quarta-feira, 30 de maio de 2018

GOLPE, PETROBRÁS, CAMINHONEIROS E PETROLEIROS

Não a repressão aos caminhoneiros, defender e ampliar a greve dos Petroleiros!


A demonização midiática virulenta e a brutal repressão sofrida pelos caminhoneiros contrastrou com com a propaganda do lockout de uma semana antes quando os caminhoneiros foram apresentados como heróis nacionais.

Um lockout que saiu do controle patronal

Os empresários nacionais do ramo do transporte estavam perdendo lucratividade diante da disparada dos preços do diesel, ancorado aos lucros do grande capital petroleiro internacional, acentuada pela política energética entreguista do governo Temer. Os caminhoneiros sofreram a corrosão veloz de seus ganhos com os fretes devido a alta de 35% do diesel em comparação a julho de 2017.

Para recuperar sua lucratividade sem se chocar com os interesses do imperialismo, esses capitalistas do ramo dos transportes montaram uma grande operação de chantagem que permitiria ao governo conceder-lhes privilégios excepcionais as custas de mais políticas de ajustes contra a maioria da população. 

Por exemplo, para que o imposto do PIS/COFINS seja retirado do valor do litro de diesel, uma das principais reivindicações dos empresários, cairá a arrecadação destinada à Previdência e às políticas sociais. O PIS/COFINS se destina ao pagamento de auxílios desemprego, aposentadorias e outros direitos dos trabalhadores brasileiros. Amplia-se o tal rombo da previdência que o governo golpista usa como justificativa para a famigerada reforma.

Para realizar essa operação, os empresários se apoiaram na insatisfação legítima dos caminhoneiros contra a política inflacionária dos combustíveis do governo golpista. Os caminhoneiros
autônomos, donos de seus meios de trabalho, a grande maioria dessa categoria de trabalhadores, têm buscado saídas políticas reacionárias para a precarização de suas condições de vida, já haviam sido utilizados no passado pela direita para engrossar as manifestações pelo Golpe contra Dilma, muitos nutrem simpatias e militam por Bolsonaro e pela intervenção militar. Defendendo a ideologia de seus inimigos de classe os caminhoneiros fortaleceram a exploração e extorsão de si mesmos.  

Antes da consumação do acordo patronal em 24/5, por três dias a grande mídia e os políticos patronais enobreceram o movimento dos caminhoneiros, fazendo um marketing para criar um consenso social que justificasse o golpe econômico de que a partir de então a grande massa do povo iria arcar com a preservação da lucratividade do empresariado dos transportes. Manteria-se intacta a política de preços dos combustíveis "tabelada" pelas multinacionais e especuladores e de quebra setores do agronegócio e dos postos de combustíveis lucraram com o lockout. Até então, diferente de qualquer greve de trabalhadores, ninguém convocou o aparato repressivo para reprimir os caminhoneiros e a direita apoiou entusiasticamente ao movimento.

Bolsonaro, acompanhou a orientação geral do establishment no uso do movimento caminhoneiros. Apoiou o lockout quando estava em alta, após o acordo, defendeu o fim do movimento quando a mídia o demonizou e acabou como um covarde oportunista para uma parte dos próprios bolsominios.

Foi interrompido boa parte do tráfego de mercadorias, causando o maior desabastecimento da história do país, os empresários puderam dar cobertura a um acordo de preservar sua lucratividade piorando as já péssimas condições de vida da maioria da população. 

Foi assim que ficou estabelecido um acordo de 12 pontos que incluem a eliminação da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico combustível). Do total arrecadado pela CIDE, 71% iam para o orçamento da União, e os outros 29% eram distribuídos entre os estados e o Distrito Federal, em cotas proporcionais à extensão da malha viária, ao consumo de combustíveis e à população. Os recursos deviam ser aplicados em: programas ambientais para reduzir os efeitos da poluição causada pelo uso de combustíveis; subsídios à compra de combustíveis; ou infra-estrutura de transportes; Como já falamos, o acordo elimina a cobrança dos impostos constitucionais Pis/Cofins sobre o diesel até o final de 2018. Isso significa a redução de 0,46 centavos de real por litro desse combustível; desconto no valor de 10% no diesel nos próximos 30 dias.

O que chama a atenção nesse movimento que algumas correntes de esquerda estimaram como “vitoriosa greve de caminhoneiros” é que a folha de pagamento das empresas do setor de transporte rodoviário de cargas em nada foi onerada e que também em nada essa greve mudou as condições e relações de trabalho e salários em favor dos caminhoneiros, submetidos a jornadas alucinantes que muitas vezes só podem ser cumpridas sob o uso de alucinógenos.

Nesse processo, a grande maioria da população apoiou incondicionalmente aos caminhoneiros, acreditando que o movimento fosse contra os aumentos abusivos de gasolina e gás de cozinha, que subiram respectivamente cerca de 50% e 68% no último ano. Desde o golpe de Estado, mais de um milhão de domicílios voltaram a utilizar lenha de carvão.

Abandonados pelos patrões e governo que fecharam o acordo que não lhes contemplava, perseguidos pela mídia, atacados pelo aparato repressivo e apoiados pela população, os caminhoneiros entraram em contradição com a pauta inicial patronal. Se viram impelidos a ir além da farsa do lockout para o qual haviam sido usados, a negar-se a voltar ao trabalho, a manter os piquetes.


De certo modo, o regime golpista foi quem, contraditoriamente, mais favoreceu a pedagogia política aos caminhoneiros contra si mesmo. Mas, esse processo não permitiu a que uma parcela significativa da categoria superasse seu atraso político e suas concepções reacionárias espontanemante e não podemos ver apenas as determinações progressivas desse processo. Sob direções políticas mafiosas e de direita, a condição de assumir uma pauta mais ampla como a redução do preço dos demais combustíveis e gás de cozinha, fundir seu movimento com os dos petroleiros, e reivindicar uma saída não reacionária para a conjuntura política restringiu-se a manifestações isoladas de um ou outro caminhoneiro.

Não houve conquista imediata, econômica, para a categoria que realizou a tal greve. Mas, no campo das consequências políticas é que o movimento deve ser observado melhor. Apesar de demonstrar progressivamente, para o conjunto da população que a unidade de uma categoria importante em um ramo da produção nacional, tem a força de envolver e paralisar todo o país, ideologicamente, a greve dos caminhoneiros depois de se sentirem alijados e atraiçoados pelo acordão patronal do dia 24/5 passou a associar mais fortemente o “Fora Temer!” a reivindicação da “intervenção militar”. Perguntamos então, a quem beneficiaria a queda de Temer sob a perspectiva dessa greve e suas demandas políticas?

Vale destacar que o Exército foi invocado 
pelo governo Temer para debelar os piquetes e atuar diretamente contra o movimento. A princípio, deixou a tarefa para os PMs e Polícias Rodoviárias Federais a primeiro momento. Não se comprometeu tanto com a defesa de Temer quanto o governo moribundo desejava, mas também aproveitou a oportunidade para ensaiar uma movimentação de tropas pelas rodovias, tensionar a greve dos petroleiros e preparar o golpe dentro do golpe, como reivindicavam a ala mais reacionária dos caminhoneiros.

Paralelamente, Legislativo e Judiciário também moveram-se em direção a possibilidade que o governo Temer, fragilizado ainda pela crise caminhoneira, o desabastecimento e o impasse com a continuidade da política energética suicida, não consiga sobreviver aos poucos meses de mandato que lhe resta. Além do quê, enquanto Lula preso se fortalece e tem mais votos que todos os outros candidatos adversários reunidos, a burguesia segue sem consenso em torno de um candidato da direita. Assim, a Câmara põe em discussão a definição de regras para eleição indireta na vacância do cargo de presidente nos dois últimos de mandato e a presidente do STF pauta para o mês de junho a possibilidade do Legislativo decidir sobre o Parlamentarismo. 

Não há a menor dúvida de que está em marcha um novo golpe dentro desse golpe, contra os trabalhadores e o movimento dos caminhoneiros serviu para maturar esse processo. As palavras do presidente do TSE, o juiz Luiz Fux, foram bastante emblemáticas: “[a greve] ascendeu um sinal quanto a própria realização das eleições” (Brasil 247, 29/05), supostamente em referência ao prejuízo para a distribuição das urnas se ocorresse uma greve similar durante o processo eleitoral em outubro, mas que deixa em aberto outras interpretações, quando o próprio reivindicou que essa greve não deve ser resolvida nos tribunais e sim por um “ato de força” (idem).
Esse conflito reforçou a propaganda contrarrevolucionária pela intervenção militar como saída a crise do governo Temer. Mas, ao mesmo tempo, demonstrou para os setores mais lúcidos dos lutadores sociais que nenhuma saída política, eleitoral, militar, parlamentar ou jurídica será progressiva para a população e para o país se não romper com o curso de estrangulamento da economia pelo imperialismo e seus agentes nacionais. 

A guerra predatória do imperialismo contra a Petrobrás e o combustível cada vez mais impagável para o povo

Os primeiros movimentos conspirativos contra o governo Dilma foram movimentos de sabotagem da economia e da Petrobrás, a principal empresa estatal do Brasil. Como denunciou o especialista em geopolítica F. William Engdahl: 

Na verdade, Dilma sofreu um impeachment pelo declínio dramático da economia brasileira, um declínio deliberadamente impulsionado à medida que as agências de rating de crédito dos EUA rebaixaram a dívida brasileira, e a mídia internacional e mainstream brasileira manteve as alegações de corrupção da Petrobras no centro das atenções.
F. William Engdahl, Washington Tries to Break BRICS – Rape of Brazil Begins, 26 de setembro de 2016
Em sua operação de guerra “híbrida” para impor um golpe de Estado ao Brasil, o imperialismo combinou em suas primeiras medidas a ação das agências de classificação e risco com a operação de espetacularização de escândalos pela associação mídia e “lava jato”. Lava Jato faz Petrobras perder R$ 10 bilhões para investidores nos EUA. Isso é muito mais do que todo o capital que a empresa teria perdido com desvios de corrupção.

Barateada por agências associadas aos abutres que a querem devorar, a Petrobrás, começa a ser entregue a preço de banana para as “quatro irmãs” multinacionais petroleiras. Dentre os principais patrocinadores de organizações golpistas como o MBL encontram-se os irmãos Koch, magnatas do petróleo estadunidenses. Não é a toa que José Alberto Torres Lima, executivo da Shell (uma das quatro irmãs) estava diretamente no Conselho Executivo da Petrobrás e foi um dos primeiros a pedir renúncia com o início da greve dos petroleiros. Todavia, não faltam agentes do imperialismo no controle executivo da empresa.

O último movimento dessa operação tem sido os ataques especulativos recentes vinculados ao lockout caminhoneiro que levaram as ações da petroleira despencarem.
“Os desdobramentos da greve dos caminhoneiros tem sido catastróficos para as ações da Petrobrás. Em menos de uma semana, a petroleira perdeu R$ 115,6 bilhões em valor de mercado” (O Estado de São Paulo, 29/05/2018).
Ainda que os governo do PT tenham realizado leilões de entrega do petróleo do Pré-sal do como o do campo de Libra em 2013, o Golpe de Estado que derrubou o PT do governo alterou completamente a política de preços da empresa, antes definido pelos custos de operação, de produção e transporte até os postos. Com a gestão golpista da companhia, os preços dos combustíveis passaram a ser ditados pela variação da cotação do petróleo no mercado internacional, em dólar.

O golpe de Estado parlamentar de 2016 tinha como claros objetivos recolonizar o país e re-escravizar sua classe trabalhadora. Esse segundo ataque é realizado pela revisão drástica da legislação em vigor através das contrarreformas aprovadas nos últimos anos (trabalhista, EC95, terceirização da atividade fim) e a chantagem do desemprego em alta. O primeiro, atacou em cheio a mais importante estatal brasileira, a Petrobrás, que tornou-se refém dos EUA, após a entrega do pré-sal as quatro irmãs, a venda a preços irrisórios do que sobrou sob controle da Petrobrás e a compra cara de combustível, o petróleo refinado.

A atual Petrobrás “saneada” pelos golpistas disparou a exportar petróleo cru. O Brasil exportou em 2017 cerca de 51,96 milhões de toneladas de petróleo, alta de quase 25 %. Todavia essa exportação só nos prejudica pois o petróleo é praticamente doado, como entrega os restos da feira na xepa. O barril de 159 litros é vendido por simbólicos R$ 0,84 centavos. O que significa que as multinacionais do petróleo pagam menos de um centavo por litro.

Isto, depois do governo golpista ter doado o pré-sal através de “leilões” de grandes áreas exploratórias de cerca de milhões de barris permitindo que o valor final do petróleo adquirido ficasse a R$ 0,01 o litro.

Ainda no mês passado, Pedro Parente (PSDB), o presidente da empresa imposto por Temer, anunciou a venda de quatro refinarias (RLAM, RNEST, REFAP, REPAR) que se postas a funcionar e ampliadas barateariam o valor dos combustíveis no Brasil.

Por fim, para piorar, simultaneamente, também disparou a importação de combustíveis refinados dos EUA pelo Brasil, graças a atrofia tecnológica imposta pelo golpe ao país, impedindo-o de investir em refinarias. Repete-se a mesma política colonial praticada com a exportação de cana de açúcar barata e importação de açúcar refinado caro, quando não tínhamos refinarias de açúcar. No caso, de combustível caro, pago pelos consumidores no Brasil. Como bem explica a nota dos engenheiros da Petrobrás:

A Petrobrás adotou nova política de preços dos combustíveis, desde outubro de 2016, a partir de então foram praticados preços mais altos que viabilizaram a importação por concorrentes. A estatal perdeu mercado e a ociosidade de suas refinarias chegou a um quarto da capacidade instalada. A exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes. A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015, dos EUA por 3,6. O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total, em 2017 superou 80% do total importado pelo Brasil.
Ganharam os produtores norte-americanos, os “traders” multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil. Perderam os consumidores brasileiros, a Petrobrás, a União e os estados federados com os impactos recessivos e na arrecadação. Batizamos essa política de “America first!”, “Os Estados Unidos primeiro!”.
Nota sobre a política de preços da Petrobrás, 23 Maio, Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

Deste modo, o petróleo brasileiro é exaurido e os brasileiros pagam gás e combustível muito caros, apesar do Brasil ser um país riquíssimo em gás e petróleo, que em 2008, com o Pré-Sal descobriu uma das maiores reservas de petróleo encontradas no mundo nos últimos 50 anos. A gasolina mais que dobrou nos últimos dois anos e nas últimas semanas teve uma dúzia de aumentos consecutivos. O entreguismo golpista quebra não apenas a classe trabalhadora mas ao conjunto da própria economia capitalista brasileira. Por isso, foi necessário tirar o PT e o seu tímido desenvolvimentismo do poder e prender Lula para que o PT não voltasse.

Assim, setores sociais que estiveram na linha de frente da defesa do golpe do Estado, empresários dos transportes e não poucos caminhoneiros, tem sido vítima, não mais que a maioria da população trabalhadora, da política pró-imperialista do atual governo que conduz ao colapso a economia nacional, a exemplo do que uma política similar tem causado a Argentina. Essa política energética “Os Estados Unidos primeiro!” e o Brasil que se lasque tem feito disparar o custo de vida da maioria da população através do alto valor do gás e do combustível, que já foi reajustado centenas de vezes em dois anos.


Sendo assim, mesmo que se normalize o abastecimento de combustível nos postos, a população continuará sem poder comprá-lo, pelos preços inacessíveis. Do mesmo modo, o gás de cozinha, tem se tornado cada vez mais "artigo de luxo". O golpe está impondo um retrocesso histórico ao país. É por isso que temendo a reação popular, os agentes do imperialismo agitam cada vez mais a necessidade da militarização do regime para manter o controle social.

Uma frente com a direita golpista, defensora da intervenção militar, na “greve” caminhoneira?

Por tudo que dissemos até agora, entendemos que o movimento dos caminhoneiros teve um antes e um depois do acordo da noite de 24 de maio com o governo. A partir desse momento, ao criticar o lockout do ramo dos transportes, ou o que a esquerda já chamava de a “greve caminhoneira” nos referimos ao antes e não ao depois, onde existem elementos de negação e continuidade do lockout, os quais nos referimos a primeira parte desse documento.

Muitos setores da esquerda criticam as aliança eleitorais do PT, não apenas de conciliação de classes, mas também com setores golpistas, para as próximas eleições, reivindicando como princípio “nenhuma aliança com os golpistas!”. Acreditamos que os “ganhos” com essas alianças, em tempo de TV, ampliação de coeficiente eleitoral ou outras mercadorias políticas, não valem a pena, por desmoralizar a resistência dos trabalhadores frente ao golpe, a principal arma para enfrentá-lo. A moral elevada da tropa proletária antigolpista é o instrumento poderoso para a vitória nessa guerra, independente do terreno da luta, se haverá eleições, se seremos derrotados na batalha eleitoral, etc. Não por acaso, ainda que se expresse deformada e passivamente, e que seja mal utilizada pelo PT, a defesa da candidatura de Lula pelo povo, com a expectativa de se vingar do regime golpista nas eleições, tem sido o maior pesadelo dos golpistas, demostrando uma resistência espetacular da dignidade dos trabalhadores diante do massacre diário midiático, judiciário, pelas redes sociais, por quase dois anos.

Todavia, mesmo quando a greve dos caminhoneiros era um movimento policlassista de corte claramente burguês, por sua direção política e seu programa de reivindicações, esses mesmos setores críticos às frentes do PT com golpistas acabaram por reivindicar entusiasticamente uma frente com setores que apoiaram, defenderam, militaram e patrocinaram o golpe de Estado parlamentar de 2016. E pior, caem em um objetivismo que despreza toda luta ideológica aliando-se em uma frente cuja expressão política é a reivindicação da intervenção militar, um novo e mais violento golpe contra o conjunto da classe trabalhadora.

Por seus vícios sindicalistas, herdados sobretudo da própria escola tradeuninsta petista, os mesmos que criticam a promiscuidade das novas alianças petistas nas eleições, se traíram, escorregaram e acabam por fazer alianças e frentes com golpistas “na luta sindical” que resultou no acordo do dia 24/5 com Temer.

Todos os setores da esquerda que caíram no conto das contradições da “greve dos caminhoneiros” ainda quando essa estava claramente sendo manipulada pelos patrões, de que se deve disputar esse setor da direita, mais que golpista, defensor da volta da ditadura militar, de que estes “não tem uma pauta completamente (!) reacionária”, realimentam as ilusões do sectarismo golpista (PSTU, MRS, TS) que supostamente querem ganhar os coxinhas, os manifestoches para a luta revolucionária. Os novos aderentes dessa posição, desarmam-se ideologicamente, não passaram no segundo teste ácido da luta de classes. Nessa política, o PSTU conseguiu arrastar a maioria do bloco de oposição da Conlutas.

Se é evidente que existiam trabalhadores participando do lockout, se é verdade que há contradições nesses setores, e que esses são também vítimas da política de preços pró-imperialista de Temer-Parente, também é verdade que o desarmamento ideológico da esquerda para inflar esses defensores do golpe e da intervenção militar é uma política suicida. Sugerimos aos mesmos que saiam um pouco da internet para ir aos piquetes das tal "greve" com a bandeira vermelha de seus partidos, defender o socialismo, a estatização da Petrobrás sob o controle dos trabalhadores, a liberdade de Lula ou sequer o direitos democrático do mesmo ser solto e candidato e que depois retornem para nos contar sua experiência de disputa da consciência dos coxinhas. Mas, obviamente, nenhuma dessas correntes entusiastas do lockout se dignou a ir ajudar de forma concreta aos comboios de caminhoneiros, que comodamente apoiaram no mundo virtual, seguindo a orientação da CUT, CTB e Conlutas.

A esquerda encontra-se completamente despreparada para lutar contra o golpe de estado que mal reconhece formalmente e sonha que está às vésperas de tomar o poder, quando, na verdade, objetivamente, favorece o golpe dentro do golpe.

Mesmo os que apoiam a greve dos caminhoneiros parecem não saber muito bem de quem estão falando. Muitos que se autoproclamam marxistas, repetem erroneamente uns aos outros que os trabalhadores do transporte, os caminhoneiros, fazem apenas parte do processo de circulação de mercadorias. Para Marx, o transporte não faz parte do setor de serviços, mas é uma indústria que faz parte do processo adicional de produção, que agrega valor a mercadoria, valor agregado que se divide entre os salários e a mais valia, apesar de se manifestar como um custo de circulação. Para Marx, a indústria dos transportes é a única em que o processo e o produto são a mesma coisa:

La industria del trasporte desempeñaba un papel importante, aunque el producto social no circulaba como mercancía ni tampoco se distribuía mediante el comercio de trueque.
Por eso, si bien la industria del trasporte, sobre la base de la producción capitalista, se manifiesta como causa de costos de circulación, esta forma particular de manifestarse no modifica para nada los términos de la cuestión.
Las masas de productos no aumentan porque se las trasporte. Incluso la modificación de sus propiedades naturales provocada acaso por el trasporte no es, con ciertas excepciones, un efecto útil intencional, sino un mal inevitable. Pero el valor de uso de las cosas sólo se efectiviza en su consumo, y su consumo puede hacer necesario su cambio de lugar y por ende el proceso adicional de producción que cumple la industria del trasporte. El capital productivo invertido en ésta agrega, pues, valor a los productos trasportados, en parte por transferencia de valor de los medios de trasporte, en parte por adición de valor mediante el trabajo de trasporte. Esta última adición de valor se divide, como ocurre en toda producción capitalista, en reposición de salario y plusvalor.
K. Marx, O Capital, LIBRO 2º - EL PROCESO DE CIRCULACION DEL CAPITAL, CAPITULO VI - LOS COSTOS DE CIRCULACION, III - Costos de trasporte. 25 de julio de 1867
Todavia, ao serem manipulados politicamente por seus patrões em um movimento que beneficiou economicamente a estes últimos em detrimento dos próprios trabalhadores da indústria do transporte e prejudicará ao conjunto da classe trabalhadora econômica e politicamente, fortalecendo a intervenção militar, não podemos nos deixar confundir sob pena de ajudar a contrarrevolução a derrotar a classe trabalhadora, inclusive a do ramo dos transportes.

E se fosse uma greve só de caminhoneiros verdadeiramente autônomos, sem a presença de grandes empresários do ramo da logística, agronegócio, nem fossem golpistas ou intervencionistas, mas que prejudicasse a maioria da população trabalhadora, apoiaríamos? Para horror dos tradeunistas sui generis (viciados em sindicalismo mesmo quando esse é golpista), vejamos como Trotsky responde a questão do apoio a uma greve convodada por um sindicato dirigido por burocratas reacionários:

Um sindicato dirigido por burocratas reacionários [no caso, uma greve nacional organizada por empresários, golpistas e fascistas defensores da intervenção militar], organiza uma greve contra a admissão de operários negros em um determinado ramo da indústria [no caso, pela transferência do saqueio imperialista e do custo do imposto da patronal da indústria do transporte para a população]. Apoiaremos uma greve tão vergonhosa? Naturalmente que não. Porém, imaginemos que os patrões, utilizando tal greve, tentem derrotar o sindicato e impossibilitar, no geral, a defesa organizada dos trabalhadores. Neste caso, logicamente, defenderemos o sindicato, apesar de sua direção reacionária.L. Trotsky, Novamente e uma Vez Mais, Sobre a Natureza da URSS, 18 de Outubro de 1939 
Nossa resposta seria então: Naturalmente que não! Ao mesmo tempo em que nos opomos a toda repressão do Estado patronal a tal greve. A situação se colocaria completamente distinta no trato dos trabalhadores do setor de transportes, mesmo de trabalhadores autônomos ou proprietários de caminhões em um Estado pós-revolucionário, de caráter operário, onde o combustível poderia ser subsidiado, tabelado, controlado pelo aparato estatal, não dependente nem refém, como no caso, do imperialismo ou de capitalistas nacionais.

Por tudo isso, e diante da expectativa de que o impasse e a crise de desabastecimento deve continuar, porque o governo golpista não atendeu as reivindicações da maioria dos caminhoneiros nem tão pouco da maioria da população pela redução do preço dos combustíveis e gás de cozinha, porque o acordo Temer-Transportadoras-Multinacionais foi as custas de acentuar a política de ajuste contra o povo, a greve de 72h dos petroleiros que se iniciou nesse 30 de maio deve ser coberta de solidariedade e ampliada pelas outras categorias para além do feriado e final de semana dos dias 31/5 a 3/6.

A paralisação petroleira toma carona na greve dos caminhoneiros, no combate a política pró-imperialista de preços de combustíveis e em geral do governo golpista. O conjunto dos trabalhadores devem defender e ampliar a Greve dos Petroleiros sob o programa da:

- Não a privatização! Suspensão imediata da venda dos ativos (refinarias, balsas, guindastes, plataformas, etc.! Reestatização integral da Petrobrás sob o controle dos operários petroleiros!

- Anulação de todas as medidas antioperárias e próimperialistas tomadas pelo governo golpista!

- Redução e tabelamento controlado pela população do preço dos combustíveis (diesel, gasolina, álcool, GNV) e do gás de cozinha!

- Lula livre e presidente em 2018 como desejam a maioria dos trabalhadores!

- Não as eleições indiretas e o parlamentarismo!

- Não a intervenção militar ou a militarização “democrática” do regime!

- Só a unidade da esquerda e dos trabalhadores nas greves, ruas e nas eleições poderá derrotar a direita e a intervenção militar!