Contra o ceticismo, construir o partido trotskista revolucionário da classe operária!
"Nenhuma situação, por cinzenta e pacífica que seja, como tampouco nenhum período de decaimento do espírito revolucionário exclui a obrigatoriedade de trabalhar pela criação de uma organização de combate, nem de levar a cabo a agitação política; mais ainda, é precisamente em tais circunstâncias e tais períodos que é especialmente necessário o trabalho indicado porque em momentos de explosão e estouros é tarde para criar uma organização. A organização tem que estar pronta para desenvolver sua atividade imediatamente."
Lenin, Por onde começar, 1900
Apresentamos aos trabalhadores, a juventude e a vanguarda do movimento operário os motivos de nossa ruptura com a Liga Bolchevique Internacionalista.
Como em nenhuma época histórica anterior, a carência de uma direção revolucionária do proletariado cobra hoje seu preço. Faz um século que o capitalismo entrou em sua decadência senil. Embora goze do maior grau já atingido pela humanidade em sua evolução tecnológica, arrasta a civilização para a barbárie, degradando o ser humano e todo o resto da natureza. Concomitantemente, as correntes que se reivindicam marxistas estão reduzidas a pequenos agrupamentos de propaganda sem absolutamente nenhuma influência real sobre as massas proletárias, as únicas que podem liquidar a agonia capitalista.
Marx e Engels tinham o direito legítimo de constituir uma liga de propaganda na aurora do socialismo científico. Todavia encontrar-se nesta condição 150 anos depois da elaboração do Manifesto do Partido Comunista não é mais um direito, mas uma deformidade retardatária que contribuiu decididamente com o agravamento das condições de vida da classe trabalhadora sob a decadência do capitalismo. A inexistência de uma direção revolucionária para a luta das massas se relaciona com a barbárie imperialista de forma dialética, como causa e efeito. Como Trotsky prognosticara, as condições objetivas para a revolução proletária apodrecem e a humanidade caminha para uma catástrofe.
Também não é válido justificar a impotência atual usando como parâmetro a debilidade das primeiras organizações trotskistas na década da fundação da IV Internacional. Trotsky e seus camaradas estavam submetidos a uma caçada de extermínio físico por parte da GPU (futura KGB), aos Processos de Moscou, no auge da degeneração burocrática e policialesca do primeiro Estado operário e da III Internacional. Simultaneamente, graças ao stalinismo, a revolução chinesa foi afogada em sangue, os processos revolucionários na França e Espa-nha foram abortados pelas frentes populares e ditaduras nazi-fascistas passaram a controlar importantes Estados capitalistas. Além de criar a reação fascista, como contraponto à URSS, o imperialismo tratou de resolver a crise de superprodução de 1929 através da II Guerra mundial.
Sob terríveis perseguições, a vanguarda revolucionária do proletariado, o núcleo fundador da IV Internacional, foi, segundo a expressão do próprio Trotsky, “exilado de sua própria classe”. A repressão física fatal que liquidou todo o comitê central bolchevique, os melhores elementos da geração que realizou a revolução de 1917, também assassinou os melhores quadros da IV Internacional. Nem de longe esta eliminação física e objetiva pode ser comparada ao isolamento ideológico de hoje. São duas circunstâncias desfavoráveis que exigem táticas de sobrevivência distintas.
A atrofia política da LBI só pode ser compreendida no marco das consecutivas derrotas da classe operária nos últimos 20 anos. É preciso destacar: compreendida, mas não justificada. A LBI nasceu depois de todas as ondas do movimento de massas brasileiro (greves metalúrgicas contra a ditadura que desembocaram na fundação do PT e da CUT, movimento nacional pelas “Diretas- Já!”, polarização eleitoral de 1989, Fora Collor) e sob a ofensiva anticomunista gestada pela principal derrota do proletariado mundial, a contrarevolução que restaurou o capitalismo na URSS e no Leste Europeu (1989- 1991). Para piorar, se a desmoralização da era pós-URSS se abateu sobre a esquerda mundial na década de 1990, no Brasil, este quadro se agravou, particularmente, pela consolidação do mais aprimorado mecanismo de cooptação da vanguarda operária existente no planeta, com a ascensão da frente popular ao governo federal em 2002.
A jovem corrente nasceu órfã e solitária por suas posições programáticas principistas, defendendo retrospectivamente um Estado operário, a URSS, que já não existia mais e combatendo a frente popular que tornou-se o principal instrumento da dominação burguesa no Brasil e do imperialismo no continente. Neste quadro se impôs de maneira crescente um sentimento de impotência e conformação diante de situações cada vez mais desfavoráveis para a luta dos trabalhadores. No último período, ciente da nova ofensiva reacionária gerada pela crise econômica, a LBI cristalizou um curso político de reduzir suas atividades de combate ao revisionismo no âmbito literal-virtual, dentro do pequeno mundo da fração de esquerda da frente popular que orbita em torno do PSOL e PSTU.
A QUE HERANÇA RENUNCIAMOS?
Este pequeno universo da oposição pequeno-burguesa tornou-se mais esquálido nas eleições de 2010, sendo esmagado pela pressão da frente popular e da oposição burguesa, reciclada em torno da simbiose petista-tucana que foi a candidatura Marina. Elegendo como centro de sua intervenção a ala esquerda desta oposição pequeno-burguesa, a LBI limita-se a realizar uma admoestação completamente inócua sobre o pseudotrotskismo que gravita neste meio político.
Diante da reação crescente, os revisionistas em geral vendem as derrotas da classe como se fossem vitórias. Assim, a contrarevolução na URSS foi vendida como algum tipo de “revolução política”; o crash financeiro mundial que justificou o agravamento do saque aos salários e aos direitos históricos dos trabalhadores, foi anunciado como o prenúncio de uma implosão do capitalismo.
O objetivo destas delirantes falsificações da realidade é dissimular a desmoralização e a própria impotência diante da reação e euforizar a militância. Não comungando destes métodos, mas padecendo de mesma impotência, a LBI cai na prostração, quando é obrigada a constatar que sua intervenção sobre o revisionismo não surte qualquer efeito político e menos ainda organizativo.
Enquanto os pseudotrotskistas desesperados para sair da marginalidade adaptam-se às direções oportunistas e às pressões da reação ideológica, adotando cada vez mais um caráter vergonhosamente colaboracionista de aconselhadores de esquerda da frente popular, a LBI contenta-se em fazer parte desta cadeia sendo a extrema esquerda dedicada a fazer admoestação crítica aos que aconselham a frente popular.
Os fundadores da IV Internacional foram executados pelo stalinismo e seus seguidores declinaram da tarefa de reconstruí-la, abandonando os princípios mais elementares das teses da revolução permanente e do programa de transição para seguir a reboque, primeiro, do próprio stalinismo, depois da social-democracia e do nacionalismo burguês. Do mesmo modo e mais cedo ainda desertaram do combate pela consciência da classe operária, onde se localiza a reserva social e política para romper com o isolamento político e a “solidão revolucionária”.
Também desprezando o trabalho paciente por formar quadros operários por fora do círculo hiperdeformado da pequena-burguesia e da aristocracia operária brasileiras, a LBI impôs a si um beco sem saída. Vítima passiva de conjunturas cada vez mais desfavoráveis à luta da classes, a LBI chegou a meados de 2010 prostrada diante da reação ideológica anticomunista pós-URSS e em especial da pressão da frente popular no Brasil.
Mesmo que se possa objetar que frente à militância virtual que caracteriza centenas de agrupamentos de esquerda do século XXI a LBI seja uma das mais ativas cor-rentes, a auto-exclusão do movimento operário, o traba-lho exclusivamente microvanguardista em uma militância sindical escolada no anticomunismo e antibolchevismo petistas, nunca construirá uma organização revolucionária do proletariado. Está mais do que provado que prognósticos corretos, acertos políticos e iniciativas dirigidas a este tipo de gente tão profundamente desmoralizada, por mais justos que sejam, por si só não elevam a classe trabalhadora à altura de suas tarefas históricas. Na melhor das hipóteses, podem gerar, na expressão de Trotsky, “um clube de discussão de alto nível” (A composição social do partido, Escritos, 10/10/1937), completamente à margem da luta para elevar a classe trabalhadora ao nível da luta por seus interesses históricos, de libertação da idiotia e da bestialidade a que está submetida para dar à história um curso diferente da barbárie imperialista.
Renunciamos à herança dos que desprezam o trabalho de elevar o proletariado à consciência bolchevique, comum à totalidade do revisionismo, e que a LBI não foi capaz de superar, nem o quis. Todas as organizações de esquerda no Brasil abandonaram o trabalho de formação de quadros operários pelo menos desde a década de 1980. As mais novas, já educadas pela escola petista, de relações completamente deformadas com a classe (trade-unismo, cretinismo parlamentar, populismo, assistencialismo), reproduzem desvios do lulismo como o PSOL e o PSTU.
Quando falamos de educação da classe não nos referimos a escolinhas de socialismo para estudantes e trabalhadores, realizadas completamente à margem da luta política de partidos. Nem temos a ilusão de que os trabalhadores encontrarão o socialismo a partir do acúmulo de experiências sindicalistas, movimentistas ou “de lutas”. É necessário o recrutamento das massas nas lutas, nos locais de trabalho e estudo para a compreensão estratégica da organização política, instruí-las na ideologia comunista rumo à construção de um partido de vanguarda. Em nível imediato e direto ajudá-las a combater ao principal câncer do movimento de massas brasileiro, o lulismo e seus satélites que sabotam a luta de classes do caminho da revolução social.
VOLTAR AO MOVIMENTO OPERÁRIO PARA PREPARAR A NOVA GERAÇÃO DE QUADROS REVOLUCIONÁRIOS QUE SUPERARÃO A DEFORMAÇÃO DA ERA LULISTA!
Para nadar contra a corrente, enfrentar o oportunismo encastelado no Estado, seus satélites centristas adaptados ao regime em meio ao refluxo das lutas espontâneas, durante uma situação cinzenta, pacífica e de decaimento do espírito revolucionário, nosso trabalho precisa ser sobretudo paciente e abnegado. Temos claro que não há outro modo de superar o período lulista da história do movimento operário brasileiro sem que uma nova geração de quadros operários sejam preparados sob um programa trotskista. O que indica, portanto, que devemos começar a tarefa voltando ao movimento operário. Não há atalho.
O novo curso requer desenvolver a agitação política revolucionária sobre as massas, atividade que as pequenas organizações abandonaram ou a fazem de modo extremamente atrofiado e os centristas e grandes partidos oportunistas a fazem de modo deformado. Isto não implica em qualquer desprezo pela luta teórica ou ideológica em defesa dos princípios. Sem esta propaganda não haverá formação genuinamente marxista e menos ainda movimento revolucionário.
A história não acabou, toda a vida política é uma luta sem fim composta de um número infinito de elos. É hora de furar o cerco oportunista restabelecendo estreitos vínculos com a classe que, por seu papel na produção, é a mais progressista da sociedade atual. Sem qualquer pretensão de inventar uma fórmula nova de organização política, reivindicamos a luta pela construção de um partido de revolucionários profissionais, centralizado, conspirativo, composto pela vanguarda consciente do proletariado do século XXI.
Apropriando-se dos melhores recursos logísticos de hoje para levar adiante a tarefa, é preciso retomar os bons e velhos métodos bolcheviques de agitação, propaganda e organização política que levou mais adiante a luta pelo socialismo, que foram capazes de levar os trabalhadores conscientemente à tomada do poder através da revolução social e à instauração de sua ditadura revolucionária.
DA PROSTRAÇÃO AO CETICISMO, VÁRIOS PASSOS ATRÁS
O reconhecimento da classe operária como protagonista histórica da revolução socialista consta nos pontos programáticos da LBI. É repetido em muitas conclusões de seus artigos. Mas converteu-se em letra morta na medida em que o próprio agrupamento convenceu-se após três ofensivas mundiais do imperialismo (restauração capitalista nos Estados Operários, guerra ao terror pós 11/9/2001 e crise econômica de 2008) de que não apenas a revolução não era mais uma tarefa para nossas vidas, mas que a luta pela própria construção do partido bolchevique da classe operária já não tinha mais vigência prática efetiva. Daí a conclusão catastrófica da maioria da direção na reunião do dia oito de setembro de 2010: “frente ao atual retrocesso ideológico na classe é impossível a um núcleo revolucionário inserir-se no proletariado”. Trata-se, nada mais, nada menos, do que da fórmula da prostração, como caracterizamos durante a própria reunião.
Esta concepção norteou outro passo atrás. Em meio a uma crise desagregadora com um militante da regional paulista no mês de julho de 2010, a maioria do CC, contra as posições de Humberto, decidiu por baixar as portas da regional São Paulo e reconcentrar a LBI em Fortaleza.
A decisão significava uma reversão autofágica da acertada orientação política deliberada na IV Conferência da LBI, tomada cinco anos antes, que orientou o deslocamento gradual da direção política da corrente de Fortaleza para São Paulo, justificado pelo fato de a capital paulista ser a principal cidade operária da América Latina e centro político nacional do Brasil.
E o pior é que tamanho recuo não seguia nem um plano estratégico, apenas cristalizava o curso de prostração da corrente.
A maioria da direção da LBI dava um passo atrás em uma orientação de estruturação que até então marcava uma das principais diferenças entre a ousadia da corrente e a prostração dos demais pequenos agrupamentos regionais. Com esta medida a LBI retrocedia do seu nacional-trotskismo para o que poderíamos chamar de forma muito otimista de municipal-trotskismo. Ao completar 15 anos de existência, 200 edições do Jornal Luta Operária e ter se tornado uma referencia política principista na vanguarda de esquerda nacional e internacional, a LBI retrocedia em direção a converter-se em um organismo monocelular. A renúncia à luta pela consciência da classe conduz, invariavelmente, à revisão do ABC do trotskismo. O próximo passo é responsabilizar o proletariado e não sua covarde direção política pela situação sem saída em que se encontra a humanidade.
Em nenhum país, sob nenhuma circunstância, o proletariado por si só foi capaz de compreender sua tarefa histórica. Somos obrigados a lembrar que a alienação ou a falta de consciência política do proletariado não são fenômenos novos para o marxismo. Muito pelo contrário, aprendemos que as ideias dominantes entre os trabalhadores, são as ideias das classes dominantes, que os operários não desenvolvem sozinhos a consciência socialista, que esta só pode ser introduzida de fora da classe pelos intelectuais materialistas dialéticos como foram Marx, Engels, Lenin e Trotsky.
Mas, se a vanguarda marxista, oriunda da pequena burguesia, acomodou-se e só faz política entre si, recorrendo à classe operária apenas para lhe pedir apoio em eleições sindicais ou burguesas, como pode o trotskismo penetrar na classe? Esperar que o proletariado, sob o impacto das derrotas históricas e da educação ministrada pelo cretinismo parlamentar, trade-unismo, onguismo, ... não retroceda por décadas em sua compreensão política, é idealizar um proletariado que não existe nem nunca existiu.
As massas repletas de contradições internas só terão sua consciência modificada em favor da revolução se os marxistas o fizerem. Pensar de outro modo é apostar no espontaneísmo que nada tem a ver com o leninismo. Lavar as mãos para esta tarefa, considerando-a “impossível” consolida o pernicioso divórcio da teoria política com a classe, conduz à ruptura programática com o trotskismo e, seguramente, ao ceticismo.
EM DEFESA DA LUTA PELA CONSCIÊNCIA DOS TRABALHADORES
A derrota do proletariado da Europa em geral e grego, em particular, obrigado a pagar de maneira exemplar o custo da farra dos especuladores europeus e ianques depois de várias greves gerais, comprova de maneira cabal que para qualquer futuro triunfo proletário é imprescindível que as massas sejam conduzidas por uma direção revolucionária. Mesmo que entre o cinzento momento atual e a próxima “explosão”, para usar a expressão de Lenin na frase que abre este documento, dure décadas, acreditamos que o fundamento de nossa existência deva ser criar a organização de combate e fazer a agitação política que salve o porvir.
A maioria da direção da LBI também argumenta que tais concepções de nossa parte não justificam a ruptura, uma vez que mesmo que as críticas da minoria estejam certas, a LBI “não atravessou o Rubicão”, “não rompeu programaticamente com a fronteira de classe”. A realidade não é bem assim. Nem a cisão entre bolcheviques e mencheviques nem a ruptura entre defensistas e derrotistas dentro da IV Internacional, importantes divisões do marxismo pareceram essenciais ao primeiro momento. No entanto, depois de 15 anos sem tomar para si a tarefa de construir-se dentro do proletariado, de mais de 10 anos de isolamento nacional no plano organizativo, encontrando-se hoje com seu pequeno trabalho sindical agonizando, a crise da direção cobrou seu preço também para a LBI, levando-a a prostração ceticista.
O próprio Trotsky que no início do século XX não achou justa a ruptura entre bolcheviques e mencheviques russos, avalia, duas semanas antes de seu assassinato, a cisão, desta vez, no interior do SWP estadunidense: “Se tomarmos as diferenças políticas tais como são, podemos dizer que não eram suficientes para uma cisão, mas se elas desenvolveram uma tendência para se desviar do proletariado, indo em direção aos círculos pequeno- -burgueses, então essas mesmas diferenças podem ter um valor absolutamente diferente; um peso diferente; se estão ligadas com um grupo social diferente. Este é um ponto importante. (...) Isto é muito característico do intelectual desmoralizado. Vê a guerra, a terrível época que temos pela frente, com perdas, com sacrifícios, e tem medo. Começa a propagar o ceticismo e acredita que é possível unificar o ceticismo com a devoção revolucionária. Só podemos desenvolver uma devoção revolucionária se estamos certos de que é racional e possível, e não podemos ter tal certeza sem uma teoria operante. Aquele que propaga o ceticismo teórico é um traidor. (Sobre o Partido “Operário”, Leon Trotsky, 7/8/1940).
Retrocedendo em direção ao ceticismo prático a LBI estagnou com o passar dos anos. Restringiu-se a impulsionar um recrutamento ocasional, relativamente anárquico e empírico de sua cada vez mais limitada área de influência sindical dispersa pela inexistência sequer de plenárias da Tendência Revolucionária Sindical (TRS) em Fortaleza. Contentou-se em marcar presença testemunhal-crítica ao calendário sindical do bloco de aconselhamento pela esquerda ao lulismo conduzido pelo PSTU. Vale destacar que a crise partidária de julho se agravou após uma importante participação sindical da corrente no Conclat de Santos.
Realizamos brilhantes denúncias do caráter burocratizado, impotente e liquidacionista, oposto a armar a classe contra a frente popular, da direção da Conlutas. Todavia, a falta de uma nucleação permanente e estrutural, de formação de quadros revolucionários agravou profundamente o isolamento político que o cerco da frente popular e seus satélites impuseram à LBI. Nossa estéril intervenção na vanguarda de esquerda do movimento operário é dirigida a ativistas viciados que há muito vivem do aparato sindical a trair a própria categoria.
A modo de conclusão, por uma década e meia reivindicamos às raposas que não comam as galinhas, recusando-se ao trabalho de ensinar às galinhas as habilidades das águias.
A LBI é vista como um agrupamento que até pode fazer críticas e prognósticos acertados, mas que não se dispõe a lutar de forma consequente pela consciência do proletariado contra o entorpecimento frente-populista a que o conduzem os oportunistas que critica.
Romper com uma orientação que renuncia à disputa pela consciência do proletariado contra o oportunismo e o revisionismo é uma obrigação daqueles que têm como estratégia de vida a militância revolucionária trotskista.
As concepções do trotskismo e do ceticismo são inconciliáveis. Recordamos uma vez mais o velho bolchevique diante dos céticos que sob pressões hostis da reação anticomunista germinaram dentro das fileiras da IV Internacional: “Formar-se-á uma verdadeira direção revolucionária, que seja capaz de dirigir o proletariado rumo à conquista do poder? A Quarta Internacional responde esta questão afirmativamente, não só através do texto de seu programa, mas também através do fato mesmo de sua existência. Todas as distintas variedades de representantes desiludidos e atemorizados do pseudo-marxismo, atuam, pelo contrário, baseados na suposição de que a bancarrota da direção “reflete” somente a incapacidade do proletariado para levar a cabo sua missão revolucionária. Nem todos nossos opositores expressam claramente este pensamento, mas todos eles – ultraesquerdistas, centristas, anarquistas, para não mencionar os stalinistas e os socialdemocratas – descarregam sua responsabilidade pelas derrotas nas costas do proletariado. Nenhum deles assinala sob que condições precisas o proletariado será capaz de levar a cabo a virada socialista.
Se admitirmos que é verdade que a causa das derrotas residem nas qualidades sociais do próprio proletariado, então a situação da sociedade moderna deverá ser considerada como desesperadora. Sob as condições do capitalismo decadente, o proletariado não cresce nem numericamente e nem culturalmente. Portanto, não existem motivos para esperar que em algum momento se coloque à altura das tarefas revolucionárias.
A questão se apresenta de forma completamente diferente para aquele que tem claro o profundo antagonismo que existe entre a exigência orgânica, profunda e insuperável das massas trabalhadoras para se libertarem do sangrento caos capitalista, e o cadáver conservador, patriótico e completamente burguês da direção do movimento operário, que sobrevive por si mesma. Devemos escolher entre uma destas duas concepções irreconciliáveis.” (O proletariado e sua direção, A URSS na Guerra, Leon Trotsky, 25/09/1939).
De fato, nem todos os céticos expressam clara e formalmente sua crença de que o proletariado tornou-se incapaz de seguir uma estratégia revolucionária. No caso da LBI, após a nossa ruptura, a corrente vem tentando dissimular sua prostração com condenas literais à prostração, uma elevada dose de ufanismo, um ritmo de redação de textos frenético, acima do habitual e até com a reconstituição urgente da recém liquidada regional de São Paulo. Temos razões de sobra para acreditar que estes gestos te-nham fôlego curto, visando apenas camuflar a nível bastante imediato a prostração cristalizada ao longo dos anos.
POR UMA VANGUARDA PROLETÁRIA DA IV INTERNACIONAL
Tomamos a iniciativa de romper com a LBI, cientes das pressões voluntaristas, basistas e obreiristas que ameaçam nosso novo curso. Não deixaremos de cometer erros nesta nova empreitada. A princípio nosso programa será inevitavelmente incompleto e confuso. Recorreremos ao estudo da cara experiência dos comunistas do passado para tratar de dissipar tais confusões. Sobretudo, trataremos, juntamente com os setores da classe que conosco militarem, de aprender com os erros. Não há outro modo de ter acesso direto aos trabalhadores e ganhar sua confiança mediante táticas corretas sem uma experiência desenvolvida em comum. Só é possível ganhar o proletariado para uma organização revolucionária estreitando os vínculos com suas camadas mais conscientes ainda não deformadas pelos numerosos tentáculos do imenso aparato governista da frente popular, incluindo as Intersindicais e a Conlutas.
Isto significa abandonar a luta nos fóruns destas entidades? De modo algum. Significa que, além disto, é preciso construir oposições de base, comunistas, revolucionárias dentro de cada sindicato contra as direções das centrais burocráticas controladas abertamente pelos governistas ou por seus satélites.
Contamos com a enorme vantagem de ter a favor do sucesso da tarefa a extrema carência que sofre o proletariado de uma organização política disposta a criar em seu meio uma militância de quadros bolcheviques armados de um programa trotskista. A tarefa do momento é construir uma oposição operária e revolucionária ao governo Lula e ao governo burguês que o substituirá.
Ao cair nas mãos daqueles canalhas que sempre foram acertadamente o alvo das denúncias da LBI este documento corre o risco de provocar alguma perversa satisfação moral. Aconselhamos a estes senhores que desfrutem deste primeiro e curto instante ao máximo. De agora em diante, não poderão mais se aproveitar do fato de que a organização trotskista que os condena estará isolada dos destacamentos de vanguarda da classe operária que sobre vós marcharão na luta contra a colaboração de classes e pela tomada do poder pelos trabalhadores rumo à edificação de um futuro socialista para a humanidade.
Humberto Rodrigues
fundador e ex-membro do Comitê Central da LBI, integrante do conselho editorial do Jornal Luta Operária e da Revista Marxismo Revolucionário;
Nádia Silva
ex-militante da LBI e da TRS;
Luiza Freitas
ex-militante da LBI e da TRS;
Pilar Oliveira
ex-militante da LBI e da TRS
Outubro de 2010