sexta-feira, 17 de julho de 2015

GRÉCIA - TR/FCT

Cavalo grego
por Mário Medina, Tendência Revolucionária, Frente Comunista dos Trabalhadores
 
Os ânimos estão exaltados na Grécia, e não é para menos. Dez dias depois do referendo em que cerca de 60% dos votantes rejeitou ceder às negociações com a troika, o parlamento grego votou acordo com países da União Européia pela liberação de um pacote de 85 bilhões de empréstimo, a ser recebida ao longo de três anos, com a condição de que o governo grego enxugue gastos com previdência, aumente impostos e privatize estatais que andam no vermelho.

O CAMINHO DA CAPITULAÇÃO

Após demonstrar vacilação nos primeiros momentos como governo, onde abriu diversas concessões aos credores, o primeiro-ministro Alexis Tsipras recorreu a um referendo para que a população endossasse seu posicionamento de não abrir mais concessões nas negociações. Tsipras fez aberta propaganda pelo ``Não`` e deixou entender que se o ``Sim`` ganhasse renunciaria, pois se negaria  a gerenciar a austeridade proposta pelo imperialismo europeu.
Essa movimentação de Tsipras fez com que muitos encarassem a manobra com estranheza. Afinal, para que um referendo se o Syriza saiu vencedor das eleições? A população decidira nas urnas, na eleição para o parlamento, a linha política contrária às medidas de austeridade que vinham sendo implementadas por governos anteriores. Outros encararam o chamado ao referendo com bons olhos. Raciocinavam que Tsipras convocava a população para apoiar o governo diante da ofensiva da troyca.
 
Nós estamos entre os primeiros. Pensamos que o Syriza ganhou nas eleições e que não precisaria submeter a voto uma política de recusa aos achaques imperialistas. Seria o caso de convocar a população não às urnas, mas às ruas, para mostrar aos vizinhos europeus a disposição de enfrentamento do povo grego e deixar bem claro que o país não se curvaria perante a política hegemônica de austeridade.
 
Nesse caso, a esmagadora maioria do povo grego apoiaria seu governo, porque as pessoas sabem da desgraça social que abateu o país nesses anos de crise, e não estão dispostas a abrir mão de mais direitos e se verem ainda mais pobres.
 
Rejeitar o acordo com a troyca traria duros desafios à Grécia. Mas seria muito mais honroso para o Syriza, que se elegeu pelo voto popular com um discurso de esquerda. Não há dúvida que Tsipras e sua equipe traíram a confiança de seus eleitores.
 
Agora o Syriza votou rachado no parlamento e o governo se viu obrigado a contar com votos da oposição para aprovar o novo plano. O imperialismo europeu humilhou Tsipras. Este fica agora completamente desmoralizado diante de seu povo e completamente refém dos credores.
 
Aurora Dourada, o partido da extrema direita, pode ser o próximo fenômeno político daquele país, já que a frente popular grega caminha a passos largos para sua completa desgraça. Revoltados com a traição de Tsipras, manifestantes começaram a tomar as ruas em frente ao parlamento, criaram barricadas e incendiaram automóveis. A polícia reprimiu e houve confrontos de rua.
 
CRISE SOCIAL
 
O governo decretou feriado bancário no fim de Junho e o máximo a ser sacado nos caixas eletrônicos são míseros 60 euros. Os aposentados são os mais desesperados e o povo está revoltado com muita razão. Resumo da ópera: Tsipras ridicularizou a esquerda e deu um empurrãozinho na direita.

É forçoso concluir que não podemos depositar esperanças em soluções reformistas de cunho eleitoral, mas combater pela revolução socialista. Mais uma vez a história dá razão ao marxismo.
 
Adoraríamos apoiar um legitimo governo progressista na Grécia. Defenderíamos tal governo dos ataques da burguesia e do imperialismo e propagandearíamos seus feitos. Nos resta denunciar o engodo que o governo Syriza se tornou e apontar o caminho da ruptura revolucionária com o atual sistema.