quarta-feira, 9 de abril de 2014

UCRÂNIA

“Poder Popular contra Repressão Fascista”

A Liga Comunista publica abaixo um relato do camarada Greg Butterfield (Workers World, Mundo Operário), sob autorização do mesmo, acerca da guerra civil na Ucrânia, onde milhares de manifestantes ucranianos, tomaram prédios públicos no cinturão industrial formado pelas cidades de Donetks, Carcóvia, Nikolayev e Lugansk. Claramente nota-se um salto de qualidade na luta antiimperialista e antifascista contra o governo fantoche de Kiev.

"Acontecimentos dramáticos ocorridos em 6-8 de abril levaram a Ucrânia à beira de uma guerra civil.

A rebelião da classe operária ucraniana e de língua russa da região sudeste contra o regime golpista de extrema-direita de Kiev vem aumentando consideravelmente, conduzindo a uma crise de dualidade de poderes em muitas cidades.

Em Donetsk, Carcóvia, Nikolayev e Lugansk, milhares de manifestantes antifascistas enraizados nas comunidades locais tomaram prédios administrativos do governo, sede da polícia e bancos, declarando a independência contra a junta de Kiev apoiada pelos Estados Unidos, que chegou ao poder em fevereiro após a queda do Presidente eleito Viktor Yanukovich. 

Os antifascistas definiram o 11 de maio como a data para o referendo regional, quando os moradores locais devem decidir democraticamente o seu estado futuro — seja pela ampla autonomia dentro Ucrânia, independência ou a afiliação com a Rússia, como decidiu o povo da Crimeia em 16 de março.

A busca por um referendo tem sido defendida entusiasticamente pelas massas de trabalhadores, aposentados e jovens de toda a região, e é esse apoio que alimenta a rebelião.

O prazo determinado para o referendo cai duas semanas antes das eleições presidenciais de 25 de maio estabelecidas por Kiev. O regime golpista, dominado por organizações fascistas e de extrema-direita, como Svoboda (Liberdade) e Batkivshchyna (Pátria), rejeitaram qualquer referendo.

O regime rotulou aqueles que defendem uma votação democrática como "terroristas" e "agentes pagos pela Rússia". Em 7 de abril, o Presidente Interino Alexander Turchinov, declarou que "medidas coercitivas" seriam utilizadas contra os apoiadores do referendo.

Em 8 de abril, o atual chefe adjunto da administração presidencial, Andrei Senchenko, disse aos jornalistas no Verkhovna Rada (Parlamento) que os militares ucranianos tinham sido autorizados a "atirar contra os terroristas... caso fosse necessário, a fim de proteger a integridade territorial" da Ucrânia (RBC-Ucrânia).

Membros do partido Svoboda, abertamente racista e antissemita, atacaram fisicamente representantes do Partido Comunista no chão do parlamento no dia 8 de abril depois que o líder comunista Petro Simonenko se atreveu a afirmar que o regime golpista foi responsável pela instabilidade no Sudeste (Neues Deutschland) [https://www.youtube.com/watch?v=GlKMVFtPsFI].

A resistência, incluindo da organização de esquerda União Borotba (Luta), diz que não pode haver eleições legítimas sem um referendo.

A PROCLAMAÇÃO DAS REPÚBLICAS POPULARES

O dia 6 de abril foi antológico, pois foi o dia da ação coordenada por antifascistas do sudeste da Ucrânia. Manifestações em várias cidades cresceram enormemente e continuaram até o anoitecer.

Durante a noite de 6 de abril, os ativistas tomaram o prédio da administração regional de Donetsk e proclamaram uma independente República Popular do Donetsk. Os manifestantes declararam que são agora as autoridades legítimas da região.

Depois que a declaração foi lida, a "Internacional" e o hino nacional soviético foram transmitidos por alto-falantes na praça principal para milhares de moradores entusiasmados.

As autoridades revolucionárias fizeram um apelo para a Federação Russa enviar forças de paz a fim de proteger o referendo.

Donetsk, na região mineira do Donbas, é um reduto tradicional do Partido Comunista da Ucrânia (KPU).

Horas mais tarde, em Carcóvia, milhares de antifascistas liderados pela União Borotba e pela Unidade Popular tomaram o prédio da administração regional, e proclamaram uma República Popular de Carcóvia.

Novos conselheiros regionais foram eleitos entre os trabalhadores, jovens e aposentados reunidos.

Os antifascistas resolveram agir depois que o Conselho Regional de Carcóvia ignorou uma petição apresentada em uma manifestação de massas em 6 de abril. A petição pedia que o Conselho definisse um referendo sobre três pontos: 1) A Ucrânia deveria ser um país federativo; 2) O idioma russo deveria ser legal; e 3) A Ucrânia deveria ser um país não-alinhado (sem a OTAN)?

A declaração da República Popular de Carcóvia pede o fim da exploração do trabalho e dá prioridade a formas coletivas de propriedade.

Em ambas as cidades, os militares e policiais se recusaram a obedecer ordens para agir contra os antifascistas.

O ATAQUE DAS FORÇAS FASCISTAS

Enquanto as ações revolucionárias se desenrolavam na região Sudeste, o regime em crise de Kiev reuniu-se em uma maratona de sessões para aprovar novas leis "antiterroristas" a fim de criminalizar ainda mais a resistência antifascista.

O ministro de extrema-direita do interior, Arsen Avakov, foi colocado no comando da ofensiva "antiterrorista" (LifeNews.ru).

A principal tarefa de Avakov era trazer as tendências concorrentes neonazistas da Ucrânia Ocidental sob a disciplina do regime, integrando-os em uma chamada "Guarda Nacional" e patrulhas conjuntas com a polícia.

Durante semanas, o Ministério do Interior enviou sicários do Pravy Sektor (Setor Direita) e outros neonazistas para se infiltrarem nas regiões rebeldes. A polícia e as agências militares também transferiram pessoas para substituir os que não queriam atacar a população local.

Na noite de 7 de abril, essas forças foram lançadas contra o povo do sudeste da Ucrânia.

O Pravy Sektor atacou um acampamento antifascista em Nikolayev. Um homem foi assassinado e outros ficaram gravemente feridos. [Informações posteriores afirmam que o número de mortos e feridos chegou a 20]

Em Lugansk, três foram mortos a tiros, e outro assassinado em Odessa.

Em Carcóvia, o Pravy Sektor e os agentes de autodefesa Maidan, vestidos com uniformes das forças especiais, foram mobilizados contra as forças populares que ocuparam o prédio da administração regional. Os fascistas atearam fogo no edifício e dispersaram os manifestantes. Pelo menos 70 pessoas foram presas e imediatamente deportadas para Kiev.

Ativistas relatam que entre as forças repressoras estavam mercenários de língua inglesa, a quem eles acreditam que trabalham para a empresa estadunidense Greystone Ltd., cuja presença tem sido relatada em outros lugares da Ucrânia desde o golpe de estado.

Os escritórios do Borotba e da Unidade Popular em Carcóvia foram tomados e ocupados pelos fascistas.

Uma declaração emitida pelo Borotba diz: "Apesar da repressão, a resistência não diminui. Neste momento, o povo está voltando para o prédio da administração regional para continuar a luta."

Vídeos postados em 8 de abril mostram que os confrontos continuam a ocorrer nas ruas de Carcóvia. Em um desses vídeos, os manifestantes impediram agentes das forças especiais de deixarem um ônibus. [https://www.youtube.com/watch?v=6Uixdwap7sE / https://www.youtube.com/watch?v=7OFp6o6Gz8M]

DONESTK SE PREPARA

De acordo com um informe de Ivan Pobedonoscev em Donetsk, publicado pelo website comunista russo "RedTV", o novo governo popular de Donetsk está se preparando para um ataque militar contra o prédio da administração regional que ocupa neste momento, provavelmente pela noite de 8 de abril.

Na manhã do dia 7 de abril, trabalhadores da fábrica de aço Yasinovka em Makeevka paralisaram o trabalho e organizaram transportes coletivos para unir-se aos defensores de Donetsk, prometendo permanecer e proteger os manifestantes enquanto for necessário.

Os voluntários estão construindo barricadas e mobilizando adeptos para defender a República Popular. Eles emitiram um apelo urgente para as pessoas trazerem rações, bebidas, extintores de incêndio, máscaras de gás e suprimentos médicos.

Kiev já se mobilizou com forças especiais de segurança da Ucrânia Ocidental, equipados com armamentos e vestimentas da SWAT. Mercenários da Greystone encontram-se entre eles, disfarçados de soldados. Equipamentos militares foram movidos para cercar Donetsk. A eletricidade do prédio da administração regional foi cortada.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia pediu no dia 8 de abril que a Ucrânia "suspendesse quaisquer preparativos militares que possa instigar uma guerra civil".

Enquanto isso, outro navio de guerra dos EUA chegará ao Mar Negro no dia 10 de abril, com Washington aumentado ainda mais suas ameaças contra a Rússia para defender o golpe de Kiev.

A CNN informa que a chegada do USS Donald Cook 'vem antes de uma reunião planejada para o dia 15 de abril de altos representantes políticos da OTAN para discutir e aprovar potencialmente uma série de recomendações voltadas a medidas militares adicionais, incluindo a redução do ‘tempo de resposta’ das forças da OTAN em caso de crise. Outras opções incluem mais exercícios militares com os países membros, incluindo os Estados Unidos, e o fornecimento de conselheiros militares para a Ucrânia'."