domingo, 22 de março de 2015

ESPAÇO MARXISTA

Pela frente única contra o fascismo!
Reproduzimos a nota do blog Espaço Marxista, membro do Comitê Paritário
espacomarxista.blogspot.com.br/
Eis que a direita ocupou as ruas neste domingo, 15/ 03, atendendo às convocatórias da grande mídia e dos grupos de seu campo- integralistas, "Revoltados on line", "Movimento Brasil Livre", Clube Militar et caterva-, com as pautas mais reacionárias da agenda brasileira: do impeachment do governo petista à volta dos militares, tudo permeado pelos bordões de "Brasil não é Cuba (ou Venezuela)" e "Nossa bandeira nunca será vermelha" (sic). Quem teve a abnegação masoquista de assistir ao dominical "Fantástico", pôde perceber a euforia com que as manifestações pelo Brasil eram noticiadas.


Conforme consignamos em nossa ruptura com o PCB (aqui), o mandato de Dilma Rousseff tem presenciado a escalada de uma onda reacionária, que, integrada que é à própria reação imperialista mundial (típica do momento de crise do capitalismo e da ausência da contra-hegemonia soviética), vai ganhando mais e mais espaço na sociedade brasileira, o que justificou, por parte da oposição de esquerda, o voto crítico no PT no segundo turno de 2014 como forma de retardar tal escalada reacionária. Apesar de quase derrotado no pleito, o PT não aprendeu a lição e manteve sua política, ainda mais rebaixada, de conciliacionismo e de contrarreformas, se distanciando de seu cada vez mais evanescente lastro social. Assim, em meio a facadas nas costas por parte dos (mui) amigos do PMDB (como na imposição de Eduardo Cunha), de denúncias do caso "Lava jato" e da vontade expressa do tucanato de sangrar Dilma, o governo petista observa a direita ocupando em peso as ruas das capitais brasileiras, e isso ainda no terceiro mês de seu segundo mandato.

Fica evidente que o conciliacionismo de classes proposto pelo PT chega aos estertores, com a pequena burguesia assustada com a ascensão dos estratos populares beneficiados pelas políticas compensatórias dos últimos anos, e, racista e elitista que é, temendo sua identificação com os mesmos, e com a grande burguesia interessada em um representante do capital "puro sangue", que possa acelerar o ritmo das contrarreformas já em vigor, inclusive com a privatização das grandes empresas nacionais remanescentes (Petrobras, Correios, CEF etc.). Mantenho minha caracterização do PT como partido burguês com influência de massas, conforme esmiuçado aqui e aqui. Salta aos olhos que mesmo essa influência, esse contato, esse lastro social, ainda que nas mãos de um partido não-revolucionário, causa ojeriza e narizes torcidos na elite e nos aspirantes à elite.

O ascenso reacionário parece ter um alvo óbvio, que é o partido no poder, o PT, mas é mais óbvio ainda que essa reação se volta contra toda e qualquer coisa que tenha o menor verniz progressista. Como nas "Jornadas de junho" de 2013, capítulo desse atual momento, envergar uma peça de vestuário de cor vermelha é motivo suficiente para o xingamento, a coação, a ameaça e a agressão física. Os "anos de chumbo" são endeusados, o golpe militar é pregado sem o menor pudor, e, como em uma nova guerra fria, os comunistas tornam-se novamente comedores de criancinhas a entregar o país aos cubanos e venezuelanos.

Esse cenário, que tende a se agravar, exige a união de todos os movimentos sociais e progressistas, em uma frente única antifascista que possa resistir à escalada reacionária. É evidente que dada a agudização do momento, tal frente deve albergar (ou melhor, é preciso que albergue) organizações e movimentos "governistas", dado que são essas organizações e movimentos -MST, CUT, UNE-, ainda que engessadas burocraticamente pelo petismo, as únicas que têm força para colocar a massa nas ruas, ao contrário dos pequenos grupos sectários sem a menor inserção social. Mais que isso: estando o PT ameaçado de golpe pela direita, há que cerrar fileiras com o PT. Temos por princípio repudiar a política de escolha do "mal menor", conforme gizado nas considerações sobre o PT nos links disponibilizados acima. Mas aqui, contudo, trata-se de outra coisa: a necessidade elementar de resistência diante da ameaça fascista. Nesse sentido, emblocar com o PT não consiste em defender o PT, e sim em defender a classe trabalhadora brasileira que seria lançada em um retrocesso histórico com a ruptura da ordem democrático-burguesa de 1988.

Dilma derrubada pelos trabalhadores é um grande passo para o socialismo, mas Dilma derrubada pela extrema-direita é a contrarrevolução que triunfa, parafraseando Trotsky. Os esquerdistas, contudo, não compreendem o momento e insistem em se portar como vanguarda da classe sem que a classe sequer tome conhecimento de sua existência. Serão os primeiros a tombar caso o ovo da serpente ecloda.