Milícia Nacional Bolivariana |
Por outro lado, Cuba, Bolívia, El Salvador, Nicarágua, China, Rússia, Turquia, México, e a presidente do Partido dos Trabalhadores do Brasil estiveram na posse. A maioria dos governos capitalistas boicotaram.
A OEA, como uma confraria de colônias dos EUA, não “reconhecer a legitimidade” do segundo mandato de Maduro e reivindicou novas eleições, apoiando o dirigente golpista opositor Juan Guaido. Desde o Cairo, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeu emitiu um tweet onde invoca abertamente um golpe militar contra Maduro:
Os EUA condenam a usurpação do poder ilegítimo de #Maduro e insta aqueles que apoiam o regime venezuelano, incluindo as forças de segurança que juraram apoiar a Constituição, a parar de permitir a repressão e a corrupção. A hora é AGORA para um retorno à democracia na #Venezuela.Curiosamente Pompeo fez essa manifestação ao lado do ditador egípcio Gen. Abdel Fattah El-Sisi, que foi imposto a população de seu país por um golpe militar apoiado por EUA, Israel e Arábia Saudida em 2013, golpe que massacrou 1.600 partidários do recém eleito presidente no Egito Mohamed Mursi. Em seguida, o golpe fez 60 mil presos políticos.
O chamado Grupo de Lima, formado pelos governos de 13 países latino-americanos e do Canadá, aprovou uma resolução exigindo que Maduro renunciasse e entregasse o poder ao Congresso, controlado pela oposição.
Antes da visita ao Egito e da reunião encomendada ao Grupo de Lima, Pompeo visitou o neonazista Jair Bolsonaro, e o presidente da Colômbia Ivan Duque para cobrar alinhamento dos mesmos na cruzada pela derrubada do governo venezuelano.
EUA retrocede seus domínios, Rússia e China avançam
Em dezembro de 2018, as tensões nucleares entre EUA e Rússia chegaram ao ponto máximo desde a chamada crise dos mísseis entre EUA e URSS, também chamada de os 13 dias que abalaram o mundo. Putin ordenou a missão militar de maior alcance do poder militar russo desde que chegou ao poder.
Tentando assumir o mesmo papel que fizera com a Síria, Criméia e Dombass, a Rússia desembarcou dois bombardeiros estratégicos russos de longo alcance em um aeroporto venezuelano. Eram os bombardeiros supersônicos Tupolev Tu-160, capazes de transportar mísseis nucleares de curto alcance. Os bombardeios foram acompanhados por uma aeronave de transporte AN-124 e um jato de passageiros Il-62, 100 pilotos e outros funcionários russos. Para chegarem a Venezuela, essa equipe e aparatos de guerra realizaram um vôo de mais de 10.000 km, em uma evidente demonstração de apoio de Putin a Maduro.
O governo dos EUA, através de Pompeu, imediatamente esbravejou contra o fato da Rússia ter enviado seus bombardeiros:
do outro lado do mundo para a Venezuela [e acrescenta] “o povo da Rússia e da Venezuela deve ver o que é: dois governos corruptos esbanjam recursos públicos, e esmagando a liberdade e a liberdade enquanto seu povo sofre.O porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, respondeu:
Quanto à ideia de que estamos desperdiçando dinheiro... Não é realmente apropriado para um país cuja metade do orçamento de defesa poderia alimentar toda a África para fazer tais declarações. O orçamento militar de US $ 700 bilhões de Washington é dez vezes o valor que a Rússia gasta em suas próprias forças armadas.O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, acusou a declaração de Pompeo de "cínica". Em uma série de tweets, ele disse que Washington
mantinha pelo menos 800 bases militares conhecidas em 70 países, [acrescentando] Se os EUA estão tão preocupados com o lixo, rever seu imenso e injustificável orçamento militar ... Certamente os 50 milhões de pobres e famílias sem acesso à saúde pública nos EUA podem sugerir destinos mais justos para esses fundos.Se as tensões seguirem o atual curso, é bem provável um cenário de mudança do centro gravitacional dos conflitos mundiais do Oriente Médio - de onde os EUA sofreram sua maior derrota recente na Síria, com a ordem de Trump para a retirada de tropas da região - para a América Latina, onde os EUA buscam reconquistar o controle político, militar e econômico a custa de golpes de Estado, manobras eleitorais, lawfare e guerras hibridas, e por meio de uma crescente presença militar.
Tudo isso ocorre em um contexto internacional em que o preço do petróleo dispara no mercado mundial. O imperialismo se prepara para a disputa desse recurso energético estratégico. Também a partir de 2018, as multinacionais petroleiras estimularam o conflito entre a Guiana e a Venezuela, envolvendo o governo golpista do Brasil para assediar a Venezuela e permitir que as multinacionais como a ExxonMobil se apropriem da área marítima da costa atlântica ao norte do delta do Río Orinoco. Os governos fantoches do Brasil e Colômbia tem se reunido com frequência, animados obviamente pelo amo no norte, para formularem um plano de enfrentamento diplomático e militar contra a “Ameaça venezuelana”, tanto em torno da questão guiana quanto da crise migratória provocada pelas criminosas sanções, bloqueios e desabastecimento patrocinado pelos EUA na Venezuela.
O imperialismo, que está conseguindo apoderar-se do Petróleo brasileiro de forma crescente desde o golpe de estado parlamentar de 2016, busca agora apoderar-se dos recursos essenciais venezuelanos, não do petróleo, mas também do ouro. Ao que tudo indica Venezuela possui reservas importantes de ouro. A crise se acentua sobretudo porque uma das armas de resistência do bloco eurásico na guerra comercial contra os EUA está em reestabelecer o padrão ouro vigente até a segunda guerra mundial como moeda de troca, desdolarizando o comércio mundial.
A crise intra-imperialista se acentua
A questão venezuelana toma maior dimensão ainda em meio a maior crise intra-imperialista já enfrentada pelos EUA. O governo Trump tem recorrido frequentemente ao recurso de aumentar suas provocações internacionais e a tensão contra China, Coréia do Norte, Venezuela e até o Canadá (!) sempre que precisa desviar atenção da crise interna para a crise externa. Todavia, para que esse recurso tenha resultados ele precisa de apostas cada vez mais altas por parte da Casa Branca.
Trump flerta com a guerra por razões econômicas, para atender aos apetites das corporações multinacionais, mas também de política interna. O Estado profundo imperialista o acossa permanentemente. Há uma disputa por quem hegemoniza a CIA, o FBI, a DIA, a NSA agindo o primeiro, o organismo de inteligência internacional mais a serviço de Trump, e o segundo, o organismo nacional, mais a favor da oposição democrata, com apoio de uma ala republicana. O FBI acusa Trump de agente russo. As ameaças a Venezuela funcionam como uma compensação pela derrota na Síria. A cada derrota no velho mundo, se apresenta uma vitória de compensação no novo mundo, como foi, por exemplo a perda da Turquia, como área de influência, para a Rússia e a China, que teve como compensação a conquista política do governo do Brasil.
Em essência, a ofensiva sobre a Venezuela obedece a finalidade de criar um espaço blindado para os EUA, uma espécie de América para os EUA primeiro, e assim compensar o retrocesso que a nação mais poderosa vem sofrendo de forma crescente e acumulada na Índia, Paquistão, Turquia, e em grande parte da África subsaariana.
Nesse momento, a luta intra-imperialista resultou na mais longa paralisação do governo dos EUA (shutdown) da história do país. Desde 22 de dezembro de 2018 há uma guerra interna institucional entre Trump e os democratas, que atualmente controlam a Câmara dos Representantes (a Câmara dos Deputados dos EUA) e fazem oposição a Trump.
O presidente dos EUA se recusa a aprovar parte do orçamento federal porque este não inclui recursos da ordem de US$ 5,7 bilhões (R$ 21,15 bilhões) para a construção de um muro na fronteira com o México, uma de suas principais promessas de campanha. Até agora, os recursos que ainda faltam ser aprovados afetam nove departamentos federais (ministérios), incluindo Agricultura, Transporte e Interior. No aumento das hostilidades contra a Venezuela, Trump realiza uma fuga para frente em relação as hostilidades internas.
Superar o impasse chavista em direção a revolução proletária!
Após duas décadas no governo, o chavismo sofre o desgaste político diante da população por dois aspectos. Primeiro porque apesar de retoricamente anunciar sua opção pelo socialismo e contra o imperialismo, concretamente se opõe a essa ruptura anticapitalista e frustra sua base popular. Em segundo lugar, esse impasse permite aos poderosos inimigos imperialistas e seus agentes locais avançar com a sabotagem econômica que minam a confiança do chavismo em assegurar as condições de vida da população. Apesar das vitórias incontestes de Maduro, na Constituinte e agora diante da oposição golpista.
O desgaste político derivado do impasse estratégico se expressou na alta abstenção. A maior de todas nos últimos 20 anos. Essa abstenção foi potenciada pelo boicote orquestrado pela oposição que sabe não poder vencer as eleições, estimula o apoliticismo. Maduro obteve três vezes o número de votos de seu rival mais próximo, todavia, isso corresponde a apenas 28 % dos eleitores da Venezuela. Nada mal se comparado a vitória que deu o governo a Trump, cujos agentes questionam hoje a legitimidade de Maduro. O mandatário estadunidense venceu as eleições presidenciais sobre Hillary Clinton apoiados por apenas 26% dos eleitores americanos.
A classe trabalhadora venezuelana sabe que precisa fazer uma frente única tática com Maduro, contra o imperialismo e seus agentes golpistas, bem como contra o governo fantoches do Brasil e Colômbia e avançar estrategicamente com seus irmãos trabalhadores latino americanos, inclusive brasileiros e colombianos para superar Maduro, reivindicando armas de Maduro e Putin e assumindo o controle político dos meios de produção, comunicação e das forças armadas.
A Milícia Nacional Bolivariana deve ser ampliada para o armamento de todo o povo e inclusive internacionalizar-se com todos os irmãos latino-americanos e caribenhos que desejarem nela alistar-se (inclusive brasileiros, colombianos e guianeses), para desarmar preventivamente aos golpistas e defender o país de uma agressão imperialista que instrumentaliza os governos e tropas de Bolsonaro e Duque. Seguir no impasse atual é o caminho seguro de uma sangrenta derrota, igual ou pior que a do Egito.