domingo, 27 de março de 2016

EM DEFESA DE DOWNING CONTRA O IMPERIALISMO BRITÂNICO

Entrevista de Gerry Downing a BBC britânica
contra a caça as bruxas dentro do Partido Trabalhista 

Mesa redonda do programa "Daily Politics!", da BBC britânica,
uma das maiores redes de TV do planeta, com Gerry Downing
(D), contra a tentativa de demonização das posições anti-
imperialistas do Socialist Fight pelo âncora Andrew Neil (C)
e por Philip Colins (E), representante do Labour Party. Na tela
de fundo, a foice e o martelo do símbolo do
Comitê de Ligação pela IV Internacional
Reproduzimos abaixo a degravação da entrevista concedida pelo camarada Gerry Downing ao programa “Daily Politics!” da TV BBC britânica, acerca da ofensiva política desferida por David Cameron, primeiro ministro conservador contra o camarada. Downing é dirigente do Socialist Fight, seção irmã da FCT no Comitê de Ligação pela IV Internacional, o CLQI. O âncora da BBC, Andrew Neil, explica que no dia anterior (09/03/2016) Cameron demonizou Downing na Câmara dos Comuns com o intuito de acuar o Partido Trabalhista por ter readmitido o dirigente do Socialist Fight, por supostamente “defender o Estado Islâmico e os ataques de 11 de setembro / 2001 em Nova York (Torres Gêmeas)”.

Como a FCT esclareceu anteriormente nesta declaração, trata-se de uma ofensiva multifuncional do imperialismo britânico e da direita do país em ascensão: criminalizar a luta anti-imperialista do camarada Downing, proletário aposentado, ex-motorista de ônibus; que dirige o comitê de defesa dos presos políticos republicanos irlandeses (IRPSG) e o CLQI; aterrorizar e isolar aos imigrantes, campanha em que o primeiro ministro tem se empenhado pessoalmente e pôr o trabalhismo que recentemente elegeu Jeremy Corbyn, como líder do partido, um dirigente à esquerda do novo trabalhista blairista (relativo ao ex-primeiro ministro trabalhista, Tony Blair, também conhecido como o poodle de G. W. Bush).

Juntamente com Gerry outros militantes de esquerda foram expulsos do Labour como Tony Greenstein e Jill Mountford.

A Frente Comunista dos Trabalhadores conclama a todas as organizações anti-imperialistas a repudiar veementemente essa caça as bruxas do imperialismo britânico, parte da escalada da direita mundial de demonização da luta revolucionária e socialista em defesa dos povos oprimidos, enviando moções de repúdio a expulsão de Gerry Downing e de outros camaradas do Partido Trabalhista britânico. A seguir, a entrevista da BBC:

Andrew Neil: Primeiro vamos ouvir o discurso de David Cameron [vídeo da seção da Câmara dos Comuns em que o primeiro ministro critica Gerry Downing para atacar o Labour Party por não colaborar com a “luta antiterror” do governo conservador.]

Cameron: Tanto em âmbito doméstico como no exterior, os órgãos de segurança estão fazendo progressos com relação ao terrorismo vindo de Iraque e Síria. Estou espantado com a readmissão no partido Trabalhista do Sr.Downing. Em seu jornal é afirmado que ele “não condena os ataques de 11 de setembro e defende o Estado Islâmico na Síria e no Iraque

Em seguida, o repórter da BBC apresenta Gerry Downing e o SF

Neil: Antes de analisarmos a questão sobre os ataques de 9/11 vamos falar do seu grupo, o Socialist Fight

Neil: Vocês se auto denominam seguidores de Karl Marx e apoiam os movimentos revolucionários. Por que vocês estão no Partido Trabalhista?

Downing: Porque o Partido Trabalhista é o partido da classe operária na Grã-Bretanha, ele tem ligações com os sindicatos e organizativamente representa o nível de consciência da classe trabalhadora.

Neil: É justo dizer então que você vê a sua presença no Partido Trabalhista como tática, partindo do ponto de vista que é um partido burguês e que, portanto, não fará as mudanças as quais vocês defendem?

Downing: O partido pode trazer algumas poucas mudanças, mas lógico não vai mudar o sistema capitalista por si mesmo. Mas podemos avançar em algumas coisas. Porque a classe trabalhadora está sofrendo um ataque desde o governo de Calagham em 1977. O equilíbrio da balança está indo dos pobres para os mais ricos.

Neil: Vocês estão trabalhando em conjunto dos outros líderes trabalhistas como o chanceler John McDonell?

Downing: Não, eu não sou seu amigo pessoal de McDonell. Ele apenas me ajudou nas mobilizações pela minha reintegração ao meu emprego como motorista de ônibus depois que fui injustamente demitido. Ele esteve nos piquetes, me ajudou a fazer justiça conseguindo meu emprego de volta. Mas ele não é meu amigo pessoal.

Neil: Você já atuou com muitos líderes trabalhistas?

Downing: Sou membro do Partido na minha região.

Neil: Você se diz membro do Partido Trabalhista?

Downing: Bem, eu tenho sido. Me informaram que fui expulso, mas ninguém me informou oficialmente.

Neil: O primeiro ministro disse que você apoia o ataque de 9/11 e você afirma que isso foi dito fora do contexto, está correto?

Downing: Sim, eu não defendo nem os ataques de 9/11 nem o Estado islâmico, de maneira nenhuma! O que eu fazia era explicar sobre as razões, sobre o porquê daquilo ter acontecido, as razões do ataque. O que é basicamente o que o imperialismo está fazendo no Oriente Médio!

Neil: Você escreveu sobre os ataques de 9/11 dizendo que era justificada a ira dos oprimidos contra os opressores, e você disse que não os condenaria, que eles tinham motivos compreensíveis para o 9/1 e o suicídio usando bombas!

Downing: Bem, eu explicaria dessa maneira: voltando a 1996, quando Madeleine Albright foi questionada do que ela achava quando meio milhão de crianças iraquianas morreram por causa da sanção econômica americana. Ela disse que valia a pena! Que era uma escolha difícil, mas que o preço valia a pena.

Neil: Os ataques de 9/11 não devem ser condenados?

Downing: Eu penso que o que tem que ser dito nessas circunstâncias é que a primeira coisa que se deve fazer é entender do porquê isso aconteceu. Isso não aconteceu porque eles são loucos ou lunáticos, ou porque eles são más pessoas, aconteceu porque eles estavam ultrajados sobre o que acontecia na sua terra.

Neil: Você ainda não condena os ataques de 9/11?

Downing: Eu não usaria a frase condenar! Porque eu penso, como disse Espinosa: “Eu tenho lutado para não rir, nem chorar, nem odiar as ações humanas, mas compreendê-las! E entendê-los significa saber o que aconteceu e por que aconteceu.

Neil: Então você os entende mais do que os condena?

Downing: Sim, eu entendo os motivos do porquê aconteceu! Existem artigos que falam das ridículas teorias da conspiração sobre o 11/9...

Neil: Sobre o Estado Islâmico. Cameron diz que você os apoia taticamente em termos de apoio militar. É isso mesmo?

Downing: Não, não apoio. Eu não os apoio nem militarmente, nem politicamente.

Neil: Posso ler um pouco do artigo do grupo do qual você é membro? Vocês dizem que não dão apoio político aos talibãs, sunitas, chiitas, Hamas, Fatah, Kadafi, Assad, Estado Islâmico, vocês dão apoio militar a eles, mas... você reconhece que o imperialismo é o maior inimigo da humanidade! Então vocês defendem que a classe operária dê apoio crítico e ajuda a tática militar para todos os que estão lutando pela derrota do imperialismo... isso inclui o Estado Islâmico!

Downing: Bem, se você leva em consideração o que acontece no Afeganistão LÍbia, Síria e no Iraque, esses países todos foram bombardeados pelos americanos, suas infra-estrurura totalmente destruídas, por volta de um milhão de pessoas mortas no Iraque! E isso não produziu absolutamente nenhum progresso, esses Estados não conquistaram nenhuma democracia, nenhum avanço. Estão pior do que antes!

Neil: Eu entendo suas argumentações, são legítimas, mas vocês dizem que o resultado disso é defender apoio crítico e ajuda a tática militar a grupos como o Estado islâmico!

Downing: Apoio tático significa que nós nos opomos ao bombardeio dos EUA contra eles! Não estamos a favor dos bombardeios, porque forçosamente envolve a morte do que eles chamam de efeitos colaterais, (a morte) de um número altíssimo de civis!

Neil: E sobre ajuda militar tática?

Downing: Se você analisar o imperialismo como seu principal inimigo, você vai se opor às ações dele, é uma questão lógica!

Neil: Você sempre será pela expulsão do imperialismo americano do Oriente Médio, etc!

Neil: Vocês dizem que é preciso enfrentar a questão judaica, o que é a questão judaica?

Downing: O fato de que Israel cometer crimes horríveis contra os Palestinos, fazem bombardeios, e os bombardeios são apresentados pela mídia como um ataque contra terroristas!

Neil: Mas trata-de de Isarel e não da questão judaica!

Downing: Não é a questão judaica... É o  sionismo mesmo!

Neil: Falando sobre sionismo, vocês afirmam que o sionismo joga um papel importante na política em todos os avançados países capitalistas, os sionistas estão por trás das caças às bruxas contra Jeremy Corbyn! Afirmam que o sionismo joga papel decisivo nos três principais partidos políticos, que o sionismo está na vanguarda em fomentar o ódio anti-islâmico nas políticas do ocidente, e o sionismo está na vanguarda no papel dos ataques contra os trabalhadores! Parece pra mim, vocês vêem a questão judaica como uma conspiração sionista?

Downing: Não, não é uma conspiração sionista. É algo muito material, ou seja, o número de milionários e bilionarios defensores do sionismo entre as classes dominantes dos EUA e Europa em geral, é sobre o seu poder econômico e político, que leva a situações ridículas...é sobre o poder econômico e político!

Neil: Vocês pensam que os sionistas, como você os chama, exercem um papel decisivo em tudo isso!

Downing: Obviamente eles têm papel decisivo, a maioria tem dupla nacionalidade, a maioria.

Neil: Isso não soa parecido com que os nazistas diziam na Alemanha nos anos 30, que “os ricos judeus controlavam a economia alemã”?

Downing: De fato não é isso. Se você observar o que Netanyahu diz... ele diz que “de fato o holocausto foi causado pelo grande mufti (líder religioso muçulmano) de Jerusalém e não pelos nazistas...

Neil: Eu quando leio a lista de todas as coisas de que você acusa o sionismo, parece por demais, não quero te pressionar demais , mas estão cheias do “Protocolo de Sião”.

Downing: Não, nós rejeitamos completamente o “Protocolo de Sião”. O artigo é baseado nos fatos políticos e materiais da supremacia da autoridade política dos políticos sionistas entre as classes dominantes nos EUA e Europa, isso não tem nada a ver de fato com a sua origem judaica.

Neil: Você ouviu tudo! Suponho que esteja feliz que o sr. Downing não esteja mais no Partido trabalhista!

Philip Collins (redator de discursos de Tony Blair, membro da ala liberal do LP e jornalista do jornal “The Times”): Com certeza, pois o sr. Downing com essas propostas não se enquadra em um Partido que não se propõe a fazer a revolução. O partido é reformista, os sindicatos existem para melhorar as condições dos trabalhadores, mas eles não são organizações revolucionárias, por tudo isso, o sr. Downing não pode ficar no Partido Trabalhista!

Downing: Eu penso que uma das razões pela minha readmissão é que no passado o partido já teve muitas pessoas como eu em suas fileiras, que disseram coisas muito parecidas com as que eu defendo hoje, sobre como ir além do capitalismo. São ambições que devemos defender para o mundo atual!

Neil: Você pensa que o partido sob a direção de Jeremy Corbyn é receptivo para suas idéias socialistas atualmente?

Downing: Eu penso que sim, se eles me permitirem, pois afinal de contas, eles aceitam dentro do partido políticos da direita, não posso entender como não aceitarem pessoas como eu!

Neil: Você entrará com recurso contra decisão?

Downing: Com certeza!