sexta-feira, 16 de novembro de 2012

DECLARAÇÃO DO CLQI SOBRE A RECOLONIZAÇÃO DA LÍBIA


Quão estranho é o rosto da "libertação" na Líbia hoje!
Resposta a Michael Pröbsting e ao RCIT 


A Liga Comunista publica abaixo a declaração do Comitê de Ligação pela IV Internacional composto pelo Socialist Fight britânico, pela Tendencia Militante Bolchevique argentina e pela LC brasileira, em resposta a Tendência Revolucionária Comunista Internacional (RCIT) dirigido pelo RKOB austríaco. O RKOB é uma ruptura da Liga pela 5ª Internacional dirigida pelo Workers Power britânico.
 
A importância deste debate em meio a atual ofensiva da OTAN e de Israel sobre a Síria e a Palestina deriva do fato de que o RKOB compartilha das mesmas ilusões da maioria da chamada esquerda trotskista que acreditam que a Líbia e a Síria vivem “revoluções democráticas" (no Brasil, o PSTU, o PSOL e POR) ou simplesmente “revoluções” (PCO, LER e MR) e que de alguma forma uma luta conduzida por direções pró-imperialistas possa servir aos interesses dos trabalhadores por direitos democráticos e sindicais.

1. O artigo de 10.800 palavras de Michael Pröbsting “Lutas de libertação e interferência imperialista – O fracasso do sectárismo ‘anti-imperialista’ no Ocidente: Algumas considerações gerais do ponto de vista do marxista sob o exemplo da revolução democrática na Líbia em 2011” publicado no Boletim “Comunismo Revolucionário” da Tendência Revolucionária Comunista Internacional (RCIT), No.12, 2012/10/24 merece alguma consideração, pois procuram defender sua indefensável posição pró-imperialista sobre a Líbia e ataca aqueles que tomaram uma posição de princípio. [1]

2. No entanto, rejeitamos a identificação das posições do Comité de Ligação pela Quarta Internacional (LCLQI) com as da ICL/espartaquistas e do Grupo Internacionalista/LFI:

Os sectários ‘anti-imperialistas’ no entanto, colocam-se ao lado do reacionário regime de Gaddafi contra a revolução popular. Exemplos de grupos que assumiram tal posição reacionária são o Comité de Ligação da Liga Comunista (Brasil), do Grupo Revolucionário Marxista (África do Sul) e do Luta Socialista (Grã-Bretanha), a ICL/espartaquistas, o LFI/Grupo Internacionalista de Norden e o grupo stalinista "Partido Comunista da Grã-Bretanha (‘marxista-leninista’)”.

Existem grandes diferenças, esses dois grupos e a Tendência Bolchevique Internacional. O terceiro membro da "família Spartaquista", se recusou a defender a Líbia contra os rebeldes dirigidos pela CIA em Benghazi na guerra contra Gaddafi desde o início e nunca teve a orientação de princípios da Frente Unida Anti-Imperialista, adotando a linha mais light e incorreta de "bloco militar" contra as posições do Comintern sob Lênin e Trotsky e contra as posições que Trotsky defendeu até seu assassinato em 1940. [2]
3. Mas se o equivocado rótulo de "sectários anti-imperialistas" é uma qualificação no mínimo discutível para os primeiros três grupos mencionados, trata-se claramente de um amálgama mentirosa identificar aos demais as posições do ultra-stalinista Partido Comunista da Grã-Bretanha ('marxista-leninista'). O Líder do CPGB, Harpar Brar tomou uma posição totalmente sem princípios de defesa política acrítica de Gaddafi, expressando desprezo para os trabalhadores oprimidos migrantes, em particular, os que sofreram tanto sob o regime e os pactos com o imperialismo, a detenção de imigrantes clandestinos para a Europa em campos de concentração no deserto, etc.

4. Nós rejeitamos também a acusação de que temos a posição do velho WRP de Gerry Healy e a posição do atual WRP de Sheila Torrance, que são igualmente acríticas de Gaddafi ainda que em nome da revolução mundial, estes agrupamentos objetivamente convertem-se em agentes de Kadafi, Arafat, Saddam e até mesmo Khomeini, capitulando a concepção etapista de revolução dos stalinistas, esta é a lógica fundamental das posições Healyistas.

5. O CLQI fez uma analogia entre as posições adotadas por Trotsky em relação a Chiang Kai-shek e a China, em 1937, e as que os trotskistas precisariam tomar diante de Gaddafi. Defendemos "o que existe de independência na Líbia" – Gaddafi não era totalmente controlado pelo imperialismo (daí a necessidade de ocupar e recolonizar o país). "Os imbecis Eiffelite [2.1] tentam brincar com esta “limitação”."Os trotskistas", dizem eles,"servem ao proletariado de palavras e a Gaddafi por seus atos". Participar de forma ativa e conscientemente na guerra não significa "servir a Gaddafi" mas servir a luta pela independência de um país (semi) colonial, apesar de Gaddafi".[3]

6. O documento consiste em uma longa defesa teórica das posições Rcit, copiadas do arsenal do Workers Power (WP), de onde o RCIT se originou em 2011, a partir de uma ruptura com pequenas diferenças políticas. Em seguida, o RCIT faz uma defesa de sua posição sobre a Líbia sob uma ridícula base de que a situação atual é um grande passo para frente, uma 'revolução democrática'. No curso da defesa teórica, Pröbsting menospreza os grandes princípios do marxismo, leninismo e do trotskismo.

7. Ele diz: "Nós somos antiimperialista, porque nós tomamos o lado da classe operária... e não o contrário".

8. Esta é a posição dos "Eiffelites” a quem Trotsky qualifica de “imbecis”. Nós precisamos ser antiimperialista porque Wall Street, dominado pelo capital financeiro global, controla todas as nossas vidas. Argumentando que está tomando “o lado da classe trabalhadora" o RCIT se apóia na mentalidade média dos trabalhadores pró-imperialistas das metrópoles que não entendem isso, incompreensão comum a todos os agrupamentos Quinta-internacionalistas originados do WP. "Os bolcheviques comunistas apóiam qualquer movimento real das massas populares contra a supressão dos direitos democráticos", diz Michael. Mas o que é um "movimento real"? Como Trotsky nos ensina, "as massas não são idênticas: existem massas revolucionárias, há massas passivas, há massas reacionárias".

9. Michael diz: "Na realidade, a intervenção imperialista não ajuda de forma alguma a luta revolucionária democrática, pois corre o risco de bombardeá-la. É por isso que temos apoiado as progressivas lutas de libertação das massas contra as ditaduras, mas, ao mesmo tempo, rejeitamos firmemente as intervenções imperialistas. (Por exemplo, na luta dos bósnios 1992-95, dos albaneses do Kosovo, em 1999, na revolta contra a ditadura de Gaddafi na Líbia em 2011)."

10. Mas a sua “rejeição às intervenções imperialistas" é puramente verbal, uma vez que a apóia na prática e fornece um álibi para a mesma, fazendo de conta que ela não estava acontecendo porque era uma guerra por procuração "restrita" ao bombardeio em massa da Líbia, não admitindo que o imperialismo fincasse suas “botas na terra". Na realidade, havia milhares de soldados do Qatar e das Forças Especiais dos EUA e do Reino Unido operando na Líbia como hoje atuam na Síria. Note-se que isto provoca o “risco de bombardear” a “revolução democrática”. Como veremos mais adiante, ele continua a afirmar que o imperialismo falhou nesta empreitada e a “revolução” conseguiu estabelecer uma situação de “duplo poder parcial”.

11. Michael diz: "Só quando a intervenção imperialista está se tornando a característica dominante da situação política, os revolucionários devem subordinar a luta democrática à luta contra tal intervenção."

12. Mas quando é que podemos perceber que “a intervenção imperialista está se tornando a característica dominante da situação política"? Quando a direção do movimento apóia de forma inequívoca ao Imperialismo que a fornece, secreta ou abertamente, armas e apoio político total, em todos esses casos e agora na Síria, respondemos nós categoricamente.

13. Michael diz: "Nosso antiimperialismo é uma decorrência de nossa posição fundamental na luta de classes e não um princípio primordial, que reside acima da luta de classes."

14. Se o anti-imperialismo não é "um princípio primordial" deduz-se que poderiam haver algumas lutas pró-imperialistas que melhor sirvam aos interesses da classe trabalhadora do que derrotar o imperialismo mundial, como derrotar um tirano local com o apoio do imperialismo. Esta é uma brutal declaração oportunista e uma rejeição direta as posições fundamentais do marxismo!

15. Então Michael se detém por um momento e tenta se retratar com um princípio trotskista: "Nosso método é que, durante uma luta democrática ou de libertação nacional ficamos do lado dos combatentes da libertação (que são na sua maioria estão sob direções burguesas ou pequeno-burguesas) e apoiamos sua vitória militar. Para nós existe uma grande diferença entre estas lutas de libertação progressistas e os interesses das potências imperialistas. Embora apoiemos o primeiro, estamos totalmente em oposição aos segundos. Por isso nós, comunistas-bolcheviques rechaçamos qualquer ingerência imperialista e reivindicam a luta pela derrota das forças imperialistas".

16. Mas Pröbsting não fez nada disso. Os "combatentes da libertação” eram reacionários das forças pró-imperialistas e da Al-Qaeda. Vocês, portanto, apoiaram as forças imperialistas e reivindicaram sua vitória em nome do “antiimperialismo” em todos estes conflitos e agora na Síria.

PRÖBSTING SE CONTRADIZ ABERTAMENTE

17. Pröbsting alega: "No entanto, Lenin e os bolcheviques não chegam à conclusão de que não se deve apoiar as lutas de libertação nacional. A qual conclusão chegaram Trotsky e a Quarta Internacional sobre o fato de que a opinião pública imperialista e pequeno-burguesa na Europa Ocidental e na América do Norte estiveram firmemente a favor do governo republicano antifascista na Espanha em 1936-1939 ou da luta de libertação nacional dos trabalhadores chineses, sob a liderança de Chiang Kai-shek contra o imperialismo japonês de 1937 em diante? Eles certamente não sucumbiram à ‘opinião pública’ imperialista e pequeno-burguesa, quando deram apoio crítico, mas incondicional ao governo republicano antifascista ou às lutas chinesas, mas defenderam o ponto de vista de classe independente e internacionalista dos trabalhadores".

18. Aqui Michael Pröbsting se contradiz. Onde foi parar o "apoio crítico, mas incondicional" quando a Líbia e agora a Síria são atacada pelo imperialismo e seus agentes militares? Pröbsting sucumbiu diretamente ao imperialismo e a "opinião pública" pequeno-burguesa, apoiando o "levante popular", sem questionar o caráter pró-imperialista e anti-operário do mesmo. Pröbsting acabou “uivando junto com os lobos", porque buscou o princípio da eqüidistância e postulou uma formulação política impossível: uma luta pró-imperialista que servisse aos interesses da classe trabalhadora internacional! É um insulto monstruoso querer comparar os “rebeldes de Benghazi” aos trotskistas chineses da década de 1930 [4], ou mesmo aos maoístas posteriores, ou aos trotskistas espanhóis [5] ou as fileiras do POUM [6] e anarquistas [7] em Espanha 1936-9.

19. E agora Michael repudia outro princípio fundamental do marxismo, "Os marxistas não devem ter como eixo a proposição: Como os revolucionários que lutam em países ocidentais imperialistas podem melhor opor-se à pressão da "nossa burguesia".

20. Mas é exatamente a partir deste princípio que começamos nossa luta se estamos em um país imperialista! Foi isto que nos ensinou Karl Liebknecht com seu famoso panfleto de 1915: “O inimigo principal está em casa”. Documento que se tornou parte do arsenal de qualquer marxista sério desde que foi escrito: "O inimigo principal de todos os povos está em seu próprio país! O principal inimigo do povo alemão na Alemanha: o imperialismo alemão, o partido de guerra alemão, diplomacia secreta alemã. Este inimigo em casa deve ser combatido pelo povo alemão em uma luta política, cooperando com o proletariado de outros países cuja luta central é contra os seus próprios imperialistas".

21. E por que, segundo a concepção de Michael, devemos rejeitar internacionalismo em favor do chauvinismo nacional? "Esta é uma concepção que nos conduzirá a graves erros. Este é o antiimperialismo dos tolos. É preciso começar a pensar a partir do ponto de vista de qual é a política de classe independente no interesse da classe trabalhadora internacional e dos povos oprimidos".

22. Este é mais uma típica imbecilidade terceiro campista Eiffelista. Não poderá haver NUNCA um movimento pró-imperialista que sirva aos interesses da classe trabalhadora internacional. O antiimperialismo deve estar no DNA de qualquer marxista sério do planeta, só assim se pode servir aos interesses do proletariado internacional.

23. Pröbsting diz: "A Revolução líbia, assim como a revolução Síria em 2011 começou como revolução democrática, como parte das revoluções árabes contra as ditaduras burguesas. Assim, ao contrário da interpretação dos sectários, essas guerras civis não começaram como uma conspiração do imperialismo – são autênticas lutas de libertação dos trabalhadores e camponeses".

24. Pode-se argumentar que ocorreu levantes por direitos democráticos (e não "revoluções democráticas") na Tunísia, Egito, Iêmen, Bahrein e até mesmo a Síria, mas não na Líbia. Desde o início, o “levante” líbio foi organizado e orquestrado por forças pró-imperialistas e agentes da CIA. Nunca houve nada progressista ou libertador nesta “revolta de Benghazi”, exceto nas mentes de alguns trabalhadores iludidos e camponeses. Logo no início, os linchamentos de trabalhadores negros [7.1] desmascararam esta farsa de uma "Primavera Árabe" sob a intervenção imperialista. Na Síria, qualquer aspecto progressivo do levante foi logo usurpado por forças patrocinadas pelo imperialismo que rapidamente tomaram o controle e passaram a controlar com punho de ferro a oposição a Assad.

25. Sucintamente Paul Wolfowitz [8] rebateu cada palavra do RCIT no Newsnight em 24 de outubro, quando ele foi descrevendo como levar a "revolução" à vitória na Síria. Ele disse: “A Líbia está muito pró-ocidental agora!” Esta afirmação atinge diretamente ao coração da questão. Todos os que são antiimperialistas por princípio e os que estão interessados em transmitir esta concepção para a consciência do proletariado internacional procuram a derrota do imperialismo e a vitória de Assad contra o mesmo. Eles defendem isto neste momento a fim de pavimentar o terreno para a construção na síria de uma seção da IV Internacional que tenha por princípios o internacionalismo anti-imperialista do trotskismo.

26. Michael diz: "É preciso analisar concretamente se a luta de libertação nacional e democrática foi dominada totalmente pelas manobras imperialistas e não possui qualquer significativa dinâmica interna para a luta dos trabalhadores e para a libertação dos camponeses. Se este for o caso, os marxistas devem mudar sua posição e apoiar a luta de libertação nacional".

O IMPERIALISMO NÃO CONSEGUIU EXATAMENTE O QUE QUERIA?

27. E não foi isso que aconteceu na Bósnia, Kosovo, Líbia e Síria? O imperialismo conseguiu exatamente o que queria nos três primeiros conflitos. Kosovo é praticamente uma colônia EUA controlada por bandidos mafiosos. A Bósnia não está muito melhor que isto. E é ainda mais notória a situação em que a "revolução" reduziu a Líbia! A Síria terá um destino semelhante, se não pior. Até onde a tragédia desta "revolução" precisa ir para que o RCIT volte atrás? Workers Power nunca se auto-criticou por ter apoiado os mafiosos do KLA e a RCIT – refém desta posição política – tão pouco.[9]

28. Michael escreve: "Complicações como esta, interpenetrações de interesses diferentes e contradições em um dado conflito militar tendem a aumentar no futuro. Por quê? Por causa da crescente rivalidade interimperialista... Infelizmente, este aspecto é completamente ignorado por muitos sectários que não reconhecem que, além do tradicional poder imperialista – na América do Norte, Europa Ocidental e Japão - também há um novo, através de potências imperialistas emergentes, em particular a Rússia e a China."

29. Podem haver novas potências imperialistas no futuro, mas é equivocado igualá-las assim. Agora a guerra é liderada por uma força imperialista dominante em nome do capital financeiro mundial que é liderado pelos EUA e por isso é correto que nações como a Síria busquem obter toda a assistência possível a partir do Irã, China e Rússia. Líbia e Síria, mesmo recebendo o apoio de Rússia e China não podem ser equiparadas com as forças de oposição que são a ponta de lança do dos interesses do capital financeiro imperialista, centralmente com base em Wall Street. A Síria está agora defendendo o que lhe resta de seu próprio direito de autodeterminação.

30. É claro que se for deflagrada uma guerra direta interimperialista entre um bloco dominado pelos EUA e o bloco Rússia-China-Alemanha então a tática correta e obrigatória será o duplo derrotismo ao mesmo tempo em que apoiamos as lutas de libertação nacional que possa rebentar durante o curso da guerra, mesmo que elas venham ter o apoio de um bloco ou de outro.

31. Michael escreve: "Tudo isso além da conhecida repressão assassina ao menor sinal de resistência do povo líbio".

32. O "povo da Líbia” deve incluir agentes da CIA, contratados e subornados por estes agentes e aqueles que aspiravam se tornarem os agentes do capital financeiro imperialista quando tomassem o poder, para não mencionar os fundamentalistas da Al-Qaeda que queriam impor a lei Sharia e restaurar a opressão das mulheres e que concordou em aliar-se temporariamente aos EUA. De forma análoga, os marxistas devem aliar-se temporários a Gaddafi contra o ataque imperialista.

33. Agora a parte mais ridícula e mais indefensável de todo o documento, Michael pergunta: "Os trabalhadores e a juventude hoje estão em uma situação melhor ou pior do que sob a ditadura de Gaddafi?"

34. Só um sujeito muito ingênuo pode fazer tal pergunta para em seguida surpreender-se obtendo uma resposta para a mesma oposta ao que esperava. Observemos o seguinte informe:

35. "A apropriação do petróleo da Líbia, o objetivo principal das potências da OTAN não é pouca coisa. O petróleo líbio foi privatizado em curto espaço de tempo. Os contratos foram distribuídos de acordo com a responsabilidade e o número dos bombardeios realizados por cada país: a França, a serviço da Total; a Espanha, pela Repsol; a Itália, a serviço da Eni; a Inglaterra, em nome da British Petroleum; e os EUA pela Marathon e Hess, ConocoPhillips. Isto tem como efeito a redução das receitas para o novo governo, que terá de preencher a lacuna orçamentária com financiamentos, cortando gastos sociais elementares e tomando empréstimos por parte das instituições financeiras internacionais, como qualquer outro Estado neoliberal.”

36. “Isso não quer dizer que setores da população da Líbia (ou da população síria ou iraniana) não tenham queixas legítimas contra suas ditaduras nacionalistas. No entanto, quando um setor da classe dominante destes países se alia ao capital transnacional estrangeiro para servir a manipulação imperialista em favor da mudança de regime político, qualquer aliança militar que os adversários do governo de plantão faz com os interesses globalizantes é um ato de traição contra seu próprio povo. Esta é uma guerra de classe mundial e os Estados Unidos e outras potências da OTAN representam os interesses da classe capitalista transnacional, não a classe trabalhadora líbia". [10]

37. É de suma importância observar que em nenhum momento Michael ou o Rcit se opõem à recolonização da Líbia e a apropriação de seu petróleo pelas garras das empresas ocidentais [10.1]. Ele encontra qualquer espaço para atacar a menor capitulação de Gaddafi ao imperialismo, mas fica completamente prostrado em relação aos “rebeldes” e o que acabamos de descrever acima é completamente irrelevante para ele.

DE FATO, “UMA SITUAÇÃO DE DUPLO PODER PARCIAL”!

38. Michael continua: “Os sectários "antiimperialistas" afirmar que na Líbia a contra-revolução – ou seja, o imperialismo e seus agentes da OTAN, os supostos “rebeldes" racistas – ganharam a guerra civil. Conseqüentemente, eles consideram o resultado como uma derrota para a classe trabalhadora. Nós, por outro lado achamos que a Revolução Líbia terminou em uma vitória parcial para a classe trabalhadora e os oprimidos, pois derrotou o regime burguês e bonapartista de Gaddafi. É verdade que a liderança burguesa e pró-imperialista em torno da CNT tenta seqüestrar essa revolução inacabada e democrática para transformá-la em uma contra-revolução democrática. No entanto, este processo está longe de ter sido concluído. O que temos hoje no pós-Gaddafi da Líbia é um regime em crise, que é dividido por várias facções. Está dividido, não apenas pela luta entre as potência, mas também – e, em grande medida, devido a pressão das massas. O que temos hoje na Líbia é uma situação de duplo poder parcial. O que constitui esta situação de duplo poder parcial?”

39. Este deve ser o parágrafo mais farsante de todo o documento. Uma situação de duplo poder parcial, de fato! Esta expressão foi usada pela primeira vez pelos bolcheviques para descrever a situação na Rússia depois da revolução de Fevereiro de 1917, onde conselhos de massas de trabalhadores (soviéticos) efetivamente controlavam o país, disputando o poder com o próprio governo. Eventualmente, os soviéticos aboliram a democracia parlamentar e instituíram a "ditadura do proletariado", em que a classe trabalhadora governava. Posteriormente, esta foi substituída pela ditadura da burocracia sob Stalin por volta de 1924.

40. Talvez quando Michael escreveu isto de "situação de duplo poder parcial" não estivesse uma percepção suficiente da realidade para deixar de notar que a classe trabalhadora não tem um pingo de influência na situação e ele tivesse referindo-se a “situação de duplo poder parcial” entre as milícias fundamentalistas da Al-Qaeda e as forças pró-EUA.

41. Michael caiu no conto divulgado por Carlos Munzer da LOI-DO argentina. Segundo esta última corrente da Argentina a Líbia atravessa uma revolução com situações de duplo poder dos trabalhadores e tudo. Contudo, devemos confessar a nossa falta de conhecimento das forças da classe trabalhadora existentes na Líbia hoje. Se estas forças estão ressurgindo como “informa” Munzer então seria necessário claramente chamar tais forças a mudarem de lado contra as influências pró-imperialistas a que estão subordinadas. Mesmo que supostas greves que segundo ele estariam supostamente levando a uma situação em que "Os trabalhadores formam novos sindicatos e estão se organizando em estruturas de base, onde têm mais direitos e poder do que sob o regime de Gaddafi", estes sindicatos seriam organizações pró-imperialistas.

42. Vejamos, por exemplo, a posição de Munzer sobre a Síria, onde o principal inimigo é Assad e o imperialismo russo-chinês. Não há absolutamente nenhuma oposição aos EUA, UE, Turquia, a burguesia saudita ou o Qatar.

43. "Na Grécia e em toda a Europa, é necessário paralisar todos os portos e navios que transportem armamentos e alimentem o assassino Assad, e em vez disso, que se alimentem de armas a resistência heróica da Síria! As classes trabalhadoras russa e chinesa tem de se revoltar agora contra os a Putin e Hu Jintao assassinos! É urgente parar a máquina de guerra contra-revolucionária de Putin e Hu Jintao, que estão armando até os dentes o genocida Al Assad! É urgente enviar armas, equipamentos e alimentos para as massas que estão lutando em Homs, Damasco, etc! Por Milícias de Combatentes Revolucionárias na Líbia! Por Comitês Voluntários Internacionalistas de Trabalhadores!” http://www.democraciaobrera.org/pag_ingles/mediooriente/2012/carta_tunez_ delibia042012.html

Maggie Michael, jornalista da Associated Press nos revela precisamente que tipo de 'massas' são estas:

44. "Cerca de 30.000 pessoas lotaram uma ampla avenida enquanto marchavam ao longo de um lago no centro de Benghazi na sexta-feira nos portões da sede da Ansar al-Sharia [10.2]. Eles carregavam faixas e cartazes exigindo que as milícias fossem dissolvidas e que o governo constituísse uma polícia para tomar o seu lugar para manter a segurança. "Benghazi caiu em uma armadilha", se lê em um cartaz. "Onde está o exército, onde está a polícia. Em outros cartazes lamentam o assassinato do embaixador dos EUA, Christopher Stevens com as seguintes inscrições: "O embaixador era amigo da Líbia" e a "Líbia perdeu um amigo". Helicópteros militares e aviões de combate sobrevoaram, e policiais se misturaram na multidão, impulsionado pelo apoio aos manifestantes "[11].

45. E assim a última esperança para a “revolução” é... Ansar al-Sharia! Eles vieram para substituir os bolcheviques! Quão estranho é o rosto da "libertação" da Líbia hoje! Parecem tão estranhos quanto os dos bolcheviques nos dias anteriores ao assalto ao Palácio de Inverno, em 1917, na Rússia, não é?

46. Enquanto escrevemos esta resposta a cidade de Bani Walid está sob cerco. De acordo com a agência de notícias Inter Press Service as milícias pró-governo armados estavam tentando matar indiscriminadamente grandes números de pessoas em Bani Walid, por causa de sua história de apoio à Gaddafi. A Anistia Internacional diz que em toda Líbia, muitos continuam a ser detidas sem acusação ou submetidas a julgamento, foram torturados ou sofreram maus-tratos. O Centro Internacional de Estudos Penitenciários (ICPS) diz que a Líbia detém o maior número de prisioneiros detidos sem julgamento no mundo, cerca de 89 % dos presos. Prisioneiros estrangeiros, muitos deles da África Sub-saariana, são responsáveis por quase 15% da população carcerária da Líbia, e as mulheres são pouco mais de 2%. Nasseer Al Hammary, pesquisador do Observatório da Líbia para os Direitos Humanos disse que a situação dos direitos humanos na Líbia agora é muito pior do que sob Gaddafi. [12]

47. É assim que a classe trabalhadora da Líbia está prestes a conquistar o poder? Certamente sofrem alguma "revolução inacabada" com um “duplo poder parcial” apoiado pelo RCIT!


Notas
[1] A declaração do RCIT que respondemos neste documento pode ser encontrada em: http://www.thecommunists.net/theory/liberation-struggle-and-imperialism/#ds

[2] Ver Stuart King, A frente única anti-imperialista: um debate com o GOR, 30/03/1986 - "Claramente aqui Trotsky não limita a frente única apenas a questão de "blocos militares contra os imperialistas ou contra os senhores da guerra. Na verdade essa posição faz uma divisão não-marxista entre "política" e "guerra". A guerra é a continuação da política por outros meios"."Ray e toda a família Workers Power já repudiou estas posições corretas por causa de sua necessidade de defender a sua posição sem princípios sobre a Líbia. http://www.fifthinternational.org/content/anti-imperialist-united-front-debate-gor

[2.1] “Na minha declaração para a imprensa burguesa, eu disse que o dever de todas as organizações de trabalhadores da China era de participar ativamente e nas linhas de frente da atual guerra contra o Japão, sem abandonar, por um único momento, o seu próprio programa e atividade independente. Mas isso é ‘social-patriotismo!’ Choramingam os Eiffelites. É capitulação a Chiang Kai-shek! É o abandono do princípio da luta de classes! O bolchevismo pregou derrotismo revolucionário na guerra imperialista! Agora, a guerra na Espanha e na Guerra Sino-Japonesa são ambas as guerras imperialistas. Nossa posição sobre a guerra na China é a mesma. A única salvação dos operários e camponeses da China é lutar de forma independente contra os dois exércitos, contra o exército chinês da mesma maneira como contra o exército japonês. Estas quatro linhas, tiradas de um documento Eiffelite de 10 de setembro de 1937, basta para nos dizer: estamos aqui diante, quer com verdadeiros traidores ou imbecis completos. Mas imbecilidade, elevado a esse grau, é igual à traição”. (Leon Trotsky, On the Sino-Japanese War, Written: 23/09/1937 http://www.marxists.org/archive/trotsky/1937/10/sino.htm) (Nota da edição brasileira, LC)

[3] Convidamos os leitores a verificar a declaração do CLQI na qual verão que a tentativa de criar uma identificação entre nossas posições com as da "família Spartacista' e o CPGB (ML) é totalmente infundada. http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2011/04/declaracao-lc-sf-rmg-sobre-libia.html

[4] Ver entrevistas com Wang Fanxi por Gregor Benton, "Wang repete o que foi descrito, isto é, que a posição tomada por seu grupo – e por Trotsky – não era um dos" derrotismo revolucionário ". O objetivo manifesto era "transformar a guerra contra os invasores estrangeiros em uma revolução para substituir a direção da guerra de resistência e, assim assegurar a vitória da guerra contra o invasor estrangeiro ... 'Esta política ... alinhou-se a declaração de Trotsky de que as organizações dos trabalhadores deveriam “participar ativamente e nas linhas de frente da guerra contra o Japão”. Chiang Kai-Shek provavelmente não alcancaria uma vitória sobre os japoneses e os trotskistas poderiam ganhar autoridade política na luta militar e da luta política contra as debilidades e traições do Kuomintang. "http://revolutionaryhistory.co.uk/book -reviews/books/reviews/chinese-trotskyism.htm.

[5] Ver Felix Morrow: Revolução e Contra-Revolução na Espanha, New Park Publications. Sobre isto escreve Mandel Earnest: "A Revolução e Contra-Revolução na Espanha de Felix Morrow continua sendo a melhor análise marxista da revolução espanhola e seu fim trágico entre 1936-37. Outras obras, escritos que recorrem a um extenso e original material dão uma explicação mais detalhada dos eventos e lutas (sociais e políticas) que marcaram esses anos dramáticos, e dos eventos que conduziram a eles. Mas nenhum é igual e menos ainda superior a obra de Morrow. Ele analisa as forças das classes sociais e o choque inevitável entre elas, e de como contribuiu decisivamente para o desfecho trágico dos acontecimentos a falta de uma direção revolucionária e de consciência política clara por parte das massas trabalhadoras. http://www.marxists.org/archive/mandel/1974/xx/morrow.htm

[6] O Partido Operário Unificado Marxista (em espanhol: Partido Obrero de Unificación Marxista, POUM; em catalão: Partit Obrer d'Unificació Marxista) era um partido político comunista espanhol formado durante a Segunda República e, principalmente ativo em torno da Guerra Civil Espanhola. Ele foi formada pela fusão do agrupamento trotskista Esquerda Comunista da Espanha (Izquierda Comunista de España, ICE) e do Bloco Operário e Camponês (BOC, ligado a Oposição de Direita), contra a vontade de Leon Trotsky, com quem o ICE rachou em 1935.

[7] Embora tenham oscilado entre o bolchevismo e o menchevismo, não cumprindo um papel independente, os anarquistas tiveram um papel importante na luta contra Francisco Franco durante a Guerra Civil Espanhola. A aspiração de uma revolução social se espalhou por toda a Espanha, com a coletivização da terra e das fábricas e controlada pelos trabalhadores. Os operários anarquistas realizaram combates heróicos (19/07/1936, jornadas de maio de 1937), os dirigentes anarquistas da CNT e da FAI oscilaram entre boicotar a formação de soviets por seu anarco-sindicalismo, renunciando a luta pelo poder operário e o ingresso no governo burguês da frente popular. Todas as conquistas sociais da revolução espanhola foram então liquidadas em 1939 com a vitória de Franco, que teve milhares de anarquistas executados. A resistência a ditadura franquista nunca foi inteiramente esmagada, com militantes da resistência a participar de atos de sabotagem e de ação direta depois da guerra civil, realizando vários atentados contra a vida do governante. Sobre o papel dos anarquistas na guerra civil espanhola recomendamos: o documento: León Trotsky, Escritos sobre España, Lección de España; Última Advertencia, 17/12/1937, http://revolucionespanola.elmilitante.org/clasicos/46.htm

[7.1] http://www.youtube.com/watch?v=FzmamhtoAPU
(Nota da edição brasileira, LC)

[8] Paul Dundes Wolfowitz (nascido em 22/12/1943) é um ex-embaixador dos Estados Unidos para a Indonésia, Vice-Secretário de Defesa dos EUA, presidente do Banco Mundial, e ex-reitor da Escola Paul H. Nitze de Estudos Avançados Internacionais da Universidade Johns Hopkins. Atualmente é professor visitante do American Enterprise Institute, trabalhar em questões de desenvolvimento econômico internacional, África e parcerias público-privadas, e presidente do US-Taiwan Business Council. Ele é um líder neoconservador. Como vice-secretário de Defesa, ele era "um grande arquiteto da política do presidente Bush para o Iraque e... seu principal falcão." (Peter J. Boyer, "O Crente: Paul Wolfowitz defende sua guerra", The New Yorker, 01/12/2004). Wolfowitz é um dos mais importantes teóricos do imperialismo na atualidade.

[9] Ver Kosovo "Estado mafioso" e Camp Bondsteel: Rumo a uma presença militar permanente dos EUA no sudeste da Europa, 14/04/2012, por F.William Engdahl. "Hashim Thaci o atual primeiro-ministro do Kosovo, trabalha, por assim dizer, para o Departamento de Estado dos EUA". Segundo The Guardian, 14/12/2010, Hashim Thaçi é identificado como o chefe de uma rede mafiosa ligada ao narcotráfico de heroína e cocaína, prostituição e assassinatos no período preparatório para a guerra de Kosovo 1998-1999, passando a ocupar um forte domínio sobre o governo do país desde então.

[10] Libia piora após ocupação da OTAN, de 26 de junho de 2012, http://www.thenorthstar.info/?p=1043

[10.1Líbia aberta para os negócios. "Para os vencedores, os despojos": "Países que participaram da tomada da Líbia foi prometida uma parte dos despojos. Isso está de acordo com uma carta publicada em 01 de setembro pelo jornal francês Liberation, em que os rebeldes fazem alusão a um acordo prometendo 35 por cento do petróleo da Líbia para a França. Assinado pela Frente Popular para a Libertação da Líbia (o precursor do Conselho Nacional de Transição), a carta refere-se a um acordo 'para atribuir 35% do petróleo bruto para a França em troca de seu apoio total e permanente do nosso Conselho.' A carta, escrita em árabe e de 3 de abril, diz que o acordo foi firmado durante a 29 de março cúpula sobre a Líbia em Londres. Com reservas provadas de 46,4 bilhões de barris de petróleo de alta qualidade e reservas igualmente enormes de gás natural, a Líbia tem sido na mira do governo dos EUA durante anos, junto com muitos países europeus. Mesmo que as empresas petrolíferas norte-americanas estão de volta ao país desde 2004, e do francês e italiano gigantes do petróleo Total e Eni nunca saiu, eles não têm sido felizes com os termos. Como The New York Times (15 de novembro), 'Durante seu longo reinado, o coronel Gaddafi concedeu estrangeiros direitos de perfuração em pequenos trechos de campos e os fez assinar acordos que deram o regime mais dos lucros e os deixou com a maioria das contas.' Agora que o petróleo da Líbia e gás têm sido 'libertado', as empresas estrangeiras de energia estão esperando para manter os lucros mais para si e deixar o povo líbio com mais de as contas."
 http://pslweb.org/liberationnews/news/libya-open-for-business.html
(Nota da edição brasileira, LC)

[10.2] Milícia islâmica líbia criada com patrocínio imperialista que ganhou força após a morte de Gaddafi e reivindica a imposição rigorosa da lei islâmica (a sharia) no país. (Nota da edição brasileira, LC)


[12] O abuso e maus-tratos de presos em centros de detenção em todo o país, muitos deles executados por milícias, é um problema permanente.