quarta-feira, 9 de junho de 2021

Operários da Construção Civil - Pernambuco

Operários não deram arrego aos patrões e conquistaram vitória na campanha salarial!

João Pedrosa



Os operários do Sindicato da Contrução Civil e Pesada de Pernambuco, o Marreta, arrancaram da patronal um reajuste de 7,59%. Três pontos percentuais acima da inflação oficial. O reajuste será incorporado no salário integralmente e será retroativo a data base que é primeiro de maio. Esse pode ser um dos ou o maior ganho salarial dessa categoria no Brasil. Uma conquista que só foi possível após a realização de várias greves parciais nas grandes obras das empresas construtoras Moura, EKOS, Dalas, Gueiros Galvão, ACLF e MRV.

Todavia, apesar dessa vitória, os trabalhadores estão plenamente conscientes que não há muito a comemorar diante da inflação disparada dos preços dolarizados, enquanto os salários continuam praticamente congelados, favorecendo o novo ciclo de enriquecimento dos patrões que tem Bolsonaro, Guedes e os militares como testas de ferro. É por isso que em 19 de junho a categoria vai pra cima, vai pra rua, no dia nacional de mobilização contra tudo isso que está aí.

Histórico da campanha salarial 2021

Em 18 de março, o sindicado realizou a primeira assembleia da campanha salarial de 2021. A data base anual é primeiro de maio. Aquecemos os motores para deflagra-la em meio a uma condição muito desfavorável de pandemia e enorme desemprego na categoria.

Em reuniões preliminares com o sindicato patronal, a tônica dos nossos interlocutores já anunciava como seriam as negociações deste ano. Sentimos que este era o prelúdio de uma campanha salarial atípica, tensa e muito tumultuada. Apresentamos a pauta de reivindicações da categoria e a patronal nos devolveu um insulto como contraproposta.

Na nossa pauta de reivindicações constam:

1) Reajuste tendo como parâmetro o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção Civil) acumulado dos últimos 12 meses, correspondendo a 12,82%;

2) Que as homologações sejam realizadas obrigatoriamente no sindicato, sem exceções;

3) Que não ocorram mais nenhuma demissão na categoria durante a pandemia;

4) Ampliação da cota de vagas para mulheres e a juventude nas obras;

5) Melhorias no café da manhã regional gratuito e no almoço subsidiado;

6) Ampliação da sexta básica;

7) Implantação do PLR;

8) Plano de prevenção a COVID 19 e implementação das normas regulamentadoras complementares de saúde e segurança do trabalho (SST) nas obras;

Além de inúmeras outras reivindicações e um plano amplo de obras públicas para dinamizar, reaquecer o setor e absorver a mão de obra da categoria atualmente desempregada.

O Sinduscon (sindicato patronal) desavergonhadamente ofereceu o insulto de 0% de reajuste salarial para a categoria. Além disso, ameaçou suprimir da CCT (Convenção Coletiva de Trabalho), as cláusulas correspondentes a benefícios, dentre elas, as relativas a composição salarial, como fornecimento do café da manhã e o almoço nas obras.

Diante dessa posição, os representantes da categoria abandonaram intempestivamente a negociação. Nos canteiros de obras, deliberamos em assembleias pela realização de greves parciais. Paralisando os principais canteiros de obras, respondemos com greve ao insulto dos patrões. Foram paralisadas grandes obras nas empresas Moura, EKOS, Dalas, Gueiros Galvão, ACLF e MRV.

Pressionado e acuado, sob o efeito dos impactos das paralisações, o Sinduscon apresentou uma outra contraproposta: 2% de reajuste salarial apenas + 4% parcelados, sendo 2% em setembro de 2021 e 2% em fevereiro de 2022, na forma de abono, sem efeito salarial, nem repercussão de FGTS e INSS.

O apetite patronal é insaciável. Toda fantasmagoria argumentada de recessão aguda e depressão no setor da construção que o Sinduscon esgrima na mesa de negociação, não passava de uma ficção política. Enquanto isso, nas páginas dos jornais e canais de TV e rádio corporativas, festejam unânimes, todas as três entidades do setor patronal (
Sinduscom, Ademi e Secovi), o crescimento de mais de 10% do mercado imobiliário em geral e o incremento de mais de 30% nas vendas de imóveis de luxo.

Observando a olho nú, nossa economia se encontra aparentemente cambaleante e francamente em bancarrota. Parece inverossímil, mas, entre todos os ramos industriais do país, a construção civil mais parece uma “ilha da fantasia”. Junto com o setor do comércio varejista, a construção civil, teve um desempenho bem acima da média de outros ramos.

Por isso, acreditamos nas previsão do velho Marx: a ampliação do consumo de luxo, ou melhor, a exacerbação é um dos efeitos colaterais das crises no capitalismo. O consumo de luxo da alta burguesia em tempos de “crise” aguda e pandemia, muito embora possa parecer um contrassenso, trata-se da consequência visível da concentração e centralização de capital. Ele é a exibição cínica da opulência renascentista das classes abastadas.

Para os trabalhadores o cobertor é curto. A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Aplicado) em torno de 4,52%, isso em patamares oficiais, atua como corrosivo, dissolvendo a capacidade de compra dos salários. Os preços da cesta básica, do feijão, do arroz, do gás de cozinha, os preços administrados tais como água, energia elétrica, etc., sobem constantemente, atormentando as famílias trabalhadoras, que ao lado do desemprego mostram também a desigualdade e o abismo que separa as classes trabalhadoras e o baronato.

As classes exploradoras, que estão mais ricas do que nunca, chafurdam e exibem o luxo em que vivem, mas na hora de conversar sobre reajuste salarial de seus explorados, derramam lágrimas de crocodilo para os trabalhadores. E exatamente porque é assim para eles, para nós, os explorados do andar de baixo, quando cobrimos a cabeça, descobrimos os pés e vice-versa.

Em 2020, o mercado imobiliário com uma combinação de juros baixos, financiamento barato, moeda nacional desvalorizada, viu turbinar suas vendas. Somente no último trimestre foram vendidas 57,968 unidades, um incremento de 67% fechando o ano com um saldo positivo de 7,8% e 189,857 unidades vendidas, o IVV (Índice de Velocidade de Vendas) bateu seu recorde histórico desde 1997. No último ano o setor imobiliário também bateu seu próprio recorde em unidades financiadas, obtendo injeção de recursos da poupança nacional, equivalentes a 124 bilhões. E ainda há uma expectativa de crescimento entre 5% e 10% em 2021.

A brusca redução dos custos das obras e o incremento da substituição da extração de mais-valor relativo por mais-valor absoluto ampliou a margem de lucratividade da patronal. A burguesia, incluindo a patronal do setor, está deitada no berço esplêndido do novo ciclo de acumulação capitalista da economia política do golpismo.

Quem não pode com o pote, não põe a rodilha na cabeça

Na penúltima rodada de negociação os patrões retrocederam da sua intransigência, acossados pela pressão da categoria em luta, mas o impasse ainda não foi vencido. A novela não terminara ainda com um final feliz.

O sindicato e a comissão de negociação rechaçando a proposta patronal, marcaram novas assembleias e paralisações pontuais da categoria nos canteiros de obra. 

Finalmente, no dia 09 de junho, ocorreu outra reunião no Ministério do Trabalho, com as três entidades patronais, o Sinduscom, a Ademi e a Secovi. A expectativa para esta reunião não era de um desfecho positivo. Ao prosseguir o impasse, a tensão tendia a aumentar e catapultava o nível de temperatura e pressão nas obras. O termômetro infere uma tendência de radicalização dos trabalhadores. Por sua vez, essa tendência a radicalização impulsionava o Marreta a intensificar a luta na campanha salarial 2021.

Todavia, temendo novas paralisações, as entidades patronais retrocederam. A luta arrancou o reajuste maior de 7,59% que será incorporado no salário integralmente e será retroativo a data base que é primeiro de maio. Todas as outras cláusulas da pauta de reivindicações foram aprovadas. Exceto a do plano de obras públicas. Ficamos de marcar uma agenda com governo do estado, com o consórcio de prefeituras da Região Metropolitana de Recife e com a Associação Municipalista de Pernambuco (que aglutina todos as prefeituras das outras regiões além das prefeituras envolvidas no consórcio metropolitano) pra tratar da viabilidade da reativação das obras paralisadas e de articular o início do conjunto de outras obras.

Foi uma vitória econômica. Mas os trabalhadores estão plenamente conscientes que não há muito a comemorar diante da inflação disparada dos preços dolarizados, enquanto os salários continuam praticamente congelados. Essa política de salários, preços e lucros está nos alicerces do novo ciclo de enriquecimento dos patrões que tem Bolsonaro, Guedes e os militares como testas de ferro. É por isso que em 19 de junho a categoria vai a rua no dia nacional de mobilização contra esse governo criminoso.