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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

CORRESPONDÊNCIA SOBRE A URSS, TECNOLOGIA, STALINISMO E EDUCAÇÃO

“Porque a URSS não ganhou dos norte-americanos?”

Publicamos abaixo a correspondência entre um professor de física da
Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo e seu aluno, um camarada da FCT.

Carta do Professor Fábio a Antonio
"Sabe, sempre fico pensando porque a URSS não começou uma fase de ouro, como o pós-guerra 2 americano, já que tinham tanta tecnologia.Uma vez assisti uma palestra sobre foquetes. Nesta palestra, foi dito que quem dominava tenologia para lançar foguetes, eram muito desenvolvidos tecnologicamente." Você precisa de muita tecnologia para criar um foguete balístico" foi dito. E ainda que, os subprodutos dessa tecnologia são imensas em favor da população.
Como eles (URSS) deixaram os norte-americanos dominar o mundo?Porque a tecnologia na época não era aproveitada para ser repassada para melhorar a qualidade de vida da população? (Contrariamente, parece que o que rolou foi porrada/expurgo/miséria).Porque não aplicaram sua super tecnologia para produzir carrões em massa?Porque não fizeram liquidificadores em massa?Porque não fizeram rádios em massa?
Porque não fizeram fogões e geladeiras em massa?Porque não incitaram o desejo da população?Eles tinham tecnologia para fazer tudo isso, mas a população tinha alguma forma de cambiar sua produção por produtos desse tipo? Sinceramente eu não sei.Porque a URSS não ganhou dos norte-americanos?Gostaria de saber isso.Outra coisa que eu gostaria de saber é: Como eram os métodos de educação no tempo da super industrialização e tecnologização da URSS. Como era a relação professor aluno?Gostaria de estudar e imitar e aplicar a metodologia ao ensino de física.O método deveria ser bom, pois fazia os alunos aprender rápido e de forma eficaz.Tinha faculdade para todo mundo?Como será que era um curso de cálculo e de física?Será que conseguiríamos fazer uma aproximação para da metodologia de ensino russo da época de ouro da URSS para o curso de mecânica de fluidos da FATEC no semestre de vocês? Vamos pegar os livros russo de Mec. Flu. russos da década de 70 e aplicar para a turma de vocês?Creio exigiria muito de meu profissionalismo.
Preciso saber como se comportavam os professores russos na época, etc....Deve ser louco fazer estas experiências.De partida tem que estudar a metologia de ensino na Rússia.Isso da uma iniciação.Atenciosamente,

FAB"
Obs.: Fábio é um dos professores mais qualidicados da FATEC, é PHD em física pela Universidade de París III e pós-doutor em química teórica também pela Sourbone


Resposta de Antonio a Fabio:
Mísseis balísticos durante uma parada militar
na Praça Vermelha, Moscou, URSS, 7 de novembro de 1969
"Caro Fábio, você reuniu muitas perguntas de relevância fundamental para a compreensão da história e o mundo que vivemos e porque o capitalismo segue triunfante apesar de todas as desgraças que vem causando a humanidade e à natureza. Para te responder precisei da ajuda de alguns camaradas e de reler vários textos sobre os temas por você abordados. Não poderia respondê-lo de forma simplista. Então, para cada resposta há notas de roda pé para dar consistência a mesma. Te peço um pouco de paciência para ler a resposta e acompanhar o raciocínio que deverá ainda assim ter lá suas lacunas, as quais, caso deseje, me aponte. 
Sim, como você relembra a URSS atingiu um grau de desenvolvimento inédito no mundo [1]. Graças as energias desatadas pela revolução social naquele imenso país, livrando os seus recursos da exploração capitalista e imperialista a URSS adquiriu um desenvolvimento econômico, militar e tecnológico incomparáveis até então na história. Aí se incluem uma tecnologia de ponta, criada pela superação de um analfabetismo que atingia em média 70% da população, os mísseis balísticos, como você bem notou, o lançamento dos primeiros foguetes tripulados para fora da estratosfera e muitas outras descobertas. 
A URSS não foi isolada do resto do mundo por um bloqueio econômico do imperialismo, ela superou as tentativas de bloqueio do mundo capitalista sobre ela a partir de muitas revoluções que ocorreram desobedecendo as ordens de Moscou que se interessava apenas em criar um cordão de isolamento sanitários em torno de suas fronteiras e negociar as demais revoluções em troca da “realista” política de “convivência pacífica” com o imperialismo. A multiplicação de Estados operários no pós guerra, Estados de economia transicional entre o capitalismo e o socialismo poderia ter aberto sim uma fase de ouro de economias não capitalistas infinitamente mais fortes que as três décadas gloriosas onde do outro lado também se consolidou o domínio do imperialismo dos EUA sobre o globo. A ex-colônia britânica foi conduzida ao topo da cadeia alimentar imperialista. [2]. Mas a URSS, apesar do potencial constatado, foi conduzida ao estrangulamento econômico justamente pela impossibilidade de competir com o imperialismo na corrida armamentista [3], lucrativa para os EUA, exaustiva para a URSS. 
Os EUA venceram porque criaram um império apoiado em grandes conglomerados de corporações transnacionais para se tornarem o guardião do mundo capitalista contra a revolução mundial. A URSS foi derrotada por não reagir a esta política organizando efetivamente a revolução social em todos e cada um dos países, ora renunciando, por sectarismo, a unificar forças com os socialistas contra o nazismo, o que permitiu a ascensão de Hitler; ora renunciando, por oportunismo, a independência política dos PCs frente a burguesia através da política de colaboração de classes das frentes populares em quase todas as nações burguesas. De modo que até a III Internacional, criada em 1919, logo após a vitória da Revolução bolchevique, foi extinta em 1943, em meio a II Guerra mundial para tranquilizar os aliados ocidentais e foi realizado uma espécie de “Tratado de Tordesilhas” de contenção da revolução social, de divisão covarde do mundo com os EUA e Inglaterra, os acordos de Yalta e Potsdan. A derrota não era inevitável, foi definida pela política feita por Moscou. O stalinismo traçou o destino da URSS [4]. 
A pressão imperialista e sua chantagem atômica se combinaram com a desastrosa política internacional de contenção das revoluções e o parasitismo nacional. O desfecho da guerra fria poderia ter sido outro se a burocracia e sua política tivesse sido derrotada pelos próprios trabalhadores [5] no que nós chamamos de revolução política proletária, antes da contrarrevolução social de 1991. 
Quanto a questão da quantidade e da qualidade dos bens de consumo. Ainda que não parasitasse parcelas da economia nacional como uma classe dominante proprietária, como faz a burguesia, a burocracia sugava outra fração considerável dos recursos desviada para seus privilégios de casta. Ela tinha acesso a bens de consumo de luxo contrabandeados pelo mercado negro do exterior. Para manter-se no poder essa burocracia exercia um controle despótico sobre o Estado e a economia que impediram que o processo de produção pudesse estabelecer um diálogo entre produtores e consumidores, o que só é possível em uma verdadeira democracia proletária, ou seja, em uma verdadeira democracia soviética que assegurasse tanto uma saída para o problema do abastecimento quanto da qualidade dos bens de consumo. Dentre os fatores que Trotsky elencava importantes para caracterizar o estágio transicional entre o capitalismo e o socialismo, ou seja, ainda não socialista da URSS, estavam a técnica, a cultura e os bens de consumo: 
“A Rússia não era o elo mais forte, senão o mais fraco da corrente capitalista. A atual União Soviética não está acima do nível econômico mundial, mas está somente tentando alcançar os países capitalistas. Se Marx chamava a sociedade a ser formada sobre a base da socialização das forças produtivas dos países capitalistas mais avançados da época de o estágio inferior do comunismo, então essa designação obviamente não se aplica à União Soviética, que ainda hoje é consideravelmente mais pobre em técnica, cultura e bens de consumo que os países capitalistas. Seria mais verdadeiro, portanto, chamar o atual regime soviético com todas as suas contradições não de regime socialista, mas de um regime transicional preparatório do capitalismo para o socialismo. Não há uma gota de pedantismo em abordar essa precisão terminológica. A força e estabilidade dos regimes são determinados, a longo prazo, pela sua produtividade do trabalho relativa. Uma economia socialista possuindo uma técnica superior à do capitalismo deveria realmente ter garantido o seu desenvolvimento socialista – digamos assim, automaticamente - uma coisa que infelizmente ainda é impossível de dizer sobre a economia soviética.” [6] https://www.marxists.org/.../1936/revolucaotraida/cap03.htm
"Para produzir mais, você precisa saber mais "
Sobre a questão de como esta superindustrialização e tecnologia se projetaram no campo da pedagogia, na relação professor aluno, na metodologia de ensino, inclusive no de física. E sim os métodos faziam os alunos aprenderem tão rápido e eficazmente que em menos de duas décadas reduziram o analfabetismo que atingia 70% da população para menos de 10% em menos de 20 anos [7].
Quanto a possibilidade de aplicarmos o que for possível tais metodologias no curso de mecânica de fluidos da FATEC seria formidável [8], tenha a mim como um parceiro na primeira linha do que precisar para tal empreitada!" 
Antonio
Notas

1. A partir da II Guerra Mundial – vencida sobretudo pela própria URSS que varreu o todo-poderoso Exército do III Reich de Moscou a até Berlin – justamente em meio aos trinta anos gloriosos do imperialismo estadunidense, as ocupações burocráticas do Leste Europeu, somadas a URSS expandida e as revoluções sociais na Iugoslávia (1945), China (1949), Coréia do Norte (1950), Cuba (1961), Vietnã (1975) resultaram que 1/3 da população mundial chegou a viver em países onde foi expropriada a propriedade privada dos meios de produção (não confundir com propriedade individual dos bens de consumo).

Já durante a década anterior a Segunda Guerra, em 1936, quando EUA e Europa sofriam a grande crise de 1929 e estava as vésperas da crise de 1937, a partir da própria Wall Street o mundo capitalista desabava e as economias burguesas exigiam uma nova guerra para recuperar suas taxas de lucros, a URSS justificava sua existência alavancando um dos países mais atrasados da Europa do ponto de vista de seu desenvolvimento capitalista à condição de potência mundial. Como notava um dos fundadores da URSS, o revolucionário russo Leon Trotsky, banido do país e posteriormente executado a mando de Stalin:

“O enorme papel da industrialização na União Soviética, contraposto a um quadro de estagnação e declínio na maior parte dos países capitalistas, aparece indiscutivelmente nos índices brutos seguintes. A produção industrial na Alemanha, graças tão-somente ao ritmo febril de preparação para guerra, está hoje retornando aos níveis de 1929. Na Grã-Bretanha, devido ao forte protecionismo, subiu uns 3 ou 4 por cento nesses 6 anos. A produção industrial nos Estados Unidos, diminui aproximadamente 25 por cento; na França, 30 por cento. O primeiro lugar entre os capitalistas é ocupado pelo Japão, o qual está se armando furiosamente e saqueando os seus vizinhos. A sua produção subiu aproximadamente 40 por cento! Mas até esses índices excepcionais caem por terra comparados com os índices da União Soviética. A sua produção industrial cresceu, nesse mesmo período, cerca de 3,5 vezes, ou, em porcentagem, 250 por cent o. A indústria pesada aumentou sua produção na última década (1925 a 1935) em mais de 10 vezes. No primeiro ano do primeiro plano quinquenal (1928 a 1929) o montante de capital investido foi de 5,4 bilhões de rublos; em 1936, esse montante é estimado em 32 bilhões.

Dado a instabilidade do rublo como padrão monetário, nós vamos sair das medidas em dinheiro e partir para um padrão que é absolutamente inquestionável. Em dezembro de 1913, a bacia do Don produziu 2 275 000 toneladas de carvão; em dezembro de 1935, 7 125 000 toneladas. Durante os últimos três anos, a produção de ferro dobrou. A produção de aço e laminados cresceu cerca de 2,5 vezes. A extração de petróleo, carvão e ferro cresceu entre 3 e 3,5 vezes os níveis de antes da guerra [I Guerra Mundial, N.T.]. Em 1920, quando o primeiro plano de eletrificação foi desenhado, havia 10 estações de energia distritais no país com uma capacidade total de 253 000 quilowatts. Em 1935, havia 95 dessas estações com uma capacidade total de 4 345 000 quilowatts. Em 1925, a União Soviética ficava em 11º lugar no mundo na produção de energia elétrica; em 1935 estava atrás apenas da Alemanha e dos Estados Unidos. Na produção de carvão, a União Soviética foi de 10º para 4º lugar. No aço, de 6º para 3º. Na produção de tratores, é o primeiro lugar no mundo. O mesmo acontece com a produção de açúcar.

Desenvolvimento gigantesco na indústria, enormes perspectivas começando na agricultura, um crescimento extraordinário das antigas cidades industriais e a construção de novas, um número crescente de trabalhadores [ da cidade, N.T.], um aumento no nível cultural e nas demandas por cultura – esses são os resultados inquestionáveis da Revolução de Outubro, na qual os profetas do Velho Mundo tentam ver a sepultura da humanidade. Com os economistas burgueses nós não temos mais nada a discutir. O socialismo mostrou seu mérito e vitória, não nas páginas de O Capital, senão na arena industrial que compreende 1/6 da superfície da Terra – não nos termos da dialética, mas nos termos do aço, da eletricidade e do cimento. Mesmo se a União Soviética, devido a dificuldades internas, ataques externos e erros dos dirigentes, colapsasse – o que firmemente esperamos que não aconteça – iria permanecer para o futuro esse fato indestrutível, que tão-somente por causa da revolução proletária, um país atrasado conseguiu em 10 anos um ritmo de desenvolvimento que nenhum país já conseguiu em toda a história da humanidade.”

https://www.marxists.org/.../1936/revolucaotraida/cap01.htm

2. Por que os EUA? Pelas forças concentradas por todo o mundo capitalista nos EUA, criando um império sem igual no domínio do planeta. Todo o mundo capitalista apoiou a ex-colônia inglesa dos EUA como guardião planetário “contra o fantasma do comunismo”.

Os EUA foi um país que alcançou um grande desenvolvimento capitalista graças a sua luta pela libertação do imperialismo britânico e pela derrota imposta pelo norte industrializado contra o sul escravocrata, consumando um tipo superior de desenvolvimento econômico das forças produtivas. As vantagens comparativas deste processo ao modelo originário inglês logo viriam a dar um salto de qualidade com o fordismo; soma-se a isso o fato de que os EUA saíram ilesos em seu território continental das duas grandes guerras mundiais do século XX, a diferença de todas as outras grandes potencias capitalistas, ou seja, os EUA só obtiveram bônus e quase nenhum ônus com as guerras.

3. A partir das condições de desenvolvimento descritas na nota anterior os EUA criaram uma relação de causa e efeito cuja a manutenção de seu domínio se condicionou ao desenvolvimento das forças destrutivas: o imperialismo estadunidense se voltou principalmente para o desenvolvimento armamentista, isso permitiu, a partir de sua superpotência militar drenar recursos do conjunto dos demais países do mundo, sobretudo os oprimidos. E isto reforçou seu desenvolvimento armamentista. A URSS, por seu caráter de Estado operário, não poderia competir nesta corrida gozando da mesma relação de causa e efeito antes mencionada. Então, se para os EUA a corrida armamentista dinamizou sua economia e rendeu espetaculares lucros que continuaram crescendo astronomicamente mesmo com o final da URSS, na URSS, a corrida armamentista consumiu recursos preciosos que poderiam ter melhorado as condições de vida do Estado operário que já possuía sua economia parasitada pela burocracia stalinista. Isso foi o que debilitou a URSS e precipitou seu esgotamento final com a guerra civil no Afeganistão, fomentada pela CIA.

4. Embora seja fácil, post-factum, acreditar que a derrota da URSS fosse inevitável diante da superioridade militar do imperialismo, cairíamos no fatalismo e acreditaríamos no que os vencedores desejam que acreditemos hoje: que a história acabou no capitalismo e que as revoluções proletárias foram acidentes de percurso e não consistentes ensaios de uma era futura, com todos seus erros e limitações que todo processo carrega em seu princípio. As revoluções proletárias do século XX foram ensaios da vitória futura dos trabalhadores sobre a burguesia tão ou mais contundentes do que foi a primeira revolução burguesa contra a aristocracia de Castela em 1383-1385, a revolução que consolidou Portugal como um Estado independente, deu início a era dos Descobrimentos e ao Império português, o primeiro império global da história;

Em poucas palavras, a derrota foi causada pelas fraquezas e limites da camarilha stalinista cujas concepções políticas foram responsáveis pela “porrada/expurgo/miséria” e por fim a grande derrota que se consumou em 1991 com a contrarrevolução SOCIAL na URSS. Esta camarilha parasitária não solapou as bases da URSS de súbito, assim que assumiu o poder por uma contrarrevolução POLÍTICA em 1924 após a morte de Lenin e ascensão de Stálin, mas deformando e debilitando cada conquista do país, apesar do crescimento do mesmo e da expansão da luta pela expropriação da propriedade privada no globo. A única forma da URSS escapar desta armadilha da corrida armamentista que exauriu seus recursos, ou seja, de não ser “morta no cansaço” a que conduziu a guerra fria seria apostar na extensão da revolução proletária ao conjunto do planeta, algo que a burocracia, que acreditava na “convivência pacífica” com o imperialismo, não ia fazer nunca.

É bem verdade que o stalinismo ocupou militarmente todo o leste europeu e em alguns países como na Alemanha Oriental, na Coréia do Norte ou no Afeganistão realizou batalhas militares contra forças apoiadas pelo imperialismo, mas todos esses processos foram defensivos de suas fronteiras para criar um cinturão de defesa ao centro de seus privilégios: a URSS. No resto dos países, como na guerra civil espanhola; na guerra civil grega no imediato pós-guerra; em Cuba, quando o PC se colocou contra a guerrilha de Fidel e Che, a primeiro momento, ou no Chile, a orientação política sempre foi contrarrevolucionária.
Curtir · Responder · 3 de fevereiro às 15:47

5. O stalinismo é um agente policial que em meio a pressão imperialista externa se atribui a missão de distribuição dos escassos bens de consumo gerados pelo país após a revolução. Na sua versão original “combativa” – que custou ao proletariado o aborto da revolução chinesa de conselhos operários de Cantão e Xangai (1927); ascensão de Hitler em 1933; o extermínio da vanguarda da revolução de 1917 nos processos de expurgos dos anos 1930; a vitória de Franco na mesma década e quase a colonização da URSS pelo III Reich na II Guerra pela estúpida confiança cega de Stalin no pacto que fez com Hitler – ou em sua versão “pacifista”, após Krushov, ou em suas outras variações nacionais pelo mundo é gerado por condições similares que se reproduziram com algumas particularidades locais em outros Estados operários. Isso Trotsky abaixo e também traça a relação entre a burocracia e a escassez dos bens de consumo, e por fim aponta que só a revolução internacional (não confundir com revolução permanente que é outra teoria de Trotsky e erroneamente identificada como sendo a defesa de uma revolução internacional mais ou menos simultânea) pode superar tanto o câncer burocrático e o beco sem saída da corrida armamentista fustigada pelo imperialismo: 
“A oligarquia soviética possui todos os defeitos das velhas classes dirigentes, sem possuir a missão histórica destas. Na degeneração burocrática do estado soviético, não são as leis gerais da sociedade contemporânea, do capitalismo ao socialismo, as que encontram sua expressão, mas sim um reflexo particular, excepcional e temporário dessas leis, nas condições de um país revolucionário atrasado em um meio capitalista. A escassez dos bens de consumo e a luta geral por sua obtenção dão origem ao surgimento de um policial, que se atribui a função de distribuição desses bens. A pressão hostil exercida a partir do exterior impõe ao policial, o papel de “defensor” do país, lhe dá uma autoridade nacional e lhe permite dessa forma, saquear duplamente o país.

No entanto, ambas as condições para a onipotência da burocracia (o atraso do país e a vizinhança imperialista) possuem um caráter temporário e transitório e devem desaparecer com a vitória da revolução internacional. Os próprios economistas burgueses calcularam que, com uma economia planificada, poder-se-ia elevar rapidamente a renda nacional dos EUA para 200 bilhões de dólares anuais e desta forma, garantir a toda população não só a satisfação de suas necessidades elementares, mas inclusive um verdadeiro bem-estar. Por outro lado, a revolução internacional significa o fim do perigo proveniente do exterior, causa suplementar da burocratização. A eliminação da necessidade de se gastar uma parte enorme da renda nacional em armamentos, aumentaria ainda mais o nível de vida e o nível cultural das massas. Nestas condições, a necessidade de um policial-distribuidor desapareceria por si mesmo. A administração, como uma cooperativa gigantesca, substituiria muito rapidamente o poder estatal. Não haveria lugar para uma nova classe dirigente e nem para um novo regime de exploração, situado entre o capitalismo e socialismo.”

https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1939/09/25.htm

Comparado a Rússia logo após a I Guerra Mundial e a Guerra civil, ou seja, do ponto de vista relativo ao patamar do qual a URSS deu início a sua trajetória para se tornar a 2ª potência mundial, o Brasil de hoje sofre infinitamente menos com a escassez e subdesenvolvimento e em uma revolução vitoriosa reuniria muito menos fatores objetivos favoráveis ao desenvolvimento da burocracia.

6. Ainda sobre isso as palavras seguintes, mal interpretadas ou tomadas como pessimismo infundado na época, ganham ainda mais força hoje, 80 anos depois de serem escritas:

“Uma grande maioria dos defensores vulgares da União Soviética como ela é são inclinados a raciocinar mais ou menos assim: “mesmo embora você caracterizando que o regime soviético atual ainda não é socialista, um desenvolvimento posterior das forças produtivas sobre as bases atuais deve cedo ou tarde levar à vitória completa do socialismo. Assim somente o fator tempo é uma incerteza. Realmente vale a pena fazer tanto barulho por isso? ” Não importa o quão triunfante esse argumento pareça num primeiro momento, ele é absolutamente superficial. O tempo não é de jeito algum um fator secundário quando processos históricos são abordados. É muito mais perigoso confundir os tempos presente e futuro em política que em gramática. A evolução está longe de consistir (como evolucionistas vulgares do tipo de Webb pensam) numa acumulação constante e numa contínua “melhora” daquilo que existe. Ela tem as suas transições de quantidade em qualidades, suas crises, saltos e lapsos retrógados. É exatamente pelo fato da União Soviética estar longe de ter atingido o primeiro estágio do socialismo, como um sistema estável de produção e distribuição, que o seu desenvolvimento não procede harmonicamente, mas contraditoriamente. Contradições econômicas produzem antagonismos sociais, que por sua vez desenvolvem sua própria lógica, sem esperar o posterior crescimento das forças produtivas... seria ser imprudente tomar a palavra da burocracia para essa questão. É impossível no momento atual responder definitivamente e irrevogavelmente a questão de em qual direção as contradições econômicas e os antagonismos sociais da sociedade soviética irão se desenvolver no período dos próximos três, cinco ou dez anos. O desfecho depende da luta de forças sociais vivas – não na escala nacional, somente, mas numa escala internacional. A cada novo estágio, portanto, é necessária uma análise concreta das reais relações e tendências nas suas conexões e interações contínuas.”


7. Em todos os terrenos a revolução bolchevique representou um avanço para a cultura humana em geral. Mas na educação e na metodologia de ensino parece-nos que o legado da URSS foi ainda maior, assim como continua sendo o da pequena ilha de Cuba. Causa-nos mais impacto ainda saber que partiram de um patamar onde o analfabetismo era a regra (66% nas cidades e 89,2% no campo), para edificar um grau de eficiência e excelência educacionais reconhecidos mundialmente [http://ilosservatori.blogspot.com.br/.../unio-sovitica-e...].

Da revolução herdamos ensinamentos pouco explorados pelo mundo ocidental de mestres como Pistrak e sua “Escola-Comuna”; de Makarenko e seu modelo de escola baseado na vida em grupo, na autogestão, no trabalho e na disciplina; de Vigotski e sua teoria da aprendizagem apoiada na “zona de desenvolvimento proximal” e na luta de classes; e de experiências como a da “Creche Branca” de Sabina Spielrein, só para citar alguns exemplos mais populares na literatura pedagógica.

“Atualmente, se generalizou a teoria de que o ensino soviético era um dos melhores do mundo. No entanto, ao longo dos últimos 15 ou 20 anos, ocorreram muitas mudanças que alteraram seriamente o sistema de ensino nas escolas nacionais. A prática atual leva cada vez mais a uma separação entre ensino elitista e popular.

O ensino escolar soviético se apoiava na ideologia, que atravessava o sistema de uma ponta a outra e ajudava o professor a motivar os alunos a estudarem –os professores trabalhavam gratuitamente depois das aulas com os alunos que tinham mais dificuldades de aprendizagem, por exemplo. Às vezes, eram os próprios colegas de classe que assumiam o ensino dos mais atrasados nas matérias. Este sistema de preparação ajudava a puxar pelo aluno, principalmente em disciplinas como física, matemática e química.

Os métodos de ensino recebiam atenção especial na era soviética, o que permitiu formar escolas pedagógicas sérias e elaborar livros didáticos de grande qualidade. Além disso, o país contava com institutos de preparação de quadros pedagógicos, tinha uma rede de edições de caráter científico-popular bem desenvolvida e acolhia vários círculos sociais que se ocupavam da popularização da ciência.

Na URSS dos anos 1970 e 1980, de acordo com estatísticas oficiais, o número de trabalhadores científicos era de cerca de um milhão e meio, sendo que, no total, na área da ciência e serviços científicos, trabalhavam 4,5 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 4% de todos os indivíduos ativos na economia. Até o início dos anos 1970, para cada 10 mil pessoas empregadas na economia soviética existiam 100 cientistas, enquanto nos EUA esse número era de 71 e no Reino Unido, de 49. Para cada 10 mil trabalhadores e funcionários da indústria e construção na URSS, existiam 234 trabalhadores científicos, ao mesmo tempo que nos EUA esse número era de 205 e no Reino Unido, de 116.

Ser cientista na União Soviética era ter uma das profissões mais populares, o que fazia com que a criança soviética vivesse em uma atmosfera de culto da ciência. Além disso, existia uma rede muito bem implementada de ensino complementar. Cada escola tinha alguns círculos de estudo gratuitos conduzidos não apenas pelos professores, mas também por especialistas convidados.

A profissão de professor era prestigiada. A distribuição compulsória de todos os que terminavam as universidades pedagógicas e que eram enviados para povoados e áreas do interior do país contribuía para levar novos quadros para as regiões mais remotas da URSS. Durante a era soviética, quase toda cidade tinha dois institutos ou escolas técnicas –uma agrícola e outra pedagógica. O culto da ciência e da educação de professores com ideias de "missionário científico" ajudou a criar este sistema de ensino especial –o sistema soviético.”

http://gazetarussa.com.br/.../de_volta_as_glorias_da_urss...

8. Educação e Pesquisa na Antiga União Soviética em Comparação com o Brasil https://www.youtube.com/watch?v=mufqxVWtGUA


Resposta do professor Fabio:

“Dois nossos irmãos soviets. 
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