TRADUTOR

terça-feira, 3 de abril de 2018

CANDIDATO GENERAL?

A via eleitoral como camuflagem
da militarização do regime político 
Forças armadas já decidiram que vão assumir o controle político
do país de qualquer jeito. Comandante do Exército pressiona o STF,
ameaçando com intervenção militar se não deixarem prender logo Lula.

Toda a histeria com relação a questão da segurança pública, tendo como solução a intervenção militar, não seria uma manobra dos golpistas para colocar um general no centro das atenções e indicá-lo como candidato? Ainda mais, sendo que o segundo lugar das pesquisas, Bolsonaro, é um militar mais de patente mais baixa. Será que tudo isso aí não é uma manobra?

Até agora, já são quase 50 pré-candidatos militares, sem contar com Bolsonaro e a bancada da bala policial...

Colocaram a questão da segurança pública no centro das atenções e diante disso estão querendo mudar as leis para facilitar a intervenção do Estado de um modo muito parecido com que fizeram na época das ditaduras na América Latina, quando criaram leis para dar um ar de legalidade as ditaduras militares. A mídia tem se empenhado muito em colocar os generais no centro das atenções. Não seria essa uma manobra, uma vez que a direita ainda não apresentou um candidato próprio de consenso ou sequer majoritário? Será que esse General não será apresentado diante da população como um cara respeitado, que deu um jeito na segurança? Mesmo não dando a mídia vai dizer que deu e aquelas coisas todas. Será que o próprio interventor não é o cara que a direita está precisando para ser seu candidato?

O próprio general Mourão, que defendeu a intervenção militar do país em setembro de 2017 (sendo depois respaldado pelo chefe do Exército em entrevista exclusiva para programa da rede Globo), passou para a reserva e anuncia sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul com o apoio de Bolsonaro. Juntamente com ele são, até agora, 47 outros pré-candidatos militares, em pelo menos 20 estados, sem contar os policiais para as eleições de outubro. "Além de Jair Bolsonaro, que concorre à Presidência, são 4 candidatos a governador, 2 ao Senado, 27 à Câmara dos Deputados e 14 às Assembleias Legislativas e à Câmara Distrital." (Poder 360).

A eleição de generais não descarta, combina-se com a intervenção, com a militarização do regime político contra a população trabalhadora

A tática dos militares voltaram ao poder pelas urnasatravés de várias candidaturas, ao executivo e ao legislativo não descarta, combina-se com a intervenção militar nacional. Um dos eixos centrais da plataforma da militarização do regime político está na militarização das escolas em nome do combate ao tráfico, a ideologia de gênero e por meio do projeto "escola sem partido".


Porque para impor o que a direita quer, o que os golpistas querem para a população e para os trabalhadores eles vão ter que realmente reprimir muito, porque a situação vai ficar insustentável e a confiança que os golpistas têm nos militares é grande. Acham que os militares são os que vão conseguir segurar as revoltas que ocorrerão. Porque haverá mesmo, mesmo que espontâneas vão haver. Ninguém vai deixar de resistir a situação de miséria e escravidão que estão impondo sobre a população.


Então, será que o militar não serão o cara certo para fazer esse tipo de trabalho? Porque o restante dos políticos tão desmoralizado. O Temer está desmoralizado. A maioria dos quadros da burguesia estão desmoralizados e aí vai aparecer como salvador da pátria. Afinal, uma parte da população ainda acredita que os militares podem dar um jeito no país.

Temos que também olhar por esse lado para não ficarmos inocentes, achando que tudo vai transcorrer numa boa e não vai ser assim. Sabemos que que não vai ser. Aconteceu o assassinato da vereadora e se viu as pessoas tratando a coisa como ser fosse uma coisa romântica, a ilusão que se tem ainda na legalidade burguesa que se tem nas eleições. A esquerda pensando que o fato de eleger alguém vai mudar o quadro do país. Nós sabemos que não vai.

Às vésperas do julgamento de Lula no STF, contra a absolvição de Lula generais fazem a ameaça mais explícita de Golpe militar desde a ditadura

A maioria da esquerda acredita no calendário eleitoral como uma cláusula pétrea do calendário de 2018 e acredita que havendo votações elas tendem a respeitar a vontade popular. A direita é bem mais clara em seus objetivos e métodos. O general da reserva Luis Lessa foi categórico: com Lula candidato não há alternativa a não ser a intervenção. Uma afirmação onde se combinam simultaneamente:


1. Elementos de lucidez, uma vez que a direita burguesa não teria a menor chance diante da candidatura Lula e a polarização de classe que ela estimula, sendo nas atuais condições excepcionais mais que uma candidatura eleitoral. Se a permitissem, mesmo que fraudassem as eleições, a fraude ficaria explícita e se abriria uma crise muito grande;


2. Elementos de inversão completa da realidade segundo a mitologia que os golpistas repetem até a exaustão para tornar verdade "Se acontecer tanta rasteira e mudança da lei, aí eu não tenho dúvida de que só resta o recurso à reação armada. Aí é dever da Força Armada restaurar a ordem.", no que é acompanhado por outro militar, o militar pré-candidato a governador do Distrito Federal "Nosso objetivo principal nesse momento é impedir mudanças na lei e colocar atrás das grades um chefe de organização criminosa já julgado e condenado a mais de 12 anos de prisão que, com o respaldo desse supremo fortim (o STF), tem circulado livre e debochadamente por todo o território nacional, contando mentiras, pregando o ódio e a luta de classes", escreveu o general Paulo Chagas, que é pré-candidato ao governo do Distrito Federal, segundo a revista destinada ao público empresarial Exame;


3. Elementos de chantagem, porque um dia do julgamento do Lula no STF, explicitamente ameaça a todos, inclusive aos possíveis ministros vacilantes do próprio supremo tribunal, com a intervenção se não mantiverem o curso da prisão de Lula.


No dia 24 de janeiro, quando a segunda instância condenou Lula por unanimidade, elevando sua pena a FCT fez um alerta:

"O que já era muito ruim, está virando um inferno para a nossa classe. Até então, para submeter os trabalhadores ao regime de exploração, foi realizada uma guerra não declarada contra as classes dominadas, guerra que se expressa através do assassinato de 60 mil pessoas por ano, do genocídio da juventude negra pelo aparato policial que mais mata no mundo, da prisão de quase um milhão de pobres e pretos tratados como bichos, de 25 milhões de subempregados e desempregados, usados para chantagear aos mais de 100 milhões de assalariados do país a trabalhar cada vez mais para ganhar cada vez menos.
Mas tudo isso ainda tende a piorar, a partir da entrada em vigor da nova legislação golpista. Para submeter a população ao novo e infinitamente mais cruel regime de exploração escravista sem sequer mais o descanso da aposentadoria, estão incrementando a guerra contra nós. É isso que preparam no pós-Temer, qualquer que seja o processo para sua sucessão. Em outras palavras, os golpistas escravagistas preparam uma nova ditadura, pior que a anterior (1964-85), através da intervenção militar, já anunciada pela cúpula das Forças Armadas."

CONDENAÇÃO DE LULA PELA 'JUSTIÇA' GOLPISTA: Por Comitês Populares em defesa de Lula e da aposentadoria e contra a fraude eleitoral e o golpe militar
Agora, confirmando exatamente o que alertamos Chagas, o pré-candidato militar a governar a capital federal do país, ameaça: “as Forças Armadas se julgarem na obrigação de agir, haverá muito mais sangue do que o das 60 mil vítimas anuais da violência, porque, dessa vez, somam-se aos interesses globalistas, políticos e ideológicos, os do crime organizado” (Exame). Ainda que mais velada, a declaração que reproduzimos a imagem na abertura desse texto, dada pelo Comandante do Exército Brasileiro, General Villas Boas, vai no mesmo sentido.

Marielle Franco

Que não nos distraiamos com a questão eleitoral, com a prisão de Lula, que vai ser preso mesmo. Ao invés de achar, como faz a maioria da esquerda, que a questão da intervenção é regional, vinculada a questão da segurança ou uma simples jogada eleitoreira de Temer (mais mandado que mandante). A coisa é mais profunda e devemos ficar atentos a ela.

Mas primeiro tem a resolução da morte de Marielle. Teria sido o exército ou a PM? Aparecerão com traficantes como culpados? Afinal, ela não “era defensora de bandido”, "mulher de bandido", como diz a direita que depois de matar seu corpo desejam desfazer-se de sua memória? Para dar prosseguimento ao curso golpista, precisam deixar passar a comoção social e dar uma resposta pra sociedade, com a convincente ajuda da Globo. 
A mídia começou a falar das milícias e logo acusarão um de ter matado a vereadora para imediatamente depois voltar a colocar o exército de volta no centro das atenções.


Qual o papel de milícias fascista na violência contra os trabalhadores? O exército terceiriza o serviço sujo pra eles assim como fazem com os jagunços de fazendeiro. Ela morreu. Depois de denunciar a intervenção e a violência do exército e da PM contra os trabalhadores.

Intervenção: em defesa do Brasil é que não é!


Sabemos qual o papel do exército, do legislativo, do judiciário, são tudo lacaios do imperialismo. Estão aí para fazer o que estão fazendo, no campo econômico estão entregando tudo na mão no imperialismo. As principais riquezas do país na mão do imperialismo. Estão fazendo isso abertamente. Esse exército é simplesmente um exército terceirizado do imperialismo, que está aí para cumprir ordens do imperialismo. Não estão aí para fazer guerra nenhuma defendendo a nação. Estão aí para defender os interesses imperialistas. Então fica bem claro isso.


O centro do golpe é de lá da metrópole. Esses caras são simplesmente prestadores de serviço. Agora se vê o exército no papel de polícia quando na verdade nós sabemos que não é isso que eles querem, eles querem muito mais que isso. A gente sabe que o Golpe vem e sabe que não vai ser o Golpe como o de 1964, que vai ser um golpe aparentemente dentro da Constituição, aparentemente legal. Mas já se sabe o que tem por detrás disso, a repressão que vai vir para cima de todo mundo e isso não resta a menor dúvida.

Todo esse circo armado das eleições é para distracionismo. Distrair o povo, distrair os socialistas meia boca, esses reformistas que ainda estão aí acreditando no Estado burguês. E isso tudo está passando como se fosse nada. Vão intervir aqui, vão intervir ali. Mas não teria a conotação também de atribuir legalidade para que assuma um militar o poder através da eleições? Não seria possível isso. O sujeito surge do nada e de repente está no centro das atenções do país? Com todo o apoio de todos os setores, com o governo jogando um dinheiro violento e o interventor exigindo mais dinheiro do governo e o governo colocando esse dinheiro a disposição dele. É o que vemos todos os dias. Será que não é esse cara que vão apresentar como o cara que vai dar jeito na bagunça?

Assim como relutou a acreditar que o impeachment era um Golpe de Estado até muito tempo depois do golpe, a maioria da esquerda reluta em admitir que o golpe já ingressou em sua fase militar, para não falar do sectarismo golpista 1. Como lutar contra o que sequer se reconhece a existência? E identificar o inimigo não significa automaticamente organizar o contra-ataque, a frente única antigolpista, os comitês de autodefesa antifascistas, uma campanha de massas pelo fim da intervenção militar, tudo isso, o conjunto da esquerda está devendo a si mesma e aos trabalhadores que diz representar. Tarefas que o assassinato de Marielle e os ataques violentos a caravana de Lula no sul do país, colocaram na ordem do dia.


Notas

1. O sectarismo golpista: Algumas organizações, como o PSTU, MES, CST, LS, TS, MRS não admitem que houve golpe, acreditam que essa é uma mera armadilha política criada pelo PT para tapear a esquerda, apoiaram o Golpe defendendo o "Fora Dilma!", defenderam a operação golpista Lava Jato e ainda a prisão de Lula. A maioria dos sectários golpistas sequer admite uma conjuntura desfavorável para os trabalhadores, caracterizam que o momento é de ascenso da classe ou no mínimo de um impasse com uma situação política pré-revolucionária. Só não conseguem explicar porque sendo elas organizações revolucionárias, estariam em franca bancarrota, se fracionando com grandes rachas, perdendo influência sindical e popular em meio a suposta situação pré-revolucionária.


Para saber mais:


O sectarismo golpista - Uma ala da esquerda brasileira tornou-se funcional a ofensiva golpista a serviço do imperialismo


Por uma frente única de toda a esquerda contra os golpistas, nas ruas, nas eleições, nos locais de trabalho, estudo e moradia! Agora!

O golpe permanente e a miséria social como projeto