sexta-feira, 12 de abril de 2013

INFLAÇÃO E LUTA DE CLASSES - 1

Que culpa tem o tomate...
La hierba de los caminos la pisan los caminantes
y a la mujer del obrero la pisan cuatro tunantes de esos que tienen dinero
Que culpa tiene el tomate de estar tranquilo en la mata
si viene un hijo de puta y lo mete en una lata y lo manda pa caracas
que culpa tiene el cobre de estar tranquilo en la mina
si viene un yanqui ladrón y lo mete en un bagon y lo manda a nueva york
los señores de la mina se han comprado una romana
para pesar el dinero que toditas las semanas le roban al pobre obrero
cuando quiera el dios del cielo que la tortilla se vuelva
que la tortilla se vuelva que los pobres coman pan y los ricos mierda mierda

O título de nosso artigo: “que culpa tem o tomateé um fragmento de uma canção popular cantada pelo grupo musical chileno Quilapayun. O tomate, que chegou a cerca de 10 reais o quilo, é apontado como vilão da inflação. Seu preço subiu quase 122% só no último ano. Em Pernambuco, no mesmo período, o custo do quilo do tomate aumentou 220% e o do chuchu, 300%. Essa tendência de alta não se manterá indefinidamente, os preços deverão cair como aponta o recuo de 43% do preço do tomate na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). Todavia, em março, a cebola subiu mais que o tomate. “Só durante o mês de março, a cebola, subiu 21,43%; a cenoura, 14,96%;o feijão-carioca, 9,08%; e a batata inglesa, 6,14%. Os alimentos e bebidas foram responsáveis pelo aumento de 60% da inflação em março.” (Valor,10/04/2013).

Entretanto, enquanto os preços vêm subindo até 20% ao mês e mais de 100% anualmente, os salários não chegam a 8% durante todo o ano. Cretinamente, o Dieese, instituto de pesquisa auxiliar da burocracia sindical petista, mais governista do que nunca, comemora: “os reajustes salariais têm melhor ano da história em 2012. Ao todo, 94,6% dos reajustes negociados ficaram acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo IBGE. Outros 4,1% ficaram igual ao índice e 1,3% ficaram abaixo do indicador. O valor médio do aumento real (já descontado da inflação) foi de 1,96%.

Além dos alimentos e bebidas, a burguesia também vem culpando as domésticas (escravas de casa) pela inflação de março: “Alimentos e domésticos foramresponsáveis por 73% da inflação de março” (Folha de São Paulo, 10/04/2013). Na verdade, foram os capitalistas comerciantes que aumentaram em 8,37% seus serviços nos últimos 12 meses, muito antes da mudança cosmética e demagógica do Congresso Nacional para as trabalhadoras domésticas. Mas, assim como as faxineiras, outros acusados são o clima, a seca nos EUA e no Brasil em 2012, e os altos custos do transporte (buracos nas estradas agravados nos meses de chuva) e armazenamento, este último “vilão” se insere no debate para a ampliação da privatização dos portos pelo governo Dilma. De modo que, culpado pela inflação, não tem um capitalista no banco dos réus como de praxe na jurisdição burguesa.

As pesquisas também divulgaram o óbvio, quanto mais pobre for a família de trabalhadores, maiores são seus gastos com alimentação e piores são suas condições de vida. Segundo o Dieese, uma família de quatro pessoas gastou, em média, R$ 829 para comprar uma cesta básica em março – R$ 21 a mais que o que gastava no mês anterior. Isto, poucos dias depois que Dilma anunciou em rede nacional de televisão a eliminação de impostos sobre os produtos da cesta básica!

A culpa não é do tomate, que supostamente teria ganho vida própria como nos banais filmes de ficção “tomates assassinos” para fazer maldades, no caso, desaparecendo dos mercados para se ultra-valorizar. A culpa também não é de nenhum dos outros eventuais acusados pela imprensa burguesa. A culpa é do capitalismo que quanto mais lucra mais quer lucrar. Ironicamente a inflação dos alimentos ocorre em meio a maior colheita já registrada no Brasil, uma super-safra de grãos, que alcançou a produção de 184 milhões de toneladas (10% superior ao ano passado). Mas esta mega-produção é composta de commodities agrícolas (como a soja e milho) voltadas para a exportação que, em plena expansão territorial, tensionam a especulação imobiliária e leva a ruína aos pequenos produtores agrícolas.

Assim, parte da responsabilidade pela inflação pelo preço dos alimentos deve-se ao latifúndio, ao agro-negócio exportador, usineiros e sojeiros e em especial ao governo PT-PMDB que os representa: “70% dos alimentos que chegam a mesa dos brasileiros vêm da agricultura familiar. Realizada em pequenas propriedades, em geral pelas próprias famílias, diferentemente da agricultura patronal. Essas pequenas propriedades representam cerca de 84,4% do total, mas ocupam apenas 24,3% da área agricultável no Brasil. As outras 15,6% de propriedades ocupam 75,7% da área agricultável nacional, são os latifúndios. Esses latifúndios, produzem apenas 30% do consumo nacional agropecuário. Apesar de suas enormes dimensões eles não estão voltados para alimentar o povo brasileiro. Sua orientação maior é para o lucro e o que tem dado mais lucro a eles é a produção de soja para fazer, por exemplo, ração para os porcos na Europa.” (Pragmatismo Político, 08/04/2013).

Em outras palavras, ou nós ou eles, ou o grande capital agrícola continuam lucrando ou nós comemos. É preciso girar a produção, que hoje tá na mão do latifúndio assassino, do monocultivo voltado para o mercado exportador para a produção de alimentos para o povo, para isto, é necessário estatizá-la em grandes fazendas agroindustriais. A pequena agricultura familiar, advogada como modelo pelo MST, embora nas atuais condições falimentares seja responsável pelo abastecimento do mercado interno, não representa uma saída progressiva do ponto de vista produtivo na luta pela expropriação da agroindústria capitalista. É preciso dar um salto de qualidade na produção nacional de alimentos, e pode o modelo das grandes empresas agrícolas industriais estatais do futuro conviver com pequenas cooperativas agrícolas. Mas, dividir grandes empresas em pequenas glebas para a agricultura familiar, com técnicas mais artesanais de cultivo, geraria um desperdício produtivo frente a capacidade superior da economia industrial diante da economia doméstica.

Mas o que acabamos de dizer aponta que o latifúndio exportador contribui para o aumento dos preços dos alimentos, mas não explica todos os outros aumentos como os dos preços da terra, dos serviços, etc. Uma vez que o fenômeno da inflação atinge profundamente as condições de vida dos trabalhadores e generaliza-se muito além dos alimentos trataremos de identificar em textos futuros suas causas principais na forma como o governo burguês brasileiro reage a guerra cambial desatada pelo imperialismo, favorecendo a exploração da burguesia instalada no Brasil sobre o proletariado e ao agronegócio assassino de trabalhadores rurais.

Para, como alenta a música, "que la tortilla se vuelva que los pobres coman pan y los ricos mierda", lutamos por 1) implementação do gatilho salarial; 2) comitês populares controle de preços, unindo a luta contra o aumento dos alimentos, contra a especulação imobiliária que despeja e faz imóveis e aluguéis dispararem, contra o aumento geral das passagens previsto para junho; 3) salário mínimo vital; 4) criação de comitês populares de auto-defesa e ação direta dos camponeses pobres, sem terras e sem teto; 5) um Congresso Nacional Metalúrgico para derrotar o Acordo Coletivo Especial que retira direitos trabalhistas históricos; 6) expropriação do latifúndio e do capital financeiro; 7) criação de uma oposição operária e camponesa revolucionária ao governo Dilma e pela revolução socialista. Estas lutas passam longe dos objetivos da Marcha de pressão sindical para reformar a política econômica do governo Dilma, a ser realizada no dia 24 de abril, atividade impulsionada pelo Espaço de Unidade e Ação (CSP-Conlutas, CUT Pode Mais, MST, Intersindical/PSOL). Todas estas lutas só podem unificar-se mediante a construção de uma direção revolucionária para o conjunto dos enfrentamentos da luta de classes, esta direção é um partido revolucionário dos trabalhadores.