companheiros da Liga Operária!
Venho neste momento comunicar publicamente meu desligamento de toda atividade militante, bem como toda relação "formal" que me vincula à Liga Operária. Minha região de atuação politica nestes quase dois anos junto aos companheiros, foi entre os trabalhadores da cidade de Guarulhos. Fazendo uma avaliação de minha militância junto à Liga Operária, acredito que as divergências de caráter teórico-programático são gritantes, e ao longo do tempo estas divergências foram ganhando corpo e se tornaram enormes, por isso, não vejo mais motivo de estar dentro da organização. Tentarei esclarecer o mais breve possível os principais pontos onde discordo dos companheiros referente a questões teóricas:
1- CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
Os companheiros caracterizam o Brasil como um país semifeudal pelo fato de se manterem no país relações totalmente arcaicas de produção como, por exemplo, o latifúndio, sem, no entanto, fazer uma análise mais aprofundada sobre o caráter da colonização brasileira. Assim ignoram o desenvolvimento desigual e combinado da formação socioeconômica de nossa sociedade, onde neste processo se mesclaram formas arcaicas de estruturação econômica como o escravismo, que há muito já tinha desaparecido na Europa, com uma colonização voltada para as exportações de matéria prima para o mercado capitalista que crescia internacionalmente.
Portanto, a formação econômica e social do Brasil se deu no bojo do crescimento e internacionalização do capitalismo como sistema dominante, o que deixa claro que a colonização foi de caráter capitalista, onde a mão de obra escrava se interligava à uma produção mercantil, sendo ela mesma um dos itens mais comercializados na época. Além disso, a sociedade feudal se caracterizava por não produzir senão valores de uso, fato que não ocorreu com a colonização brasileira, onde os produtos agricolas eram exportados diretamente para o mercado europeu.
Depois de várias transformações em sua economia, o Brasil permanece preso e totalmente submetido à divisão mundial do trabalho, onde sua "especialidade" se encontra nas exportações de commodities, fato que impulsionou principalmente com a globalização neoliberal, a penetração do capital financeiro no campo e sua aliança com a agro-indústria junto ao latifundio, aprofundando a dominação imperialista no campo brasileiro, promovendo desemprego massivo entre os trabalhadores rurais e consequente êxodo rumo às grandes cidades, aumentando ainda mais as fileiras do proletariado. Desta forma, como um pais pode ser semi-feudal, se a maioria esmagadora de sua população vive nas periferias das grandes cidades: segundo o censo do IBGE de 2010, 84% da população brasileira vive em áreas urbanas, enquanto a população rural é de 15%; o próprio IBGE em um estudo de 2009 sobre a composição do PIB nacional, aponta que a Agropecuária teve uma participação de 6,1% nesta composição, enquanto outros setores como Serviços e Industria, tiveram uma participação muito maior, sendo 68,5% e 25,4% respectivamente cada, apesar do pais ser um dos maiores exportadores de produtos primários do mundo, números que refletem que 90% dos trabalhadores responsáveis pela quase totalidade da econômia do país está nas cidades e não mais no campo.
O próprio setor ligado a produção de etanol passa por um processo de completa desnacionalização e concentração; segundo reportagem da revista "Caros Amigos" de número 172 deste ano, afirma que "hoje, o setor de etanol tem a participação de 22% do capital internacional...", empresas imperialistas como a Shell por exemplo, vem adquirindo usinas nacionais e aprofundando ainda mais o controle do capital estrangeiro sobre o setor, mostrando a tendência cada vez mais crescente do aprofundamento da dominação capitalista no campo.
Esta discussão é importante, poís a definição social e econômica de tal sociedade exige um determinado programa que norteará a estratégia politica dos revolucionários, podendo decidir a sorte de uma revolução como nos mostra a experiência russa de 1917. Assim tentarei demonstrar outro ponto de divergência teórica com os companheiros, que diz respeito ao caráter da revolução brasileira.
2 - REVOLUÇÃO DE NOVA DEMOCRACIA OU SOCIALISTA?
Esta pergunta nos remete de volta a caracterização da sociedade brasileira, poís dessa forma se exigirá programas diferentes rumo a transformação da sociedade.
Ao definir o Brasil como um país semifeudal, consequentemente os companheiros caem na velha cantilena menchevique de revolução por etapas enterrada pela história. Assim como os mencheviques em 17, defendem que na primeira etapa da revolução o proletariado esteja totalmente preso à burguesia nacional "progressista", para só depois pensar no socialismo.
De acordo com o caderno de teses da Liga Operária, no seu ponto que trata da estratégia revolucionária para o Brasil, em seu titulo já se percebe claramente a semelhança com o programa etapista menchevique, o titulo diz: "Construir o programa democrático [?] e estratégico dos trabalhadores". Logo em seguida, no seu primeiro ponto, o programa revolucionário de Nova Democracia diz respeito não ao programa marxista da criação de um estado proletário, mas ao "Estabelecimento da República Popular do Brasil", em uma ampla frente que inclui a burguesia dita "progressista" e logo em seguida no seu quinto ponto defende a seguinte posição antimarxista: "Respeitar e assegurar a propriedade da burguesia nacional (média burguesia), na cidade e no campo". Ora, se continua havendo propriedade burguesa, continua havendo exploração e classe. Portanto, na 'Nova Democracia' continuariam havendo patrões tanto no campo quanto na cidade explorando trabalhadores. A função dos comunistas revolucionários não é assegurar a propriedade da burguesia, qualquer que seja ela, contra a luta dos trabalhadores; esta concepção da Liga Operária nega por completo a necessidade de uma revolução social para estabelecer a ditadura do proletariado em aliança com os camponeses pobres, assim como nega também o materialismo histórico, caindo num idealismo vulgar e sua falsa esperança de estabelecer uma colaboração de classes 'progressista'.
Ao contrário, junto com os grandes do marxismo, acredito que as condições objetivas para a revolução socialista só não estão maduras como já começam a apodrecer, que as forças produtivas da sociedade dentro dos marcos do capitalismo não só não se desenvolvem mais como já começam a retroceder se tornando forças destrutivas, que o capitalismo em sua fase imperialista mais do que nunca limitou as burguesias semicoloniais em seus sócios menores que comem de suas migalhas, tornando-os totalmente conservadores e contra revolucionários.
Portanto, sem nenhuma pretensão teórica, tanto os dados como a análise cientifica da sociedade brasileira, nos mostra que o Brasil é um país semicolonial, com um capitalismo atrasado, desenvolvido tardiamente e totalmente condicionado pela burguesia imperialista, tendo como tarefa central para libertá-lo a revolução socialista. Naturalmente isso significa que as tarefas democráticas históricas como reforma agrária, independência nacional e etc., que as burguesias nacional por sua covardia frente a seus amos imperialistas foram incapazes de levar adiante, só podem ser resolvidos através da ditadura do proletariado apoiado no campesinato.
É interessante notar, que não se trata apenas de um debate teórico subjetivo, trata-se de um programa real da emancipação da classe mais revolucionária que já existiu, o proletariado, e sua tarefa histórica de livrar todos os explorados do jugo da sociedade de classes. Neste contexto, um programa que tenta impor uma revisão descarada em parte da teoria marxista poderemos classificá-lo do que, além de revisionista? Por outro lado, esta politica de alianças com setores da burguesia "progressista" mostrou-se desastrosa para o proletariado em vários países, significando derrotas históricas que se reflete até os dias de hoje.
Com toda sinceridade companheiros, acredito que a aplicação do método marxista para a questão da revolução brasileira, passa necessariamente pela aplicação da teoria da revolução permanente às particularidades nacionais, e da urgência extrema do partido bolchevique brasileiro como vanguarda consciente da classe.
3 - A QUESTÃO LIBIA E A GREVE DOS BOMBEIROS
Em ultima análise, gostaria de terminar tocando levemente nestas duas questões citadas acima. Com relação à Líbia, a quase totalidade da esquerda brasileira manteve uma posição totalmente contrária ao marxismo apoiando descaradamente o golpe de estado bancado pela CIA e a OTAN que bombardeavam civis, esquecendo de que numa luta entre um estado imperialista contra um país oprimido, devemos estabelecer uma frente única com as forças de resistência militar do segundo, pois uma vitória imperialista significaria o fortalecimento deste para continuar saqueando os povos oprimidos pelo mundo e maior sobrevida do imperialismo decadente.
Com relação à greve dos bombeiros a mesma posição revisionista prevalece na quase totalidade daqueles que reivindicam o marxismo, inclusive daqueles que não apoiaram o motim policial bombeiro, mas reivindicaram a sua reforma, através da desmilitarização desta corporação, quando o marxismo historicamente reivindica a destruição de todo aparato repressivo policial do estado burguês.
Neste caso, significou uma capitulação barata aos repressores do povo trabalhador gerando grande deseducação politica entre as massas. Infelizmente, os companheiros compactuam com estas posições contrárias ao marxismo, significando um grande retrocesso politico e ideológico característico do momento histórico em que vivemos, onde se combina as condições objetivas para a revolução social e a crise de direção do proletariado.
Depois de tudo que foi dito companheiros, gostaria de deixar claro que simpatizo e me identifico com as análises politicas dos companheiros da Liga Comunista, do qual me aproximei na condição de simpatizante, e que por outro lado, meu rompimento com os companheiros da Liga Operária é de caráter puramente politico, não tendo absolutamente nenhuma motivação pessoal.
As mais sinceras saudações comunistas,
Ernesto Lopes
19-08-2011