sexta-feira, 3 de abril de 2015

VÍDEO - RESENHA DO “DIA QUE DUROU 21 ANOS”

Golpismo made in CIA
contra o Brasil em 1964 e 2015
Um importante documentário comprovando que os EUA foram os principais articuladores do Golpe militar de 1964. Assim como estão por trás da escalada golpista hoje.

O documentário “O dia que durou 21 anos”, escrito pelo jornalista Flávio Tavares, mostra, como nenhum outro até então realizado sobre o Golpe Militar de 1964, como e porque esta tragédia da história brasileira foi produto direto da intervenção dos EUA na política nacional.

Fica claro não apenas um “envolvimento” direto do imperialismo mas sobretudo o financiamento, a instrução da oposição interna, a ação de milhares de agentes clandestinos da CIA no controle da escalada golpista e que foi a CIA quem criou as “condições para o golpe”. A partir de uma rica coleção de documentos confidenciais dos EUA, como a troca de correspondência e conversações telefônicas entre o Embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, e o então presidente dos EUA, John Kennedy,  é importante realizar uma comparação entre aquela conjuntura e a atual.

Se os EUA orientaram aquele Golpe temendo que o Brasil mudasse de lado naquela guerra fria, não menos preocupados estão os EUA hoje quando claramente o governo petista brasileiro conduziu o país a ser o principal organizador da ampliação da influência do "inimigo número 1 dos EUA" hoje, o bloco Eurásico. O atual adversário da Casa Branca na nova Guerra Fria, atemoriza não mais por um risco de expropriação de suas multinacionais como fez Cuba e em pequena escala Leonel Brizola no governo do Rio Grande do Sul com a ITT (telecomunicações) e a Amforp (eletricidade), mas em outro nível, em outra época, atemorizando o imperialismo com a desdolarização das relações comerciais.

Com isso não queremos dizer que o imperialismo teme mais a um bloco rival de países capitalistas emergentes do que a revolução social e a conversão do Brasil em um Estado operário. Não estamos relativizando o caráter de classe da ameaça temida pelo imperialismo. O que apontamos é que a nossa época possui contradições próprias e limites impostos pelo atual domínio imperialista sobre nações oprimidas como o Brasil muito mais estreitos que no passado, justamente por ser uma época marcada pela derrota histórica para o proletariado mundial na luta anti-imperialista que foi a contrarrevolução na URSS, permitindo a ofensiva neoliberal das décadas de 1980 e 1990 sobre as condições de vida de todos os trabalhadores do planeta, as guerras e ocupações militares contra o Iraque e a destruição da Iugoslávia, a guerra ao terror cuja máxima expressão foram a ocupação militar do Afeganistão e Iraque, etc. Neste contexto de superior parasitismo imperialista e sobreacumulação capitalista derivada da ofensiva pós-URSS, o imperialismo não abrem mão de um controle mais amplo de suas colônias para um bloco capitalista rival e por isso querem arrancar do governo o partido que é um dos principais responsáveis por abrir as portas do continente ao bloco encabeçado por China e Rússia.

É importante destacar também que a propaganda política made in USA para semear o clima golpista no Brasil é basicamente a mesma.

Goulart, com seu tímido nacional desenvolvimentismo das reformas de base, reforma agrária e controle da remessa de lucros, não tinha como interesse transformar o Brasil em uma outra Cuba. Menos ainda Dilma e o PT desejam, com sua política de contra-reformas e neoliberal, transformar o Brasil em outra Cuba ou sequer em uma Venezuela. Mas, na época como hoje, a direita justifica o Golpe de Estado e uma ditadura militar com a mesma estridência acusando a estes governos de quererem implantar uma ditadura comunista no Brasil.

Alguns dementes políticos, mesmo após os últimos acontecimentos da ofensiva da reação no Brasil, ainda teimam em negar que vivemos uma nova escalada golpista. Argumentam que a política praticada por Dilma é quase oposta a realizada por Goulart, no sentido da capitulação aos interesses do capital financeiro. Acreditam que a tímida resistência nacionalista de Goulart explica aquele Golpe, mas que uma medida similar não é necessária contra o PT e Dilma porque os mesmos seriam hoje funcionais a grande burguesia e ao imperialismo, com a política de juros altos, ajuste fiscal, corte de direitos, etc. Acreditamos que este raciocínio está "ultrapassado" pela conjuntura aberta após a crise capitalista de 2008, da qual emergiu a nova guerra fria, com o aumento da influência da China e da Rússia no planeta.

É A ECONOMIA POLÍTICA MUNDIAL
E NÃO "POLÍTICA ECONÔMICA" NACIONAL
O QUE DEFINE OS RUMOS DAS NAÇÕES

Os elementos que condicionam os grandes acontecimentos da superestrutura política em cada país são hegemonizados pelo desenvolvimento da economia política capitalista em sua totalidade mundial (queda tendencial da taxa de lucro, hegemonia chinesa da concentração de massas proletárias produtoras de mais valia, disputa entre os monopólios e trustes pelo controle energético, exportação de commodities e exportação de capitais, etc.) e não a "política econômica" dos governos.

É a nova guerra fria e não a “política econômica” do governo Dilma/Levi quem condiciona a sobrevivência política dos governos atualmente. Lugo, no Paraguai, Kadafi, na Líbia, Yanukóvytch, na Ucrânia, foram derrubados por golpes made in CIA, apesar de suas políticas econômicas neoliberais. 

Para os que negam o atual risco de um Golpe de Estado no Brasil com argumentos pós-modernos, para os que são avessos a uma análise materialista e geoestratégica da conjuntura, para os que apoiam suas concepções no fato do Brasil hoje ser uma sociedade muito mais complexa do que era em 1964 e mais complexa do que a de Honduras ou o Paraguai, que recentemente sofreram Golpes de Estado arquitetados pelo imperialismo, cai como uma luva uma das premissas elencadas pelo documentário para os EUA conspirarem contra Jango, apoiadas na descrição do Brasil de 1964: “O Brasil era uma superpotência regional. Um país imenso com vasto potencial econômico. Vasto potencial de liderança. Os EUA não podiam se dar ao luxo de o perder... O trabalho da Embaixada dos EUA é manter a nação mais importante da América Latina firmemente comprometida com o Ocidente.”

A ação frenética do Embaixador dos EUA foi fundamental para a derrubada de Jango, mas não porque na orquestração golpista Kennedy teria sido falsamente informado e convencido por Gordon, a partir de 1962, a pensar que o Brasil caminhava para se tornar sob Goulart senão em uma nova Cuba, mas já em uma nova China, como em algum momento sustenta um dos entrevistados. Esta é uma visão ingênua e parcial que embeleza Kennedy e despreza por completo que o Brasil não foi o único país latino americano a sofrer um golpe de Estado orquestrado pelos EUA.

Como comandante em chefe dos interesses imperialistas, Kennedy orientou a invasão frustrada de Cuba em 1961, derrotada pela população cubana de armas na mão. Depois desta derrota, os EUA ligaram a luz vermelha para intervir de forma direta, preventiva e emergencialmente nos rumos políticos do resto do continente americano. O golpe militar no Brasil foi apenas o primeiro de uma série. Mesmo não tendo os mesmos personagens na Casa Branca ou na Embaixada dos EUA, a orientação golpista do imperialismo foi a mesma também no Chile, Paraguai, Argentina, etc. E mais, o Golpe de Estado dos EUA no Brasil vinha sendo maturado muito antes de Gordon assumir seu posto no Brasil. Há mais de uma década já contra o nacionalismo de Getúlio Vargas, quando teve de ser abortado após a última manobra política populista deste último que reverteu o cerco golpista contra si em 1954 cometendo suicídio. Deste modo, a tese do "conselheiro perverso" não se sustenta nem na escala do espaço nem do tempo, primeiro porque fica claro que a tática do Golpe uma política de Estado do imperialismo contra o conjunto dos governo nacionalistas latino americanos, principalmente depois da revolução Cubana (1959-61), segundo porque as "condições para o Golpe" no Brasil foram tramadas pelo menos uma década antes.

Em 1964, como encerra o documentário Peter Kornbluh, Coordenador do National Security Archives dos EUA, “o Brasil seria o primeiro país significativo para uma mudança de regime (regime change) patrocinada pelos EUA”. Se desta vez os trabalhadores organizados não esmagarem o ovo da serpente fascista, com uma poderosa Frente Única Antifascista e Anti-imperialista, o Brasil pode voltar a ser a maior nação a sofrer novamente um Golpe de Estado armado pelos EUA.