domingo, 21 de setembro de 2014

METALÚRGICOS - JUNDIAÍ (SP)

Vitória e aprendizado na luta contra a
superexploração da Foxconn (Apple)

Os quase 4.000 metalúrgicos de uma das fábricas da Foxconn, a segunda planta instalada pela multinacional com matriz em Taiwan em Jundiaí (SP), no quilômetro 66 da Rodovia Anhanguera, realizaram uma greve exigindo um plano de cargos e salários. A greve durou 5 dias e derrotou a intransigência da empresa que enrolava fazia anos para não conceder o plano.

O acordo de greve foi negociado em uma audiência de conciliação entre o Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí e a empresa no Tribunal Regional do Trabalho de Campinas no dia 18 de setembro. Os capitalistas da Foxconn depois que foram obrigados a conceder a reivindicação principal, resistiam a pagar dois dos dias parados, exigindo que os mesmos fossem compensados com trabalho aos sábados. Depois da audiência, a proposta foi posta em votação em nova assembleia no dia 18 e amplamente rejeitada pelos operários que se mantiveram firmes depois de conquistaram o plano de evolução salarial e funcional, se recusando a abrir mão do pagamento dos dias parados o que significaria por em dúvida o reconhecimento do elementar direito de greve. A empresa recuou novamente sendo obrigada a pagar os dias parados. 

Todavia, é preciso compreender que pelo seu tamanho, importância no mercado mundial e capacidade produtiva a Foxconn não é uma indústria qualquer, nem sequer pode ser comparada as outras multinacionais.

A Foxconn é a maior fabricante de componentes eletrônicos e de computadores no mundo. Ela é a montadora dos produtos da empresa mais cara do planeta, a Apple dos EUA, a marca de Steven Jobs (que morreu em 2011 e substituído por Tim Cook) cujos produtos foram transformados pelo imperialismo no principal sonho de consumo ne século XXI. Entre os produtos montados nas duas fábricas da Foxconn em Jundiaí estão computadores, netbooks, placas mãe desses equipamentos, smartphones e tablets, como o iPad, o iPhone, iPod, o Mac mini, iMac. A planta da Foxconn II é a primeira a produzir iPads fora da China.

Somente em uma das duas fábricas da Foxconn em Jundiaí, na Foxconn II são produzidos 130 iPads por minuto. Em uma hora são 7.800 iPads. Em um dia, nos três turnos, são 187.200. Sem incluir as horas extras e trabalhadas nos finais de semana, tendo como base apenas 5 dias na semana e em um mês de 22 dias, são produzidos 4.118.400 iPads. Mais de 4 milhões de iPads por mês!

A “MÁGICA” DOS LUCROS FABULOSOS DA APPLE:
RENÚNCIA FISCAL DA ‘MÃE DOS RICOS’,
MISERÁVEIS SALÁRIOS PARA OS OPERÁRIOS
E MUITA PROPAGANDA DE EXPECTATIVA EM
TORNO DE BRINQUEDINHO CAROS NAS LOJAS

Os IPads são vendidos nas lojas com preços que variam dependendo do modelo. Mas, apesar de terem uma redução de custo de quase 1/3 são vendidos nos mesmos preços dos iPads importados. Quando a empresa resolveu montar a Foxconn II o governo Dilma, abriu mão de 80% do valor dos impostos em favor dos lucros do mega-empresário Terry Goe, fundador e dono da Foxconn. Para sermos precisos, o governo é uma verdadeira mãe com os capitalistas que se comportam como meninos mimados exigindo tudo que não tem direito e mais um pouco. A fabricante chinesa exigiu, além dos incentivos fiscais do governo federal, menor ICMS do Estado de São Paulo, impôs à prefeitura de Jundiaí condições como cessão do terreno, desconto no IPTU e ajuda para tratar o lixo tóxico gerado pela produção de suas mercadorias. Além disso, a Foxconn exigia um parceiro brasileiro para arcar com 60% dos investimentos, estimados em 4 bilhões de dólares. Outros 30% viriam de um empréstimo do BNDES. À Foxconn, caberiam a bagatela de 10% dos investimentos e a transferência de sua tecnologia.

O governo brasileiro “solicitava mui humildemente” para liberar o dinheiro via BNDS que a multinacional operasse pelo menos a transferência de tecnologia para a fabricação no Brasil de telas OLED, que formam imagem emitindo luz própria, dispensando a retroiluminação usada nas telas LCD convencionais, o que faz com que as telas OLEDs sejam mais finas, leves e de melhor resolução. Mas a Foxconn bateu o pé e manteve a fabricação em telas de LCD.

Na época da instalação da fábrica no país, o governo do PT chegou a anunciar uma redução de 30% no preço dos tablets fabricados pela Foxconn “made in Brasil”. Fato é que os preços não caíram um centavo mas o governo não reviu a renúncia fiscal, transformada em superlucro pelos empresários da multinacional, graças a redução do imposto por um lado mas, sobretudo, pela miséria de salário que nos pagam cuja média, estagnada desde 2013, é de 1.190 reais.

Nós não sabemos quanto os patrões ganham nas nossas costas pois os patrões fazem questão de esconder seus livros caixas sob 7 chaves para que não saibamos quanto nos exploram, mas nós podemos calcular muito por baixo quais são os seus lucros. Ora, se a própria Apple, em seu site vende um dos modelos mais simples, o iPad mini, por 1.500 reais, fazendo as contas bem por baixo, se todos os modelos custassem o mesmo preço e se cada um dos IPads produzidos fosse vendido pelos donos da Foxconn por apenas 1.500 reais então, em um mês a Apple arrecadaria com a venda dos iPads 4.118.400 vezes 1.500 = 6.177.600.000 de reais. Como é que apesar de reunir essa fortuna que o peão não tem nem noção do que pode comprar, compartilhada gananciosamente entre os patrões da Foxconn e da Apple, os patrões se neguem a fazer um singelo plano de cargos e salários para que não morramos na fábrica recebendo a mesma miséria ou um pouco mais que recebemos quando fomos contratados??? Isto é um insulto! Os patrões nadando no dinheiro e nossos salários baixos e congelados.

A SUPEREXPLORAÇÃO IMPULSIONA O OPERARIADO À LUTA

Todo mundo sabe que para assegurar seus lucros astronômicos a Foxconn é famosa por tratar mal seus operários. Ela é “acusada de submeter seus trabalhadores a terríveis condições de trabalho, a empresa foi várias vezes associada ao suicídio de vários de seus empregados.” [ 1 ].

Na China, os trabalhadores estão passando da reação desesperada individual, que erroneamente levou dezenas ao suicídio, aos protestos coletivos e greves organizadas clandestinamente contra as terríveis condições de trabalho:

Em entrevista recente ao The New York Times, um ex-executivo da Apple disse que a empresa não leva a sério seu código de conduta para fornecedores. O texto dá destaque aos problemas da Foxconn na China. O jornal falou ainda com ex-funcionários da Foxconn. Entre as transgressões apontadas pelos entrevistados estão jornadas semanais de mais de 60 horas e por mais de seis dias e contratação de menores de idade, além de falsificações de registros. As histórias de quem está no chão da fábrica incluem pernas inchadas de tanto ficar em pé e um cartaz que diria ‘trabalhe duro no emprego hoje ou trabalhe duro amanhã para procurar um emprego’.” (Terra, Negócios e TI, “Sindicato: demissões sem explicações são problemas na Foxconn”, 3/02/2012) [ 2 ]

No Brasil, a fábrica demitiu cerca de 200 operários sem justa causa em 2012, mas já em 2013 os trabalhadores fizeram sua primeira greve exigindo o plano de cargos e de salários. Até agora a empresa só enrolou, prometendo preparar um plano se os trabalhadores voltassem ao trabalho, mas nunca esse plano apareceu nem no papel. No dia 11 de setembro a Foxconn, querendo ganhar mais tempo, pediu mais 15 dias para preparar o plano e mais um mês para por o tal plano em funcionamento. Foi então que a paciência da peãozada passou dos limites, eles exigiram uma assembleia do sindicato, que a realizou, e votaram pela greve por unanimidade.

Os 3.700 metalúrgicos da Foxconn II fizeram piquetes contra a patronal que desesperada chegou a armar provocações com fura-greves que tentaram romper o cordão dos grevistas para justificar a intervenção policial que usou de gás lacrimogênio para aterrorizasse o movimento e debilitar a greve antes dela arrancar sua demanda da empresa. Mas o piquete se manteve firme, a greve só se fortaleceu contra a armação da Foxconn e foi vitoriosa. No entanto, escaldados pelas enrolações anteriores, é preciso ficar atento e parar de novo se mais uma vez a Foxconn não cumprir o que prometeu.

EM COMPARAÇÃO A RIQUEZA PRODUZIDA PELOS SEUS OPERÁRIOS,
A FOLHA DE PAGAMENTO DA APPLE É "DINHEIRO DE PINGA"

Mas, é preciso ter claro que o plano de cargos e salários pagasse um aumento de 100% por ano de trabalho a todos os trabalhadores da Foxconn (o acordo atual nem sonha com isso e começa muito miseravelmente por rever em setembro o salário de 151 dos quase 4 mil companheiros), o valor de todos os salários somados não passaria de “dinheiro de pinga” comparado a quantidade de valor de um mês que nós produzimos para a Foxconn.

Basta calcular que a folha de pagamento de 4 mil trabalhadores, ganhando 1200 reais cada um, é de cerca de 4.800.000 reais. 24h de produção (ou 3 turnos), corresponde a 4.680.000 reais em vendas do iPad mais barato, logo, toda a folha de pagamento dos operários da Foxconn se paga com larga margem com a riqueza criada pelos próprios trabalhadores em pouco mais do que 24h de trabalho, sendo todas as outras horas do mês trabalhadas quase integralmente (tirando os custos de insumo, e etc.) um valor excedente (a mais valia) criado pelos trabalhadores que os capitalistas (da Foxconn, Apple, bancos, revendedores,...) vão embolsar.

Não é por acaso que Terry Goe, comparou seus empregados a “1 milhão de animais” que só lhe causam “dores de cabeça”, depois de 16 operários chineses terem se suicidado devido a superexploração imposta por Goe. Dos metalúrgicos de suas fábricas no Brasil e crápula capitalista chegou a dizer que eram uma turma que “ganha muito e trabalha pouco”.
Cada um dos enfrentamentos com os patrões faz com que os trabalhadores da Foxconn adquiram mais noção de sua megaexploração na Foxconn. A este aprendizado fundamental é preciso somar outro, o da necessidade de construir um núcleo classista e combativo dentro das fábricas, para superar os limites da direção sindical ligada a pelega Força Sindical, organizar-se com trabalhadores de outras fábricas e compreender o conjunto dos ensinamentos da luta de classes para realizar uma luta firme contra todos os patrões e os governos patronais que os protegem. Nessa luta por construir uma direção revolucionária para os próximos enfrentamentos os camaradas da Foxconn têm todo o apoio da Vanguarda Metalúrgica.

Notas