domingo, 8 de junho de 2014

CRISE ENERGÉTICA

Decadência imperialista e crise energética

Desde a invenção da agricultura, a humanidade têm usado cada vez mais fontes exógenas de energia para multiplicar o poder da energia muscular humana, da força de trabalho. A energia fornecida pela natureza é um componente essencial da infraestrutura dos meios de trabalho, que por sua vez, integra os meios de produção. A força de trabalho humana e os meios de produção constituem as forças produtivas.

O império romano era movido pela força de trabalho escrava, fundamentalmente pela energia muscular escravizada, que, associada a animal, foi tomada como fonte energética exógena pelos homens proprietários dos meios de produção. O império romano entrou em declínio quando a expansão do império encontrou resistência nos povos bárbaros que já não se deixavam escravizar e passaram a destruir a invadir e destruir o império, por um lado, e porque a massa de escravos sob o controle de Roma já não era mais suficiente para mover imensa máquina imperial.

Os combustíveis fósseis têm sido a principal fonte de energia na evolução industrial e social dos últimos dois séculos, ou seja, durante o capitalismo. O Gás natural, carvão mineral e petróleo são exemplos de combustíveis fósseis (ou mineral ou, ainda, hidrocarbonetos). Esta classe de combustíveis contrasta com hidrogênio na geração de energia elétrica a partir de uma reação que converte a energia química em energia térmica e elétrica. A propriedade comum dos hidrocarbonetos é a de oxidam-se facilmente liberando calor.

O consumo dos combustíveis fósseis ocorreu em uma curva ascendente, enquanto a sua produção, que atingiu o pico por volta de 2005, está a caminho de ser reduzida para ter uma curva descendente. É preciso destacar que o modo de produção capitalista possui certos condicionamentos para exploração da natureza, o principal deles é que tal exploração está subordinada primeiramente a obtenção de lucros para a classe dominante, o que de certo modo leva ao desperdício e dissipação de uma parte importante da energia obtida (assim como exaure as forças físicas, lesiona irreparavelmente e mata aos trabalhadores), drenada para alimentar o parasitismo e o consumo de luxo da burguesia imperialista em detrimento do restante da humanidade. Esta relação produtiva faz com que a própria natureza de onde é extraída a energia e os recursos naturais sejam exauridos mais rapidamente e de forma insustentável.

Sendo assim, a curva produtiva dos combustíveis fósseis é, mesmo nos países produtores, horizontalmente simétrica a curva ascendente da demanda. As estimativas são de que mesmo nos produtores a curva de demanda ultrapassaria a curva da produção em torno de 2040, o que seria o período em que os países produtores do combustível fóssil supririam apenas para seu próprio consumo, reduzindo a disponibilidade ao mínimo para os demais países consumidores. Outra questão de suma relevância é que, diferentemente do carvão, os hidrocarbonetos não são utilizados apenas para produzir energia. Através da indústria petroquímica eles se converteram em insumos imprescindíveis na cadeia produtiva, desde os defensivos e fertilizantes agrícolas, essenciais a superexploração da agricultura, até a fabricação de fibras sintéticas, plásticos, acrílicos e de matéria prima para a industria farmacêutica, fazendo com que dependamos dos hidrocarbonetos para nos alimentar, transportar, curar, vestir, etc.

O PICO DA PRODUÇÃO DO PETRÓLEO NA TERRA

Quando King Hubbert desenvolveu a teoria do Pico da produção do Petróleo na Terra, ou simplesmente Pico do Petróleo (“Peak Oil”, em inglês), estimava-se que entre o declínio e o esgotamento do mesmo haveria pelo menos um século de prazo para que o homem desenvolvesse fontes alternativas capazes de substituir esta matriz energética por outra. No entanto, mesmo com as novas descobertas e tecnologias que prolongaram a vida útil dos recursos, gerando “picos sobrepostos”, o petróleo é cada vez mais escasso, de menor qualidade e maior custo de produção, haja vista o petróleo do Pré-sal brasileiro, cujo custo é de quase três vezes maior do que a média mundial de oito dólares por barril.

RETORNO ENERGÉTICO

Existe um padrão mundial que se chama Taxa de Retorno Energético (TRE) ou em inglês, EROEI (Energy Returned On Energy Invested) que é razão entre a quantidade total de energia que é capaz de fornecer uma fonte de energia e a quantidade de energia necessária para explorar esta fonte de energia. No Brasil, esta medida se chama Retorno Energético.

A queda do EROEI foi então um motivo importante para o declínio das forças produtivas no império romano. Com o fim do escravismo e, sobretudo, no capitalismo, a multiplicação do poder da força de trabalho humana passa a depender cada vez mais de fontes exógenas de energia.

Até 1940, o Retorno Energético do Petróleo era de 100, caiu para 23 em 1970 até chegar a marca média hoje de oito. Isto significa que entre 1900 e 1940, com a energia equivalente de um barril de petróleo era possível extrair, nos EUA, mais de 100 barris de petróleo. Entretanto, segundo o cálculo do Retorne Energético (TRE ou EROEI), hoje em dia, com a mesma quantidade, ou seja, com um barril de petróleo, é possível produzir cerca de oito barris nos EUA.

As chamadas energias renováveis possuem uma taxa de EROEI entre 5 e 20, para energia eólica e entre 1,5 e 10, para a energia solar, enquanto o etanol ainda fica abaixo desta taxa, ou seja, acabam consumindo mais para serem gerados do que a própria energia que geram. O limite estimado para manter o atual nível de civilização seria uma taxa mínima de 3 EROEI, o que demonstra claramente que a humanidade se encontra em meio a uma crise energética cujas alternativas apresentadas pelo imperialismo tem sido incapaz de resolver e acabam por agravar, como demonstra o caso da “revolução do xisto”, tanto pelo fato que a lucratividade capitalista não se sustenta sem alavancar especulativamente uma nova bolha financeira, dado o baixo EROEI do xisto, quanto porque este efêmero lucro não compensa a destruição dos lençóis freáticos e os riscos de explosão, incêndio e contaminação do subsolo, uma vez que o homem pode até sobreviver de modo precário sem energia, mas não sem água.

E pior, como bem assinala nosso camarada Leon Carlos, da Tendência Militante Bolchevique argentina, tal perspectiva inflaciona também os custos da produção de alimentos uma vez que:

“a renda diferencia do solo que durante o século XX esteve em queda, ascendeu como renda do subsolo, o que é coerente com a industrialização do campo e o fim do neolítico, onde, pelo uso do motor a combustão interna para a produção agropecuária e seu transporte somado aos agroquímicos, a renda diferencial do solo passou a ser a renda diferencial do subsolo uma vez que a disparada do preço do petróleo [que se encontra a 109 dólares o barril) arrasta o preço do trigo.”

O EROEI do cavão é menor que 30; do gás natural, entre 1 e 5; da energia nuclear (Urânio 235), 5 a 100, do Etanol (álcool da cana de açúcar), 0,8 a 1,7; da energia hidroelétrica 11,2; da energia solar (Painel solar fotovoltaico), 1,7 a 10; e o do xisto betuminoso entre 0,7 e 13,3.

Em uma edição especial recente da revista “Sustentabilidade” cerca de uma dúzia de estudos científicos chegaram a duas conclusões:

1. Os combustíveis fósseis tradicionais ainda têm um EROEI maior do que qualquer alternativa;

2. Em todos os casos estudados o EROEI desses combustíveis fósseis está em declínio, muitas vezes de forma dramática. Na China, por exemplo, no campo petrolífero Daqing, os pesquisadores estimam que o EROEI do petróleo caiu de 10, em 2001, para 6, atualmente.

A MÁFIA PETROLEIRA IMPERIALISTA IMPÕE
MODELO ENERGÉTICO QUE AMEAÇA A CIVILIZAÇÃO

É preciso suspeitar da supremacia e insubstituibilidade dos combustíveis fósseis, afinal, seus defensores são ninguém menos que os magnatas do petróleo que tiraram proveito deste modelo energético nos últimos dois séculos. Salta aos olhos que a associação entre esse setor da burguesia e a indústria automobilística de carros particulares conduz, através da anarquia da produção capitalista, o nosso modo de vida para o estrangulamento porque através dele se realiza um profundo desperdício de combustível e energia, porque este modelo polui em alta escala liberando gases com a combustão de petróleo e seus derivados que provocam o aquecimento global e o efeito estufa, pelo travamento da própria locomoção das pessoas nas metrópoles.

A burguesia imperialista só preocupa-se com problemas estratégicos ligados a garantia de sua dominação, só investe em alternativas ao atual modelo de matriz energética para obter lucros imediatos, como no caso da tal “revolução do xisto”, de resto, ela esquiva-se, ainda mais após a crise de 2008, de patrocinar investimentos tecnológicos para o desenvolvimento de uma nova matriz energética que possam acentuar a queda de sua taxa de lucro, ou seja, cujo retorno energético (EROEI) sejam baixos. quando este Portanto, em certa medida tem razão os materialistas culturais quando levantam a dúvida:

“É importante perguntar por que, mesmo tendo sido realizadas inovações técnicas, estruturais e superestruturais suficientes, no campo da infraestrutura continua existindo uma grande resistência contra a mudança em tal modelo energético, pondo em risco até mesmo a estabilidade da civilização (tal como a conhecemos) a médio prazo... são pessoas ou grupos de pessoas que promovem ou rejeitam tais inovações em função de que sejam eficientes a produção e, portanto, aos seus próprios interesses. A "eficiência" depende, é claro, de a quem beneficia, e que agrupamento ou grupo é mais capaz de defender seus interesses relativos. Esta situação é a que revela mais claramente a disfuncionalidade do sistema atual: os grupos que estão interessados em manter o velho sistema de produção de energia ainda estão em uma posição de poder para assegurar da infraestrutura (base material da sociedade, incluindo as forças produtivas e as relações de produção, com variáveis demográficas, econômicas, tecnológicas e sociais) a estrutura (características organizativas constitutivas da economia nacional e política), desde a produção à política. Sua posição de poder é suficiente para defender freando uma mudança que em si já é delicada e que inclui altas doses de incerteza. A assimetria total entre os benefícios pontuais do grupo específico e as possíveis consequências gerais agravam esta disfuncionalidade.” (Jorge Moreno Fernández, Notas: Crisis Energética y Materialismo Cultural, 3/11/2010).
http://globalobjective.blogspot.com.br/2010/11/notas-analisis-de-la-crisis-energetica.html

É possível que a escola do “materialismo cultural” represente o setor do materialismo não marxista mais avançado dentre os defensores do "determinismo econômico". Todavia, suas tendências pequeno burguesas e burguesas desviam-no a desprezar o elemento que não apenas condiciona o modo de vida material, como faz o modo de produção, mas determina a economia: a luta de classes.

ECOCAPITALISMO REACIONÁRIO

Embora tenham sido operados avanços no uso de energias alternativas, tais avanços são marginais e incapazes de manter o atual nível de civilização. Alguns defensores das alternativas energéticas, caracterizados pelo seu romantismo ecológico, e por sua aposta na proteção da natureza mais emocional do que consequente idealizam as energias renováveis, e nos referimos aos que honestamente lutam contra a destruição capitalista do ecossistema e não aos representantes dos interesses do ecocapitalismo como Al Gore (Democratas/EUA) ou Marina Silva (Rede/Brasil).

O destino do ecologismo pequeno burguês é a busca por retroceder a roda da história, uma espécie de “arcadismo” civilizacional, das campanhas anticonsumo, da “volta à natureza”, do retrocesso ao agrarismo e ao neolítico, quando a maioria da população mundial vivia no campo. Tais perspectivas buscam um capitalismo parcimonioso, reivindicam uma reforma reacionária incapaz de realizar uma luta consequente contra a destruição do planeta. Embora possamos fazer frentes de ação com os ecologistas em momentos necessários é preciso dizer bem claramente que o principal inimigo do habitat da humanidade é o capitalismo e que não serão as ações individuais isoladas ou de consumidores que irão deter a agressão ao planeta e seus habitantes, mas, sobretudo a luta da classe trabalhadora pela revolução social, aliada ao conjunto dos setores oprimidos e explorados da população.

ESTATIZAÇÃO DE TODO SETOR ENERGÉTICO
SOB O CONTROLE DOS TRABALHADORES

Também é preciso deixar claro os limites do nacionalismo petroleiro, visto na Petrobrás, YPF, PDVSA, uma vez que se baseia no mesmo modelo fadado ao esgotamento e que está a serviço de um punhado de tecnocratas e capitalistas sócios do imperialismo que apelam para o sentimento patrioteiro para barganhar melhores percentuais o saque das nações oprimidas. Defendemos a estatização de todos o estratégico setor energético, sem indenização e sob o controle dos trabalhadores.

Embora a energia das hidroelétricas tenham sido até hoje a que melhor desempenho obtiveram em termos de retorno energético, ser um recurso renovável e não poluente, esta fonte energética exige certas especificidades geográficas e de forma distinta dos hidrocarbonetos, só se destina a produção de energia. Todavia, é provável que tenhamos em breve que pensar em construir diques holandeses no litoral, contra a elevação do nível da água do mar, e convertê-los em usinas hidrelétricas.

Como no declínio do império romano, as forças produtivas exigem novos amos capazes de fazer seguir adiante a humanidade contra a perspectiva da barbárie apontada pela etapa senil do modo de produção baseado na escravidão assalariada. Tudo indica que se a classe produtora, o proletariado não organizar-se para operar a tempo uma mudança radical no curso da condução das forças produtivas, decairemos em uma catástrofe.

O consumo de energia por habitante disparou nas últimas décadas, consumo que se realiza de forma completamente desigual, refletindo também aí as diferenças de classes e entre nações imperialistas, grandes consumidoras e; nações colonizadas (basta comparar o consumo de energia da burguesia dos EUA e Europa com o da Palestina ocupada, das nações africanas ou de qualquer bairro proletário do planeta), produtoras saqueadas que tendem a ver suas reservas exauridas mais cedo em benefício do imperialismo, política de saque assegurada por guerras sangrentas, invasões militares e golpes de Estado como vistos no Iraque, Líbia ou Ucrânia.

Uma ilustração não muito distante da barbárie que pode nos conduzir a exploração monopolista dos recursos naturais está em um filme em que Arnold Schwarzenegger faz um papel de um operário em um planeta Marte colonizado pela Terra, “O vingador do futuro” (1990), onde um recurso, neste caso o oxigênio das colônias de um império era monopolizado e, portanto gerava uma situação de renda baseado na asfixia das massas. Curioso é que se no filme Schwarzenegger foi o líder de uma rebelião de escravos, o vingador do futuro, hoje, como integrante do status quo estadunidense e ex-governador da Califórnia, não passa de mais um verdugo do presente defendendo a monopolização dos recursos estratégicos, como as petroleiras imperialistas. A Guerra contra a privatização da água, já está em curso, ocorreu na Bolívia em 2000, e situação em similar está em curso em várias partes dos planeta.

Uma análise marxista acerca da questão energética deve compreendê-la como pedra angular das condições de produção. Nesse sentido os conceitos descritos neste documento são apontamentos preliminares para uma análise mais aprofundada e científica da natureza das condições de produção composta de energia e materiais em que se apoia o modo de produção capitalista em sua fase atual. A questão energética é então um ingrediente essencial do modo de produção. Assim como o carvão e o ferro foram matriz energética e matéria prima essencial do capitalismo da livre concorrência, o petróleo e o aço predominaram na fase imperialista. O modo de produção da vida material condiciona e a luta de classes determina a vida social, política e intelectual em geral. Um modo de produção é uma herança qualitativa da luta de classes que o precedeu. Somente a luta e conquista do socialismo pela classe trabalhadora pode assegurar o desenvolvimento da técnica e das condições de produção a serviço do desenvolvimento da humanidade e da preservação do planeta.