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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

ALEPPO - DECLARAÇÃO INTERNACIONAL

A libertação de Aleppo e as tarefas dos revolucionários anti-imperialistas e socialistas
Assinam as seguintes organizações e ativistas internacionais:

Socialist Fight – Grã Bretanha
Workers Socialist League – USA
Tendência Militante Bolchevique – Argentina
Revolutionary Communist Action – Grécia
Frente Comunista dos Trabalhadores – Brasil
CEDS – Centro de Estudos e Debates Socialistas – Brasil
Ady Mutero, Revolutionary Internationalist League – Zimbábue
Mohammad Basir Ul Haq Sinha, President, Inter Press Network, Dhaka – Bangladesh
Akhar Bandyopadhyay, Bhagat Singh’s Socialist – Índia
Frank Fitzmaurice, Liverpool – Grã Bretanha

1. A libertação final de Aleppo em meados de dezembro de 2016 foi uma derrota das milícias jihadistas patrocinadas pelos EUA e seus aliados na Turquia, Arábia Saudita, Jordânia, Catar, Emirados Árabes Unidos e a Líbia, para citar os mais proeminentes. Uma vitória do imperialismo em Aleppo teria causado um enorme golpe à classe operária Síria e do Oriente Médio.

2. A derrota do imperialismo dos EUA, baseado nas grande bolsa de Wall Street e dos seus aliados, das corporações transnacionais subordinadas na Europa e Japão, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, etc, foi uma vitória para a classe trabalhadora e todos os povos oprimidos do planeta. Evidentemente, não é uma vitória socialista revolucionária, mas fortalece a luta da classe operária da Síria contra o imperialismo e, por conseguinte, põe em cheque a sua própria classe dominante.
3. Reafirmamos com Marx e Engels (que desde 1869, quando o "Giro Irlandês" foi defendido por Marx na carta para Ludwig Kugelmann [1]), e com os bolcheviques, Lenin e Trotsky, a importância vital da distinção entre nações oprimidas e opressoras. Nesse sentido, Lenine lutou heroicamente sua última batalha, praticamente no seu leito de morte. Ele escreveu em dezembro de 1922, defendendo:
"punição exemplar ao camarada Ordzhonikidze. A grande responsabilidade política por toda essa campanha nacionalista Grã-russa deve evidentemente recair sobre Stalin e Dzerzhinsky [ chefe da Tcheka, serviço secreto da URSS, que viria a se transformar na GPU e depois KGB]. Sem um combate mortal ao chauvinismo russo no partido, todo nosso apoio aos movimentos de libertação anti-imperialistas seria completamente hipócrita: se nós próprios cometermos um lapso... tomando atitudes imperialistas sobre as nacionalidades oprimidas, minando todos os nossos sinceros princípios, todos os nossos princípios de defesa da luta contra o imperialismo e, entre o imperialismo e o mundo semicolonial."
4. Recusamos totalmente a afirmação de que China ou Rússia são potências imperialistas no sentido marxista como desenvolvido por Lênin em sua obra de 1916 “Imperialismo, fase superior do capitalismo” e defendida por todos marxistas genuínos desde então.

5. Portanto, rejeitamos totalmente a proposição de que o conflito na Síria, no Oriente Médio e globalmente, é um conflito entre dois imperialismos iguais e opostos, o imperialismo ocidental dominado pelos EUA e o imperialismo oriental dominado pela China-Rússia.
            Algumas organizações trotskistas afirmam que a URSS era um país de capitalismo de estado, desde antes de sua queda em 1991. Nós nos mantivemos na linha definida por Leon Trotsky, de caracterizar a URSS como um estado operário degenerado, e o fizemos assim até o início do período de Ieltsin. Hoje, a Rússia é um estado capitalista plenamente configurado, mas é preciso ter cuidado em caracterizá-la como um país imperialista, porque isso significa igualá-la ao imperialismo norte-americano e europeu, que cumpre um papel agressor no mundo inteiro. 

            No mundo de hoje não existe uma realidade de choque entre imperialismos. A apologia que vem sendo feita sobre um retorno da "guerra fria" representa uma estratégia do imperialismo norte-americano para isolar a Rússia, e também a China, e fortalecer ideologicamente os seus interesses. Não se deve confundir certas características da Rússia, como a importância do seu parque industrial, e o seu arsenal militar, que continua poderoso e inclusive se revigora, como manifestações de uma política imperialista.

            A intervenção militar da Rússia na Síria, que pôs um limite aos bombardeios dos EUA e da OTAN contra o governo de Bashar Al Assad e os ataques aéreos russos contra o E.I. e outros grupos armados da Síria, são demonstrações militares do nacionalismo russo, cioso de conservar a sua posição no Oriente Médio. Uma parte da burguesia russa está identificada com esse nacionalismo e com a  política internacional do Governo Putin, que expressa os seus interesses de classe. A Gazprom é o maior exemplo dessa associação. Mantida majoritariamente por capital estatal, é a maior empresa da Rússia e a maior exportadora de gás natural do mundo, principalmente para a Europa. O nacionalismo russo, herdeiro do tzarismo e do estado soviético degenerado, hoje se opõe e resiste ao avanço do imperialismo em direção ao leste europeu, à Ucrânia e à Síria, desempenhando dessa forma, e nessas situações específicas, um papel progressivo. Frente à essas ameaças expansionistas da OTAN e do imperialismo, a Rússia precisa ser defendida incondicionalmente pelos revolucionários.

6. Desde o fim da II guerra mundial só existe uma potência imperialista hegemônica mundial, os EUA, mesmo que esteja em declínio sua influência política e seu poder econômico. Todas as outras potências imperialistas estão subordinadas a esse poder, embora contra a vontade. O dólar é, de longe, a mais importante moeda do comércio mundial, nos mercados de ações, os EUA dominam o globo em aliança com a City de Londres; o exército dos EUA e sua Marinha são mais fortes do que as primeiras dez nações reunidas; e se somada aos seus aliados da OTAN, suas forças militares são maiores que as 20 maiores forças militares nacionais do planeta, reunidas. Tecnologicamente, e em quase todas as esferas estão muito à frente dos demais países. Seus 10 porta-aviões (60% maiores do que os de seu rival mais próximo) e nove navios de guerra para embarque de helicópteros têm tanto espaço de convés como os outros 36 porta-aviões combinados no resto do mundo. Os EUA tem mais de 800 bases militares em todo o globo. Os militares norte-americanos estão presentes em 156 países e há bases militares dos EUA em 63 países. Os EUA construíram novas bases militares em sete países desde 11 de setembro de 2001. A Rússia possui seis bases militares, todas exceto Tartus, na Síria, em países da ex-URSS. A China não possui qualquer base militar em outros países.

7. Isso não significa que o imperialismo global não possa ser derrotado. Desde a vitória do Vietnã, em 1975, os EUA tem dependido, em grande medida, de forças aliadas para fazer o seu trabalho sujo, mas essas forças podem se voltar contra eles. Osama Bin Laden foi em seu momento um agente da CIA e, apesar de a CIA ter comemorado a derrubada de Najibullah no Afeganistão em 1996, suas criaturas (Al Qaeda e ISIS) se voltaram contra os EUA na Líbia, no Iraque, na Síria e no norte da África. Sua derrota em Aleppo mostra as suas limitações; ‘boots on the ground’ (Botas no chão: significa ocupação com tropas terrestres, algo que o imperialismo mais tem evitado, para fugir de baixas militares e reveses políticos decorrentes). O imperialismo ainda sofre com a síndrome do Vietnã. A oposição pública impediu o bombardeio de Damasco em 2013 com medo de uma repetição das imagens de fuga desesperada de helicópteros dos EUA de milhões de dólares para fora de Saigon em abril de 1975.

8. Ao dar apoio incondicional, mas crítico às forças lideradas pelo governo e o exército Sírio de Assad, e seus aliados, do Exército Russo, dos guerrilheiros do Hezbollah, das milícias iranianas, contra o imperialismo, nós não damos qualquer apoio político a essas forças burguesas nacionalistas e não espalhamos a ilusão de que eles querem derrotar o imperialismo.

9. A classe trabalhadora síria, egípcia, turca, iraniana, iraquiana, libanesa, israelense, palestina e líbia deve construir seu próprio programa revolucionário baseado em princípios anti-imperialistas, antisionistas, em conselhos de trabalhadores para combater pelos Estados Unidos socialistas do Oriente Médio e do Norte da África.

10. Se substituirmos o nome de Chiang kai-Shek pelo de nacionalistas como Assad, a citação de Trotsky de 1937 sobre a invasão da China pelo imperialismo japonês, mantém toda a sua vitalidade política:
"Nós não precisamos ter ilusões em Chiang kai-Shek, seu partido, ou em toda a classe dominante da China, assim como Marx e Engels não tinham ilusões nas classes dirigentes da Irlanda e Polônia. Chiang Kai-Shek é o carrasco dos chineses, trabalhadores e camponeses. Mas hoje ele é forçado, apesar de si próprio, a lutar contra o Japão pelo que resta da independência da China. Amanhã ele pode trair outra vez. É possível. É provável. É mesmo inevitável. Mas hoje ele está lutando. E somente covardes, canalhas ou imbecis completos podem se recusar a participar dessa luta."
11. Bashar Hafez Al-Assad luta desde 2011 pelo que resta da independência da Síria. A Síria rompeu o espiral da ofensiva de derrubada de regimes realizadas pelos EUA desde a declaração de guerra contra o terror de 11 de setembro de 2001 feita pelo presidente norte-americano George W Bush.

12. As ofensivas imperialistas foram: Afeganistão (Operação Liberdade Duradoura, 2001); Iraque (Operação Liberdade do Iraque, 2003); Líbia (OTAN lidera coligação pelo bombardeio do país, apoiada na Resolução do Conselho de Segurança da ONU de 1973, 2011 ); Mali e vizinhanças (Operação Liberdade Duradoura - Trans Saara, 2012-3); Somália, (Operação Liberdade Duradoura - Chifre da África, 2006) e na Ucrânia (2014). Apesar dos títulos dessas campanhas militares, nenhuma liberdade de qualquer tipo concebível chegou a essas terras.

13. Em todos esses casos, os revolucionários socialistas estavam pela derrota das forças imperialistas e pela vitória de seus oponentes, mesmo que fosse reacionária e de direita a direção desses oponentes. Esta é a tradição dos comunistas revolucionários anti-imperialistas até 1922, é a posição de Trotsky em 1936 na Abissínia [hoje Etiópia] contra a invasão italiana e, em 1937, na China (citada cima); e em 1938 Trotsky formula uma hipotética invasão britânica do Brasil governado então pelo semi-fascista Getúlio Vargas, e defende que os revolucionários deveriam estar do lado da ditadura contra o imperialismo britânico.

14. Numa guerra entre as potências imperialistas somos pelo derrotismo duplo, de ambos os lados, ou seja, defendemos a derrota do próprio Exército de cada uma das nações imperialistas. Essa é a única posição internacionalista marxista que deve ser defendida. Mantemos a tradição de Karl Liebknecht, expressa no seu famoso folheto: “O principal inimigo está em casa!” (Maio de 1915) cujo princípio vital é:
"o principal inimigo do povo alemão está na Alemanha: é o imperialismo alemão, o partido da guerra alemão, a diplomacia secreta alemã. Este inimigo deve ser combatido em casa pelo povo alemão em uma luta política, cooperando com o proletariado de outros países, cuja luta também se realiza contra os seus próprios imperialistas".
15. Em todas as guerras imperialistas contra países semicoloniais, seja por invasões e atentados ou pela utilização de Exércitos de mercenários aliados, defendemos a derrota de uma potência imperialista e a vitória da semicolônia. Existem dois motivos para adotar esta posição:

(A) uma derrota do imperialismo em seu ataque contra uma nação semicolonial aumenta a autoconfiança da classe trabalhadora dessa nação em lidar com sua própria classe dominante;

(B) Provavelmente a razão mais importante para adotar essa posição seja porque ela significa um grande golpe contra a atitude chauvinista de setores da classe trabalhadora no país imperialista, chauvinismo que é constantemente reforçado pelo estabelecimento político capitalista e seus agentes no interior do movimento operário, a burocracia sindical e as direções dos partidos social democrata / trabalhistas. A Síndrome do Vietnam, após a libertação de Saigon, em 1975, foi muito importante para favorecer a atividade anti-imperialista dos revolucionários. Devemos trabalhar politicamente para que a libertação de Aleppo, em dezembro de 2016, provoque uma ativa inspiração semelhante.

16. A derrota do imperialismo em todos os lugares requer uma nova Internacional que seja anti-capitalista e anti-imperialista. É a isso que dedicamos a nossa luta.

17. A libertação completa de Aleppo, da Síria, do Oriente Médio e do planeta só ocorrerá através da revolução socialista contra todos os governos capitalistas.
O navio de guerra 'Aurora', o que disparou o primeiro tiro na Revolução
Russa 
em outubro de 1917: "A libertação completa de Aleppo, toda a Síria,
no Oriente Médio e para o planeta só ocorrerá através da revolução
socialista contra todos os governos capitalistas."