sábado, 3 de dezembro de 2011

POLÊMICA COM A LER-QI ACERCA DOS EIXOS DA GREVE NA USP

Defender os 73 presos políticos sem secundarizar TODOS os demais processados,
o “Fora PM!” e o “Fora Rodas!”
Uma polêmica sobre os eixos centrais de nossa greve na USP e a quem interessa que percamos o foco

A célula básica do capitalismo é a mercadoria. E maximalizar os lucros obtidos com a USP é o projeto do grande capital. Isto é o que está em disputa na USP, quem duvida verifique o que diz sobre a USP a mídia especializada em assuntos econômicos (Exame, Valor, etc.).

Mas não se trata de realizar uma privatização típica na USP. Há certas instituições, como o IBGE ou a Fundação Osvaldo Cruz ou as próprias universidades federais e estuaduais, por exemplo, que foram criadas para servir superestruturalmente ao conjunto da classe capitalista. A privatização direta da USP com a cobrança de mensalidades seria imensamente lucrativo para um punhado de capitalistas compradores da universidade, mas seria uma solução tipo matar a galinha dos ovos de ouro, pois prejudicaria o conjunto da burguesia que não pode contar com as “uniesquinas”, vendendoras de diplomas, para obter um mínimo necessário de produção cultural e científica que a USP fornece. Portanto, há um certo consenso na burguesia e no imperialismo que a USP é um “patrimônio coletivo” dos capitalistas e precisa, como “melhor universidade da América Latina”, segundo a The Economist (08/10/2011), ser otimizada para dar mais lucros ao capital financeiro, as fundações, terceirizadoras, etc. Sendo assim, para o grande capital que recrudesce a globalização e a mercantilização do planeta desde os anos 80, processo que foi aprofundado na década seguinte com os processos de restauração capitalista nos Estados operários da Eurásia (à excessão da Coréia do Norte), é preciso livrar-se dos focos de resistência a este projeto na USP. O que não vai por bem, vai por mal, pensam eles. Por isto é preciso fazer uma caçada seletiva a vanguarda da luta entre os trabalhadores e estudantes, perseguindo diretores do Sintups e lutadores estudantis, acuando e coagindo ao conjunto da comunidade universitária através de medidas repressivas com o incremento da repressão policial no Campus. É isto que está em jogo e é contra o conjunto destas medidas que devemos nos insurgir.


Então, ao prender 73 dos nossos companheiros, a tropa de choque a mando de Alckmin e de Rodas, que poderia simplesmente evacuar a Reitoria pela desproporção militar das forças entre os ocupantes e o aparato de guerra que invadiu a universidade naquela madrugada, tratou de tornar reféns seja com a prisão em âmbito imediato, seja por meio dos processos jurídicos pendentes contra quase uma centena de pessoas, e assim desfocar a luta contra o “Fora PM!” e “Fora Rodas!” e fim dos processos contra estudantes e trabalhadores, obrigando-nos a estender nossa pauta de reivindicações para uma demanda que não existia até o dia 08 de novembro. Com os 73 novos processos Rodas meteu um bode na sala. Trata-se de um problema real, com o objetivo de aplicar punições exemplares para que nunca mais se ocupe a Reitoria, mas que também serve como elemento distracionista afim de que passemos a lutar pelo acessório, o desprocessamento dos 73 presos políticos, e não pelo principal que foi a causa da luta até então. Além disto, como já declarou claramente, o Reitor espera que o próprio tempo e o recesso de janeiro e fevereiro trate de esfriar e cansar a greve.

A tática da burocracia estudantil conciliadora do DCE (PSOL/MES) que sofreu pesados reveses nas últimas assembleias (perda do controle político e financeiro da calourada, rechaço a aprovação do estado de greve, etc.), como toda burocracia que pretende desmantelar uma greve é fustigar o refluxo da luta, rebaixar a pauta de reivindicações e ao mesmo tempo aprovar medidas no sentido de abrir negociações com o interventor (audiências públicas, cartinhas endereçadas a Rodas, buscar interlocutores para abrir o diálogo com a Reitoria, etc.).

A tática do PSTU, que dirige alguns CAs da FFLCH e compõe uma chapa comum com a atual diretoria traidora do DCE vai no mesmo sentido. Os morenistas juvenis da ANEL buscam de um menor denominador comum com a retaguarda dos estudantes (este menor denominador costuma ser o nível de consciência do senso comum, formado pela opinião pública burguesa, Folha, Veja, Globo,...), em nome da surrada justificativa de buscar “demandas que dialogam com a massa”, como gostam de repetir, para também ir amortecendo o movimento afim de rebaixar tanto as aspirações estudantis ao ponto que tornem-se migalhas, “espelhinhos para engar índio” negociáveis com o Reitor e daí enterrar a greve em uma mesa de negociações com o interventor através de um plano de repressão alternativo.

Os companheiros da LER enveredem pelo mesmo caminho ao eleger como eixo da luta “em defesa dos 73 presos políticos” secundarizando as demandas e eixos principais desta luta, o “Fora PM!, Fora Rodas e fim de TODOS os processos!”. Esta tática tem levado-os a cometerem erros primários, como foi a recusa em aceitar a validade de uma assembleia de mais de 2 mil pessoas no dia 08 de novembro porque era, na argumentação dos companheiros, inconcebível realizar uma assembleia enquanto tivessem estudantes presos (que só começaram a ser liberados as 4h da manhã do dia seguinte) e, portanto, se sua política não tivesse sido derrotada na votação, poderia ter sacrificado a enorme assembleia que deu o pontapé inicial a greve geral da USP. Sendo assim, alertamos aos companheiros para não ajudarem nossos adversários a desfocarem nossa greve com uma política equivocada que supostamente dialoga, mas que na verdade se apóia em um fato político que não pode render para sempre (e particularmente pode não ter tanta validade para os calouros) e que tende a esvaziar-se se continuar sobrepujando as questões de fundo que é a luta contra a polícia, o interventor, os processos históricos que pesam contra o Sintusp e os estudantes, etc. Embora devamos com unhas e dentes continuar a luta pelo fim dos processos contra os 73, uma luta justa e necessária, pavimenta um caminho de derrotas ofuscar com apenas uma demanda o debate mais amplo e para o qual precisamos ganhar os melhores lutadores e as massas para lutar por um outro ensino superior, por uma USP a serviço de toda a classe trabalhadora e da população pobre.