Fome, Lula e o Golpe de 2022
E o dever dos comunistas de disputar a consciência do eleitorado lulista contra a política kamikase do lulismo
Humberto Rodrigues
O preço do milho disparou. Os preços mundiais dos alimentos bateram um novo recorde, atingindo níveis que não se viam desde 2011, o índice de preços dos alimentos foi em média 134,4 pontos no mês passado, 1,2 % a mais do que em outubro, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Mas, poderia se pensar que sendo o Brasil um dos maiores produtores mundiais do cereal, essa alta poderia beneficiar a população brasileira de alguma forma. De acordo com os dados de setembro de 2021 para a safra 2021/22, o Brasil é o 3º maior produtor de milho do mundo, ficando atrás apenas dos EUA e da China. Os três países juntos produzem 60% do milho do planeta, sendo o Brasil responsável por 10%. Na variação de crescimento da produção anual a do Brasil é a maior do mundo, deve produzir 118,0 milhões de toneladas na safra 2021/22, valor 37,2% maior que a produção da safra 2020/21 (86,0 milhões de toneladas). Em 2019 a receita com a exportação de milho, até agosto, foi de US$3,81 bilhões. Em 2021, o preço médio do milho foi o maior ao longo dos últimos 4 anos, com valor de US$0,20/kg. Lembrando que em 2020 o valor médio entre janeiro e agosto foi de US$0,16/kg). O milho só perde para a soja em importância de cultura da produção agrícola do país, sendo mais importante que a soja como insumo para a produção de aves e suínos, além de sua importância estratégica para a segurança alimentar do brasileiro ao longo das últimas décadas.
Mas, ao contrário do que se poderia se esperar, a alta do preço do milho será usada para atenuar a situação famélica dos brasileiros que estão desmaiando de fome nos postos de saúde e em legiões pedindo ajuda nos sinais com cartazes dizendo que está com fome.
Ao contrário do que se espera, o aumento do preço mundial do milho (e também do trigo, feijão e açúcar), isso encarece diretamente os preços dos alimentos e aumentava tragédia da fome. A política econômica bolsonarista quer um povo faminto, servil a uma ajuda temporária e miserável de 400 reais em troca do voto. E também trama pela explosão da violência difusa para projetar-se politicamente como árbitro policial e acentuar o controle social miliciano.
Essa é a função que o governo Bolsonaro cumpre para o capital, por isso, a maioria dos capitalistas tramaram o golpe eleitoral que o elegeu, o apoiaram em detrimento de seus candidatos tradicionais, com o tucano Alckmin, por exemplo, e asseguraram, através do Centrão, do STF e da mídia que ele permaneça lá durante todo um mandato de destruição das condições de vida da maioria da população e não duvidarão entre ele e Lula em 2022. Foi graças ao novo ciclo de acumulação de capitais assegurado por Bolsonaro a frente do governo que 20 ricos burgueses do país entraram na alta roda dos novos bilionários em plena pandemia.
Do nosso lado, a fome, a miséria e o desemprego "em si" não criam a situação revolucionária. Se assim fosse, as regiões exploradas que vivem sob essas condições há séculos no sul do planeta não teriam se acostumado com isso e já eram comunistas. Aí está o fracasso da ilusão que acredita que o proletariado quanto mais marginalizado, mais revolucionário (como acreditavam alguns socialistas pré-marxistas e anarquistas). Para que exista um movimento revolucionário não basta a miséria, é preciso o fermento comunista, a teoria e o programa que irão organizar o povo para a guerra de classe. Aí está a razão do pavor que a burguesia e o imperialismo tem do comunismo, demonstrando com isso senão consciência, pelo menos instinto de classe burguesa. Conduzem o povo ao desemprego, a miséria e a fome, superexplorando-o e por isso querem extirpar o comunismo da sociedade. Para não deixarem ocorrer a fusão entre o trabalhador explorado e a teoria comunista. E porque os movimentos sociais, os sindicatos e os partidos não convocam o povo para a luta contra a fome e Bolsonaro, o quando convocam não é bem pra valer? A quase totalidade da esquerda não é comunistas, incluindo muitos que tem em seu nome e programa dizeres socialistas, comunistas e revolucionários. É reformistas do capitalismo, acredita nas eleições e não quer atrapalhar as eleições nem assustar a burguesia chamando o povo pra rua. De tanto aburguesamento dessas instituições o povo faminto desconfia dos burocratas e não vai pra rua só porque eles chamam. Uma fração minoritária chama o povo a rua, mas do alto de seus sites, não faz trabalho de disputa da consciência diretamente junto ao povo trabalhador e se limita a dar ultimatos pelo voto nulo nas eleições.
A RESPONSABILIDADE DE LULA E A TAREFA DOS COMUNISTAS
Não sabemos sequer se a população trabalhadora e pobre atenderia ao chamado do próprio Lula para ir às ruas. É provável que uma parte atendesse e as manifestações contra Bolsonaro pudessem ser bem maiores do que foram até agora. E é provável também que se retroalimentassem e superassem as limitações em que suas direções desejam mantê-las. Mas o fato de que ninguém pode assegurar se as manifestações seriam suficientes fortes se Lula as convocasse não exime Lula da responsabilidade de fazê-lo e privilegiar estreitar laços com os que defenderam o golpe e a sua prisão, como Alckmin.
Lula tem acertadamente demonstrado em seus últimos discursos demonstrado a contradição entre o Brasil ser um dos maiores produtores e exportadores de comida e a fome do povo brasileiro. Mas se verdadeiramente Lula deseja concorrer nas eleições de 2022, se não quer ser preso novamente antes de começar a campanha eleitoral por uma nova maioria no STF agora terrivelmente pró-Bolsonaro e lavajatista, ou seja, a favor dos dois outros candidatos favoritos golpistas (Bolsonaro e Moro); se o PT quer verdadeiramente vencer no primeiro turno; se Lula não quer ver uma fraude eleitoral lhe roubar a possibilidade de sua vitória; se Lula não quer ter os poderes cassados por um truque semiparlamentarista caso venha a vencer as eleições; se Lula e o PT querem evitar uma ampla gama de golpes que já estão em andamento contra a sua candidatura e seu mandato, sabem muito bem o que precisariam fazer, convocar o povo a luta de rua, com comícios de massas pelo Fora Bolsonaro e o golpismo.
Existe 99% de chances de Lula não fazer essa convocatória, assim como ele foi contra a palavra de ordem “Fora Bolsonaro!”, assim que saiu da prisão e como também se opôs a convocar as manifestações de rua que ocorreram de maio a setembro de 2021. Seja como for, essa situação nos coloca como tarefa do dia o trabalho de base junto aos trabalhadores lulistas para recrutá-los para defenderem organizada e coletivamente a luta por sua vida e a de sua família. O capitalismo brasileiro, os banqueiros e os especuladores do latifúndio (agronegócio), engordados com a alta do milho e demais commodities, não vão repartir, de boa vontade, um grão de milho com o povo. O fim da fome está condicionado a ação dos famintos pela expropriação dos expropriadores da cidade e do campo. O primeiro passo para combater a carestia deve ser a luta pelo aumento geral dos salários, auxílio emergencial de um salário mínimo para todos os subempregados e desempregados e o tabelamento dos preços da cesta básica, gás e combustíveis (assim como aluguéis e isenção de todas as tarifas com continuidade de prestação de serviços de água, energia, internet), subvencionando os preços em relação aos cobrados no mercado internacional a partir do imposto progressivo sobre os superlucros do capital especulativo e produtivo que opera no mercado de commodities, tendo como perspectiva a nacionalização do solo, da terra e a coletivização da agricultura.
E isso só é possível se o povo abraçar um programa de luta que anule o conjunto das medidas golpistas, que anule todas as medidas neoliberais que o faz desmaiar de fome, que a população vislumbre que sua vida só melhorará através da expropriação desses golpistas capitalistas, e que isso só é possível sob concepções comunistas, que não por acaso são abominadas por Bolsonaro e sua matilha fascista.