sexta-feira, 8 de abril de 2016

EDITORIAL FdT 26

A saída é organizar a luta das
massas para derrotar a direita
EDITORIAL FdT 26

A luta política contra o Golpe de Estado no Brasil chega em seu momento decisivo. Toda a política de concessões ininterruptas e crescentes do Governo Dilma e do PT à direita só fortaleceu aos golpistas e confundiu as massas. O que o PT até agora não entendeu e não quer entender, fiel aos seus princípios de que tudo se resolve com colaboração e classes e de que “se não se pode com eles junte-se a eles”, é que a causa principal da ofensiva golpista pouco ou nada tem a ver com a política econômica nacional e, portanto, nenhum "ajuste fiscal" saciará os golpistas.

A razão do golpe reside na política de contra-ataque imperialista contra a expansão dos BRICS após a recessão mundial que teve início com a crise de 2008.

A vitória temporária de Zuma sobre o impeachment na África do Sul pode animar Dilma, Lula e o PT a pensarem que podem se apoiar no toma-lá-dá-cá palaciano e a luta pode ser vencida no parlamento dos 300 picaretas. Afinal, "que mundo é esse que não se pode confiar na fidelidade do PMDB ou de Maluf?"

O fato é que enquanto não recapturar o governo brasileiro para sua área de influência, afastando o país dos BRICS, como vem fazendo o governo Macri na Argentina, o imperialismo seguirá infernizando a política nacional até que Dilma seja destituída.

SE O IMPEACHMENT FOR APROVADO PELO CONGRESSO não deixará de ser Golpe e o novo governo golpista, a exemplo do que pretende Temer e o PMDB com seu famigerado programa “Uma ponte para o futuro”, tentará impor um retrocesso às conquistas trabalhistas, sindicais e sociais da população anterior a era Vargas, incluindo a privatização da Petrobrás e a reforma da previdência. Essas serão as principais consequências do Golpe.

O PT entrará com recursos no STF e até encenará uma resistência popular, mas apenas para barganhar a medida do ataque da direita, sem maiores consequências contra o Golpe. Em contrapartida, a direita criará novos e maiores factoides até a enésima fase da operação “Lava Jato”, fabricará mais escândalos de corrupção tendo como alvo Lula e o PT, para acuar o partido e a CUT, cujos sindicatos também serão alvos de devassas e intervenções jurídico-policiais.

SE O IMPEACHMENT NÃO FOR APROVADO, a direita, animada pelo imperialismo, vai radicalizar sua campanha golpista para criar um inferno e tornar o mandato impossível, ao mesmo tempo, tende a redobrar os ataques fascistas individuais, aos dirigentes do movimento de massas, aos sindicatos e a esquerda em geral.
Mesmo tendo derrotado a direita no Congresso, Dilma tende a negociar um acordo de reconciliação nacional em torno de sua renúncia e convocação de eleições gerais em 2016 com Lula como candidato.

A direita só  tem acordo com a renúncia incondicional de Dilma e exclusão de Lula do processo eleitoral que não será geral, apenas municipal mais presidencial.

SABENDO DA FRAGILIDADE DE UM GOVERNO TEMER para impor o que se dispõe a fazer, o imperialismo, a Globo, setores do PSDB, do próprio PMDB e do STF, já trabalham e até pressionam pelo impeachment conjunto de Dilma e Temer e pela antecipação das eleições presidencias para 2016. Isso seria um plano B, que não deixaria de ser Golpe. Porém, além de dar um aspecto de legitimidade a governo surgido com a derrubada de Dilma, as eleições "gerais" poderão dividir os movimentos de esquerda que se colocam às ruas contra o impeachment, como também poderá dar chances de emergir dentro da direita um novo “salvador da pátria”.

Mesmo assim, essa saída exige a repressão preventiva aos movimentos sociais despertos  na luta anti-golpe, a cassação e criminalização dos principais líderes capazes de concorrer e vencer as novas eleições, principalmente o próprio Lula.

A história do último ano da luta de classes no país comprovou mais uma vez que “não é possível salvar a situação sem a ajuda das massas em luta”. (L. Trotsky, ¿Adonde va Francia?, Frente Popular y Comites de Accion, 26 de noviembre de 1935). Lula sabe muito bem disto e foi assim que grandes mobilizações frearam momentaneamente a escalada ascendente da direita no final de 2014 e também no final de 2015. Todavia, depois de cada batalha ganha, Dilma recomeça o ano lançando mais um pacote de “ajustes” contra sua própria base de apoio social para pactuar com a direita golpista, fortalecendo assim o inimigo que volta a recobrar forças a ponto de ocupar as ruas como nunca fizera em tão grande número e por tanto tempo no país. Mas, igualmente, nunca a esquerda foi para as ruas contra a direita por tanto tempo e em tão grande número como de março de 2015 até hoje.

Agora, “é preciso criar um novo aparato político de massas que responda as necessidades do momento. Nisto precisamente reside a função dos comitês de ação”. (Idem). No artigo “Contra o Golpe, Comitês populares!” atualizamos o debate sobre o tema para a atual conjuntura.