quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

CORÉIA DO NORTE

WASHINGTON E SEUL REALIZAM SUA MAIOR PROVOCAÇÃO MILITAR DESDE 1953
DEFENDER O ESTADO OPERÁRIO BUROCRATIZADO DOS ATAQUES IMPERIALISTAS E PREPARAR A REVOLUÇÃO POLÍTICA NO NORTE E A SOCIAL NO SUL!


Cartaz nortecoreano onde um soldado do país esmaga o Capitólio dos EUA

Coréia do Sul e os EUA realizaram um exercício de gue­rra agrupando 70 mil efetivos militares no mar Amarelo, próximo ao litoral da Coréia do Norte e disparando projé­teis contra o país. Em resposta, o Estado Operário burocratizado contra-atacou Yeongpyeong, uma ilhota sul coreana, com sua ar­tilharia. Imediatamente, a Coréia capitalista respondeu com mais 80 disparos de projéteis contra o Norte. Esta escalada de agres­sões tem provocado os maiores enfrentamentos entre os dois paí­ses desde o fim da Guerra que dividiu a península em 1953.

Não por coincidência as atuais provocações contra a Coréia do Norte tiveram início logo após as cúpulas de Seul e Lisboa (G20 e OTAN). O consenso em torno do plano foi “multilate­ralizado” por Obama e seu corpo diplomático nos dois fóruns internacionais recentes.

Os EUA mantém 26 mil soldados na parte capitalista da pe­nínsula e a pressão sobre o governo de Pyongyang se tornou mais forte no governo Obama que recauchutou a macabra doutrina de segurança nacional dos EUA na era Bush, denominada de “gue­rra ao terror”, rebatizando-a de “guerra ao terrorismo nuclear”. As escaramuças obedecem um padrão de provocações (muitas das quais orquestradas nos exercícios militares conjuntos entre EUA e CS), seguidas de vitimização para justificar uma nova ofensiva à Coréia do Norte.

Em maio, Obama anunciou a disposição dos EUA de “apoiar” um plano de ofensiva militar de Seul, elaborado de fato pelos instrutores militares ianques estacionados na Coréia em resposta ao afundamento de uma embarcação de guerra sul coreana, fal­samente atribuída à Coréia do Norte. Na época, um membro da equipe de investigação afirmou que o naufrágio foi um acidente, dizendo ainda que as provas que implicavam o Norte haviam sido forjadas. Levou um cala-boca de imediato. Os promotores do caso o convocaram para um interrogatório e o Ministério da Defesa pediu à Assembléia Nacional para expulsá-lo do inquéri­to para que não “despertasse a desconfiança do público” (Bloom­berg Businessweek, 29/05/2010). No entanto, assim como Bush se apoiou em provas fraudadas da existência de “armas de des­truição em massa” para invadir o Iraque, Obama aposta na esca­lada belicista: “Nós endossamos o pedido do presidente Lee de exigir da Coréia do Norte imediatamente desculpas e punir os responsáveis pelo ataque e, mais importante, parar seu compor­tamento agressivo e ameaçador. O apoio dos EUA para a defesa da Coréia do Sul é inequívoca, e o presidente tem dirigido seus comandantes militares para coordenar estreitamente com os seus homólogos da República da Coréia para garantir a disponibilida­de e para prevenir agressões futuras. Iremos construir uma base já sólida da excelente cooperação entre as nossas forças armadas e explorar novas melhorias para a nossa postura comum sobre a Península.” (Obama diz aos militares: estejam preparados para a guerra na Coréia, Business Insider, 24/05/2010).

O presidente sul coreano Lee Myung-bak, ex-gerente da multinacional Hyundai, foi quem em 2009 ordenou a bárbara repressão militar e policial contra os operários sul coreanos que ocuparam a montadora SsangYong Motors por 77 dias. Há um ano estes metalúrgicos lutaram bravamente contra 2.446 demis­sões (pouco mais do que a metade dos que o PSTU que dirige o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos deixou de­mitir a Embraer sem luta) e resistiram heroicamente com comitês armados de autodefesa contra a desocupação policial (ver foto). O presidente títere sul-coreano definiu o Estado do Norte como seu “inimigo principal”, pela primeira vez desde a sua distensão, em 2004, cortou laços comerciais e negou o acesso da Coréia do Norte para as rotas marítimas e pediu medidas punitivas da ONU a Piongyiang.


Metalúrgicos armados de coquetéis molotov da fábrica ocupada SsangYong entram em confronto com a tropa de choque sul coreana

Como ressaltou o diário londrino The Guardian: “Coréia do Norte: ‘a guerra estúpida’ de Obama? O mesmo Obama que cri­ticou Bush pela guerra “imprudente” no Iraque, por gastar re­cursos militares e distrair as tropas na busca por Bin Laden, está agora ajudando a aumentar as tensões contra a Coréia do Norte. Enquanto Hillary Clinton, vistoriava a região e falava sobre uma situação de ‘alta tensão’, o Pentágono anunciava planos para ma­nobras militares navais conjuntas que comecem em breve numa poderosa demonstração de força.” (25/05/2010).

Em agosto, como fez meses antes contra o outro membro do “eixo do mal”, o Irã, o mandatário da Casa Branca ampliou as sanções econômicas à Coréia do Norte: “Obama assinou uma ordem executiva que dá permissão aos EUA de bloquear as ati­vidades de entidades norte coreanas que comercializam armas, produtos luxuosos, falsificação ou lavagem de dinheiro, carre­gamento de drogas ou outras atividades ‘ilícitas’ que patrocinam o governo ou seus líderes. Não está claro porém como essas ações possam afetar as negociações para terminar o programa nuclear da Coréia do Norte.” (Reuters, 30/08/2010). Estas me­didas estúpidas, atacam justamente os privilégios da burocracia norte-coreana e são um tiro no pé do processo de restauração capitalista por frearem o ritmo de acumulação capitalista da casta dirigente e o estreitamento de suas relações com o grande capital internacional.

O BLOQUEIO ECONÔMICO IMPERIALISTA E A RESTAURAÇÃO CAPITALISTA NA CHINA, VIETNÃ, CUBA E CORÉIA DO NORTE

Entendemos como Lenin que a política é a economia con­centrada. A política interage e às vezes determina processos econômicos podendo retardá-los ou precipitá-los. Este é o caso dos bloqueios econômicos impostos pelo imperialismo aos Estados operários burocratizados. Contraditoriamente, ao retardar o estreitamento das relações comerciais, o bloqueio imperialista também atrasa a conversão dos então burocratas em burgueses.

Uma das condições excepcionais da luta de classes que le­varam as direções pequeno burguesas burocráticas, como o cas­trismo, em Cuba, ou o kimilsonguismo (ou juchismo), na Coréia do Norte, a irem além de onde desejavam em sua ruptura com o capitalismo foi a negativa do imperialismo e das burguesias destes países a um acordo político com estas direções militares de massa. Esta lei também vale para a restauração do capitalis­mo. Não por acaso, após a contra-revolução na URSS e Leste Europeu e a guerra fratricida patrocinada pelo imperialismo que destruiu a Iugoslávia, foram nos EOBs que mais sofreram assé­dio propositivo do grande capital internacional que a restauração mais avançou, notadamente na China e no Vietnã.

O reatamento das relações entre EUA e China, representada no famoso encontro de Mao-Tse-Tung com Nixon em 1972, de­pois do fiasco econômico da “metalurgia de fundo de quintal” maoísta, abriu caminho para a ala direita da burocracia chinesa, encabeçada por Deng Xiauping, catapultar com seu “socialismo de mercado” o comércio China-EUA de US$ 5 bilhões em 1980 para US$ 333 bilhões em 2008, tornando-se o principal parceiro comercial dos EUA.

O embargo estadunidense contra o Vietnã foi suspenso em fevereiro de 1994 e o comércio internacional cresceu de US$ 220 milhões em 1994 para US$ 6,4 bilhões em 2004.

Inversamente, foi em Cuba e na Coréia do Norte, que o impe­rialismo impôs um bloqueio econômico mais severo, onde per­manecem em diferentes níveis de degeneração as bases materiais herdadas do processo revolucionário. Comparativamente, foi graças ao estreitamento dos vínculos entre a burocracia castrista e a União Européia que a restauração capitalista avançou em de­terminados setores da economia cubana (notadamente, turismo e mineração).

O isolamento imposto pelo bloqueio imperialista só pode ser quebrado por uma política internacionalista proletária. A buro­cracia seja ela castrista ou kimilsonguista é incapaz de romper o cerco imperialista. Pelo contrário, sua política se opõe pelo vértice a uma saída internacionalista proletária para o problemas do isolamento nacional. Recentemente Castro declarou que “o modelo cubano não serve nem para Cuba”, décadas antes deu conselhos contra-revolucionários a Daniel Ortega, dirigente da Frente Sandinista nicaragüense, para que “não repetisse os erros cometidos por ele”, de expropriar o conjunto da classe burguesa. O mesmo orienta para Chaves e Evo.

A seu modo, a burocracia nortecoreana prima pelo isolamen­to como mecanismo de defesa do estado operário, a fonte de seu parasitismo.

Desde 1960, o Partido dos Trabalhadores da Coréia do Norte reivindica a Ideologia Juche que em coreano, significa “conjunto principal” ou “matéria”; que também pode ser traduzido como “posição de independência” e “espírito de auto-suficiência”. De­fende que o objetivo da revolução deve ser as massas e não qual­quer poder externo, o que implica que a nação tenha confiança em si mesma como autarquia, num sentido lato. O ideólogo do Juche foi Kim Il-Sung. o Juche defende a auto-suficiência industrial e de serviços, o patriotismo e o culto a personalidade, apoiados em um poder quase dinástico dos herdeiros de Kim Il-Sung. A economia se concentra no desenvolvimento da indústria pesada, defesa nacional e agricultura. Pretendia-se que a Coréia do Norte fosse auto-suficiente em todos os níveis o que é economicamente impossível. Trata-se de uma concepção anti-internacionalista e que conduz ao isolamento nacional e, ao contrário da auto-sufi­cência leva desesperadamente o país a dependencia externa e a chantagem imperialista, que a burocracia norte-coreana trata de contrabalancear com uma chantagem atômica, ameaçando bom­bardear a Coréia do Sul, o Japão e os próprios EUA, como se vê nos cartazes que estão neste O Bolchevique #2.

Um dos pré-requisitos da nova ofensiva contra Irã e Coréia é a centralização dos ex-estados operários da China e da Rússia sob a política de Washington. Como os próprios meios burgueses identificam: “Tanto a China como a Rússia tem sido compla­centes com as agressões da Coréia do Norte através dos anos. Mesmo sendo os testes de mísseis de Kim um aborrecimento di­plomático, isso nunca foi o suficiente para Pequim ou Moscou se pronunciar verbalmente contra seu antigo aliado da era soviética. Porém, agora é diferente, e a vantagem é toda de Obama.” (The Huffington Post, 28/05/2009).

Estes elementos são a chave da nova ofensiva, como analisa­mos há alguns meses quando ainda estávamos na LBI: “As derro­tas históricas de 1989-1991 fortaleceram o imperialismo e abri­ram um período reacionário. O marco que fechou o ciclo desses últimos 20 anos de reação anticomunista mundial que se ergueu sobre o acúmulo de derrotas decorrentes foi a crise econômica mundial de 2008-2009, a qual permitiu uma sobreacumulação, e uma concentração de riquezas historicamente incomparáveis ao grande capital e forjou as bases de uma nova ofensiva ainda mais reacionária. Se até os anos 1980, em virtude da defesa da fonte de seus próprios interesses parasitários e a fim de possuir suas próprias zonas de influência, as burocracias da URSS e da China estabeleciam limites burocráticos ao avanço do imperia­lismo sobre o globo erguendo Muros de Berlim ou ocupando o Afeganistão e, se nas últimas duas décadas Rússia e China foram cúmplices passivos da ofensiva, agora os governos burgueses restauracionistas de Moscou e Pequim colaboram diretamente com os EUA, União Européia e seu pit-bull nazi-sionista, favo­recendo a nova ofensiva recolonialista contra os Estados ope­rários remanescentes e os povos oprimidos.” (SANÇÕES DA ONU AO IRÃ: Os sinais da nova ofensiva mundial imperialista, JLO#196 - 1ª Quinzena de Julho/2010)

EXPROPRIAR A BURGUESIA, EXPULSAR O IMPERIALISMO NO SUL E PREPARAR A REVOLUÇÃO POLÍTICA NO NORTE

Os verdadeiros marxistas revolucionários reivindicam do regime norte-coreano meios para resistir à ameaça imperialista, como o armamento de todo o povo, o pleno desenvolvimento do programa nuclear para fins militares e o controle das usinas e de todo o arsenal pelos trabalhadores organizados.

As correntes que se autodenominam trotskistas mas renun­ciam à luta pela defesa incondicional do estado operário norte-coreano revelam que nada têm em comum com o trotskismo. Somente um partido trotskista de caráter conspirativo é capaz de combinar o trabalho legal com o ilegal, forjando-se como al­ternativa, apesar da repressão estalinista no norte e da caça aos comunistas em geral no sul.

Somente um partido trotskista pode levar adiante a unidade revolucionária do proletariado coreano para derrubar o governo de Lee, ocupar as fábricas, expropriar os capitalistas, expulsar o imperialismo no sul, preparar a revolução política, derrotando a burocracia de Kim Jon Il e instaurar um verdadeiro estado prole­tário soviético a serviço da revolução mundial!