Mário Maestri*
Há dez dias, Marcelo Freixo, deputado federal pelo Rio de Janeiro, participou de diálogo ameno, de quarenta minutos, no programa do Youtube “Quebrando o Tabu”, com Janaína Paschoal, a histriônica golpista de primeira hora. O programa teve umas quinhentas mil visualizações. Um enorme sucesso, portanto. Não poucos admiradores de Marcelo Freixo não compreenderam o enorme hiato entre a conhecida coragem pessoal do deputado e a sua frouxidão política, registrada na participação e no conteúdo do programa. A afetuosa troca de idéias entre a musa do golpe e a ascendente estrela do PSOL motivou protestos de internautas e apoios, que foram do desbragado ao envergonhado.
Alguns grupos políticos de esquerda procuraram explicar as razões da inaceitável iniciativa, ou seja, um debate de mãos dadas, quase amoroso, com a declarada inimiga da classe trabalhadora e de todos os homens e mulheres de bem do país. Concluídos os muxoxos, tudo seguiu como “dantes no Quartel de Abrantes”, expressão lusitana perfeita para descrever a atual situação brasileira. Em 1807, por ordens de Napoleão, o general Jean Junot invadiu Portugal, desertado pela família real, sem encontrar resistência. Ele instalou seu comando na vila fronteiriça de Abrantes, recebendo pelo feito o título de duque de Abrantes. Reinou sobre o país, onde tudo continuou como dantes. Porém, ao contrário do que no Brasil, por pouco tempo, devido à pronta chegada dos britânicos. Os ingleses não vão nos tirar do atoleiro em que nos afundamos, mas talvez os argentinos nos estendam uma mãozinha amiga.
A bruxa do Impeachment e o dragão eleitoreiro
Não poucos chamaram Freixo de oportunista, por ter atirado pela janela seus princípios e pruridos socialistas, para garantir-se indiscutível sucesso de marketing eleitoral, com ganhos quase certos para a sua próxima candidatura à prefeitura do Rio de Janeiro. Com a discussão anti-natura, certamente conseguiu diminuir entre os eleitores de centro-direita a fama indevida de esquerdista. Após o debate, não poucos internautas acusaram o deputado de traição da luta oposicionista e de promover a imagem da Bruxa do Impeachment, que teve, temos que reconhecer, apresentação quase impecável de suas infames posições e ações!
Durante décadas, intelectuais progressistas, esquerdistas e marxistas acusaram Fernando Henrique Cardoso de trair, ao chegar à presidência, princípios que defendera quando sociólogo. Propõe-se que a viravolta teria sido registrada em frase que ele – a bem da verdade – jamais pronunciou: “Esqueçam o que escrevi”. FHC foi, desde sempre, um pensador pró-capitalista e pró-imperialista, que via avanço na submissão do Brasil ao grande capital e elogiava, no golpe de 1964, a ruptura com o getulismo e com o nacional-desenvolvimentismo. Propostas entreguistas já defendidas nos seus primeiros escritos sobre a “dependência”.
Temos que ser honestos também com Marcelo Freixo. Ele não retrocedeu um passo, na estranha confraternização. As visões de mundo que revelou ter em comum com a golpista empedernida constitui parte de sua mais profunda natureza política. Natureza que interpreta os sentimentos de grande parte de seu eleitorado, que não teve, portanto, o que criticar no seu contubérnio indecoroso. A confusão do povo de esquerda carioca e nacional, que admira Freixo, se deve à forma clara, direta, sem máscaras, com que ele apresentou suas concepções políticas e sociais.
Marcelo Freixo não é um trânsfuga, que abandonou a luta travada no passado contra o capital pelas delícias da colaboração de classes, como um Zé Dirceu, um Antônio Palocci, um Marco Aurélio Garcia, para citar exemplos ilustres. Ele foi sempre como se revelou, sem pudor, em “Quebrando o Tabu”. Porém, o debate infame não foi um raio em um céu azul, um tropeço inesperado nas filas da oposição, um inexplicável ponto fora da curva da luta contra o golpismo. Por além das idiossincrasias do político frouxo do PSOL, o debate registrou, límpida e dolorosamente, a tendência hegemônica do que a crônica política define, em forma inapropriada, como oposição de esquerda e popular ao governo atual. Orientação política rendicionista quase única e cada vez mais forte.
Abraçando o golpismo
Haddad e os governadores petistas do Nordeste; Boulos e Freixo no PSOL; Flávio Dino no PC do B; Tabata Amaral no PDT e tantos outros protagonistas colaboracionistas, são personificações excelentes da acomodação da “oposição parlamentar” ao arrasamento golpista dos direitos dos trabalhadores, da população e da própria nação brasileira, que segue a galope desenfreado. Apenas o Congresso aprovou em segundo turno a destruição da previdência, os deputados referendaram, no dia 14, a definida cinicamente “MP da Liberdade Econômica”, um outro estupro dos trabalhadores, que literalmente acabou com a folga dominical, entre outras barbaridades. Nada menos do que 345 deputados votaram a favor e desmilinguidos 76 contra – com a defecção de trinta deputados de oposição! Dos parlamentares petistas, vinte ficaram em casa, forma soft de registrar a adesão de fato ao Centrão.
Foi sobretudo no que não disse, que Freixo registrou seu compromisso com a antiga e com a atual ordem em construção no Brasil, com a qual tem apenas contradições não essenciais. Não pronunciou palavra contra a ação imperialista no Brasil, na América Latina e no mundo. En passant, de mãos dadas com Janaína, declarou que não gosta de Maduro. Nos quarenta minutos de “paz e amor” com a musa da ditadura em construção no Brasil, jamais saiu dos seus lábios a palavra “golpe”, para descrever o impeachment de 2016, o governo de Temer, as eleições fraudulentas de 2018. Como Haddad, Boulos et caterva, avalizou a legalidade do segundo governo golpista ilegal. Em vez de gritar Fora Bolsonaro, propôs em forma indireta o Fica Bolsonaro, até 2022!
Freixo jamais se referiu aos milhões de desempregados, mal empregados e super-explorados criados pelo golpe e não disse palavra sobre a legislação que pretende mantê-los para sempre na semi-escravidão assalariada, que multidões já conhecem. Apoiou a reforma do sistema de pensões público e privado, com divergências em pontos e intensidade do em vias de aprovação. Esqueceu que seu partido nasceu da resistência ao ataque ao que então os lulistas chamavam de privilégios. Reforma petista da previdência que empurrou multidões de servidores públicos aposentados para vida de dificuldades. Realidade que os golpistas agora radicalizam.
Freixo sequer se referiu ao pagamento da dívida pública monumental e esdrúxula, o verdadeiro nó górdio das finanças nacionais. Não disse palavra, mesmo desmaiada, sobre a liquidação a preço de banana podre dos bens nacionais, que o atual governo avança a freio solto sem qualquer oposição, com a literal colaboração, por inação, da CUT e da CTB. Os esquecimentos de Freixo das privatizações e da dívida espúria tranquilizaram certamente os grandes rentistas e o grande capital.
Sentimento de insegurança
Freixo não abordou os assassinatos incessantes de líderes rurais, de trabalhadores e de moradores das periferias urbanas; às invasões de escolas, sindicatos e locais de reuniões pelas forças policiais, sob o guarda-chuva da nova ordem golpista. Era como se vivêssemos, hoje, apenas, uma espécie de “sentimento” de insegurança, açulado e extremado pelo segundo governo golpista, em tudo igual, segundo a Bruxa Malvada, ao que os coxinhas teriam vivido nos anos anteriores à libertação golpista de 2016. Não disse palavra sobre os generais de entreguistas de aluguel que sustentam o golpismo, o massacre do mundo do trabalho, o assalto aos bens nacionais.
Freixo e seus comparsas políticos acreditam, ou querem acreditar, que não sofremos de qualidade, com o golpe, em 2016, que desequilibrou a sociedade brasileira em desfavor da população e da nação e em favor do imperialismo e do grande capital – categorias jamais ouvidas durante toda a afável tertúlia. Teria havido, apenas, deslizes de quantidade, no relativo sobretudo aos direitos civis. Excessos capazes de serem remediados com a aproximação e a negociação com os arrasadores de nossa sociedade, hoje com a lâmina da navalha já cortando o nosso pescoço. Para Freixo, a arte da política, hoje, não é buscar o doloroso e difícil caminho para vergar os ofensores e redimir os ofendidos.
Para o deputado federal e seus companheiros, não haveria contradição intransponível entre exploradores e explorados, entre o mundo do trabalho e os vivem e se locupletam da exploração e da marginalização do trabalhador. A arte da política, segundo Freixo, é encontrar o que os dois pólos têm comum. Sugere, assim, que, no passado, faltou apenas aproximação e diálogo entre o Ustra, de mão na maricota, e os prisioneiros políticos, dependurados no pau-de-arara. Ou, quando da escravidão, entre o feitor, segurando o “bacalhau”, e o cativo atado no palanque.
O que disse Freixo em “Quebrando o Tabu”, e Haddad vem repetindo da campanha até agora, é que não devemos lutar para pôr fim ao golpismo e à exploração! Nada de fora Bolsonaro, de fora Mourão, de eleições gerais limpas já! Ao contrário, temos que esperar as eleições de 2020 e, enquanto isso, reunir os racionais, deste lado e do outro, para retocarmos os excesso, sobretudo quanto aos direitos civis e democráticos, na ditadura cada vez mais dura do capital. A redenção viria em 2022, se houver eleições e se os golpistas não repetirem a manipulação eleitoral de 2018.
Um estranho no ninho
Freixo se mostrou como realmente é, uma espécie de Hillary Clinton do Leblon. Defensor dos direitos civis das mulheres, dos LGBT, dos negros, mas sem oposição com a exploração desapiedada da população e a destruição da nação. Ao participar do debate escandaloso, se preocupou com seu futuro político e com a candidatura a prefeito do Rio de Janeiro, em 2020, e, a seguir, a governador, e, quem sabe algum dia, a presidente, na nova ordem em construção, à qual não se opõe. Se eleito, em 2020, se comportará em forma respeitosa com a nova ordem, ao igual que os governadores do PT e do PCdoB.
Não há porque estranhar ou reclamar do debate do dia 6. Freixo é apenas um estranho em nossa trincheira, que, com sua natureza política, desorganiza os planos de resistência e contra-ataque. O programa e as bandeiras que levanta desarmam e desmoralizam tropas oposicionistas já confusas. Freixo aposta, hoje, nos vencedores. Procura, portanto, sem pejo, nos grandes e pequenos atos, delinear em traços fortes o perfil político colaboracionista que, em verdade, sempre foi seu.
No dia 13, enquanto a população do país se angustiava com as condições de existência cada vez mais degradadas, e o congresso avançava o massacre dos trabalhadores, foi flagrado na beira da piscina do Hotel Copacabana, símbolo da sociedade que se deu bem, sabemos à custa de quem. Passara uma noite de luxo no hotel cinco estrelas, local de convívio dos poderosos e donos da riqueza e do poder, para festejar os quarenta anos da esposa, segundo ele, uma ativa militante feminista.
Na celebração do natalício, botando dinheiro pela janela, Freixo viveu, fugazmente, um dos sonhos de sua vida. Ou seja, o de, nas suas palavras, “frequentar os espaços de elite”. Certamente pensou em um convívio mais intenso e mais longo, no futuro, com esses “espaços da elite”, ao promover o tête-à-tête indecoroso com a Janaína Paschoal. A noite de luxo no Hotel Copacabana Palace mostrou também como são diversos os seus objetos do desejos e os de enorme parte da população carioca, que sonha poder comprar um botijão de gás por mês.
A pequenez do ato, noite no hotel dos que “importam”, surge como metáfora sobre quem é e o que quer Freixo. Materializa-se como a oposição entre o político que se diz de esquerda e popular, mas sonha viver o quotidiano dos exploradores. Pequeno feito exemplar muito semelhante ao da garrafa milionária premonitória de Romanée-Conti, aberta pelo ex-sindicalista que festejava, com o publicitário de ouro, a vitória eleitoral em 2002.
* Mário Maestri, 71, é historiador.
Durante décadas, intelectuais progressistas, esquerdistas e marxistas acusaram Fernando Henrique Cardoso de trair, ao chegar à presidência, princípios que defendera quando sociólogo. Propõe-se que a viravolta teria sido registrada em frase que ele – a bem da verdade – jamais pronunciou: “Esqueçam o que escrevi”. FHC foi, desde sempre, um pensador pró-capitalista e pró-imperialista, que via avanço na submissão do Brasil ao grande capital e elogiava, no golpe de 1964, a ruptura com o getulismo e com o nacional-desenvolvimentismo. Propostas entreguistas já defendidas nos seus primeiros escritos sobre a “dependência”.
Temos que ser honestos também com Marcelo Freixo. Ele não retrocedeu um passo, na estranha confraternização. As visões de mundo que revelou ter em comum com a golpista empedernida constitui parte de sua mais profunda natureza política. Natureza que interpreta os sentimentos de grande parte de seu eleitorado, que não teve, portanto, o que criticar no seu contubérnio indecoroso. A confusão do povo de esquerda carioca e nacional, que admira Freixo, se deve à forma clara, direta, sem máscaras, com que ele apresentou suas concepções políticas e sociais.
Marcelo Freixo não é um trânsfuga, que abandonou a luta travada no passado contra o capital pelas delícias da colaboração de classes, como um Zé Dirceu, um Antônio Palocci, um Marco Aurélio Garcia, para citar exemplos ilustres. Ele foi sempre como se revelou, sem pudor, em “Quebrando o Tabu”. Porém, o debate infame não foi um raio em um céu azul, um tropeço inesperado nas filas da oposição, um inexplicável ponto fora da curva da luta contra o golpismo. Por além das idiossincrasias do político frouxo do PSOL, o debate registrou, límpida e dolorosamente, a tendência hegemônica do que a crônica política define, em forma inapropriada, como oposição de esquerda e popular ao governo atual. Orientação política rendicionista quase única e cada vez mais forte.
Abraçando o golpismo
Haddad e os governadores petistas do Nordeste; Boulos e Freixo no PSOL; Flávio Dino no PC do B; Tabata Amaral no PDT e tantos outros protagonistas colaboracionistas, são personificações excelentes da acomodação da “oposição parlamentar” ao arrasamento golpista dos direitos dos trabalhadores, da população e da própria nação brasileira, que segue a galope desenfreado. Apenas o Congresso aprovou em segundo turno a destruição da previdência, os deputados referendaram, no dia 14, a definida cinicamente “MP da Liberdade Econômica”, um outro estupro dos trabalhadores, que literalmente acabou com a folga dominical, entre outras barbaridades. Nada menos do que 345 deputados votaram a favor e desmilinguidos 76 contra – com a defecção de trinta deputados de oposição! Dos parlamentares petistas, vinte ficaram em casa, forma soft de registrar a adesão de fato ao Centrão.
Foi sobretudo no que não disse, que Freixo registrou seu compromisso com a antiga e com a atual ordem em construção no Brasil, com a qual tem apenas contradições não essenciais. Não pronunciou palavra contra a ação imperialista no Brasil, na América Latina e no mundo. En passant, de mãos dadas com Janaína, declarou que não gosta de Maduro. Nos quarenta minutos de “paz e amor” com a musa da ditadura em construção no Brasil, jamais saiu dos seus lábios a palavra “golpe”, para descrever o impeachment de 2016, o governo de Temer, as eleições fraudulentas de 2018. Como Haddad, Boulos et caterva, avalizou a legalidade do segundo governo golpista ilegal. Em vez de gritar Fora Bolsonaro, propôs em forma indireta o Fica Bolsonaro, até 2022!
Freixo jamais se referiu aos milhões de desempregados, mal empregados e super-explorados criados pelo golpe e não disse palavra sobre a legislação que pretende mantê-los para sempre na semi-escravidão assalariada, que multidões já conhecem. Apoiou a reforma do sistema de pensões público e privado, com divergências em pontos e intensidade do em vias de aprovação. Esqueceu que seu partido nasceu da resistência ao ataque ao que então os lulistas chamavam de privilégios. Reforma petista da previdência que empurrou multidões de servidores públicos aposentados para vida de dificuldades. Realidade que os golpistas agora radicalizam.
Freixo sequer se referiu ao pagamento da dívida pública monumental e esdrúxula, o verdadeiro nó górdio das finanças nacionais. Não disse palavra, mesmo desmaiada, sobre a liquidação a preço de banana podre dos bens nacionais, que o atual governo avança a freio solto sem qualquer oposição, com a literal colaboração, por inação, da CUT e da CTB. Os esquecimentos de Freixo das privatizações e da dívida espúria tranquilizaram certamente os grandes rentistas e o grande capital.
Sentimento de insegurança
Freixo não abordou os assassinatos incessantes de líderes rurais, de trabalhadores e de moradores das periferias urbanas; às invasões de escolas, sindicatos e locais de reuniões pelas forças policiais, sob o guarda-chuva da nova ordem golpista. Era como se vivêssemos, hoje, apenas, uma espécie de “sentimento” de insegurança, açulado e extremado pelo segundo governo golpista, em tudo igual, segundo a Bruxa Malvada, ao que os coxinhas teriam vivido nos anos anteriores à libertação golpista de 2016. Não disse palavra sobre os generais de entreguistas de aluguel que sustentam o golpismo, o massacre do mundo do trabalho, o assalto aos bens nacionais.
Freixo e seus comparsas políticos acreditam, ou querem acreditar, que não sofremos de qualidade, com o golpe, em 2016, que desequilibrou a sociedade brasileira em desfavor da população e da nação e em favor do imperialismo e do grande capital – categorias jamais ouvidas durante toda a afável tertúlia. Teria havido, apenas, deslizes de quantidade, no relativo sobretudo aos direitos civis. Excessos capazes de serem remediados com a aproximação e a negociação com os arrasadores de nossa sociedade, hoje com a lâmina da navalha já cortando o nosso pescoço. Para Freixo, a arte da política, hoje, não é buscar o doloroso e difícil caminho para vergar os ofensores e redimir os ofendidos.
Para o deputado federal e seus companheiros, não haveria contradição intransponível entre exploradores e explorados, entre o mundo do trabalho e os vivem e se locupletam da exploração e da marginalização do trabalhador. A arte da política, segundo Freixo, é encontrar o que os dois pólos têm comum. Sugere, assim, que, no passado, faltou apenas aproximação e diálogo entre o Ustra, de mão na maricota, e os prisioneiros políticos, dependurados no pau-de-arara. Ou, quando da escravidão, entre o feitor, segurando o “bacalhau”, e o cativo atado no palanque.
O que disse Freixo em “Quebrando o Tabu”, e Haddad vem repetindo da campanha até agora, é que não devemos lutar para pôr fim ao golpismo e à exploração! Nada de fora Bolsonaro, de fora Mourão, de eleições gerais limpas já! Ao contrário, temos que esperar as eleições de 2020 e, enquanto isso, reunir os racionais, deste lado e do outro, para retocarmos os excesso, sobretudo quanto aos direitos civis e democráticos, na ditadura cada vez mais dura do capital. A redenção viria em 2022, se houver eleições e se os golpistas não repetirem a manipulação eleitoral de 2018.
Um estranho no ninho
Freixo se mostrou como realmente é, uma espécie de Hillary Clinton do Leblon. Defensor dos direitos civis das mulheres, dos LGBT, dos negros, mas sem oposição com a exploração desapiedada da população e a destruição da nação. Ao participar do debate escandaloso, se preocupou com seu futuro político e com a candidatura a prefeito do Rio de Janeiro, em 2020, e, a seguir, a governador, e, quem sabe algum dia, a presidente, na nova ordem em construção, à qual não se opõe. Se eleito, em 2020, se comportará em forma respeitosa com a nova ordem, ao igual que os governadores do PT e do PCdoB.
Não há porque estranhar ou reclamar do debate do dia 6. Freixo é apenas um estranho em nossa trincheira, que, com sua natureza política, desorganiza os planos de resistência e contra-ataque. O programa e as bandeiras que levanta desarmam e desmoralizam tropas oposicionistas já confusas. Freixo aposta, hoje, nos vencedores. Procura, portanto, sem pejo, nos grandes e pequenos atos, delinear em traços fortes o perfil político colaboracionista que, em verdade, sempre foi seu.
No dia 13, enquanto a população do país se angustiava com as condições de existência cada vez mais degradadas, e o congresso avançava o massacre dos trabalhadores, foi flagrado na beira da piscina do Hotel Copacabana, símbolo da sociedade que se deu bem, sabemos à custa de quem. Passara uma noite de luxo no hotel cinco estrelas, local de convívio dos poderosos e donos da riqueza e do poder, para festejar os quarenta anos da esposa, segundo ele, uma ativa militante feminista.
Na celebração do natalício, botando dinheiro pela janela, Freixo viveu, fugazmente, um dos sonhos de sua vida. Ou seja, o de, nas suas palavras, “frequentar os espaços de elite”. Certamente pensou em um convívio mais intenso e mais longo, no futuro, com esses “espaços da elite”, ao promover o tête-à-tête indecoroso com a Janaína Paschoal. A noite de luxo no Hotel Copacabana Palace mostrou também como são diversos os seus objetos do desejos e os de enorme parte da população carioca, que sonha poder comprar um botijão de gás por mês.
A pequenez do ato, noite no hotel dos que “importam”, surge como metáfora sobre quem é e o que quer Freixo. Materializa-se como a oposição entre o político que se diz de esquerda e popular, mas sonha viver o quotidiano dos exploradores. Pequeno feito exemplar muito semelhante ao da garrafa milionária premonitória de Romanée-Conti, aberta pelo ex-sindicalista que festejava, com o publicitário de ouro, a vitória eleitoral em 2002.
* Mário Maestri, 71, é historiador.