domingo, 8 de junho de 2014

“A CONTRA-REVOLUÇÃO DO XISTO”

Alternativa energética do imperialismo alavanca nova
bolha especulativa, tem lucratividade fugaz e polui mais

O xisto betuminoso é uma rocha sedimentar que pode ser convertida em combustível. Quando submetido a altas temperaturas, produz um óleo de composição semelhante à do petróleo do qual se extrai nafta, óleo combustível, gás liquefeito, óleo diesel e gasolina. Os Estados Unidos, Brasil, China e Argentina são os países com as maiores reservas mundiais de Xisto. O óleo de xisto é um substituto para o petróleo convencional; contudo, a extração do óleo de xisto do xisto betuminoso em uma situação onde as forças produtivas são controladas pelo capitalismo decadente tornam-se mais caras tanto em termos econômicos quanto ambientais. Para a prospecção do gás de xisto betuminoso é necessário injetar no solo uma mistura de água, ácido, chumbo e benzeno. Esses produtos criam fissuras nas rochas, que permitem que o gás de xisto (do inglês, shale gas) escape. A exploração do xisto vem sendo apontada como um sucesso tecnológico e econômico nos Estados Unidos, movimentando bilhões de dólares.

A “revolução do xisto” vem sendo apresentada pela gestão Obama como a grande alternativa energética do imperialismo em meio à nova Guerra Fria contra a Rússia, uma alternativa para que seus títeres da União Europeia substituíssem sua dependência pelo gás oriundo da Rússia para aprofundar sua dependência com os próprios EUA. De fato, como afirma Fernando Rodrigues Marques, Pós Doutorando (FEA/USP), Coordenador de Programas de MBA e Professor de Contabilidade e Finanças da Business School São Paulo:

“O avanço da indústria de gás e petróleo de xisto nos EUA tem produzido um impacto considerável sobre a economia americana, tendência que deverá se aprofundar nos próximos anos e afetará também a economia global. As previsões apontam um crescimento mais forte no PIB, maior geração de empregos, mais receitas para os cofres públicos e um impulso importante para industrialização dos EUA, ao baratear o custo da energia. Estima-se que em 2020 o PIB americano será de 2% a 3,3% maior do que seria, devido ao impacto cumulativo da nova produção de gás e petróleo, em grande parte devido à indústria do xisto (Citigroup Global Markets, 2013). A fatia do gás de xisto na produção total de gás natural dos EUA pulou de 4% para 5% em meados da década passada, para 34% em 2012, e em 2040 deve atingir 50% (EIA/ARI, 2013).
(Fernando Rodrigues Marques, Gás de xisto, complexidade e incerteza: uma questão delicada, Março/2014)

Também o Estadão reproduz os informes sobre a “revolução do xisto” fabricados pela Casa Branca em clima de “salvação da lavoura”:


“O boom levou os EUA a liderarem a produção de gás em 2013, à frente da Rússia. No ano passado, a Agência Internacional de Energia estimou que o país vai ultrapassar a Rússia e a Arábia Saudita e se tornar o maior produtor de petróleo do mundo em 2016, algo impensável até então.”
(Cláudia Trevisan e Carrizo Springs, Boom do gás de xisto ajudou a economia dos EUA a crescer, 26/04/2014)
A “revolução do xisto” é a nova “corrida do ouro”. Mas, a exploração desse minério pela burguesia, que vem se revelando uma aposta de lucro imediato pode ser extremamente danosa não só ao meio ambiente, mas também a própria economia capitalista, sendo incapaz de suplantar as atuais fontes energética em declínio (pico do petróleo) por um lado, e, por outro, podendo estar gerando uma nova bolha econômica capitalista, que em um breve futuro pode provocar a falências em massa no setor anunciado como promissor.

Como questiona Nafeez Mosaddeq Ahmed, Cientista político, diretor do Institute for Policy Research and Development, Brighton, Reino Unido:

“Mas e se a “revolução dos gases de xisto”, longe de robustecer uma economia mundial convalescente, inflar uma bolha especulativa prestes a explodir?
... A classe política não aprendeu muita coisa com a crise de 2008 e está a ponto de repetir os mesmos erros no campo das energias fósseis.
Em junho de 2011, uma pesquisa do New York Timesjá revelava algumas fissuras no arcabouço midiático-industrial do boomdos gases de xisto, atiçando assim as dúvidas alimentadas por diversos observadores – geólogos, advogados, analistas de mercado – quanto aos efeitos da publicidade das companhias petrolíferas, suspeitas de ‘superestimar deliberadamente, e mesmo ilegalmente, o rendimento de suas explorações e o volume de suas jazidas’ (1 “Insiders sound an alarm amid a natural gas rush” [Especialistas soam um alarme em meio a uma corrida de gás natural], New York Times, 25 jun. 2011). ‘A extração do gás do xisto existente no subsolo’, escreveu o jornal, ‘poderia se revelar menos fácil e mais cara do que afirmam as empresas, como se vê pelas centenas de e-mails e documentos trocados pelos industriais a esse respeito, além das análises dos dados recolhidos em milhares de poços.’
Para os industriais, superestimar as jazidas de gás de xisto permite pôr em segundo plano os riscos associados à sua exploração. Ora, o fraturamento hidráulico não apenas tem efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente como coloca um problema estritamente econômico, uma vez que gera uma produção de vida muito curta. Na revista Nature, um ex-consultor científico do governo britânico, David King, esclarece que o rendimento de um poço de gás de xisto diminui de 60% a 90% após seu primeiro ano de exploração. (David King e James Murray, “Climate policy: oil’s tipping point has passed” [Política climática: o ponto de inflexão do petróleo passou], Nature, Londres, n.481, 26 jan. 2012.)
Arthur Berman, um geólogo que trabalhou para a Amoco e a British Petroleum, confessa-se surpreso com o ritmo “incrivelmente acelerado” do esgotamento das jazidas. E, dando como exemplo o sítio de Eagle Ford, no Texas – “É a mãe de todos os campos de óleo de xisto” –, revela que “a queda anual da produção ultrapassa os 42%”. Para garantir resultados estáveis, os exploradores terão de perfurar “quase mil poços suplementares, todos os anos, no mesmo sítio. Ou seja, uma despesa de US$ 10 bilhões a 12 bilhões por ano... Se somarmos tudo, isso equivale ao montante investido para salvar a indústria bancária em 2008. Onde arranjarão tanto dinheiro?”. (5 “Shale gas will be the next bubble to pop. An interview with Arthur Berman” [O gás de xisto será a próxima bolha a estourar. Entrevista com Arthur Berman], 12 nov. 2012. Disponível em: <www.oilprice.com>.)

Em suma, o argumento segundo o qual os gases de xisto protegeriam os Estados Unidos ou a humanidade contra o “pico do petróleo” – nível a partir do qual a combinação das pressões geológicas e econômicas tornará a extração do produto bruto insuportavelmente difícil e onerosa – não passa de um conto de fadas. Diversos relatórios científicos independentes, divulgados há pouco, confirmam que a “revolução” do gás não trará nenhum alívio nessa área.
longe de restaurar a prosperidade, os gases de xisto inflam uma bolha artificial que camufla temporariamente uma profunda instabilidade estrutural. Quando ela explodir, provocará uma crise de abastecimento e um aumento de preços que talvez afetem dolorosamente a economia mundial.”
(Nafeez Mosaddeq Ahmed, A grande farsa do gás de Xisto, 02/04/2013)
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1399

INFORMES CIENTÍFICOS E LUTA INTRA-IMPERIALISTA

É bem verdade que nesta batalha pela exploração energética, inclusive entre setores distintos do imperialismo, ocorrerão informes “científicos” opostos, pelo simples motivos que atendem a distintos interesses econômicos. Como toda crítica e como a própria ciência, a crítica ao boom do xisto não é neutra, ela atende aos interesses das grandes empresas petrolíferas, ligado as coorporações de exploração hegemônica de hidrocarbonetos ou de setores do imperialismo voltados as energias alternativas “limpas”, por exemplo, que se utilizam de arsênico contaminado para fabricar a célula solar (lobistas vinculados a Al Gore, o ecoimperialismo da industria de proteção ambiental e, por óbvias razões, o grande capital do Vale do silício).

Se o boom do xisto ajudou a recuperação tímida e fugaz de setores da economia, a bolha do gás agravou os prejuízos nos lucros já causados pela chegada do “pico do petróleo”. Apesar de seu monopólio, as “quatro irmãs” vem tomando prejuízos seguidos desde 2012. A Exxon, à britânica BG Group sofreu “uma depreciação de seus ativos referentes ao gás natural norte-americano da ordem de US$ 1,3 bilhão” (“US shale gas glut cuts BG Group profits” [O excesso de gás de xisto nos EUA reduz lucros do BG Group], The Financial Times, Londres, 26 jul. 2012.) e a Shell obtiveram resultados medíocres, com uma perda acumulada de 24% em suas ações em 2012. Dois anos depois, estes resultados não se recuperaram, pelo contrário,

“As gigantes de petróleo dos Estados Unidos voltaram a apresentar redução no lucro e nas receitas no primeiro trimestre deste ano... Quando se olha apenas os resultados do subsegmento de petróleo e gás, a queda nos ganhos foi ainda maior, de 27%... Quando se considera apenas o subsegmento de petróleo e gás, a queda foi de 10% no faturamento... A piora dos resultados do setor de energia foi puxada pelas duas gigantes de petróleo. A Chevron, segunda maior empresa do setor nos EUA, registrou queda de 27% no lucro no primeiro trimestre ante o mesmo período do ano passado e de 6,3% nas receitas, números abaixo do esperado pelos analistas. A ExxonMobil, maior petroleira do país e do mundo, teve queda de 4% nos ganhos e de 1,5% no faturamento. Foi o quarto trimestre consecutivo que a Exxon mostrou redução de resultados. Apesar disso, a empresa conseguiu bater a expectativa dos analistas, principalmente por conta da alta dos preços do gás natural. Os balanços fracos do setor de petróleo não se limitam às empresas norte-americanas. As gigantes europeias também amargaram piora ainda mais expressiva de resultados. Na BP, o lucro teve queda de 79% no trimestre; na holandesa Royal Dutch Shell, o ganho recuou 45% e na francesa Total, 10%. Uma das únicas exceções foi a ConocoPhillips, com alta de 9,5% no faturamento, mas que também teve lucro menor que no primeiro período de 2013.
Um traço comum em alguns balanços é a queda da produção de petróleo. Os analistas destacam que as empresas estão tendo que extrair o óleo em locais cada vez mais difíceis, como águas profundas no oceano ou em regiões mais distantes, como no Ártico e na Tanzânia, para compensar o menor nível de produção em campos tradicionais, que vem se reduzindo com o esgotamento natural das reservas. Essas novas operações exigem mais investimentos, afetando o lucro.”
(Altamira Silva Junior, Gigantes globais do petróleo voltam a ter queda de lucro, Estado de São Paulo, 11/05/2014)

Vale destacar que a excepcionalidade dos índices registrados pela ConocoPhillips se deve as expectativas de lucro registradas na elevação do valor das ações da principal multinacional petroleira estadunidenses estabelecida na Líbia após-golpe de Estado contra Kadafi. No quarto trimestre de 2011, ou seja precisamente após a execução sanguinária de Kadafi e a tomada do poder pelos mercenários da CIA, a ConocoPhillips teve um lucro recorde:

“A ConocoPhillips obteve lucro de US$ 3,4 bilhões no quarto trimestre do ano passado, um aumento de 66% em relação ao resultado de US$ 2 bilhões verificado no mesmo período de 2010. O lucro no último trimestre de 2011 correspondeu a US$ 2,56 por ação, contra US$ 1,39 por ação um ano antes.”
(Angelo Ikeda, ConocoPhillips tem lucro 66% maior no 4º trimestre, Economia, Veja, 25/01/2012)


A VIABILIDADE DA “REVOLUÇÃO DO XISTO”
E A GUERRA ENERGÉTICA CONTRA O BLOCO EURÁSICO

O trotskismo é o marxismo do século XXI, baseia-se no materialismo dialético e estabelece suas análises levando em conta a evolução e disputa dialética entre a predominância dos elementos dominantes e dos fatores recessivos sob situações excepcionais. Por isso, neste momento inicial, não podemos descartar por completo a possibilidade, minoritária do nosso ponto de vista, de que parte das expectativas criadas pelos EUA se confirmarem, ou seja, a viabilidade da “revolução do xisto”. Se for assim, a “revolução do xisto” retardará o declínio da “pax estadunidense”, conterá o crescimento econômico da Rússia, baseado enormemente na comercialização de gás e de armas, e poderá retardar por vários anos, ou até abortar, a conversão do núcleo Eurásico em bloco imperialista.

Há dois anos, quando a “revolução do xisto” se revelava mais promissora, o órgão de notícias “Voz da Rússia” também cogitou: Revolução de xisto muda economia mundial e a geopolítica”:

“Grandes jogadores mundiais que até agora dependem da importação de energéticos, dentro de algum tempo poderão ser seus exportadores. Tal situação, se ela realmente acontecer (isto está muito longe, as perspectivas de exploração do xisto por enquanto não são evidentes) inevitavelmente colocarão sérias questões também perante a Rússia, que é grande fornecedor de energéticos no mercado mundial. Moscou terá de corrigir inevitavelmente sua política interna e externa.
Ainda há dez anos era impossível pressupor que os EUA se tornariam grande produtor de gás natural e ultrapassariam, em volume de sua extração, a Rússia, que ocupava até então o primeiro lugar. Agora isto é fato consumado. As explorações de gás de xisto começaram em muitos países do mundo, inclusive na Polônia, Ucrânia, Austrália, Grã-Bretanha e também na China... o Reino Unido até 2032 irá suprir, por conta do gás de xisto, um quarto de suas necessidades desse tipo de combustível.
... A revolução do xisto, se ela ocorrer, terá inevitavelmente forte influência sobre as relações internacionais. Imaginemos um roteiro puramente teórico, que por enquanto não tem nada a ver com a realidade. Os EUA, os países da Europa Ocidental e a China cessam a importação de petróleo e gás, ou pelo menos a reduzem bruscamente. Neste caso, pode-se incluir no campo de vítimas as monarquias petrolíferas do Golfo Pérsico. A procura do seu principal produto cairá bruscamente e elas serão obrigadas a reduzir consideravelmente suas ambições geopolíticas.
Também cairá o interesse dos EUA pela Ásia Central. Provavelmente cessará a realização de projetos de condutas contornando a Rússia. Não serão claras as perspectivas de exploração de jazidas no mar Cáspio. Possivelmente em lugar de tentativas de assegurar o acesso a reservas de energéticos, que se encontram fora de suas fronteiras, Washington concentrará seus esforços em outras direções. Por exemplo, na recuperação de suas posições na América Latina, que nos últimos anos se abalaram visivelmente.
No que se refere à China, que também planeja começar a extração em seu território de gás e petróleo de xisto, existe grande probabilidade de que, também para ela, a região centro-asiática perderá seu encanto. Perderá sentido a ativa expansão chinesa na África e diminuirá a dependência de Pequim aos fornecimentos de petróleo do Golfo Pérsico.
À primeira vista, caso as tecnologias do xisto se justifiquem, a Rússia ficaria no campo dos que perderam. Isto, entretanto, não é bem assim. Em primeiro lugar, diferentemente das petrocracias clássicas do tipo da Arábia Saudita, ela tem uma economia mais variada. Naturalmente ela depende fortemente das receitas do petróleo e gás, entretanto sua diminuição somente servirá de grande estímulo complementar para a diversificação econômica.
Deve-se salientar que os roteiros expostos são apenas suposições, que pode se realizar e podem apenas ficar no papel. Não antes de sete-dez anos será possível compreender que influência exercerá realmente o xisto sobre as relações internacionais. E pode ser ainda mais tarde. Mas é melhor começar a pensar nisto já hoje.”
(Alexei Pilko, Revolução de xisto muda economia mundial e a geopolítica, Voz da Rússia, 7 Outubro 2012)

Ainda que dois anos seja pouco para um veredicto da história, a alta rotatividade dos ciclos de acumulação capitalistas faz com que, no momento, algumas das previsões acima descritas predominem e outras retrocedam. Por exemplo, a firme aposta da Casa Branca em um golpe de Estado na Ucrânia, e o apoio político e militar ao governo nazista de Kiev contra a Rússia, tem demonstrado uma tendência inversa a estimativa de que cessariam as ambições imperialistas para “a realização de projetos de condutas contornando a Rússia”.

Também outra previsão que se apoiava na “revolução do xisto” vem perdendo força diante dos acontecimentos: “No que se refere à China, que também planeja começar a extração em seu território de gás e petróleo de xisto, existe grande probabilidade de que, também para ela, a região centro-asiática perderá seu encanto.” e “a China cessará a importação de petróleo e gás, ou pelo menos a reduzem bruscamente”. Os últimos acontecimentos demonstram que a política chinesa energética de importações acabou de tomar um sentido oposto ao da previsão de Alexei Pilko. Depois de se arrastar por dez anos, um acordo histórico com a Rússia no valor de 400 bilhões de dólares, para o fornecimento de gás por 30 anos, foi fechado pela China.

Mas é verdade que Washington vem girando seus esforços na recuperação de suas posições na América Latina, fustigando abertamente o golpe de Estado na Venezuela e investindo na desestabilização política da Bolívia, Equador, Argentina e Brasil.

Para diminuir suas perdas econômicas diante da possível “revolução do xisto” a Rússia tem investido em pesquisas para ingressar na nova “corrida do ouro” com uma política de contenção de danos ambientais. Para isso, recorre a outra descoberta recente, que promete realizar uma verdadeira revolução tecnológica em vários terrenos, o grafeno, que vem sendo estudado em universidades estatais por:

“cientistas da Universidade de Lomonosov de Moscou [que] descobriram que o grafeno pode ser utilizado para a descontaminação de áreas afetadas por radiação nuclear e extração de metais de hidrocarbonetos de xisto”
(Gregóri Kolpakov, Cientistas russos descobrem que grafeno pode ser usado para descontaminação nuclear, Gazeta.ru, 11/01/2013)
http://br.rbth.com/articles/2013/01/11/cientistas_russos_descobrem_que_grafeno_pode_ser_usado_para_desconta_17171.html

“REVOLUÇÃO DO XISTO”, MAIS UMA CONTRARREVOLUÇÃO IMPERIALISTA?

Seja como for, a tão propalada “revolução do xisto” é mais contrarrevolução imperialista, no plano econômico, energético e ambiental, assim como foram e são contrarrevoluções as chamadas “revoluções” na Líbia, Síria e Ucrânia. Na Ucrânia, o golpe de Estado contrarrevolucionário patrocinado pelo imperialismo e os ataques do governo títere fascista de Kiev às repúblicas populares da recém criada “Nova Rússia”, tem como um de seus objetivos o de proteger os negócios da Shell contra a revisão do contrato de exploração do xisto na região Slaviansk, situada na jovem república de Donetsk, contrato rechaçado por uma forte resistência popular desde o início do ano.

Das garras do imperialismo estadunidense em declínio brotam medidas reacionárias, como assinalara Lenin, “o imperialismo é a reação em toda linha”, neste caso porque a tão propalada “revolução do xisto” se apoia no: 1) aprofundamento do parasitismo financeiro quando os próprios EUA nem conseguiram superar ainda a última crise capitalista que foram epicentro em 2008; 2) porque o boom dos lucros com cada prospecção tem esgotamento meteórico (1 ou 2 anos) provocando uma corrida frenética pela perfuração de cada vez mais poços; 3) porque, ao contrário dos lucros voláteis do gás de xisto, a poluição da água e os riscos de explosões dos lençóis freáticos contaminados são permanentes a partir do processo de extração do gás que chama-se fracking (fratura hidráulica). Em outras palavras a exploração do gás do xisto pelo imperialismo é um típico negócio da barbárie que caracteriza as “alternativas” burguesas na era que vivemos.

O aparente esgotamento precoce da “revolução do xisto” revela várias questões: que se trata de um engodo a serviço do enriquecimento de um punhado de porcos imperialistas parasitas, que os EUA não alcançou nenhuma independência e autossuficiência energética como prometido pela gestão Obama, impulsionando o expansionismo imperialista pelo controle energético mundial contra os povos oprimidos detentores de riquezas energéticas e acelerando novas guerras e por fim a III Guerra Mundial.

Reproduzimos abaixo um artigo de Nick Cunningham, escritor que vive em Washington DC, especialista em assuntos que envolvem energia e questões ambientais, em seu artigo:

“O setor de extração de gás/petróleo do xisto dos Estados Unidos pode ser bem menos forte do que muita gente pensa. Em análise mais recente, Bloomberg News descobriu um elevado nível de endividamento das indústrias do setor, com muitas companhias se endividando mais e mais, desapontadas com suas receitas.
Nos últimos quatro anos, relata a pesquisa, quase dobrou a dívida contraída pelas empresas de petróleo e gás de xisto. Enquanto as companhias perfuradoras necessitaram dobrar os empréstimos para se expandir, suas receitas nesses quatro anos não seguiram o mesmo ritmo, crescendo meros 5,6%.
O caso é que embora muitos poços de petróleo e gás de xisto ofereçam uma produção inicial espetacular, esta cai verticalmente após o primeiro ou segundo ano. Se as empresas não conseguirem pagar suas dívidas nesse pico inicial, acabam com muito mais dificuldades nos anos seguintes do que anteciparam. Elas caem em uma espiral descendente em que uma grande parte de suas receitas tem que ir para o pagamento de dívidas.
Das 61 companhias pesquisadas, a Bloomberg concluiu que mais ou menos uma dúzia está gastando 10 % de suas receitas apenas para pagar os juros das dívidas contraídas.
O que significa haver tantas companhias de perfuração de gás/petróleo de xisto lutando para obter algum lucro? Quer dizer que o entusiasmo com o qual tantos investidores colocaram dinheiro nas companhias do xisto pode ter chegado ao fim. A indústria está abalada.
As empresas em pior situação – aquelas que estão muito endividadas – sem um portfólio de produção em crescimento, podem estar a caminho da falência. Conforme vão caindo os elos mais fracos, consolidam-se e permanecem em campo apenas os produtores mais fortes e organizados.
É normal que qualquer indústria sofra um abalo, quando diminui o ímpeto inicial de crescimento. Ocorre que, ao contrário da indústria de tecnologia, por exemplo, na indústria do gás/petróleo de xisto, a sorte econômica das companhias ramifica-se para além delas, atingindo seus empregados e investidores.
Se as companhias perfuradoras começam a fracassar, o crescimento da produção de óleo e gás natural pode diminuir drasticamente ou mesmo parar. A administração de informações energéticas projeta em seu mais recente Panorama Anual de Energia que a produção de gás natural nos Estados Unidos crescerá a um percentual de 1,6% ao ano até meados de 2040, o que quer dizer que a produção deverá se expandir para admiráveis 55%.
Os dados podem estar sendo oferecidos de forma muito otimista, levando-se em consideração que as empresas neste mesmo instante estão lutando para ter rentabilidade na venda do xisto. Dito de outra forma, nos preços atuais, a produção pode não ser sustentável. Para que o crescimento continue no mesmo nível, o preço tem que subir.
Seja o crescimento mais lento, sejam os preços mais elevados, de qualquer maneira, ambos os cenários alterariam de forma dura as expectativas sobre a imagem vendida pelos Estados Unidos quanto à sua matriz energética. Como exemplo, se para manter o crescimento, o preço do gás necessitar de uma majoração, isso diminuiria muito a oportunidade da exportação de grandes volumes de gás natural liquefeito (GNL), porque as companhias americanas enfrentariam difícil competição para a venda do gás americano que teria que ser liquefeito para ser depois vendido a preço mais elevado para os consumidores ávidos no leste asiático.
Como resultado, as companhias que investem dinheiro na construção de terminais de exportação de gás natural liquefeito, que custam bilhões de dólares, poderia começar a achar esse gasto um tanto exagerado.
Um abalo na indústria do xisto teria consequências também no setor de energia elétrica, dado que o estancamento da produção de gás de xisto seria como uma espécie de bênção para a energia renovável. Esperava-se que o gás natural seria usado em grande escala para a geração de energia elétrica, mantendo os preços da eletricidade estáveis, mesmo porque a produção de gás estaria sempre em ascensão. Como essas expectativas parecem erradas, abre-se espaço para outras formas de geração de energia elétrica. Já que carvão e a energia nuclear são cada vez menos competitivos no século 21, criou-se uma janela de oportunidades enorme para a energia renovável.
Em relação ao petróleo, uma produção fraca do xisto quer dizer que os Estados Unidos continuarão a contar com a importação de petróleo no lugar da produção nacional. Mesmo que isso não queira dizer grande coisa, o fato é que a indústria americana de petróleo não pode mais vir com a conversa fiada de ‘independência energética’ o que quer dizer que o Congresso terá que se confrontar com o fato de que os EUA precisam encontrar alternativas ao petróleo no longo prazo.
Caso a indústria de gás/petróleo do xisto começar a vacilar, começará também a mudar esse ópio para muitos problemas energéticos dos Estados Unidos que se chama ‘revolução do xisto’.
Em tempo: Aqui está o porquê de ser uma ilusão, conversa fiada, vento quente, o papo de que a exportação de gás natural liquefeito dos EUA “vai tirar a Europa das Garras da Rússia” e ganhar muito dinheiro abastecendo o Japão sedento de energia. Não passa de uma isca suculenta no jogo das grandes negociatas.”
(Nick Cunningham, O gás de xisto vai de mal a pior, oilprice.com, 29/5/2014)
http://oilprice.com/Energy/Energy-General/Is-The-Shale-Industry-About-To-Experience-A-Shakeout.html

Tudo isto aponta para uma nova crise financeira no coração do imperialismo, e para a necessidade preventiva dos EUA de fugir do declínio, através de novas aventuras expansionistas que tendem a conduzir os conflitos do planeta para uma III Guerra Mundial. Para os que duvidam desta possibilidade vejamos as cartas que estão dispostas sobre a mesa:

O “pico da produção de petróleo na Terra” (“Peak Oil”, em inglês), causa tensão sobre o maquinário imperialista e provoca a corrida por energias ou combustíveis alternativos. Para a superação desse impasse, o imperialismo pode matar a “sede energética” com um combustível duplamente contaminado (tanto no âmbito financeiro, quanto ambiental). Esta aflição se acentua após a crise capitalista mundial, que debilitou o sistema de domínio mundial conhecido como “Pax estadunidense”, possibilitando que novos jogadores, um super produtor de petróleo e gás natural, a Rússia, e um mega-consumidor guloso e em fase de crescimento, a China, tirem proveito de declínio imperialista e processem uma “fusão da fome com a vontade de comer”. Provocadas pelas pressões imperialistas na Europa (confisco de capitais russos no Chipre, guerra civil na Ucrânia), Oriente Médio (Síria e Magreb) e no Pacífico (Taiwan, rearmamento japonês e disputa marítimas, tensão entre o Estado operário norte coreano e o títere sul coreano, etc.) Rússia e China aceleram a edificação do Bloco Eurásico, cujo pontapé foi o acordo energético bilionário e a “des-dolarização” das relações comerciais destas duas nações com suas zonas de influência.

Ainda que possam construir frentes únicas anti-imperialistas pontuais com setores não pró-imperialistas da militância ecológica, os marxistas, materialistas históricos e dialéticos, compreendem que a aspiração por uma economia sustentável ou por uma “energia renovável” nos marcos do capitalismo senil é um mito reacionário, pois a essência da anarquia da produção imperialista é a de ser insustentável e caótica, destruidora do planeta, e não por acaso transgressora incurável de todos os protocolos de intenção de redução da poluição, de preservação do ecossistema, sejam eles assinados pelos EUA, China, Brasil ou Suécia, sendo que quanto mais subordinada ao monopólio imperialista mais será a necessidade de destruição do ecossistema a serviço da acumulação de capital.


A resolução do problema energético de uma forma progressiva para a humanidade, ou seja, que esteja a serviço da maioria da população planetária e sem sacrificar a natureza da qual o homem faz parte, está condicionada a uma nova orientação para as forças produtivas, incluindo a exploração do xisto betuminoso, uma orientação distinta da que está sendo dada por qualquer das frações do imperialismo e dos capitalistas. Em última instância, a saída para a crise energética, para o esgotamento da matriz energética atual e para todas as sequelas ambientais da barbárie imperialista, está na luta para tomada dos meios de produção e do poder político pelos trabalhadores de todo o mundo, pela ditadura revolucionária do proletariado em todo o globo. Isto implica também em orientar a luta de classes conscientemente para este fim, pela estatização sob o controle operário de toda a indústria energética, pela construção do partido mundial da revolução socialista, a IV Internacional.