TRADUTOR

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A BATALHA POR TRÍPOLI

Rechaçar a ocupação militar imperialista camuflada pelos agentes mercenários da CIA!

Mercenários líbios patrocinados pela CIA dão uma camuflagem "popular" à recolonização de uma das maiores reservas petrolíferas do continente africano
Neste momento, uma ofensiva militar imperialista sem precedentes recoloniza um país africano. Em uma ação orquestrada pela Casa Branca, aviões e navios da OTAN desferiram a maior chuva de bombas sobre Trípoli desde o início dos bombardeios em 19 de março. Em solo, sob a cobertura de disparos da maior força bélica opressora já existente na história e comandados por militares da coalizão EUA-GB-França, os paramilitares agrupados pelo Conselho Nacional de Transição (CNT), criado e armado pela CIA, destroem e saqueiam a capital líbia. A guerra se estendeu às capitais da Argélia e do Brasil com a tomada da Embaixada líbia nestes países por mercenários locais.


Em Brasília, depois de sofrer uma invasão por uma gangue monarquista no dia 19 de agosto, a embaixada foi reinvadida e ocupada por 12 monarquistas no dia 22/08, agentes desta operação facínora em solo brasileiro. Assim como em todo o conflito as forças de Gadafi ofereceram uma resistência torpe na Líbia, em busca de um acordo com seus algozes, negando-se a organizar um contra-ataque popular a ofensiva, também capitulam na defesa da própria Embaixada no Brasil.

Segundo o correspondente Thierry Meyssan que está em Trípoli, “No sábado, 20 de agosto de 2011, rompeu-se o jejum do Ramadã quando a Aliança atlântica lançou a ‘Operação Sereia’. As Sereias são os alto-falantes das mesquitas que foram usadas pela Al-Qaeda para lançar um apelo de modo a iniciar as revoltas. Logo de seguida, células adormecidas de rebeldes entraram em ação. São pequenos grupos de extrema mobilidade que multiplicaram os ataques. Um navio da Otan acostou em Tripoli, fornecendo armas de alto calibre e desembarcando jihadistas da Al Qaeda, contratados pelos oficiais da Aliança. Os combates retomaram durante a noite. Atingiram um pico de violência extrema. Os drones e os aviões da Otan bombardeiam em todas as direções. Os helicópteros metralham as pessoas nas ruas de forma a abrir caminho aos jihadistas. No início da noite, uma escolta de veículos oficiais transportando personalidades de primeiro plano foi atacado. Refugiaram-se no hotel Rixos onde se encontra a imprensa estrangeira. A Otan não se atreveu a bombardear por causa dos jornalistas. O hotel Rixos, onde me encontro, está sob fogo constante. 23h30, o ministério da Saúde constatou que os hospitais se encontravam saturados. Contavam-se no início da noite 1300 mortos e 5000 feridos. 1h00, Khamis Gadafi vem em pessoa trazer armas para defender o hotel. Foi-se embora após entregar as armas. Os combates são extremamente duros nos arredores.” Os repórteres e apresentadores da TV estatal apresentam-se armados e invocam a população a resistir.

Além dos mísseis Tomahawk (ao custo de um milhão de dólares cada), a OTAN está também lançando mão de bombas de som para aterrorizar a população local. Depois de aproveitar-se da destruição sanguinária causada por cada bomba lançada pela OTAN sobre escolas, hospitais, casas e nos locais de trabalho, covardemente, como uma praga os lumpens mercenários saqueiam a população de Trípoli. Um “morador criticou os rebeldes, dizendo que estes estavam invadindo as casas das pessoas e roubando tudo” (BBC, 22/08/2011).

O DESCONFORTO CRETINO DOS BRICS E DO GOVERNO DILMA FRENTE À OFENSIVA IMPERIALISTA

A função da tomada da Embaixada é pressionar o governo Dilma a reconhecer a legitimidade do golpe de Estado. Além dos EUA, Grã Bretanha e grande parte da União Européia, a Liga Árabe, o Egito, a Colômbia, a Autoridade Palestina, o Hezbollah reconhecem o CNT como legítimo governo líbio. A títere Coréia do Sul além de legitimar o golpe em curso oferece um milhão de dólares aos golpistas. Por enquanto, “a China disse que respeitará o desejo da população líbia e a Rússia se declarou neutra em relação ao avanço rebelde em Trípoli.” (idem). Sem maiores conseqüências, há um certo desconforto diplomático dos BRICs em seguir o cortejo geral da recolonização líbia. Mesmo sendo um conjunto de países governados por títeres do imperialismo e burguesias sócias minoritárias, há grandes perdas comerciais para uma parcela de capitalistas dos BRICS que estabeleceram diretamente contratos e expectativas de expansão de seus negócios na África.

A abstenção do Brasil na ONU e as diferenças de Dilma com a intervenção imperialista na Líbia são motivadas pelo temor da quebra dos contratos bilionários se Gadafi for destituído. Os contratos das empresas brasileiras com a Líbia serão rompidos pelo CNT que tem como ordem do dia a renegociação de todos os contratos em favor das três potencias capitalistas da coalizão. O Brasil possuía até fevereiro 600 pessoas morando na Líbia. Todas elas trabalhavam para uma das três empresas brasileiras de construção civil: Odebrecht, Andrade Gutierrez ou Queiroz Galvão.

A Odebrecht, com experiência comprovada mundialmente em construir qualquer coisa, de barragens a aeroportos, até o início da guerra civil empregava 5.000 pessoas na Líbia, sendo 200 brasileiros. A Odebrecht foi uma das primeiras empresas brasileiras a estabelecer contratos na Líbia, em 2007. Há dois anos, outras empreiteiras “peso-pesado” brasileiras seguiram o caminho aberto pela Odebrecht. São elas a Queiroz Galvão e a Andrade Gutierrez. A Queiroz Galvão estabeleceu seis contratos simultâneos de construção, no valor de centenas de milhões de dólares, de acordo com a empresa. Como a Odebrecht, ela também tinha milhares de funcionários e cerca de 200 brasileiros.

A Petrobrás, a gigante “estatal” do petróleo, tem operações de exploração na Líbia desde 2005. Ela tem participação de 70% na exploração de um bloco operado em forma de consórcio. Por anos, desde a suspensão das sanções internacionais à Líbia, o Brasil tem construído, discretamente, laços diplomáticos e econômicos com a Líbia. O ponto culminante desse processo deu-se em 2009, quando o então presidente Lula visitou a Líbia e carregou com ele 90 representantes de diferentes áreas comerciais. As freqüentes condenações às potências econômicas neoliberais e clamores pelo aumento do comércio e investimento sul-sul feitas por Lula foram mensagens que Gadafi recebeu calorosamente. Na viagem de 2009, Lula chamou Gadafi de “irmão” e “amigo” e, em troca, o líder líbio deu as boas-vindas, de braços abertos, aos empresários brasileiros. E valeu a pena para ambas as partes: entre 2003 e 2009, as exportações brasileiras para a Líbia aumentaram em 289%, enquanto as importações brasileiras da Líbia cresceram 3.111%, de acordo com uma reportagem de 2010 do jornal O Estado de São Paulo.

Os prejuízos pela interrupção dos trabalhos são incalculáveis. Odebrecht deixa no país obras no valor de R$ 5,2 bilhões. Na capital líbia, Trípoli, estavam nada menos que dois de seus três maiores contratos: o do novo aeroporto internacional e o do Terceiro Anel Viário. O primeiro valia US$ 1,4 bilhão (R$ 3,21 bilhões) e o segundo, US$ 900 milhões (R$ 2,06 bilhões). Em ambos os casos, as obras estavam quase pela metade. O faturamento total da empresa em 2009 foi de R$ 40 bi. Também a Queiroz Galvão e a Andrade Gutierrez tiveram obras importantes interrompidas. As negociações para a retomada das obras no caso da queda de Gadafi não tem prazo para iniciar, podem levar um longo tempo ou não serem retomadas.

Brasil, China, Índia e Rússia oferecem resistência ao bloco EUA-Inglaterra-França porque sabem que perderão influência econômica sobre a Líbia em particular e sobre a África em geral na recolonização deste continente.

A Líbia, juntamente com Angola e a Nigéria, era a principal fonte de petróleo da China. Quando a OTAN começou os bombardeios em março, 30 mil trabalhadores chineses evacuam a Líbia de forma provavelmente permanente. Empresas indus de construção na Líbia empregam 15 mil indianos.

A dúzia de monarquistas que tomaram de assalto a Embaixada líbia em Brasília são agentes desta operação interessados em tomar o lugar dos representantes diplomáticos do caudilho líbio no Brasil. Sob a pressão do imperialismo e da ação falangista o governo Dilma trata de se rever seus conceitos: “’O Brasil não fica do lado do povo líbio’, reclamou o comerciante Mohamed Elzwei, que mora em São Paulo e está em Brasília para participar do movimento de oposição a Kadafi na embaixada. O porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar Nunes, disse à Agência Brasil que o governo tem feito consultas a líderes árabes e africanos para tomar uma posição definitiva.” (Agência Brasil, 22/08/2011).

Assim como em Trípoli, também na tomada da embaixada em Brasília, foram posicionadas crianças no cenário das fotos divulgadas pela mídia burguesa, como parte do marketing golpista. Afinal, o que parece ser mais inocente e espontâneo do que crianças?

EXPULSAR OS MERCENÁRIOS MONARQUISTAS DA EMBAIXADA LÍBIA NO ATO DA JORNADA DE LUTAS DO DIA 24 DE AGOSTO EM BRASÍLIA

A mídia burguesa mundial já comemora mais uma vitória da revolução árabe. A mídia pequeno burguesa das correntes revisionistas também. Partidos como o PSTU/LIT, no Brasil ou o Workers Power/L5I, na Inglaterra criminosamente dão “apoio crítico” à propaganda de guerra imperialista. Como Obama estas correntes concordam que "o regime de Gadafi (em vigor há 42 anos) está chegando ao fim e que o futuro da Líbia está nas mãos do povo" (BBC, 22/08/2011). O PSTU chegou a reivindicar orgulhosamente a presença de seus militantes na Embaixada durante a primeira tentativa de invasão, “nossos militantes em Brasília estiveram na frente na Embaixada para exigir do governo Dilma a ruptura imediata de relações comerciais e diplomáticas com a Líbia, enquanto perdurar esta ditadura” (site PSTU, 19/08/2011). Por trás da palavra de ordem formal do “não a intervenção imperialista” o PSTU faz coro com o programa do imperialismo para pressionar Dilma a romper com a Líbia e com a Síria, para estrangular economicamente as nações sob o cerco imperialista, aumentando seu isolamento internacional, ao mesmo tempo que reivindica com Obama o “Fora Gadafi!” e o “Fora Assad!”. Como parte difusora das mentiras da guerra, o PSTU mente descaradamente em favor do golpismo imperialista sobre a política geral e também sobre cada um dos fatos da própria invasão do dia 19. A corrente morenista chega a ser mais falsificadora da realidade que a imprensa burguesa, alegando que os “manifestantes realizaram uma ocupação pacífica da Embaixada da Líbia” (idem), quando todo mundo viu na sexta pela televisão a troca de socos e supapos entre os mercenários e os membros da Embaixada. Três dias depois à falange fascista mercenária voltou à Embaixada, tomou-a de assalto, substituiu a bandeira do país pela da monarquia pró-imperialista e, em seguida, para a mídia registrar plantou três crianças no cenário e deu fotos de Gadafi para que rasgassem.

A tarefa do movimento operário brasileiro, que perde com a vitória da OTAN e seus agentes, é oposta ao papel criminoso que cumpriu o PSTU no dia 19 de agosto. A tarefa é organizar uma ampla frente única antiimperialista com as centrais sindicais, o MST, os trabalhadores imigrantes líbios explorados por “comerciantes” do quilate do que foi de São Paulo a Brasília ocupar a representação diplomática a serviço do imperialismo e expulsar os mercenários fascistóides de dentro da Embaixada líbia. Esta tarefa pode ser executada no próprio dia 24 de agosto, quando o conjunto das centrais sindicais farão um ato de lobby parlamentar em Brasília e a massa de ativistas reunidos pode facilmente despejar a dúzia de posseiros mercenários da embaixada do estado oprimido.

AS TAREFAS DEMOCRÁTICAS DA LUTA CONTRA A RECOLONIZAÇÃO MONARQUISTA-IMPERIALISTA

Enquanto comemoram os bombardeios sobre seus conterrâneos e trucidam os sobreviventes, os já auto-proclamado governo, o CNT apresenta uma enganosa Carta Constitucional onde se vê nos artigos 1, 15 e 28 o estabelecimento da sharia como a principal fonte de legislação (1), a garantia da propriedade privada (15), e repetem a promessa padrão, adotada também na Tunísia e no Egito, de referendar-se como "autoridade constitucional" através de um plebiscito (28).

Contra esta farsa os trabalhadores revolucionários devem se insurgir reivindicando a soberania, a unidade e a independência da Líbia com os métodos da revolução permanente e a construção de Comitês Revolucionários em todos os locais de trabalho, estudo e moradia contra a intervenção imperialista; por uma Assembléia Constituinte com base nesses comitês revolucionários; um governo operário e camponês; defesa do direito de criação de sindicatos, de greve, de imprensa operária, de organização político partidária e eleitoral; revolução agrária contra os chefes tribais; libertação de todos os presos políticos; contra o controle de imigração, igualdade de direitos e condições de trabalhadores para todos os imigrantes; controle operário dos locais de trabalho e dos campos petrolíferos, subsídios aos alimentos e bens essenciais, salário mínimo vital, pleno emprego para todos; expropriação das empresas e capitais imperialistas!

Os revolucionários não podem deixar que sob a base de uma insatisfação das massas com um governo caudilho burguês desgastado, o imperialismo se disfarce sob uma fachada democrata. Por isto, como bem nos ensinou a Tese 4 da Teoria da Revolução Permanente, a luta pela ditadura do proletariado está destinada em primeiro lugar a resolver as tarefas democráticas.

PABLISMO, FATALISMO E COLABORAÇÃO DE CLASSES

Foi à política burguesa de Gadafi, e não a superioridade militar do imperialismo quem, desde o começo, conduziu a luta para a atual correlação de forças desfavorável ao proletariado mundial nesta batalha. A explicação dada pelo castrismo, pelo chavismo e por algumas correntes pablistas de que foi a superioridade militar da OTAN quem impôs o atual avanço imperialista é fatalista e nada tem a ver com o marxismo. Estas justificativas cuja base é o próprio desdobramento dos fatos em si e não a luta entre as classes dentro do próprio front antiimperialista, despreza a experiência do Vietnã, que venceu os EUA infinitamente superiores, do ponto de vista bélico, e da própria URSS que derrotou a invasão de 14 nações em coalizão militar com o exército branco.

O pablismo substitui a frente única pela frente popular, começa por apoiar criticamente a burguesia no plano literal e termina por justificá-la ideologicamente, capitulando por completo ao inimigo de classe e renunciando à independência política dentro da frente única militar. Iugoslávia, Afeganistão, Iraque,... todas as batalhas desastrosamente perdidas na luta pela emancipação nacional se deveram sobretudo à traição da direção burguesa incapaz de realizar uma luta conseqüente contra o imperialismo. Nisto não há nada de novo, é o ABC da Revolução Permanente.

PELA FRENTE ÚNICA MILITAR COM O QUE SOBROU DO REGIME GADAFI PARA DERROTAR O CNT E A OTAN, MAS SOMENTE O PROLETARIADO REVOLUCIONÁRIO PODE DERROTAR O IMPERIALISMO

Apesar de ameaçar a reação com o armamento em massa da população desde março, esta medida foi tardiamente tomada pelo regime do caudilho burguês que até o agora, no momento de desespero teme muito abrir mão do monopólio da violência estatal em favor do armamento da população trabalhadora e confia mais em um acordo negociado com a grande burguesia que o bombardeia. Esta vacilação de classe do regime comprometeu a resistência durante todos os últimos meses. Mesmo assim, Trípoli parece ter ainda algum fôlego.

A queda da capital poderá abrir um cenário afegão-iraquiano para o conflito, de uma resistência armada e popular atomizada ao novo governo monarquista. Por seu caráter burguês, Gadafi repete os mesmos erros e a mesma capitulação de Milosevic e Saddan. Mas nem tudo está perdido, a construção de um partido revolucionário internacionalista também na Líbia e a luta por uma revolução com métodos permanentistas, de combate pela emancipação nacional, pela expropriação sob o controle dos trabalhadores de todas as riquezas do país, pode derrotar a recolonização imperialista!