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terça-feira, 19 de julho de 2011

CORRESPONDÊNCIA 1

O critério do anti-imperialismo e o pablismo
Michel Pablo, liquidacionista do trotskismo
À Liga Comunista

Li com muita atenção a polêmica da LC com os demais partidos de esquerda a respeito da situação da Líbia. O combate da LC se dá em dois planos: primeiro contra os “revisionistas” que veem revoluções em todo lugar, revoluções essas sem direção, sem partido, etc. Considero que a FTLI é a mais extremada expressão desse campo. Chegou até a descrever a formação de sovietes de cabos e soldados na Líbia. O otimismo revolucionário é sadio, mas quando passa dos limites vira delírio. Agora que ficou clara a colaboração dos “rebeldes” com o imperialismo, faz contorcionismos téoricos para argumentar qua é a favor da “revolução”, mas contra a OTAN. Nesse plano eu concordo com a LC integralmente.
No segundo plano há a luta contra a posição da LBI (“pablista”, na minha opinião) que coloca o Kadafhi como um líder progressista e anti-imperialista, sem considerar que o líder “terceiro-mundista” nos últimos anos tornou-se um grande aliado do imperialismo recebendo inclusive grande quantidade de armamentos do Ocidente. No entanto, considero também um desvio “pablista” da LC realçar supostos fatores progressistas no regime de Kadafhi, como, por exemplo, o índice de desenvolvimento humano da Líbia. Nesse sentido, as posições da LC só se diferenciam na superfície das posições da LBI, sendo as desta mais estusiamadas no apoio a Kadafhi. O artigo da LC cita Trotsky na questão de uma hipotética guerra do Brasil com a Inglaterra em que ele coloca, a meu ver corretamente, que ficaria do lado do regime fascista de Vargas contra a agressão imperialista. Mas vejam bem, ele não precisou “enfeitar” o regime varguista e nem apresentá-lo como progressista. Tratava-se tão somente de apoiar a hipotética luta de um país semicolonial contra o imperialismo.
           
Fausto Barreira, Sociólogo

Estimado Fausto,

Em primeiro lugar, queremos agradecer por suas observações acerca da polêmica sobre a Líbia que temos realizado contra diversas correntes políticas através d’O Bolchevique e de nosso Blog. Nos animam suas concordâncias conosco em meio à epidemia revisionista que vê revoluções exatamente onde se manifestam contrarrevoluções.

Quanto à polêmica com a LBI, concordamos que este agrupamento embeleza o regime de Gadafi, ressalta supostos aspectos nacionalistas do governo líbio, chegando a fazer propaganda enganosa do mesmo, afirmando por mais de uma vez que “a Líbia não exporta nenhuma gota de petróleo para os EUA”. Como você acertadamente assinalou, trata-se de uma capitulação pablista, uma adaptação a um suposto anti-imperialismo de Gadafi, tanto é que não reivindicam um programa operário e revolucionário para a nação africana nem preservam qualquer independência política e menos ainda militar dentro da frente única que reivindicam, logo, deformam a tática da frente única militar convertendo-a em uma frente política com a burguesia gadafista, ou seja, em uma frente popular.

Quanto à crítica que nos faz de também possuir um “desvio pablista” e de “embelezar” o regime de Trípoli vejamos se tem razão: 1) como Trotsky, defendemos incondicionalmente o país oprimido contra o imperialismo, independente do regime político do país oprimido, eis a base de nossa posição política; 2) Todavia não acreditamos que apenas tomar a posição incondicional ao lado da Líbia na guerra encerra o conjunto de elementos políticos que perpassam a questão. No tópico onde assinalamos o IDH líbio que tem como subtítulo “Gadafi, do pan-arabismo ao neoliberalismo”, descrevemos que o regime é produto de medidas de nacionalização da economia do país que resultaram em melhoria das condições de vida da população. No entanto, como destacamos, estas medidas foram incompletas pela incapacidade da burguesia nacionalista de levar adiante um confronto consequente com o imperialismo. Sem destacar esta oscilação de avanços e retrocessos do regime gadafista não é possível explicar como o mesmo pavimentou o caminho da reação atual e abriu os apetites dentro do próprio staff de Gadafi para que dele desertassem proeminentes líderes da atual oposição golpista. Para nós, os “fatores progressistas” do regime Gadafi foram produto das nacionalizações ocorridas até a década de 80, enquanto por sua vez, a política neoliberal do caudilho de Trípoli após o fim da URSS e sob a ofensiva da “guerra ao terror” de Bush, vem dilapidando o conjunto das conquistas do passado. Se prestar um pouco mais atenção ao texto verá que no final desse subtítulo, ao contrário de embelezar o regime líbio, arrematamos: “O estreitamento cada vez maior das relações entre o caudilho e o imperialismo fez com que Gadafi aplicasse planos neoliberais, privatistas, entreguistas que corroem e já destruíram várias conquistas sociais produzidas pela nacionalização dos meios de produção das décadas anteriores.” (O Bolchevique #3).

Acerca da questão líbia, a confusão entre as nossas posições e as da LBI derivam da observação superficial sobre o fato da esmagadora maioria das organizações possuir um desvio escandalosamente pró-imperialista, enquanto nós defendemos uma política oposta, todavia salvando o programa trotskista do curso pablista tomado pela LBI que descamba para a colaboração de classes com o nacionalismo burguês. Todavia, achamos salutar que permaneça atento, com cobranças e críticas, contribuindo para que logo nos primeiros passos de nossa jovem organização nos mantenhamos no curso correto da política marxista revolucionária.

Saudações fraternas, Ismael Costa, pela LC