Assinam as seguintes organizações e ativistas internacionais:
Socialist Fight – Grã Bretanha
Workers Socialist League – USA
Tendência Militante Bolchevique – Argentina
Revolutionary Communist Action – Grécia
Frente Comunista dos Trabalhadores – Brasil
CEDS – Centro de Estudos e Debates Socialistas – Brasil
Ady Mutero, Revolutionary Internationalist League – Zimbábue
Mohammad Basir Ul Haq Sinha, President, Inter Press
Network, Dhaka – Bangladesh
Akhar Bandyopadhyay, Bhagat Singh’s Socialist – Índia
Frank Fitzmaurice, Liverpool – Grã Bretanha
1. A libertação
final de Aleppo em meados de dezembro de 2016 foi uma derrota das milícias
jihadistas patrocinadas pelos EUA e seus aliados na Turquia, Arábia Saudita, Jordânia,
Catar, Emirados Árabes Unidos e a Líbia, para citar os mais proeminentes. Uma
vitória do imperialismo em Aleppo teria causado um enorme golpe à classe
operária Síria e do Oriente Médio.
2. A derrota do
imperialismo dos EUA, baseado nas grande bolsa de Wall Street e dos seus
aliados, das corporações transnacionais subordinadas na Europa e Japão, Austrália,
Nova Zelândia, Canadá, etc, foi uma vitória para a classe trabalhadora e todos
os povos oprimidos do planeta. Evidentemente, não é uma vitória socialista
revolucionária, mas fortalece a luta da classe operária da Síria contra o
imperialismo e, por conseguinte, põe em cheque a sua própria classe dominante.
3. Reafirmamos
com Marx e Engels (que desde 1869, quando o "Giro Irlandês" foi
defendido por Marx na carta para Ludwig Kugelmann [1]), e com os bolcheviques,
Lenin e Trotsky, a importância vital da distinção entre nações oprimidas e
opressoras. Nesse sentido, Lenine lutou heroicamente sua última batalha,
praticamente no seu leito de morte. Ele escreveu em dezembro de 1922,
defendendo:"punição exemplar ao camarada Ordzhonikidze. A grande responsabilidade política por toda essa campanha nacionalista Grã-russa deve evidentemente recair sobre Stalin e Dzerzhinsky [ chefe da Tcheka, serviço secreto da URSS, que viria a se transformar na GPU e depois KGB]. Sem um combate mortal ao chauvinismo russo no partido, todo nosso apoio aos movimentos de libertação anti-imperialistas seria completamente hipócrita: se nós próprios cometermos um lapso... tomando atitudes imperialistas sobre as nacionalidades oprimidas, minando todos os nossos sinceros princípios, todos os nossos princípios de defesa da luta contra o imperialismo e, entre o imperialismo e o mundo semicolonial."
4. Recusamos
totalmente a afirmação de que China ou Rússia são potências imperialistas no
sentido marxista como desenvolvido por Lênin em sua obra de 1916 “Imperialismo,
fase superior do capitalismo” e defendida por todos marxistas genuínos desde
então.
5. Portanto,
rejeitamos totalmente a proposição de que o conflito na Síria, no Oriente Médio
e globalmente, é um conflito entre dois imperialismos iguais e opostos, o
imperialismo ocidental dominado pelos EUA e o imperialismo oriental dominado
pela China-Rússia.
Algumas
organizações trotskistas afirmam que a URSS era um país de capitalismo de
estado, desde antes de sua queda em 1991. Nós nos mantivemos na linha definida
por Leon Trotsky, de caracterizar a URSS como um estado operário degenerado, e
o fizemos assim até o início do período de Ieltsin. Hoje, a Rússia é um estado
capitalista plenamente configurado, mas é preciso ter cuidado em caracterizá-la
como um país imperialista, porque isso significa igualá-la ao imperialismo
norte-americano e europeu, que cumpre um papel agressor no mundo inteiro.
No
mundo de hoje não existe uma realidade de choque entre imperialismos. A
apologia que vem sendo feita sobre um retorno da "guerra fria"
representa uma estratégia do imperialismo norte-americano para isolar a Rússia,
e também a China, e fortalecer ideologicamente os seus interesses. Não se deve
confundir certas características da Rússia, como a importância do seu parque
industrial, e o seu arsenal militar, que continua poderoso e inclusive se
revigora, como manifestações de uma política imperialista.
A
intervenção militar da Rússia na Síria, que pôs um limite aos bombardeios dos
EUA e da OTAN contra o governo de Bashar Al Assad e os ataques aéreos russos
contra o E.I. e outros grupos armados da Síria, são demonstrações militares do
nacionalismo russo, cioso de conservar a sua posição no Oriente Médio. Uma
parte da burguesia russa está identificada com esse nacionalismo e com a política internacional do Governo Putin, que
expressa os seus interesses de classe. A Gazprom é o maior exemplo dessa associação.
Mantida majoritariamente por capital estatal, é a maior empresa da Rússia e a
maior exportadora de gás natural do mundo, principalmente para a Europa. O
nacionalismo russo, herdeiro do tzarismo e do estado soviético degenerado, hoje
se opõe e resiste ao avanço do imperialismo em direção ao leste europeu, à
Ucrânia e à Síria, desempenhando dessa forma, e nessas situações específicas,
um papel progressivo. Frente à essas ameaças expansionistas da OTAN e do
imperialismo, a Rússia precisa ser defendida incondicionalmente pelos
revolucionários.
6. Desde o fim
da II guerra mundial só existe uma potência imperialista hegemônica mundial, os
EUA, mesmo que esteja em declínio sua influência política e seu poder
econômico. Todas as outras potências imperialistas estão subordinadas a esse
poder, embora contra a vontade. O dólar é, de longe, a mais importante moeda do
comércio mundial, nos mercados de ações, os EUA dominam o globo em aliança com
a City de Londres; o exército dos EUA e sua Marinha são mais fortes do que as
primeiras dez nações reunidas; e se somada aos seus aliados da OTAN, suas
forças militares são maiores que as 20 maiores forças militares nacionais do
planeta, reunidas. Tecnologicamente, e em quase todas as esferas estão muito à
frente dos demais países. Seus 10 porta-aviões (60% maiores do que os de seu
rival mais próximo) e nove navios de guerra para embarque de helicópteros têm
tanto espaço de convés como os outros 36 porta-aviões combinados no resto do
mundo. Os EUA tem mais de 800 bases militares em todo o globo. Os militares norte-americanos
estão presentes em 156 países e há bases militares dos EUA em 63 países. Os EUA
construíram novas bases militares em sete países desde 11 de setembro de 2001.
A Rússia possui seis bases militares, todas exceto Tartus, na Síria, em países
da ex-URSS. A China não possui qualquer base militar em outros países.
7. Isso não
significa que o imperialismo global não possa ser derrotado. Desde a vitória do
Vietnã, em 1975, os EUA tem dependido, em grande medida, de forças aliadas para
fazer o seu trabalho sujo, mas essas forças podem se voltar contra eles. Osama
Bin Laden foi em seu momento um agente da CIA e, apesar de a CIA ter comemorado
a derrubada de Najibullah no Afeganistão em 1996, suas criaturas (Al Qaeda e
ISIS) se voltaram contra os EUA na Líbia, no Iraque, na Síria e no norte da
África. Sua derrota em Aleppo mostra as suas limitações; ‘boots on the ground’
(Botas no chão: significa ocupação com tropas terrestres, algo que o
imperialismo mais tem evitado, para fugir de baixas militares e reveses
políticos decorrentes). O imperialismo ainda sofre com a síndrome do Vietnã. A
oposição pública impediu o bombardeio de Damasco em 2013 com medo de uma
repetição das imagens de fuga desesperada de helicópteros dos EUA de milhões de
dólares para fora de Saigon em abril de 1975.
8. Ao dar apoio
incondicional, mas crítico às forças lideradas pelo governo e o exército Sírio
de Assad, e seus aliados, do Exército Russo, dos guerrilheiros do Hezbollah,
das milícias iranianas, contra o imperialismo, nós não damos qualquer apoio
político a essas forças burguesas nacionalistas e não espalhamos a ilusão de
que eles querem derrotar o imperialismo.
9. A classe
trabalhadora síria, egípcia, turca, iraniana, iraquiana, libanesa, israelense,
palestina e líbia deve construir seu próprio programa revolucionário baseado em
princípios anti-imperialistas, antisionistas, em conselhos de trabalhadores
para combater pelos Estados Unidos socialistas do Oriente Médio e do Norte da África.
10. Se
substituirmos o nome de Chiang kai-Shek pelo de nacionalistas como Assad, a
citação de Trotsky de 1937 sobre a invasão da China pelo imperialismo japonês,
mantém toda a sua vitalidade política:
"Nós não precisamos ter ilusões em Chiang kai-Shek, seu partido, ou em toda a classe dominante da China, assim como Marx e Engels não tinham ilusões nas classes dirigentes da Irlanda e Polônia. Chiang Kai-Shek é o carrasco dos chineses, trabalhadores e camponeses. Mas hoje ele é forçado, apesar de si próprio, a lutar contra o Japão pelo que resta da independência da China. Amanhã ele pode trair outra vez. É possível. É provável. É mesmo inevitável. Mas hoje ele está lutando. E somente covardes, canalhas ou imbecis completos podem se recusar a participar dessa luta."
11. Bashar Hafez
Al-Assad luta desde 2011 pelo que resta da independência da Síria. A Síria
rompeu o espiral da ofensiva de derrubada de regimes realizadas pelos EUA desde
a declaração de guerra contra o terror de 11 de setembro de 2001 feita pelo presidente
norte-americano George W Bush.
12. As ofensivas
imperialistas foram: Afeganistão (Operação Liberdade Duradoura, 2001); Iraque
(Operação Liberdade do Iraque, 2003); Líbia (OTAN lidera coligação pelo
bombardeio do país, apoiada na Resolução do Conselho de Segurança da ONU de
1973, 2011 ); Mali e vizinhanças (Operação Liberdade Duradoura - Trans Saara,
2012-3); Somália, (Operação Liberdade Duradoura - Chifre da África, 2006) e na
Ucrânia (2014). Apesar dos títulos dessas campanhas militares, nenhuma
liberdade de qualquer tipo concebível chegou a essas terras.
13. Em todos esses
casos, os revolucionários socialistas estavam pela derrota das forças
imperialistas e pela vitória de seus oponentes, mesmo que fosse reacionária e
de direita a direção desses oponentes. Esta é a tradição dos comunistas
revolucionários anti-imperialistas até 1922, é a posição de Trotsky em 1936 na
Abissínia [hoje Etiópia] contra a invasão italiana e, em 1937, na China (citada
cima); e em 1938 Trotsky formula uma hipotética invasão britânica do Brasil governado
então pelo semi-fascista Getúlio Vargas, e defende que os revolucionários
deveriam estar do lado da ditadura contra o imperialismo britânico.
14. Numa guerra
entre as potências imperialistas somos pelo derrotismo duplo, de ambos os
lados, ou seja, defendemos a derrota do próprio Exército de cada uma das nações
imperialistas. Essa é a única posição internacionalista marxista que deve ser
defendida. Mantemos a tradição de Karl Liebknecht, expressa no seu famoso
folheto: “O principal inimigo está em casa!” (Maio de 1915) cujo
princípio vital é:
"o principal inimigo do povo alemão está na Alemanha: é o imperialismo alemão, o partido da guerra alemão, a diplomacia secreta alemã. Este inimigo deve ser combatido em casa pelo povo alemão em uma luta política, cooperando com o proletariado de outros países, cuja luta também se realiza contra os seus próprios imperialistas".
15. Em todas as
guerras imperialistas contra países semicoloniais, seja por invasões e
atentados ou pela utilização de Exércitos de mercenários aliados, defendemos a
derrota de uma potência imperialista e a vitória da semicolônia. Existem dois
motivos para adotar esta posição:
(A) uma derrota
do imperialismo em seu ataque contra uma nação semicolonial aumenta a autoconfiança
da classe trabalhadora dessa nação em lidar com sua própria classe dominante;
(B)
Provavelmente a razão mais importante para adotar essa posição seja porque ela
significa um grande golpe contra a atitude chauvinista de setores da classe
trabalhadora no país imperialista, chauvinismo que é constantemente reforçado
pelo estabelecimento político capitalista e seus agentes no interior do
movimento operário, a burocracia sindical e as direções dos partidos social
democrata / trabalhistas. A Síndrome do Vietnam, após a libertação de Saigon, em
1975, foi muito importante para favorecer a atividade anti-imperialista dos
revolucionários. Devemos trabalhar politicamente para que a libertação de Aleppo,
em dezembro de 2016, provoque uma ativa inspiração semelhante.
16. A derrota do
imperialismo em todos os lugares requer uma nova Internacional que seja
anti-capitalista e anti-imperialista. É a isso que dedicamos a nossa luta.
17. A libertação
completa de Aleppo, da Síria, do Oriente Médio e do planeta só ocorrerá através
da revolução socialista contra todos os governos capitalistas.