domingo, 27 de novembro de 2016

FALECIMENTO DE CASTRO E O FUTURO DE CUBA

O Falecimento de Fidel Castro e as perspectivas da revolução cubana hoje

Declaração do Comitê de Ligação pela Quarta Internacional

Fidel Castro foi o último dos grandes dirigentes revolucionário do século XX a falecer. Morreu aos 90 anos de morte natural. É bem verdade que Raul participou igualmente do comando da revolução de 1959 e do Estado dela nascido, mas o irmão mais novo só ganhou algum destaque político mundial após a renúncia de Fidel em 2006, devido ao seu afastamento do poder por causa de uma doença no intestino. Todavia, foi Fidel o principal estrategista e organizador do movimento que tomou o poder do ditador Fulgêncio Batista em 1959 e conduziu Cuba pelas décadas seguintes.

Fidel foi o homem mais perseguido pelo imperialismo nos últimos 50 anos. Ele sobreviveu a mais de 600 as tentativas organizadas pelos EUA para assassiná-lo. Só isso já seria um motivo suficiente para imortalizar-se. Mas o fato de ter dirigido uma revolução vitoriosa nas barbas do império, a 150 quilômetros da Flórida em plena Guerra Fria; ter expropriado o conjunto da burguesia local e todos os meios de produção que pertenciam aos EUA e ter mantido Cuba de pé 25 anos depois do fim da União Soviética são proezas que o colocam no panteão dos dirigentes revolucionários mais importantes dos séculos XX e XXI. É certo que ele não realizou nada disso sozinho e que tudo isso se deve ao heroico povo cubano, mas a cabeça desse povo esteve Fidel e por mais que tenha cometido erros, não se podem nem de longe minimizar o papel desse indivíduo na história. Graças a revolução e a existência do Estado proletário Cuba “é o único país do mundo sem desnutrição infantil” (Unicef); “o único da América Latina sem problemas com drogas” (ONU); o que “tem a expectativa de vida mais alta de toda América Latina” (ONEC); o que possui uma “escolarização primária de 100% e secundária de 99%” (Unesco); “tem o dobro de médicos da Inglaterra para uma quase cinco vezes população menor” (The Guardian); apesar da pressão imperialista e da demonização de Cuba praticada pela grande mídia burguesa mundial “é o país latino americano que menos viola dos direitos humanos”; e “é o único no mundo que cumpre a sustentabilidade ecológica” (WWF).

Reivindicamos de Fidel o fato de que objetivamente ele dirigiu uma revolução vitoriosa, dirigiu a resistência armada da população a invasão de seu país pelos contrarrevolucionários gusanos patrocinados pela CIA e pelo Pentágono na Bahia dos Porcos em 1961, e dirigiu a expropriação das multinacionais em Cuba. Sob orientação de Fidel e Che, Cuba participou militarmente das lutas de libertação do continente africano mesmo que esse continente estivesse separado por um imenso oceano e a milhares de quilômetros de Cuba, enquanto o stalinismo de Moscou só intervia militar e burocraticamente na luta de classes dos países vizinhos no Leste Europeu, Coreia do Norte ou no Afeganistão para criar um cordão de proteção as suas fronteiras. As particularidades da revolução cubana e sobretudo a pressão dos EUA, como explicou o próprio Che Guevara, obrigaram ao núcleo dirigente da revolução a ir sempre além de onde desejavam, em forma contínua e ininterrupta, em sua linha de ruptura com o imperialismo e com o capitalismo, como explicaremos abaixo de forma detalhada.

“A EXCEPCIONALIDADE CUBANA
A revolução cubana marcou um giro na história do século XX na América Latina. Além de derrotar uma ditadura pró-EUA nas barbas do Tio Sam, pela primeira vez no hemisfério ocidental o capitalismo foi expropriado. Isto possibilitou que uma pequena ilha com uma dezena de milhões de habitantes deixasse de ser uma colônia agrícola e degradada dos EUA para brindar sua população e o mundo com conquistas inéditas como a eliminação da fome, da miséria, do analfabetismo [ 1 ], um sistema educacional e outro de saúde cujos médicos e avanços são exportados para o resto da humanidade.
Mas Cuba não tornou-se um Estado proletário com a derrubada do ditador Fulgêncio Batista e a tomada do poder pelo Exército Guerrilheiro do Movimento 26 de Julho, em 1959. O processo revolucionário a princípio não tinha uma estratégia socialista. Seu objetivo era a realização de tarefas democráticas capitalistas como o fim do regime ditatorial e a Reforma Agrária. 
Mas, em meio à guerra fria contra a URSS, o processo revolucionário acentuou as contradições entra a pequena ilha e o imperialismo. Foi só quando o imperialismo tentou invadir a ilha, através da Baía dos Porcos, em abril de 1960, para derrotar o novo regime que a direção do movimento revolucionário de Castro e Che se viu obrigada a expropriar as multinacionais e ao conjunto da burguesia cubana que foge em massa para a Flórida. A partir de então, os gusanos (ratos), como ficaram conhecidos, integraram-se organicamente ao imperialismo e passam a justificar e influir na política dos EUA em relação a Cuba. 
Realizava-se mais uma vez e de forma concreta uma possibilidade teórica que Trotsky cogitara no Programa de Transição:
“É entretanto, impossível negar categórica e antecipadamente a possibilidade teórica de que, sob a influência de uma combinação de circunstâncias excepcionais (guerra, derrota, quebra financeira, ofensiva revolucionária das massas etc.), os partidos pequeno-burgueses, incluídos aí os stalinistas, possam ir mais longe do que queriam no caminho da ruptura com a burguesia. Em todo caso, uma coisa está fora de dúvida: se mesmo esta variante pouco provável se realizasse um dia em algum lugar, e um "Governo operário e camponês", no sentido acima indicado, se estabelecesse de fato, ele somente representaria um curto episódio em direção à ditadura do proletariado.” [ Programa de Transição, 1938 ]
No caso cubano, o “curto episódio” durou entre 1959 e 1961. A direção M-26-7 tomou empiricamente medidas revolucionárias, mas quase sempre sob pressão imperialista. O próprio Che, que historicamente representou a ala mais internacionalista do governo cubano, reconhece que a radicalização da revolução foi mais condicionada pela pressão imperialista que pelas convicções socialistas de seus dirigentes: 
“o que temos pela frente depende muito dos EUA. Com a exceção da nossa reforma agrária, que o povo de Cuba desejava desde o início, todas as nossas medidas radicais foram uma resposta direta às agressões dos poderosos monopólios, dos quais nosso país é o principal expoente. A pressão dos EUA sobre Cuba fez necessária a ‘radicalização’ da revolução. Para saber aonde chegará Cuba, poderá se deduzir da resposta de onde se propõe chegar os EUA” (La Nación, 09/06/1961).
A revolução cubana, que nunca teve um partido revolucionário em sua direção, burocratizou-se pelas suas próprias limitações internas. Este processo de burocratização agravou-se quando a frágil ilha proletária precisou recorrer da ajuda material da burocracia stalinista da URSS. Mas, logo a princípio, a política de “convivência pacífica” do stalinismo mostrou a jovem direção do Estado cubano o quanto seus aliados russos eram pouco confiáveis. Che desiludiu-se com o governo da URSS durante a crise dos mísseis, em 1962, porque se sentiu ‘traído’ por Moscou que retirou seu armamento de Cuba sem avisar ao governo cubano, capitulando as pressões dos EUA.
O BLOQUEIO OBRIGOU A BUROCRACIA A SOBREVIVER AO FIM DA URSS NA PRESERVAÇÃO DO ESTADO PROLETÁRIO CUBANO
A política de isolamento e bloqueio imposto pelo imperialismo a partir de 1962 passa a exercer uma poderosa pressão contrarrevolucionaria estabelecendo por décadas uma condição excepcional que contraditoriamente forçou a direção castrista a defender as novas formas e relações de propriedade estabelecidos pela expropriação da burguesia e do imperialismo. 
Para nós somente a dialética desta excepcionalidade explica como sendo um Estado proletário mais frágil em relação a URSS e a China, por exemplo, e como por um longo tempo dependendo destes “mega Estados operários”, Cuba conseguiu sobreviver ao fim de seus mantenedores.
Os elementos destas contradições se apoiam nas seguintes características:
1) Cuba é um Estado proletário que não se formou a partir de operários industriais;
2) É o Estado proletário geograficamente mais próximo do núcleo duro do imperialismo mundial;
3) É economicamente o mais frágil e quando caiu a URSS foi o que mais se debilitou;
4) Proporcionalmente a sua fragilidade Cuba fez o maior esforço internacionalista tanto na África como na América Latina, sem obter nenhum lucro estratégico imediato por este esforço, mas usando-o como elemento de resistência contra a pressão do imperialismo. 
5) Para influir nos movimentos de massa na America Latina a burocracia castrista precisou abandonar em parte o nacionalismo das burocracias estalinistas; 
6) O papel da burguesia gusana, como componente orgânico do imperialismo, é desproporcional a seu peso econômico como fração burguesa. 
7) Sendo assim, dentre as direções de todos os estados operários o castrismo foi a direção burocrática que mais teve que se confrontar com o imperialismo e que teve que apoiar-se nas massas pela ameaça do imperialismo. 
De certo modo e até agora, estas razões excepcionais, sobretudo pelo bloqueio imposto por mais de meio século, impediram que em Cuba e na Coreia do Norte, os processos de restauração capitalista se desenvolvessem de forma gradual e pacífica (como na China ou Vietnã), devido a própria fragilidade destes Estados Proletários frente ao imperialismo e suas respectivas burguesias "gusanas" de Miami ou da Coreia do Sul. Nestes casos, a restauração do capitalismo só poderia ocorrer através de uma guerra civil.”
"O novo acordo EUA-Cuba e a luta em defesa do Estado proletário"
Declaração assinada por: Liga Comunista – Brasil; Tendência Militante Bolchevique – Argentina; Socialist Fight – Grã Bretanha; Coletivo Lenin - Brasil; Resistência Popular Revolucionária - Brasil.


Sistema de saúde Cubano, características, tamanho e estrutura
Definimos o que compreendemos como “excepcionalidades cubanas” nesta declaração do CLQI e aliados de dezembro de 2014. O presente de Cuba e sua relação com o mundo é traçado sobre essas excepcionalidades, com as quais se combinam novas variáveis, a saber: a vitória de Trump com apoio gusano e a morte de Fidel, cuja importância se vê relativizada para o Estado proletário uma vez que, apesar dele exercer influência sobre o aparato estatal, já havia abandonado a condução do mesmo 10 anos antes.

Mediante as leis da dialética e do legado de Trotsky no “Programa de Transição” é preciso compreender as contradições de Cuba que só existe “graças” ao bloqueio. O ataque na Bahia dos Porcos e a ruptura do imperialismo fez com que a revolução política que derrubou Fugencio Batista se transformasse em revolução social e econômica, antiimperialista e anticapitalista. O bloqueio e a pressão imperialista fez com que Cuba sobrevivesse ao fim da URSS. Obama queria acabar com o Bloqueio. Isso facilitaria a restauração negociada. Trump quer bloquear mais, rompendo os acordos de Obama e sob pressão dos gusanos que lhe ajudaram a se eleger, ou seja, contraditoriamente Cuba tende a se revigorar, agora com mais apoio do bloco eurásico que avança sobre os domínios imperialistas. O temor agora é que os capitalistas eurásicos restaurem o capitalismo com a ajuda da segunda geração de dirigentes e Raul Castro.

Tributos e Direitos Democráticos

Líderes mundiais prestaram homenagem a Castro e muitos de seus inimigos foram forçados a reconhecer suas realizações. Mas até mesmo muitos simpatizantes de esquerda mencionam suas 'falhas', incluindo sua grande 'culpa'; Seu desprezo pelos direitos democráticos. Se ele tivesse conseguido essas coisas sem violência, ele seria perfeito, dizem seus defensores liberais. Seus opositores de direita dizem que todas as suas realizações não valem nada porque ele não permitiu "liberdade, justiça e democracia". Mas há violência e violência. A violência do escravo para quebrar suas correntes nunca pode ser equiparada à violência do proprietário de escravos imposta para manter essas correntes. Um é progressivo e libertador, o outro é reacionário e ilegítimo.

A revolução tinha todo o direito de usar a violência para derrubar o ditador fantoche do imperialismo Batista [cujo regime assassinara friamente a 20 mil cubanos], para prender e, quando necessário, executar seus decididos oponentes contrarrevolucionários. Isso não é uma "culpa" da revolução ou de qualquer revolução, mas sua própria essência; Ela simplesmente não poderia ter êxito se concedesse o monopólio da violência à ditadura corrupta estabelecida. E
m apoio ao nosso ponto de vista, acreditamos que bastaria uma citação de alguém que não pode ser identificado com um apoiador da revolução, o Presidente John F. Kennedy :
"Creio que não há país no mundo, incluindo as regiões africanas, incluindo todos os países sob dominação colonial, onde a colonização econômica, a humilhação e a exploração foram piores do que em Cuba, em parte devido à política do meu país durante o regime de Batista. Eu acredito que nós criamos, construímos e fabricamos o movimento de Castro integralmente sem perceber isto. Acredito que a acumulação desses erros tenha comprometido toda a América Latina. O grande objectivo da Aliança para o Progresso é reverter esta política infeliz. Este é um dos maiores, se não o maior, e mais importante dos problemas na política externa dos Estados Unidos. Posso assegurar-vos que compreendi os cubanos. Aprovo a proclamação que Fidel Castro fez na Sierra Maestra, quando justificadamente pediu justiça e especialmente desejou livrar Cuba da corrupção. Vou ainda mais longe: até certo ponto é como se Batista fosse a encarnação de um número de pecados por parte dos Estados Unidos. Agora teremos que pagar por esses pecados. Em relação ao regime de Batista, estou de acordo com os primeiros revolucionários cubanos. Isso é perfeitamente claro." [I]
Fidel na capa da revista Time de 26 de janeiro de 1959,três semanas da queda de Havana, quando ainda
tinham expectativa em tê-lo como aliado
E aqui vemos uma das contradições da Revolução Cubana. Porque os irmãos Castro e o Movimento de 26 de Julho não viram a luta para derrubar Batista como uma revolução socialista ou comunista. Como vemos, Fidel negou especificamente ser comunista e é claro que Kennedy entendeu que, no começo, "os primeiros revolucionários cubanos" não eram marxistas-leninistas e desejavam apenas estabelecer uma república burguesa democrática. Naturalmente, percebemos que a declaração de Kennedy é extremamente hipócrita, a CIA organizou a invasão da Baía dos Porcos em 1961 sob Eisenhower, mas Kennedy foi mantido inteiramente informado e explicitamente aprovou como presidente. E foi responsável pelo bloqueio econômico depois de Eisenhower em janeiro de 1961. Mas ele aponta para uma mudança entre os "primeiros revolucionários cubanos" e o que aconteceu após o fracasso da Baía dos Porcos.

Fidel Castro como revolucionário

Em 1959, após a sua expulsão por Batista, Fidel negou ser comunista, que buscasse tomar o poder pela via armada e muito menos tornar-se um ditador:

"Eu não sou um ditador, e eu não acho que vou me tornar um. Não vou manter o poder com uma metralhadora... Eu não sou comunista e nem o movimento revolucionário, mas não temos de dizer que somos anti-comunistas apenas para tranquilizar as potências estrangeiras ". [II]
Mas no dia seguinte à invasão da Baía dos Porcos, em 16 de abril de 1961, em uma oração fúnebre no cemitério para as vítimas dos ataques aéreos no dia anterior, ele havia mudado sua visão fundamentalmente:
"Companheiros trabalhadores e camponeses, esta é a revolução socialista e democrática dos trabalhadores, com os trabalhadores e para os trabalhadores. E para essa revolução dos trabalhadores, para os operários e dos trabalhadores estamos dispostos a dar nossas vidas." [III]
E, em 2 de dezembro de 1961, fez um discurso no aniversário da chegada do iate Granma (gíria para grandmother, avó, em inglês) a ilha e explicou:
“Se tivéssemos parado para explicar as pessoas que éramos marxistas-leninistas enquanto estávamos no Pico Turquino [trata-se da montanha mais alta de Cuba, localizada na Sierra Maestra] e não possuíamos força ainda, é possível que nunca tivéssemos sido capazes de descer para as planícies... Eu sou marxista-leninista, e eu serei um marxista-leninista até os últimos dias da minha vida.” [IV]
O bloqueio de Cuba começou em 19 de outubro de 1960. Cuba havia feito um acordo de troca de açúcar por o petróleo com a URSS porque foram impostas restrições de vendas de açúcar cubano aos EUA. As refinarias de propriedade dos EUA recusaram-se a processar o petróleo bruto soviético e Castro os nacionalizou sem idenizá-los. A imposição do bloqueio empurrou Castro para os braços da URSS e, como vemos pelas citações acima, passou a proclamar-se marxista-leninista e a qualificar a revolução como socialista. O bloqueio foi prorrogado em setembro de 1961, após o estabelecimento da nacionalização plena da planificação do Estado quando o país passou a ser obviamente um Estado proletário.

Parte da razão para a sobrevivência de Cuba também foi que outros países estavam descontentes com o bloqueio e queriam negociar. A Lei Helms-Burton de 1996 foi dirigida não apenas às empresas americanas, mas continha uma cláusula extraterritorial que tentava proibir todos os países de negociar com Cuba. A União Europeia se opôs à Lei Helms Burton, assim como o Canadá e o México, e os Estados Unidos fizeram diversas tentativas de sancionar as corporações privadas que violaram suas regras, consideradas ilegítimas por esses países.

Vale ressaltar que a Organização dos Estados Americanos (OEA) expulsou inicialmente Cuba em janeiro de 1962 sob as exigências dos EUA e concordou em readmitir a ilha como membro em junho de 2009, mas Cuba não aceitou o convite e se recusou a retornar. Em 6 de maio de 2005, o presidente Fidel Castro disse que Cuba não "faria parte de uma instituição vergonhosa que humilhou a honra das nações latino-americanas".

A reação do PC cubano à Revolução de 1959

John Lister, ex-membro da Trotskyist Workers Socialist League (Liga dos Trabalhadores Socialistas Trotskistas) e, em seguida, do Socialist Group (Grupo Socialista) escreveu Cuba: Radical face of Stalinism (Cuba: a face radical do stalinismo) em 1983. Ele fornece um excelente relato da história do stalinismo em Cuba até 1959, antes da revolução. Apesar de Castro expurgar os piores elementos da direção do PC Cubano, incluindo aqueles que haviam agido durante longos anos como agentes de Batista e que se opuseram ao Movimento de 26 de junho de Castro, que inclusive delataram militantes de seus partidários a Batista para serem executados, tornando-se um partido stalinista abjeto. O PC cubano, tornou-se depois de 1965 um partido stalinista radicalizado e um forte partidário do “socialismo em um único país”, ainda que com as exceções mencionadas acima.

Castro apoiou os tanques russos a esmagar a Primavera de Praga em 1968 na Tchecoeslováquia; apoiou a Lei Marcial imposta para suprimir o sindicato Solidariedade em 1981 na Polônia; e o massacre de estudantes e jovens em 1989, na Praça Tiananmen, na China.

Em uma parte de seu relato J. Lister conta:

Em novembro de 1939, o PC participou de eleições como parte de uma coalizão "social-democrata’’ partidária de Batista, e em 1940 o Partido ajudou o Coronel a elaborar uma nova Constituição que estabelecia que as negociações salariais deveriam ser feitas dentro das cortes dos tribunais trabalhistas e do Ministério do Trabalho, sob a intervenção direta do presidencial. O Partido Comunista foi o primeiro a apoiar a candidatura de Batista como Presidente nas eleições de 1940 e, em 1942, foi recompensado ainda mais por este covarde apoio quando dois líderes stalinistas, Carlos Rafael Rodriguez (vice-presidente do país sob os governos de Fidel entre 1976-93) e Juan Marinello foram incluídos no gabinete de Batista, fazendo parte do que eles denominaram um "governo de unidade nacional". Nisso resultou em uma Central de Trabajadores de Cuba obediente. Conduzida pelo PC, a CTC votou no mesmo ano em seu Congresso para renunciar toda a ação da greve durante a II Guerra Mundial.Em 1944, o PC cubano mudou seu nome para o Partido Socialista Popular, e declarou seu compromisso de longo prazo de colaboração com Batista e a burguesia cubana:"Os marxistas defendem a unidade nacional e a sua continuação, extensão e consolidação nas condições que possam prevalecer em Cuba depois da guerra. A política de unidade nacional, para os marxistas, é uma política de longo alcance".Batista foi fervorosamente elogiado como um "grande democrata" e "o grande homem de nossa política nacional que encarna os ideais sagrados de Cuba". Mas quando Batista foi sucedido como presidente por Grau San Martin, o PSP, ansioso para defender suas posições burocráticas na hierarquia sindical, ofereceu Grau um grau similar de apoio. Marinello foi nomeado vice-presidente do Senado.... Sem dúvida, esses stalinistas viram o ataque aventureiro de Castro ao quartel Moncada como uma ameaça a esse novo período de "coexistência pacífica" com Batista. Em agosto de 1953 o PSP declarou:"Condenamos os métodos putchistas - característicos dos grupos burgueses - que se evidenciaram na tentativa aventureira de capturar os quartéis de Santiago, o heroísmo exibido pelos participantes era mal orientado e estéril".Após a retomada da luta de guerrilha em 1956, o PSP voltou a opor-se a tais táticas e, em fevereiro de 1957, reafirmou sua já conhecida política frente populista de 1936:"... a abordagem correta ... reside na unidade e ação comum de todas as forças de oposição ... numa luta para eliminar a tirania e alcançar a vitória das forças democráticas".Tampouco essas diferenças com Castro eram meramente tema de discussão acadêmica ou polêmica abstrata. Os partidos stalinistas nunca tiveram escrúpulos para sabotar pura e simplesmente as correntes políticas e as lutas opostas a sua política que não podiam controlar, e o PSP não foi exceção no período de 1953-58.Os stalinistas designaram informantes para frear e destruir a Diretoria Revolucionária estudantil (DR), que, lutando em solidariedade com Castro, se mostrou teimosamente resistente à política miserável da PSP. No verão de 1957, um tal informante, "Marquitos" Rodriguez, forneceu à polícia os detalhes do paradeiro de quatro membros principais da DR, que foram então sumariamente metralhadores até a morte. "Marquitos" foi extraditado para fora do país pelos membros do PSP, e foi eventualmente recebido com honras como um membro do PC mexicano.E já em agosto de 1960, na véspera da onda massiva de nacionalizações que destruíram a base do capitalismo em Cuba, o veterano secretário-geral do Partido, Blas Roca (em exercício desde 1934) alertou o Congresso da PSP:"A revolução cubana não é uma revolução comunista, é anti-imperialista e anti-feudal ... patriótica e democrática ... As classes sociais objetivamente interessadas no cumprimento dessas tarefas históricas são os trabalhadores, os camponeses, os Classe média urbana e burguesia nacional". [V]
Fidel e o seu movimento nacionalista M-26-7 tiveram uma evolução política oposta a tradição do PC em Cuba que colaboravam e apoiavam o regime ditatorial de Batista. Após derrubaram Batista, o M-26-7 instituiu um governo democrático burguês que iniciou uma reforma agrária e estabeleceu a Comissão Depuradora, responsável pelos julgamentos revolucionários e fuzilamento dos torturadores, assassinos, criminosos agentes de Batista e da CIA. O governo revolucionário tentou pactuar com os EUA. Fidel declarou suas expectativas em relação aos EUA:
"Eu tinha a maior vontade de entender-me com os Estados Unidos. Até fui lá, falei, expliquei nossos objetivos. (…) Mas os bombardeios, por aviões americanos, de nossas fazendas açucareiras, das nossas cidades; as ameaças de invasão por tropas mercenárias e a ameaça de sanções econômicas constituem agressões à nossa soberania nacional, ao nosso povo".
Fala de Fidel Castro a Louis Wiznitzer, enviado especial de O Globo a Havana, em entrevista publicada em 24 de março de 1960https://pt.wikipedia.org/wiki/Che_Guevara
Mas, os EUA se opuseram violentamente a proposta de Fidel e Che de convivência pacífica com o novo regime de Havana.
"Em 3 de janeiro de 1961, em uma das últimas medidas de seu governo antes de entregar o poder a John F. Kennedy, o presidente Eisenhower cortou as relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba. O enfrentamento aberto era iminente.Em 17 de abril de 1961 foi realizada a invasão da Bahia dos Porcos a partir da Nicarágua foram despachados pelo ditador Luis Somoza Debayle um exército de 1.500 homens, em sua maioria cubanos, treinados na Guatemala, utilizando 95 barcos da United Fruit Company com o apoio aberto da CIA. No dia siguinte era evidente que o exército cubano havia controlado a situação. A CIA pediu então ao presidente Kennedy, que havia assumido a presidência a menos de três meses, a intervenção aberta dos EUA, através da Força Aérea, mas este se negou a autorizar. Por essa razão a comunisdade cubana anticastrista nos Estados Unidos proclamou publicamente que o presidente Kennedy era um traidor.”https://es.wikipedia.org/wiki/Che_Guevara
Fidel avançou para a ruptura com o imperialismo e o capitalismo sob a extrema pressão dos EUA. Convertido ao estalinismo depois de dirigir a revolução e por necessidade e conveniência política de sobrevivência.

Em 1962, espiões estadunidenses descobriram a presença de mísseis nucleares em Cuba. Este é o princípio da crise dos mísseis. Em seguida, os Estados Unidos bloquearam a costa cubana. Após 13 dias de estarem à beira de uma guerra nuclear, o problema foi resolvido entre a URSS e os EUA com a retirada dos mísseis russos de Cuba em troca da retirada, mas os Estados Unidos decidem bloquear totalmente a ilha.

“Por trás das negociações secretas, Kennedy e seu gabinete aceitaram a oferta soviética na madrugada do domingo 28 de outubro, sem que Castro soubesse. Este acordo se tornou conhecido mais tarde, já que Kennedy o aceitou com a condição de não invadir Cuba nem apoiar grupo algum que tivesse essa intenção. O desmantelamento do míssil balístico de alcance médio PGM-19 Jupiter da Turquía não foi tornado público até seis meses depois de realizado.Nos primeiros dias de novembro, a espionagem aérea estadunidense mostrou que embarcações soviéticas eram carregados de armamento nuclear até então estacionado em Cuba, acreditando no cumprimento do acordo do dia 28 de outubro. No dia 20 de novembro, o governo dos EUA pôs fim a patrulha naval ao redor de Cuba e dois dias depois o primeiro ministro soviético, Anastás Mikoyán, visitou Havana informando ao regime de Castro que a presença militar soviética continuaria em Cuba mas apenas com armas convencionais. A URSS retirava todo seu armamento nuclear e o míssil balístico de alcance médio da ilha apesar das renovadas solicitações do governo cubano em sentido contrário."
https://es.wikipedia.org/wiki/Crisis_de_los_misiles_en_Cuba
DEFESA INCONDICIONAL DE CUBA CONTRA O IMPERIALISMO E REVOLUÇÃO POLÍTICA CONTRA A RESTAURAÇÃO CAPITALISTA!

Com a vitória de Trump e a ampliação da influência da reação anticomunista e da burguesia gusana na Casa Branca, é preciso recolocar na ordem do dia a defensa incondicional da Revolução Cubana contra todo bloqueio ou medidas de sabotagem por parte do imperialismo.

A luta pela revolução política na ilha assume caráter permanente, combate as medidas do governo castrista que conspiram contra as formas e relações de propriedade criadas pela expropriação do imperialismo e da burguesia cubana, enquanto simultaneamente deve impulsionar a edificação de comitês populares, de trabalhadores, camponeses e cooperados. Devemos lutar contra toda diplomacia secreta, tudo deve ser submetido ao debate, retificação e ratificação pela população cubana organizada. Não a devolução da propriedade aos gusanos.

Uma verdadeira e progressiva revolução política em Cuba só será possível se houver um processo revolucionário no Continente. Sem isso, qualquer tentativa de revolução política em Cuba não teria como sobreviver.

O que foi expropriado deve permanecer estatal e sob o controle democrático dos conselhos de trabalhadores, produtores e consumidores. A primeira prioridade do Estado é garantir a saúde e a alimentação para o povo. Nenhum privilégio para a burocracia e para os turistas em prejuízo para as massas trabalhadoras. Abaixo com o separatismo turístico, pelo livre acesso de todos os cubanos para todos os hotéis, praias, balneários utilizado exclusivamente por turistas e que tudo seja pago em pesos. Derrotar a burocracia na luta pela democracia proletária e pela luta pela igualdade contra os privilégios.

É necessário construir os tribunais operários para investigar e condenar a corrupção, o mercado negro e os novos ricos. Em defesa do direito de greve e de sindicalização como parte da luta pela independência política contra a burocracia castrista, o imperialismo e suas ONGs contrarrevolucionárias e o Vaticano. Controle proletário da indústria e do conjunto da economia bem como sobre os acordos comerciais e todo o comércio estrangeiro, com a Europa, com a China e todo o bloco Eurásico e os países capitalistas latino americanos. Controle da contabilidade e da administração pela inspeção operária, com executivos de mandatos revogáveis eleitos em assembleia por local de trabalho. Somente os trabalhadores devem decidir como, quanto e o quê deve ser produzido e distribuído, bem como os salários e os ritmos da produção, assim devem combater as demissões em massa, a privatização das empresas estatais e os cortes nos serviços sociais do Estado.

Se como demonstrou a história do século XX a “teoria” antimarxista do “socialismo em um só país” reconduz os Estados operários a restauração capitalista, a continuar seguindo os preceitos stalinistas, o “socialismo” em meio país ou em uma ilha não terão destino melhor.

Nos opomos a criação de toda e qualquer partido ou organização que se oponha ao Estado proletário e a ditadura do proletariado e defendemos a criação de um partido trotskista revolucionário em Cuba e da instauração da democracia proletária na ilha. A restauração capitalista não é um fato consumado em Cuba e somente a luta revolucionária das massas latino americanas contra toda ofensiva restauracionista interna ou externa poderá derrotá-la.

Notas:
[I] Jean Daniel, 24 October 1963, The New Republic, Unofficial Envoy, An Historic Report from Two Capitals, 4 December 1963, pp. 15-20 U.S. President John F. Kennedy, interview with Jean Daniel, https://ratical.org/ratville/JFK/UnofficialEnvoy.html

[II] Wikiquotes, Fidel Castro https://en.wikiquote.org/wiki/Fidel_Castro

[III] Ibid.

[IV] Ibid.

[V] John Lister, Cuba: Radical face of Stalinism, Written: 1983 / 84. First Published: January 1985. Source: Published by Left View Books for the Socialist Group. Transcription / HTML Markup: Sean Robertson for the Encyclopaedia of Trotskyism On-Line (ETOL). Copyleft: Encyclopaedia of Trotskyism On-Line (marxists.org) 2013, https://www.marxists.org/history/etol/document/wsl/lister/cuba-lister85-ch3.htm