segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

CEDS: EUROPA, OTAN, RÚSSIA, EUA E BRASIL

Europa, OTAN, Rússia, Trump e Golpe no Brasil, segundo o Centro de Estudos e Debates Socialistas - CEDS

Publicamos abaixo trechos dos documentos: Debate Socialista Nº 28 e 34 - de dezembro de 2015 e dezembro de 2016. Essa é uma publicação do CEDS - Centro de Estudos e Debates Socialistas. Apesar de algumas diferenças, compartimos de muitas posições dos camaradas que como a Folha do Trabalhador estiveram entre os primeiros agrupamentos militantes do Brasil a denunciar o Golpe de Estado em curso e que dentro da direção da CSP-Conlutas, deram um combate principista ao reacionário "Fora Todos!"

CONJUNTURA INTERNACIONAL

A luta de classes na Europa

                As novas organizações de esquerda surgidas na Europa, como o Syrisa na Grécia e o Podemos na Espanha, refletem a disposição de luta das massas e ganharam com isso apoio popular em eleições. O partido Syrisa, vitorioso nas eleições de janeiro de 2015, elegeu Alexis Tsipras como 1º Ministro. O referendo popular por ele chamado reiterou a rejeição popular às medidas que impõem um maior sofrimento ao povo grego. Mas, Tsipras voltou as costas para os votos recebidos e dobrou-se às exigências imperialistas do FMI e da União Européia.

                A ideologia dessas novas correntes de esquerda, mantém-se dentro dos marcos do reformismo e da política de colaboração de classes, servindo como barreira de contenção das massas. Proclamam-se anti-capitalistas, mas não o conseguem ser. Não resistem ao imperialismo e muito menos farão a revolução socialista. Essas novas vanguardas representam um elemento importante para compreender a crise de direção revolucionária existente em nível mundial, o limite subjetivo que impede que o proletariado possa tomar a iniciativa política na luta de classes.

                Em meio à crise econômica e na ausência de uma direção revolucionária, a  extrema direita encontra espaço para avançar na Grécia, França, Espanha e Ucrânia, país onde tomou uma forma nazista. Esse crescimento da extrema direita é uma consequência do desemprego, inflação, retirada de conquistas sociais, carestia e desabastecimento. Foi assim na Grande Depressão, de 1929 a 1939, quando a classe operária esteve na defensiva ante a reação burguesa, o momento histórico de ascensão do fascismo e do nazismo. 

                O movimento dos trabalhadores europeus, embora na defensiva, tem lutado contra o desemprego e à perda de direitos. Foi a resistência dos trabalhadores portugueses contra as medidas anti-populares do governo da direita, que explica a vitória alcançada pelo Partido Socialista Português, que logrou a nomeação do 1º ministro, apoiado pelo Partido Comunista Português e pelo Bloco de Esquerda, onde participa a organização portuguesa do Secretariado Unificado da Quarta Internacional. 

A ofensiva da OTAN

                A OTAN e o imperialismo alemão fizeram em 2014, uma tentativa de avançar sobre a Ucrânia, respaldando a forte extrema direita desse país, e ainda não desistiram desse intento expansionista para o leste. Essa ofensiva, que tinha por objetivo conter o crescimento econômico da Rússia e avançar sobre os mercados da Ásia Central, acabou detida, pelo menos por enquanto, pelo surgimento das repúblicas populares separatistas de Donetsk e Lugansk, localizadas na região industrial do Leste da Ucrânia e com ampla maioria de população russa.

                O respaldo da Rússia à autonomia da região leste da Ucrânia e a anexação da Criméia, uma província que historicamente faz parte da Rússia, contando com uma expressiva maioria de russos, cumpre um papel progressista. Foi detida a expansão da OTAN, o braço do imperialismo por excelência, que já está instalado em quase todos os países do Leste Europeu, e agora pretende também se estabelecer na Ucrânia, um país que fez parte da antiga União Soviética, localizado na fronteira da atual Rússia.

A Rússia é um país imperialista?

                Algumas organizações trotskistas afirmam que a URSS era um país de capitalismo de estado, desde antes de sua queda em 1991. Nós nos mantivemos na linha definida por Leon Trotsky, de caracterizar a URSS como um estado operário degenerado, e o fizemos assim até o início do período de Ieltsin. Hoje, a Rússia é um estado capitalista plenamente configurado, mas é preciso ter cuidado em caracterizá-la como um país imperialista, porque isso significa igualá-la ao imperialismo norte-americano e europeu, que cumpre um papel agressor no mundo inteiro.

                No mundo de hoje não existe uma realidade de choque entre imperialismos. A apologia que vem sendo feita nos meios de comunicação sobre um retorno da "guerra fria" representa uma estratégia do imperialismo norte-americano para isolar a Rússia, e também a China, e fortalecer ideologicamente os seus interesses.

                Não se deve confundir certas características da Rússia, como a importância do seu parque industrial, e o seu arsenal militar, que continua poderoso e inclusive se revigora, como manifestações de uma política imperialista.

                A intervenção da Rússia na Síria, que pôs um limite aos bombardeios dos EUA e da OTAN contra o governo de Bashar Al Assad e os recentes ataques aéreos russos contra o E.I. e outros grupos armados da Síria, são demonstrações militares do nacionalismo russo, cioso de conservar a sua posição no Oriente Médio.

                Uma parte da burguesia russa está identificada com esse nacionalismo e com a  política internacional do Governo Putin, que expressa os seus interesses de classe. A GAZPROM é o maior exemplo dessa associação. Mantida majoritariamente por capital estatal, é a maior empresa da Rússia e a maior exportadora de gás natural do mundo,  principalmente para a Europa. O nacionalismo russo, herdeiro do tzarismo e do estado soviético presidido por Stalin, é hoje a única resistência que está sendo oposta ao avanço do imperialismo em direção ao leste europeu e à Ucrânia, desempenhando dessa forma um papel progressivo. Frente às ameaças expansionistas da OTAN e do imperialismo, a Rússia precisa ser apoiada incondicionalmente pelos revolucionários.

                A Rússia, assim como os outros integrantes dos BRICS, é um país de capitalismo atrasado e semi-colonial. É a isso que foi reduzida a ex-URSS. Se não for essa a caracterização, estaremos por analogia reforçando a tese equivocada de que o Brasil é um país sub-imperialista ou imperialista, baseada nas relações econômicas mantidas pela sua burguesia com determinadas regiões do Paraguai e da Bolívia.

                Embora industrializado, com um grande mercado interno e considerado como a 9ª economia mundial, o Brasil ainda assim é um país semi-colonial, porque o seu crescimento econômico tem mais a ver com a expansão do capital financeiro e industrial internacional, ao qual está submetido em larga medida.

                Caracterizar o Brasil como um país imperialista ou sub-imperialista é um grande equívoco político, porque retira responsabilidade do imperialismo norte-americano pela exploração e opressão, que pratica em toda a América Latina.

A situação do Oriente Médio e África do Norte

                As intervenções militares do imperialismo no Oriente Médio e na África do Norte não cessaram com a crise econômica. Pelo contrário, o imperialismo tomou novas iniciativas que beneficiam a indústria armamentista, uma prova de como as guerras são orgânicas para o capitalismo. Garantir o controle sobre o petróleo e proteger o Estado de Israel, continuam sendo as prioridades dos EUA e da OTAN no Oriente Médio.

                O imperialismo norte-americano continua mantendo integralmente a sua capacidade de ação militar, com as suas bases navais, aéreas e de forças terrestres em todos os continentes. Agora, além do Afeganistão e Iraque, as intervenções militares estenderam-se para a Síria, apoiando os rebeldes que lutam contra o governo de Bashar Al Assad, desrespeitando mais uma vez o direito de autodeterminação dos povos, destruindo a estrutura do país, massacrando a população e pauperizando as suas condições de vida.

                As intervenções dos EUA estão cada vez mais baseadas em atentados cometidos por mísseis e "drones" não tripulados, lançados contra os seus inimigos, mas que costumam também atingir indiscriminadamente a população. Os "drones" minimizam as perdas de soldados, um fator que costuma repercutir fortemente na opinião pública dos EUA, jogando-a contra as guerras.

                A trágica situação dos refugiados do Oriente Médio e África diz respeito a essas intervenções militares. Os povos que migram em massa para a Europa, por terra e mar, nas mais difíceis condições, e com uma grande perda de vidas na travessia do Mediterrâneo, caracterizam um genocídio, cuja responsabilidade deve ser atribuída à exploração econômica e às agressões do imperialismo norte americano e europeu.

                A tão falada "Primavera Árabe", se é que existiu com essa perspectiva tão otimista, passou de forma rápida pelo norte da África e pelo Oriente Médio, e o quadro político que deixou, do ponto de vista dos trabalhadores, é pior do que o anterior.

                Ditaduras como a egípcia e a saudita continuam no poder, cada vez mais fortes e agressivas contra seus próprios povos. Os reizinhos da Península Arábica seguem exercendo um papel reacionário em todo o Oriente Médio, financiando a direita religiosa sunita e cumprindo um papel de polícia na região, como o fizeram nos recentes ataques aéreos ao Yemen.

                Países como o Iraque e a Líbia, e agora a Síria, foram destruídos e desintegrados  pela ação militar do imperialismo e pelas guerras de extermínio que se sucederam. O estado laico retroagiu em toda a parte, sendo oprimido pelo fundamentalismo religioso.

                Na Síria, o apoio militar norte-americano e europeu que é dado a várias das organizações rebeldes que lutam contra o regime ditatorial de Bashar Al Assad, como por exemplo o ELS/Exército Livre da Síria, braço militar da Coalizão Nacional Síria, desmascara de forma profunda os objetivos dessas forças políticas. É preciso lembrar que o imperialismo, com o objetivo de derrubar Assad, já apoiou a Frente Al Nusra, ligada a Al Kaida e o E.I. na Síria, organizações que hoje se confrontam com o ELS.

                O enclave imperialista no Oriente Médio, que é Israel, teve a sua defesa militar e estabilidade política favorecida pela destruição econômica, social e política dos países árabes que estão nas suas fronteiras.

                Um segmento dos trabalhadores árabes continua lutando por melhores condições de vida, liberdades democráticas, estado laico e pelos direitos das mulheres, mas está ocorrendo o retrocesso causado pelo fundamentalismo islâmico, que ocupa um espaço cada vez maior no Oriente Médio e na África do Norte, e cumpre o papel reacionário de deter o movimento operário. É preciso respaldar todas as iniciativas do movimento operário árabe, que apontem para a organização independente.


                O que existe de progressivo na atual conjuntura do Oriente Médio é a luta heroica dos palestinos contra a opressão de Israel e a revolução do povo curdo em andamento na Turquia, Síria e Iraque, em busca de um estado nacional.

Os EUA passou a ter um governo fascista?

            O Governo resultante da eleição de Trump, não é fascista e continuará sendo regido pela democracia burguesa, não podendo ser comparado ao governo de Hitler que, quando assumiu o poder em 1933, suprimiu de imediato toda a organização política, sindical e social da classe trabalhadora alemã, e estabeleceu o Partido Nazista como partido único.

            Trump não fará isso, e nem poderia fazê-lo se quisesse. Vai atacar os movimentos sindicais e sociais, mas não demonstrou possuir a força necessária para acabar com eles, ou mesmo para derrotá-los.

            No entanto, Trump representa uma ameaça real aos trabalhadores. Fez uma campanha de extrema direita e está aliado a organizações nazistas.

O vínculo com nazistas

            Em 19 de novembro, o Movimento "Alt Right" de ultra direita, que o apoiou na eleição,  comemorou o resultado eleitoral em uma reunião pública, onde muitos dos presentes fizeram a saudação nazista com o braço direito esticado.

            O Assessor de Assuntos Estratégicos, Steve Bannon, já indicado para nomeação por Trump, é relacionado como participante desse movimento. É também Presidente Executivo do site "Breitbart News, associado ao racismo, antifeminismo, islamofobia e homofobia. Steve não está sozinho. Existem outros direitistas extremados na equipe de Trump.

O programa de Trump é de extrema direita

            Trump é racista, homofóbico, machista e xenófobo, como é toda a extrema direita de hoje, no mundo inteiro. A projeção dessa política reacionária aponta em direção ao nazismo, que foi muito mais longe, praticando o genocídio dos judeus, eslavos e negros.

            O novo governante é inimigo do México, país a quem desrespeitou, quando disse que ia fazer o muro na fronteira, que aliás já existe, sob a forma de uma cerca alta, e mandaria a conta para o país vizinho. Deve ter se inspirado no "Big Stik" (Grande Cacete), a política de intervenções militares na América Latina do Presidente Theodore Roosevelt, governante de 1901 a 1909.  

            Trump reduziu de 11 milhões para 2 ou 3 milhões, o número de imigrantes mexicanos que ameaça expulsar do país, mas ainda assim deixa clara a sua intenção de perseguir os estrangeiros e responsabilizá-los pelo desemprego nos EUA. Quer impedir a remessa de dólares dos imigrantes para os seus parentes no México, e provavelmente fará o mesmo com os imigrantes cubanos. Também prometeu barrar os imigrantes originados do mundo árabe.

            Trump é um declarado inimigo dos direitos das mulheres e dos LGBTs. Mas, as possibilidades de uma política antifeminista e homofóbica avançar são muito limitadas, porque está na contramão dos avanços sociais ocorridos nos EUA. Basta dizer que, na mesma eleição onde ele foi eleito Presidente, foi eleita a primeira governadora LGBT, bissexual assumida, no Oregon.         

            Para os setores de mais baixa renda, Trump é uma ameaça muito grande, porque vai investir radicalmente contra os benefícios para a saúde representados pelo "Obama Care".

            A política de Trump não significa uma reação às elites como chegaram a dizer muitos jornalistas, e sim um governo direitista e anti-popular. Os protestos de rua posteriores à eleição, foram as primeiras manifestações da resistência popular, que deverão se repetir por ocasião da posse do novo Presidente e prometem ser uma constante durante o seu governo.       

            Porém, é preciso cuidar para não sair em defesa da democracia burguesa de Hillary Clinton, como uma alternativa com valor em si, para os trabalhadores.

As elites perderam a eleição norte americana?

            Marine Le Pen, dirigente da organização de extrema direita francesa, Frente Nacional, ao saudar a vitória de Trump, disse que foi "uma vitória do povo contra as elites". Esse foi o discurso do nazismo alemão nos anos 30, dirigido contra os "trustes capitalistas da Europa, EUA e judeus", o que não impediu que o estado nazista pagasse regularmente os royalties devidos pela Ford alemã para Henry Ford, depositados em bancos suiços, demonstrando que o compromisso com o capitalismo era mais forte que a guerra imperialista.

            Não existe anteposição de Trump com as elites. Como populista que é, buscou o apoio dos desempregados, mas daí a dizer que o voto nele foi contra a elite, vai uma distância muito grande. Bastará ver para quem ele entregará os principais cargos de seu governo. Jamie Dimon, Presidente do J.P.Morgan, foi cogitado para ocupar o cargo de Secretário do Tesouro. Wilbur Ross, bilionário e investidor, foi escolhido para a Secretaria do Comércio. Trump não pensou em destinar cargos de sua equipe para algum desempregado de Detroit, cidade símbolo da crise econômica do país.

Política internacional

            O candidato Trump disse na sua campanha eleitoral que vai buscar o equilíbrio mundial entre os EUA e a Rússia. Mas, isso não será possível, porque essa política contrariaria em grande profundidade os interesses do capital financeiro e industrial dos EUA e da Europa.

            A Rússia está com uma posição militar consolidada na Síria, e não sairá de lá. Por sua vez, Trump não deixaria esse país sob a influência da Rússia, porque estaria criada então uma ameaça para a Arábia Saudita, o principal aliado dos EUA no Oriente Médio, e por onde passam os interesses imperialistas no petróleo. Uma concessão de Trump representaria também o fortalecimento do Irã, o principal inimigo da Arábia Saudita. Não é possível construir um equilíbrio entre EUA e Rússia no Oriente Medio. O conflito tenderá a se acentuar.

            Outra impossibilidade para Trump seria abrir mão das áreas da Ucrânia, que foram incorporadas com legitimidade pela Rússia, no caso da Criméia, de fato território russo, ou colocadas sob a sua influência, como a região do Donbass, porque isso contraria o expansionismo do imperialismo alemão na região e a corrida militar da OTAN.

            A política internacional de Trump continuará sendo orientada pelos interesses do capital financeiro e industrial norte-americano e europeu. O mundo continuará tensionado pelo conflito entre EUA e OTAN de um lado, e Rússia e China, de outro, motivando uma perigosa intensificação da corrida armamentista já existente. Sabemos o que isso pode significar em um período de crise econômica internacional, bastando para entender, lembrar o cenário internacional que precedeu a 2ª Guerra Mundial.

Outras medidas internacionais propostas por Trump

> Retirada dos EUA do acordo climático de Paris e cancelamento de financiamento para projetos dessa área. Scott Pruitt escolhido para a Agência de Proteção Ambiental, é favorável a flexibilização da legislação referente à proteção do ambiente e ao aquecimento global.
> Anular os passos que foram dados por Obama para por fim às sanções contra Cuba.
> Apoio à Israel, reconhecendo Jerusalém como capital e recusando o acordo nuclear com o Irã.
> Guerra comercial com a China, país a quem chamou de "inimiga da América" (É impressionante como os norte-americanos tem a pretensão de serem eles, exclusivamente, a América). Essa agressividade de Trump com a China é outro elemento grave de instabilidade futura. Será a continuidade do que já vem sendo feito por Obama nas disputas na região do Mar da China.
> Retirada do apoio nuclear à OTAN, Coréia do Sul e Japão, e mensagem a esses dois últimos para que construam o seu próprio arsenal nuclear. Na verdade, essa é uma brecha que seria aberta para a indústria de armas nucleares dos EUA vender tecnologia para esses países.
> Retirada dos EUA do Acordo Transpacífico, obra de Obama em 2015, que engloba 12 países da Ásia e América, localizados em torno do Oceano Pacífico.

A vitória de Trump reforça a extrema direita mundial

            A vitória de Trump na eleição dos EUA tem um significado internacional preocupante para os trabalhadores. Faz parte do ascenso da extrema direita que se verifica em nível mundial desde muitos anos, e o impulsionará mais ainda, principalmente na Europa, e mais exatamente na França, Alemanha e Ucrânia. Resta saber qual a resistência organizada que os trabalhadores poderão opor a esse avanço da direita.   
            O Governo de Trump reforçará também a tendência direitista que já se verifica na própria conjuntura brasileira, desde antes do golpe parlamentar de 17/4/2016, que depôs a Presidente Dilma. No momento presente, mostram-se cada vez mais audaciosos nas manifestações de rua, ações anticomunistas, pró-golpe militar e contra os direitos dos trabalhadores.

            A classe operária e os trabalhadores precisarão enfrentar nas ruas essa extrema direita.
CONJUNTURA NACIONAL

Encontrar a saída de um período desfavorável para os trabalhadores

            O processo do golpe de estado parlamentar que derrubou o Governo Dilma, passou a iniciativa política na luta de classes do Brasil para a burguesia e a direita.

            Essa mudança na conjuntura abriu um período agudo de arrocho salarial, reformas da Previdência e Trabalhista, privatizações, corte de verbas e demissões no serviço público, entrega da Petrobrás e do Pré-sal.

            As liberdades democráticas estão sendo atacadas. O melhor exemplo no campo político é a restrição ao funcionamento dos partidos pequenos e de esquerda, mais exatamente a tentativa parlamentar de impedir o crescimento do PSOL.

            No campo sindical, o estado burguês restringe o direito de greve, a partir da decisão do STF, que autoriza o desconto imediato dos salários dos grevistas, a partir do 1º dia de greve. Muitos  militantes que se manifestam nas ruas estão sendo presos e criminalizados. No Rio Grande do Sul, o Governo do Estado pretende restringir o direito de organização sindical através de uma lei que corta o recebimento dos salários para os liberados para as diretorias dos sindicatos.

            O Governo Temer está enfraquecido pela crise que abala seu governo, com muitos de seus ministros e ele próprio, envolvidos em corrupção, rebaixando drasticamente a sua aprovação popular, que nunca foi alta.

            A burguesia, no entanto, vai resistir o quanto puder para depor Temer, pelo risco que isso representaria de abrir uma nova e profunda crise institucional. É grande a expectativa da burguesia em fazer as Reformas da Previdência e Trabalhista ainda esse ano, aproveitando que o proletariado não está mobilizado de forma a poder resistir à ofensiva desencadeada contra ele. Embora algumas categorias de trabalhadores tenham algum grau de mobilização, notadamente alguns setores dos servidores públicos, as fábricas estão em silêncio.

            As mobilizações de rua que ocorrem em todo o Brasil, contra as reformas, não abalam em nada o Congresso Nacional, que blindado pela polícia e sob o controle completo dos reacionários, vai votando pacote atrás de pacote contra os interesses dos trabalhadores. Quando aprovaram em 1º turno, a PEC 55 que congela por 20 anos os gastos governamentais, os senadores não se preocuparam em serem vistos confraternizando em um coquetel comemorativo, através das janelas, pelos manifestantes que protestavam e sofriam dura repressão policial na área próxima ao Congresso.   

            A CUT é quem lidera as manifestações de rua e é o único setor com visibilidade na grande imprensa, pelo menos no Rio Grande do Sul, onde a CSP/CONLUTAS não desempenha um papel expressivo nas lutas sindicais. É o que dizemos desde mais tempo: O PT vai se desconstituindo e perdendo parlamentares, depois de esmagado nas eleições municipais, mas a CUT se mantém como aparelho burocrático e de colaboração de classes.

            No Brasil não existe uma organização independente dos trabalhadores, tanto no campo partidário como sindical, que possa ser comparada com a existente na Argentina, onde a maioria das grandes organizações políticas estão articuladas na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores. De positivo para o movimento dos trabalhadores brasileiro, é que ainda não sofreu uma derrota de porte tal, que o inviabilizasse.

            Propor as palavras de ordem Eleições Gerais e Assembleia Nacional Constituinte, nesse momento, com Temer no governo, significaria reproduzir eleitoralmente a correlação de forças hoje existente entre as classes sociais no Brasil, onde é ampla a vantagem da burguesia e da direita, e com isso legitimá-las no poder.

            Mas, mesmo considerando essa avaliação da correlação de forças desfavorável para os trabalhadores, somos favoráveis a abrir a discussão das propostas de eleições gerais e Assembleia Nacional Constituinte na base do movimento dos trabalhadores, para ver como poderiam ser agitadas na hipótese de uma crise institucional do regime, que poderia advir da queda de Temer, ou mesmo de um aguçamento da atual crise política do governo. A ocorrência de uma dessas duas situações poderia abrir espaço para uma intervenção incisiva do movimento operário.

O avanço da direita no Brasil

            A força crescente da extrema direita, é um elemento novo da conjuntura nacional, surgido no momento posterior às manifestações populares de 2013, e que precisará ser enfrentado pelos partidos de esquerda e movimentos populares e sociais.

            O MBL/Movimento Brasil Livre, de inspiração de extrema direita e fascista, que abriga o que tem de mais reacionário no Brasil vai crescendo em aparelho, abrigado nas legendas do PSDB, PP, Novo e outros partidos, contando com muitos parlamentares em todo o país.

            A extrema direita potencializa a ofensiva burguesa contra os trabalhadores, mas a burguesia não a tem sob controle, bastando ver o episódio em que um grupo de 50 fascistas do MBL invadiu o Senado em 16 de novembro, pedindo a volta da ditadura militar.

Avaliação das lutas de novembro

            Mais uma vez, como já havia sido em 24/10 e em 11/11, o ato público de 25/11, em Porto Alegre, alcançou um número significativo, em torno de 10 mil manifestantes. Mas foi um pouco menor do que o anterior, que beirou os 15 mil. Nessa primeira semana de dezembro não ocorreu nenhuma manifestação. Vamos ver como será o ato de 13 de dezembro, contra a PEC 55 e o pacote de Sartori, que golpeia o serviço e os servidores públicos do Rio Grande do Sul.

            O ato público de 25/11, terminou da mesma forma como os anteriores, com pequenos grupos de mascarados depredando e incendiando containeres de lixo, quebrando vidraças de hotéis e prédios públicos, dando desculpa para os ataques da Brigada Militar com bombas e gás dirigidos a todos os manifestantes, e fortalecendo a política repressiva do Governo Sartori e do seu Secretário de Segurança Schirmer.

            Reproduziu-se agora, novamente, aquilo que marcou a passagem de 2013 para 2014. Os trabalhadores afastam-se das ruas para se verem livres dos mascarados, que de forma autoritária e oportunista desviam os objetivos das manifestações, fazendo de massa de manobra os manifestantes e atraindo a repressão através das suas ações depredatórias.

            Os atos públicos ressentem-se da ausência de carros de som, deixando a manifestação sem diálogo com a população e sem direção política, fato que acaba sendo uma concessão aos anarquistas e também à CUT, que como maioria que é nas manifestações, acaba beneficiada pela maior quantidade de camisetas, faixas, bandeiras e cartazes. Uma parte da CSP/CONLUTAS do Rio Grande do Sul, vem resistindo ao emprego de carros de som nas manifestações, deixando de lado a necessidade de quem é minoria, ocupar mais espaço para  garantir a sua presença. 

            É um erro bloquear a saída dos ônibus das garagens, para passar uma imagem de greve, que não é real, porque sem respaldo do movimento da categoria e até mesmo em desrespeito aos  trabalhadores dos transportes.

            Trancar as ruas, com grupos de 100 ou 200 estudantes em nada ajuda a construir uma greve geral. Pelo contrário, joga contra o movimento uma parte da população que estão nos ônibus e  automóveis paralisados nas ruas. O CEDS participou de um "abraço" ao Jardim Botânico, organizado pelos próprios trabalhadores da Fundação Zoobotânica, que está ameaçada de ser fechada e de demissão dos funcionários, que mobilizou mais de mil manifestantes. A av. Perimetral não foi trancada e todos os veículos que passaram pela manifestação buzinavam em solidariedade. As ruas devem ser ocupadas quando o tamanho da manifestação exija que seja assim.

            Esses atos públicos controlados pelas organizações estudantis são insuficientes para impedir o avanço das reformas burguesas, e esgotaram-se mais uma vez.

            No ato público de 25 de novembro, o CEDS teve um papel ativo, com distribuição de panfletos e com uma coluna expressiva de militantes portando bandeiras da organização e camisetas e bandeiras do LIVRES/Movimento de Mulheres do CEDS.

            Para que a luta contra as reformas avance, e supere as limitações das presentes manifestações será preciso unidade na luta. No 25 de novembro isso não aconteceu. Foram vários atos públicos que se realizaram na cidade, em horários e locais diferentes, cada corrente política tratando de organizar o seu.

É preciso ir além da propaganda para construir a greve geral
           
            Para derrotar as reformas de Temer e da burguesia, será necessário o máximo de unidade para construir a greve geral, a grande ferramenta de luta de que dispõem os trabalhadores, e que está ainda muito longe de se concretizar, limitando-se à propaganda e, em algumas raras situações, à agitação.

            O método correto de construir a greve geral vai além da propaganda. É ganhar as categorias de trabalhadores para a sua realização nas instâncias de base e nas assembleias sindicais, e a partir das lutas parciais que vem ocorrendo.

            É um erro e uma ilusão supor que a greve geral possa ser construída de cima para baixo, em uma aliança pactuada com as centrais pelegas e burocráticas, como vem sendo encaminhado pela CSP/CONLUTAS em nível nacional. Também é um erro, achar que a greve geral possa ser construída de fora para dentro, como é a concepção das correntes políticas de esquerda, que se jogam na tarefa de bloquear a saída dos ônibus nas garagens, sem que as diversas categorias de trabalhadores, inclusive os próprios rodoviários, estejam organizando efetivamente a greve geral.

            As centrais sindicais pelegas ou burocráticas, que são majoritárias no movimento sindical, representam uma barreira concreta que se opõe à mobilização. Falam em greve geral, mas não a organizam na prática. Falam em unidade, mas centralizam as ações sob o seu controle e de forma  burocrática.


            Essa resistência precisará ser vencida para que haja uma greve geral, e essa é uma tarefa muito difícil de ser realizada, e que ainda está além das nossas possibilidades. Vencer essa resistência somente será possível chamando essas centrais para a unidade na construção da greve geral, mas também tomando a iniciativa de construí-la de forma independente, a partir de  encaminhamentos de mobilização nas categorias e nos locais de trabalho e atuando na base dessas organizações com esse propósito.