segunda-feira, 31 de agosto de 2020

TROTSKY: EXÍLIO, IV INTERNACIONAL E DEFENSISMO REVOLUCIONÁRIO

Trotsky, Exílio, IV Internacional e o Defensismo Revolucionário 

Humberto Rodrigues


Última foto antes do assassinato, tirada em agosto de 1940

Trotsky foi o principal dirigente do Soviet da primeira revolução russa, em 1905. Foi o principal dirigente do Comitê Militar Revolucionário que realizou a bem sucedida tomada do poder pelo proletariado em outubro de 1917. É famoso o reconhecimento que:

“todo o trabalho de organização prática da insurreição foi conduzida sob a liderança imediata do presidente do Soviet de Petrogrado, que a passagem rápida da guarnição militar para o lado do Soviet e a execução audaciosa do trabalho revolucionário, o partido deve principalmente e acima de todos ao camarada Trotsky”. (J. Stalin, Pravda 241, 1918)

Trotsky foi quem construiu em tempo recorde e dos escombros o exército vermelho, o primeiro exército internacional socialista da história e que varreu uma coalizão imperialista de 14 países e venceu a guerra civil em 1921. Também é famosa a frase de Lenin, testemunhada por Maximo Gorki em defesa do papel de Trotsky nessa tarefa vital: “Mostre-me outro homem que organizaria quase um modelo de exército num único ano”. 

Trotsky dizia, que sem ele, a revolução poderia ter acontecido, mas não sem Lenin. Essa conclusão se deve a importância do partido no processo revolucionário russo, e a importância de Lenin na concepção do partido bolchevique. Isso é verdade, mas sem a concepção de revolução de Trotsky, desenvolvida desde 1905 e presente, pelo método permanentista, nas Teses de Abril de Lenin, e sem a presença física da direção política de Trotsky não haveria revolução nem triunfo da revolução, talvez o processo russo tivesse durado um pouco mais do que a Comuna de Paris. Não somente, meses, como a Comuna, mas talvez não suportasse a guerra civil.

Exílio

Pois bem, precisamente uma década depois que Trotsky organizou a tomada do poder para os Sovietes começa a expulsão de Trotsky do CC, do Partido e da União Soviética pela burocracia. É expulso do Partido Bolchevique, em novembro de 1927. Em 1928, foi exilado dentro da URSS na cidade de Alma-Ata, capital do Cazaquistão.

Em fevereiro de 1929, foi expulso da URSS para a Turquia, ficando até 1933 na Ilha de Prinkimpo, ou a ilha do Príncipe.

Desde então, os ideólogos oficiais se encarregaram de revisar violentamente, sem pudores a figura de Trotsky (falsificando fotos, apagando ele da história ou demonizando o quanto pudesse ser demonizado), fazendo-o aparecer como um traidor, um conspirador sem escrúpulos, um oportunista, para que nunca mais o dirigente da revolução fosse admirado em sua terra natal. A figura gigantesca de Trotsky precisava ser enterrada viva ou morta.

Os ideólogos de todos os governos, mesmo na Glasnost de Gorbachov (que em russo quer dizer transparência) Trotsky não é reabilitado. Mesmo, e principalmente depois da restauração capitalista com Yeltsin e Putin, Trotsky nunca deixou de ser caluniado pelos governos russos, haja vista a superprodução russa que foi ao ar na Netflix.

Trotsky era a expressão principal da revolução russa e por isso o inimigo número um da contrarrevolução política desencadeada pela burocracia que usurpou o poder soviético dos trabalhadores e do partido bolchevique, por dentro desse partido. O partido de Lenin deixou de existir por completo.

Para isso a repressão burocrática tornou-se de seletiva a massiva quanto maior era a crise do regime político e suas derrotas internacionais.

Em 1930, 300 oposicionistas foram presos só em Moscou. Entre 1936 a 1937, metade dos membros do partido, um milhão dos dois milhões de membros que o partido são alvo do terror. Os três processos judiciais públicos decorrentes, os “Processos de Moscou”, que se estenderam de 1936 a 1938, abalaram a opinião pública mundial, e foram acompanhados de uma repressão política em massa (Vadim Rogovin menciona 4 milhões de detidos e 800 mil fuzilados). Um terror sem precedentes na história moderna. O partido de Lenin e o CC bolchevique deixou de existir por completo.

A esse extermínio sangrento do bolchevismo e do comunismo revolucionário, neostalinistas como Domenico Losurdo e seus papagaios no Brasil justificam como sendo uma terceira guerra civil.

A principal acusação contra quase todos os acusados dos Processos de Moscou era a de que haviam feito acordos de colaboração com o nazismo. O líder da conspiração seria Trotsky, um agente do nazismo, do imperialismo, etc. que teria articulado sabotagens para debilitar a URSS e favorecer a invasão e ocupação da mesma pelos nazistas. Os Processo 3 foram: 1) 1936: O Caso do Centro Terrorista Trotskista-Zinovievista (o julgamento de Zinoviev-Kamenev ou "Julgamento dos 16"); 2) 1937: O Caso do Centro Trotskista Anti-Soviético (Julgamento de Pyatakov-Radek); e 3) 1938: O Caso do Bloco de Direitistas e Trotskistas anti-soviético (Julgamento de Bukharin-Rykov ou "Julgamento dos 21"). Poucos meses após o terceiro processo, foi Stalin quem fez um acordo com o Hitler, o Pacto Molotov–Ribbentrop, também conhecido como Pacto Nazi–Soviético, assinado em 23 de agosto de 1939. Acreditando no acordo, e apesar dos alertas realizados pelo próprio Trotsky e pela rede de espionagem soviética dentro do alto comando nazista, a Orquestra Vermelha, de Leopold Trepper, de que Hitler iria invadir a URSS, Stalin baixou a guarda, permitindo que Hitler invadisse, ocupasse e quase destruísse a URSS.

A repressão contra toda a oposição não foi um capricho. Foi uma reação necessária para a existência da burocracia, uma ofensiva de uma casta por esmagar um movimento potencial de insurreição política contra a degeneração da revolução. A maestria de Stalin nesse processo foi o de desencadear a repressão preventiva.

A luta de Trotsky, apesar de todo o isolamento que lhe foi imposto, foi sempre vista como uma ameaça contra a burocracia contrarrevolucionária, onde os PCs de todo mundo se tornaram agencias de emprego da burocracia.

Todos os contrarrevolucionários dentro do movimento operário repetem isso desde então, que "Stalin matou foi pouco".

Até recentemente, um medíocre, um lambe-botas da atual tecnocracia bilionária chinesa e membro do CC do PCdoB veio a repetir esse ódio antitrotskista, Elias Jabour disse que o erro de Stalin foi não ter matado Trotsky quando ele se encontrava ainda dentro da URSS. E nisso tem razão. Stalin se arrependeu amargamente por não ter matado Trotsky quando estava diretamente a seu alcance. A importância do contraponto a burocracia da pena de Trotsky só cresceu no exílio diante de cada nova traição da III Internacional a causa da revolução mundial.

Segundo Lilly Marcou, no livro “A vida privada de Stalin”, publicado em Roma, e portanto em italiano pela Editori Riuniti, em 1996, “se a decisão de matar Trotsky foi expressa em 1939, na mente de Stalin ela começou a amadurecer a partir de 1931, como testemunha um documento inédito dos arquivos daquele período. Em uma carta enviada ao Politburo, Trotsky aconselhava aos dirigentes soviéticos não se misturarem nas questões internas dos comunistas espanhóis, ou seja, ‘não lhes impor uma cisão vinda do exterior’. Furioso porque Trotsky ousava ainda dizer qual devia ser a conduta do partido, Stalin escreveu imediatamente: ‘Penso que Trotsky, esse despudorado falastrão menchevique, deveria ser eliminado. Assim aprenderá a ficar no seu lugar’”

Trotsky foi uma imensa pedra no sapato de Stalin. Em 1928, ele escreveu a III Internacional depois de Lenin. Em 1930 ele escreveu sua autobiografia “minha Vida” e a História da Revolução Russa (já debatido nesse seminário On line). Em 1931, A revolução Permanente. Entre 31 e 33, escreveu um conjunto de textos que descrevem e apontam como combater o fascismo de forma magistral e estão reunidos sobretudo em “Revolução e Contrarrevolução na Alemanha”. Em 1932, Problemas da Revolução Chinesa. 1933: É necessário construir partidos comunistas e uma nova internacional. 1934: Um Programa de Ação para a França. 1934: Guerra e a Quarta Internacional. 1936: A revolução Traída. 1936 também Aonde vai a França? 1937: É hora de lançar uma ofensiva mundial contra o stalinismo. Em 1938, o Programa de Transição e A moral deles e a Nossa. Algumas obras publicadas posteriormente, mas escritas por volta de 1940 foram, em 1942: Em defesa do marxismo (coleção de artigos, cartas) e “Fascismo” foi um panfleto publicado pela primeira vez em 1944.

Stalin realizava uma caçada policialesca contra Trotsky mas era Trotsky e seu espectro quem politicamente aterrorizava Stalin.

Na China, Trotsky criticou duramente a política de Stalin do bloco de quatro classes, a subordinação do Partido Comunista ao partido burguês nacionalista Kuomintang. Isso resultou para Stalin uma profunda desmoralização. Stalin apoiou do líder do Kuomitang, Chan Kai Cheq e logo o dirigente nacionalista massacrou os operários comunistas em Cantão e Xangai. Isso foi que Trotsky chamou de “triunfo da contra-revolução burguesa” na China. Essa foi uma política de aborto da revolução chinesa desde 1926 até 1949, quando os comunistas chineses deixaram de seguir essa orientação colaboracionista para sobreviver.

Na Alemanha, o sectarismo do PC alemão, o maior partido comunista do ocidente, orientado pela III Internacional stalinizada, foi avesso a frente única entre o PC e a social democracia alemã que contivesse a ascensão de Hitler. Primeiro o PC alemão, em seguida a URSS quase são extintas por essa política. Depois desse giro sectário, iniciado em 1927, para cobrir o flanco esquerdo do stalinismo quando expulsou Trotsky, incorporando burocraticamente muitas propostas da oposição, depois da ascensão de Hitler, o stalinismo deu início ao giro oportunista.

Na Espanha e França, em vez de se opor a frente única proletária como havia feito na Alemanha, impulsionou a política de frente até com a burguesia, em uma política de colaboração de classe que batizou de Frente Popular. Essa política liquidou com os processos revolucionários nesses dois países.

Em vários outros momentos a crítica de Trotsky desmontava a política de Stalin, na colaboração do Stalinismo com o esmagamento militar da revolução espanhola; na crença estúpida de Stalin de que Hitler iria honrar o pacto de não agressão e não iria invadir a URSS. Hitler invadiu a URSS e realizou a campanha mais sangrenta da II Guerra Mundial, só revertida pelo heroísmo do povo soviético que varreu de volta as tropas nazistas até cercar Hitler.

Em todas essas traições estava lá Trotsky criticando a orientação contrarrevolucionária e comprovando que Stalin era um grande organizador de derrotas mesmo. Por toda essa autoridade moral ampliada por Trotsky, talvez só deva ter dormido em paz no dia 21 de agosto de 1940.

Da expulsão em 1927 ao assassinato em 1940 foram 13 anos de perseguição implacável, executando um a um todos os seus colaboradores, familiares até chegar ao próprio Trotsky. Trotsky tinha que pagar pela “execução audaciosa” da revolução, aqui, obviamente eu não me refiro mais tão somente ao momento da tomada do poder e a expressão de Stalin, mas já a luta principista de Trotsky pela continuidade nacional e internacional da revolução soviética. E depois de tudo que os demais camaradas dessa transmissão já falaram e de tudo que eu recapitulei aqui, a importância de Trotsky em seus 13 últimos anos de vida não foi menor. Segundo ele próprio, sua principal tarefa na luta de classes teria sido a desse período em que ele foi um refugiado em 4 nações e três continentes distintos, uma vez que a ilha de Buyukada, perto de Istambul, capital da Turquia, fica no mar de Marmara, que separa a parte asiática da parte europeia da Turquia.

Então, entre 1929 e 1933 viveu na ilha de Büyükada, na Turquia, de 1933 a 1936 na França, parte de 1936 na Noruega, depois no México até seu assassinato em 1940 pelo agente stalinista, Ramon Mercader.

Durante seu exílio, Stalin desencadeou a perseguição internacional aos parentes de Trotsky: sua filha Zinaida Volkova cometeu suicídio em Berlim e seu marido desapareceu; sua primeira esposa, Alexandra, a que ganhou Trotsky para o marxismo na juventude, foi executada por volta de 1938, foi enviada para um campo de concentração; seu filho Sergei, sem atividade política, foi preso sob a acusação de envenenamento em 1937 e morreu na prisão; Seu principal herdeiro político, braço direito de Trotsky e principal dirigente da IV Internacional na Europa, Lev Sedov , foi assassinado por agentes de Stalin em uma operação médica na França em 1938; sua irmã Olga Kameneva, esposa de Lev Kamenev acabou por ser pelotão de fuzilamento em 1941, enquanto seus dois filhos, sobrinhos de Trostky e filhos de Kamenev foram executados nos processos de 1936.

A criação da quarta internacional

Apesar das traições do stalinismo, na URSS, na China, etc., Trotsky se opunha a construção de uma nova Internacional contra a política da III Internacional ou Internacional Comunista. No século XX o comunismo adquiriu uma força inédita na luta de classes. Mas, apesar dessa imensa força, a III Internacional foi incapaz de impedir o crescimento de um fenômeno político que foi fabricado pelo capital para esmagar o comunismo, o nazi-fascismo. Apesar de ter se oposto na década anterior à formação de uma nova associação de partidos comunistas rivais do Comintern, a chegada do governo de Hitler e seu rápido desmantelamento dos partidos de esquerda e dos sindicatos, foi para Trotsky a grande derrota do proletariado mundial. Isso o convenceu da necessidade de criação de uma Quarta Internacional.

O trotskismo fundou Ligas, Organizações e partidos comunistas alternativos aos Partidos Comunistas stalinizados foram criados na maioria dos países, mas com poucos seguidores. Criticadas, às vezes as formações mal reuniam alguns ativistas, muitas vezes intelectuais sem ligação com o movimento operário e muitas vezes divididos em diferentes correntes apesar de seu pequeno tamanho. Como gosta de repetir meu camarada Mario Maestri, repetindo Trotsky, ninguém é premiado por prognosticar derrotas.

Em 1934 Trotsky colocava em termos claros as conclusões que ele chegou acerca da falência da 3ª Internacional diante do ascenso do nazismo:

“O proletariado tem necessidade de uma Internacional em todos os tempos e sob todas as circunstancias. Se não existe agora uma Internacional, é necessário dize-lo abertamente e pôr-se de imediato a prepará-la"

Isso era necessário ser feito mas foi feito nos piores tempos e circunstâncias, sob as piores derrotas do proletariado mundial em toda a sua história, esmagado pelo nazi-fascismo no Ocidente atomizado pelo stalinismo no pais da primeira revolução vitoriosa, entre duas crises econômicas mundiais, de 1929 e 1937, e frente ao horizonte certeiro de uma nova carnificina mundial, tornada inevitável após as derrotas do proletariado espanhol e francês, já em curso com a invasão da China pelo Japão e com a eminência do pacto Hitler-Stálin, prognosticado por Trotsky como a consequência inevitável dos Acordos de Munique de 1938 entre o nazi-fascismo e as democracias ocidentais.

A 3ª internacional, ou Internacional Comunista foi a expressão mais elevada da fusão do marxismo revolucionário com a vanguarda operária mundial até o dia de hoje. A crise e a bancarrota da 3ª internacional foi um produto do retrocesso da revolução provocado pela traição da social-democracia, pela burocratização do primeiro Estado Operário que foi uma consequência desse retrocesso, e pela derrota da corrente revolucionária encabeçada por Trotsky. A bancarrota da III Internacional inicia-se com a traição da revolução chinesa de 1927-28, toma forma com a claudicação criminosa do PC alemão em 1932-34 e se consolida com a aliança entre a burocracia stalinista e a aristocracia operária europeia, a social democracia, sombra e coadjuvante da burguesia imperialista europeia, com quem constituiu as frentes populares e a cristalização do reformismo e do etapismo dos PCs.

O Defensismo revolucionário

Mas nesse processo de combate ao stalinismo, Trotsky viu nascer no interior da IV Internacional, uma tendência a stalinofobia, um sectarismo contra a União Soviética, em virtude do ódio ao stalinismo e a renúncia a defender as nações oprimidas frente ao imperialismo.

Não foi por acaso que Trotsky introduziu em 1938 no Programa de Transição, o programa de fundação da IV Internacional, a observação preventiva de que:

“Se uma tendência simpática ao fascismo no interior da burocracia, representada na época pelo diplomata stalinista “Butenko”, tentasse a conquista do poder, a facção revolucionária, representada por “Ignace Reiss” inevitavelmente se alinharia no lado oposto das barricadas. Embora fosse temporariamente aliado de Stalin, não defenderia, no entanto, a camarilha bonapartista, mas a base social da URSS, ou seja, a propriedade arrancada dos capitalistas e transformada em propriedade do Estado. Caso a “facção de Butenko” se mostre aliada a Hitler, a “facção de Reiss” defenderá a URSS da intervenção militar, tanto dentro do país como na arena mundial. Qualquer outro curso seria uma traição.”

Os trotskistas, inclusive o fundador do trotskismo no Brasil, Mário Pedrosa, perderam o senso das proporções e o stalinismo, e as ditaduras em geral se tornaram o inimigo principal, não mais a burguesia, não mais o imperialismo. Então, basta que a opinião pública imperialista demonize um governo que o imperialismo quer derrubar como sendo uma ditadura despótica e corrupta, e patrocine manifestações populares de direita como as realizadas no Brasil, em 2016, na Bolívia, em 2019, no Líbano e na Bielorússia, em 2020, e todos os auto-proclamados trotskistas vão lá se somar a essa campanha midiática imperialista com frases esquerdistas e revolucionárias. É uma vergonha.

Por esse tipo de política pró-imperialista o trotskismo nunca vai poder ganhar hegemonia na luta de emancipação nacional antiimperialistas, nunca vai poder desmascarar os limites do nacionalismo burguês, superar esses limites e organizar a tomada do poder contra o imperialismo e a burguesia nacional, como vários partidos ou exércitos stalinistas e nacionalistas conseguiram, apesar de terem programas reformistas, não revolucionários. Em situações em que a frente popular implode pela negativa da burguesia em manter a aliança com as direções pequeno burguesas, nacionalistas, stalinistas e social democratas, a então frente de colaboração de classe se converte em frente única anti-imperialista ou frente única operária e ocorreram revoluções sociais, como na Iugoslávia, na China, em Cuba.

Os partidos "trotskistas" de hoje tem concepções ideológicas muito mais próximas do liberalismo democratizante, do anti-totalitarismo de Hannah Arent ou da teoria dos dois demônios do Ernesto Sabato, do que na luta anti-imperialista e anticapitalista pela tomada do poder e pela ditadura revolucionária dos trabalhadores de Leon Trotsky, Lenin ou Marx. Por isso todas essas IV Internacionais que tem por aí enterraram a IV Internacional e a transformaram em uma caixa de ressonância do imperialismo e suas campanhas de guerra híbrida, lawfare, revolução colorida.

A tendência stalinofóbica do IV Internacional nasceu principalmente em sua seção mais importante, o Socialist Workers Party, Partido Socialista dos Trabalhadores, dos EUA.

Essa polêmica no interior do SWP dos EUA, é emblemática. Trotsky reivindica a construção de um partido de quadros operários armados com o método da dialética materialista contra um trotskismo pequeno burguês doutrinário que se opõe a defesa dos Estados operários, no caso a URSS, das nações oprimidas contra o imperialismo, dos sindicatos contra a reação fascista. Trotsky e Cannon, dirigente da IV ao lado de Trotsky chamavam a fração pequeno burguesa do SWP de câncer pequeno burguesa, antidefensista, venceram e expeliram aquela tendência minoritária naquela época. Mas, essas concepções que representavam uma tendência minoritária na época de Trotsky, nos anos 30, se tornaram uma fração hegemónica em todo o trotskismo hoje, o que liquidou a IV Internacional. Agora, nenhuma tendência tem coragem de defender Cuba ou a Coréia do Norte do imperialismo, nem o que há de herança revolucionária na China ou no Vietnã, que possibilitaram esses países se livrarem da pandemia melhor do que qualquer sistema de saúde dos países de história exclusivamente capitalista.

No dia 25 de abril de 1940, poucos meses antes de ser assassinado dizia Trotsky: o dever dos revolucionários é defender toda conquista da classe trabalhadora, ainda que tenha sido desfigurada pela pressão de forças hostis. Aqueles que são incapazes de defender as posições tomadas, nunca conquistarão outras novas.