“Poder Popular contra Repressão Fascista”
A Liga Comunista publica abaixo um relato do camarada Greg
Butterfield (Workers World, Mundo Operário), sob autorização do mesmo, acerca
da guerra civil na Ucrânia, onde milhares de manifestantes ucranianos, tomaram
prédios públicos no cinturão industrial formado pelas cidades de Donetks,
Carcóvia, Nikolayev e Lugansk. Claramente nota-se um salto de qualidade na luta
antiimperialista e antifascista contra o governo fantoche de Kiev.
"Acontecimentos dramáticos ocorridos em 6-8 de abril levaram
a Ucrânia à beira de uma guerra civil.
A rebelião da classe operária ucraniana e de língua russa da
região sudeste contra o regime golpista de extrema-direita de Kiev vem
aumentando consideravelmente, conduzindo a uma crise de dualidade de poderes em
muitas cidades.
Em Donetsk, Carcóvia, Nikolayev e Lugansk, milhares de manifestantes
antifascistas enraizados nas comunidades locais tomaram prédios administrativos
do governo, sede da polícia e bancos, declarando a independência contra a junta
de Kiev apoiada pelos Estados Unidos, que chegou ao poder em fevereiro após a
queda do Presidente eleito Viktor Yanukovich.
Os antifascistas definiram o 11 de maio como a data para o
referendo regional, quando os moradores locais devem decidir democraticamente o
seu estado futuro — seja pela ampla autonomia dentro Ucrânia, independência ou a
afiliação com a Rússia, como decidiu o povo da Crimeia em 16 de março.
A busca por um referendo tem sido defendida
entusiasticamente pelas massas de trabalhadores, aposentados e jovens de toda a
região, e é esse apoio que alimenta a rebelião.
O prazo determinado para o referendo cai duas semanas antes
das eleições presidenciais de 25 de maio estabelecidas por Kiev. O regime
golpista, dominado por organizações fascistas e de extrema-direita, como
Svoboda (Liberdade) e Batkivshchyna (Pátria), rejeitaram qualquer referendo.
O regime rotulou aqueles que defendem uma votação
democrática como "terroristas" e "agentes pagos pela
Rússia". Em 7 de abril, o Presidente Interino Alexander Turchinov,
declarou que "medidas coercitivas" seriam utilizadas contra os apoiadores
do referendo.
Em 8 de abril, o atual chefe adjunto da administração
presidencial, Andrei Senchenko, disse aos jornalistas no Verkhovna Rada
(Parlamento) que os militares ucranianos tinham sido autorizados a "atirar
contra os terroristas... caso fosse necessário, a fim de proteger a integridade
territorial" da Ucrânia (RBC-Ucrânia).
Membros do partido Svoboda, abertamente racista e
antissemita, atacaram fisicamente representantes do Partido Comunista no chão
do parlamento no dia 8 de abril depois que o líder comunista Petro Simonenko se
atreveu a afirmar que o regime golpista foi responsável pela instabilidade no
Sudeste (Neues Deutschland) [https://www.youtube.com/watch?v=GlKMVFtPsFI].
A resistência, incluindo da organização de esquerda União
Borotba (Luta), diz que não pode haver eleições legítimas sem um referendo.
A PROCLAMAÇÃO DAS REPÚBLICAS POPULARES
O dia 6 de abril foi antológico, pois foi o dia da ação
coordenada por antifascistas do sudeste da Ucrânia. Manifestações em várias
cidades cresceram enormemente e continuaram até o anoitecer.
Durante a noite de 6 de abril, os ativistas tomaram o prédio
da administração regional de Donetsk e proclamaram uma independente República
Popular do Donetsk. Os manifestantes declararam que são agora as autoridades
legítimas da região.
Depois que a declaração foi lida, a
"Internacional" e o hino nacional soviético foram transmitidos por
alto-falantes na praça principal para milhares de moradores entusiasmados.
As autoridades revolucionárias fizeram um apelo para a Federação
Russa enviar forças de paz a fim de proteger o referendo.
Donetsk, na região mineira do Donbas, é um reduto
tradicional do Partido Comunista da Ucrânia (KPU).
Horas mais tarde, em Carcóvia, milhares de antifascistas
liderados pela União Borotba e pela Unidade Popular tomaram o prédio da
administração regional, e proclamaram uma República Popular de Carcóvia.
Novos conselheiros regionais foram eleitos entre os
trabalhadores, jovens e aposentados reunidos.
Os antifascistas resolveram agir depois que o Conselho
Regional de Carcóvia ignorou uma petição apresentada em uma manifestação de
massas em 6 de abril. A petição pedia que o Conselho definisse um referendo
sobre três pontos: 1) A Ucrânia deveria ser um país federativo; 2) O idioma
russo deveria ser legal; e 3) A Ucrânia deveria ser um país não-alinhado (sem a
OTAN)?
A declaração da República Popular de Carcóvia pede o fim da
exploração do trabalho e dá prioridade a formas coletivas de propriedade.
Em ambas as cidades, os militares e policiais se recusaram a
obedecer ordens para agir contra os antifascistas.
O ATAQUE DAS FORÇAS FASCISTAS
Enquanto as ações revolucionárias se desenrolavam na região
Sudeste, o regime em crise de Kiev reuniu-se em uma maratona de sessões para
aprovar novas leis "antiterroristas" a fim de criminalizar ainda mais
a resistência antifascista.
O ministro de extrema-direita do interior, Arsen Avakov, foi
colocado no comando da ofensiva "antiterrorista" (LifeNews.ru).
A principal tarefa de Avakov era trazer as tendências
concorrentes neonazistas da Ucrânia Ocidental sob a disciplina do regime,
integrando-os em uma chamada "Guarda Nacional" e patrulhas conjuntas
com a polícia.
Durante semanas, o Ministério do Interior enviou sicários do
Pravy Sektor (Setor Direita) e outros neonazistas para se infiltrarem nas
regiões rebeldes. A polícia e as agências militares também transferiram pessoas
para substituir os que não queriam atacar a população local.
Na noite de 7 de abril, essas forças foram lançadas contra o
povo do sudeste da Ucrânia.
O Pravy Sektor atacou um acampamento antifascista em
Nikolayev. Um homem foi assassinado e outros ficaram gravemente feridos.
[Informações posteriores afirmam que o número de mortos e feridos chegou a 20]
Em Lugansk, três foram mortos a tiros, e outro assassinado
em Odessa.
Em Carcóvia, o Pravy Sektor e os agentes de autodefesa
Maidan, vestidos com uniformes das forças especiais, foram mobilizados contra
as forças populares que ocuparam o prédio da administração regional. Os
fascistas atearam fogo no edifício e dispersaram os manifestantes. Pelo menos
70 pessoas foram presas e imediatamente deportadas para Kiev.
Ativistas relatam que entre as forças repressoras estavam
mercenários de língua inglesa, a quem eles acreditam que trabalham para a
empresa estadunidense Greystone Ltd., cuja presença tem sido relatada em outros
lugares da Ucrânia desde o golpe de estado.
Os escritórios do Borotba e da Unidade Popular em Carcóvia
foram tomados e ocupados pelos fascistas.
Uma declaração emitida pelo Borotba diz: "Apesar da
repressão, a resistência não diminui. Neste momento, o povo está voltando para
o prédio da administração regional para continuar a luta."
Vídeos postados em 8 de abril mostram que os confrontos
continuam a ocorrer nas ruas de Carcóvia. Em um desses vídeos, os manifestantes
impediram agentes das forças especiais de deixarem um ônibus.
[https://www.youtube.com/watch?v=6Uixdwap7sE /
https://www.youtube.com/watch?v=7OFp6o6Gz8M]
DONESTK SE PREPARA
De acordo com um informe de Ivan Pobedonoscev em Donetsk,
publicado pelo website comunista russo "RedTV", o novo governo
popular de Donetsk está se preparando para um ataque militar contra o prédio da
administração regional que ocupa neste momento, provavelmente pela noite de 8
de abril.
Na manhã do dia 7 de abril, trabalhadores da fábrica de aço
Yasinovka em Makeevka paralisaram o trabalho e organizaram transportes
coletivos para unir-se aos defensores de Donetsk, prometendo permanecer e
proteger os manifestantes enquanto for necessário.
Os voluntários estão construindo barricadas e mobilizando
adeptos para defender a República Popular. Eles emitiram um apelo urgente para
as pessoas trazerem rações, bebidas, extintores de incêndio, máscaras de gás e
suprimentos médicos.
Kiev já se mobilizou com forças especiais de segurança da
Ucrânia Ocidental, equipados com armamentos e vestimentas da SWAT. Mercenários
da Greystone encontram-se entre eles, disfarçados de soldados. Equipamentos
militares foram movidos para cercar Donetsk. A eletricidade do prédio da
administração regional foi cortada.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia pediu no dia
8 de abril que a Ucrânia "suspendesse quaisquer preparativos militares que
possa instigar uma guerra civil".
Enquanto isso, outro navio de guerra dos EUA chegará ao Mar
Negro no dia 10 de abril, com Washington aumentado ainda mais suas ameaças
contra a Rússia para defender o golpe de Kiev.
A CNN informa que a chegada do USS Donald Cook 'vem
antes de uma reunião planejada para o dia 15 de abril de altos representantes
políticos da OTAN para discutir e aprovar potencialmente uma série de
recomendações voltadas a medidas militares adicionais, incluindo a redução do
‘tempo de resposta’ das forças da OTAN em caso de crise. Outras opções incluem
mais exercícios militares com os países membros, incluindo os Estados Unidos, e
o fornecimento de conselheiros militares para a Ucrânia'."