domingo, 27 de agosto de 2017

EDITORIAL - FOLHA DO TRABALHADOR 28

Acabou a conciliação

Patrões querem nos devorar vivos!
É hora de organizar a base para a guerra

Editorial do Jornal Folha do Trabalhador número 28

Os patrões romperam unilateralmente o pacto que tinham com o PT, realizaram um golpe de Estado, partiram para a ofensiva contra os trabalhadores, estão fazendo um arrastão contra nossos direitos e condições de vida e ameaçam romper inclusive com a aparência democrática do regime para alcançar esse objetivo. Eles tomaram a iniciativa e estão devorando tudo, direitos trabalhistas históricos, conquistas sociais, salários, saúde e educação gratuitas, aposentadoria, empresas estatais, ... sem qualquer escrúpulo para arrancar tudo que sempre quiseram. Mas se essa é uma ambição que sempre tiveram por que só agora sentiram que era a hora realizá-la? Nessa resposta pode estar a chave para virarmos o jogo.

Acreditamos que essa ofensiva só é possível nesse momento em virtude da regressão qualitativa na consciência dos trabalhadores em termos ideológicos, políticos e sindicais. Fatores que se combinam e desarmam a resistência objetiva e subjetiva das massas contra as ambições escravocratas históricas da burguesia.

PERDA DA REFERÊNCIA DO SOCIALISMO

O imperialismo desatou uma ofensiva ideológica anticomunista no continente contra a onda de revoluções a partir do final da II Guerra Mundial (1945) e sobretudo a revolução cubana (1959) na América Latina. Nos EUA e Grã Bretanha essa ofensiva foi encarnada pelos governos Reagan e Thatcher.

No final dos anos 1980, a contrarrevolução na URSS e no Leste Europeu representou uma derrota para o conjunto das massas do planeta. Com a queda da URSS, o proletariado perdeu a referência do que objetivamente representava o oposto ao capitalismo, ainda que o stalinismo representasse uma caricatura burocrática desses referencial de socialismo.

DESILUSÃO POLÍTICA COM SUAS DIREÇÕES E GOLPE DE ESTADO

A perda do referencial político se dá a partir da ascensão do PT. A eleição de Lula cooptou boa parte da vanguarda dos trabalhadores. Alguns que não foram cooptados se dispersaram politicamente. Uma minoria da esquerda, autoproclamada revolucionária que já havia sido arrastada para apoiar a contrarrevolução nos Estados operários, imergiu em um delírio sectário e pós-moderno e acabou por apoiar também a ofensiva golpista do imperialismo na Líbia, Síria, Ucrânia e Brasil. Grande parte dessa minoria, supostamente em nome do trotskismo, adotou palavras de ordem próprias do radicalismo liberal da pequena burguesia, desvinculadas da luta pela tomada do poder pelos trabalhadores, como o “Fora Dilma!” Então, não sobrou muitas alternativas políticas para os trabalhadores em meio a integração do PT ao Estado capitalista.

A CHANTAGEM DA DEMISSÃO

Por fim, mas talvez de maior importância porque é o que mais atinge as amplas massas da população trabalhadora, as classes dominantes vem obtendo sucesso no aumento da exploração em extensão e profundidade, em jornada de trabalho e maior esforço físico, com a justificação cretina da crise e por meio da chantagem do desemprego. Isso fomenta o medo real da demissão e cria uma resignação entre os trabalhadores para tolerar o roubo de seus direitos sindicais históricos para pelo menos seguirem a vida na condição de explorados.

Perda da referência no socialismo (que seria aquilo que caiu no Leste europeu), perda de referencia em suas direções tradicionais (o PT e a CUT), Golpe de Estado e chantagem de desemprego, esse conjunto de elementos combinados resultaram no desarmamento atual dos trabalhadores diante da ofensiva capitalista. Isso explica dois fenônemos que se combinaram: um na cúpula do movimento operário, outro, na classe. Na direção: porque, após a grande paralisação nacional de 28/04, a burocracia sindical se deu ao luxo de não fazer nada contra a reforma trabalhista, o roubo do século contra a maioria da população. Na classe, as vítimas desse ataque se mantiveram apáticas. Mas é possível que, quando forem executar as leis escravocratas aprovadas, haja explosões de descontentamento entre as massas ou reações selvagens, heroicas e individuais.

Depois de várias provocações sem uma reação à altura dos ataques, os patrões concluíram que esse é o momento para avançar com os golpes mais duros, sem inclusive ter de recorrer a repressão física ou uma ditadura militar. Nesse último aspecto, a ocupação militar do Rio é um tubo de ensaio. A resignação tem sido o suficiente, por enquanto. Todavia, essa realidade é dinâmica e a resignação de hoje pode se converter em consciência amanhã.

O PT anuncia a reversão desse quadro desfavorável através das eleições de 2018, buscando um acordo com o regime golpista para voltar a governar. O partido de Lula candidata-se a assumir o timão dessa ofensiva contra os trabalhadores. Mas, a burguesia está convicta que não precisará do PT nesse momento histórico.

A esmagadora maioria do que se considera vanguarda dos trabalhadores e da esquerda nesse momento está perdida para os combates futuros. O que existe de melhor da classe precisa ser reagrupado em um Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, um novo Conclat, que reúna a esquerda classista da CUT e CTB, e MST, os setores antigolpistas da Conlutas, o MTST, etc.

Por outro lado, é preciso recomeçar desde a base, na grande massa do proletariado, sem a qual nenhuma luta poderá ser ganha, reunir os colegas de trabalho em uma frente única ampla pelas lutas imediatas e a partir daí acumular consciência coletiva e introduzir consciência comunista e recrutamento organizado para o combate. É preciso voltar às bases para reorganizá-las para levá-las às ruas, sob uma agitação política oposta a que alimenta ilusões na democracia dos ricos e na conciliação de classes.

Como destacam os camaradas do grupo Ação Revolucionária Comunista (KED), da Grécia, país cuja classe trabalhadora realizou o maior número de greves gerais do século XXI, em um artigo que reproduzimos nessa edição do Folha do Trabalhador:
“As manifestações gigantes e militantes de 2010-2012 e a enorme onda de radicalização pertencem ao passado. A derrota nas ruas combinada com a falência da via parlamentar e a capitulação completa do SYRIZA para os diktats da burguesia grega, a UE e o FMI deixaram a maior parte do proletariado desmoralizado e na busca de soluções individuais, especialmente na ausência de uma alternativa política crível da classe trabalhadora.”

Com os pés no chão é que se caminha para frente. Agora a guerra e a exploração estão mais escancaradas do que nunca. Nessa tragédia existem elementos profundamente pedagógicos. É preciso utilizá-los para construir uma alternativa política crível e pelo que a classe acredite que valha a pena lutar. Acabou a colaboração de classes, o lado de cá precisa adquirir consciência disso também.

Todavia, não alimentemos ilusões obreiristas ou voluntaristas. Os batalhões organizados do proletariado só voltarão a cena com toda sua potência se forem sob novas bases, as da guerra de classes. Isso requer também um novo reaquecimento da economia que não está no horizonte imediato.

De tudo isso concluimos que precisamos dedicar nossas forças ao trabalho de reorganização da classe a partir de seu local de trabalho, moradia e estudo, pois
“Nenhuma situação, por cinzenta e pacífica que seja, como tampouco nenhum período de decaimento do espírito revolucionário exclui a obrigatoriedade de trabalhar pela criação de uma organização de combate, nem de levar a cabo a agitação política; mais ainda, é precisamente em tais circunstâncias e tais períodos que é especialmente necessário o trabalho indicado porque em momentos de explosão e estouros é tarde para criar uma organização. A organização tem que estar pronta para desenvolver sua atividade imediatamente.”


Lenin, Por onde começar, 1900