sexta-feira, 14 de março de 2014

UCRÂNIA - CLQI

Derrotar o imperialismo e o nazismo na Ucrânia!
Frente única com Putin, o diabo e sua avó!

Declaração do Comitê de Ligação pela IV Internacional

"A defesa contra o fascismo não é uma ação isolada. O fascismo é apenas um porrete nas mãos do capital financeiro. O objetivo do esmagamento da democracia proletária é elevar a taxa de exploração da força de trabalho. Aí reside um campo imenso para a frente única proletária: a luta pelo pão de cada dia, luta estendida e agudizada, conduz diretamente, sob as condições atuais, a luta pelo controle operário da produção."

Leon Trotsky , El frente único defensivo, Carta a un obrero socialdemócrata, (23 de fevereiro de 1933), http://www.marxists.org/espanol/trotsky/1933/febrero/23.htm

UM GOVERNO NAZISTA

Não se enganem, os recentes acontecimentos na Ucrânia sinalizam que o proletariado internacional enfrenta a ameaça mais séria à sua existência organizada desde os sombrios dias de fevereiro 1933, quando Trotsky escreveu estas palavras.

Vejamos o que revela o Wikipedia sobre a natureza do partido Svoboda:

"Em 2004, o líder do partido Svoboda, Tyahnybok, foi expulso da frente parlamentar ‘Nossa Ucrânia’ por causa de um discurso chamando os ucranianos para lutar contra uma "máfia moscovita-judia". O Secretário do Svoboda, Yuriy Mykhalchyshyn, criou um ‘Centro de Pesquisa Política Joseph Goebbels’, em 2005, posteriormente rebatizado de ‘Joseph Goebbels’ para ‘Ernst Jünger’. Mykhalchyshyn escreveu um livro em 2010, citando trabalhos de teóricos nazistas Ernst Röhm, Gregor Strasser e Goebbels. Em outros lugares, Mykhalchyshyn referiu-se ao Holocausto como um ‘período esplendoroso da história’."
Svoboda (partido político), Origem: Wikipédia, http://en.wikipedia.org/wiki/VO_Svoboda

Há sete ministros de extrema-direita no novo governo ucraniano. O vice-primeiro- ministro Oleksandr Sych é do Svoboda. O Congresso Judaico Mundial pediu que a UE para proibir este partido, mas a UE não tem nenhum problema com os fascistas, quando necessário, usa-os para esmagar a classe trabalhadora. Os revolucionários tem uma política para incluir às minorias étnicas perseguidas na frente única antifascista – como é o caso dos judeus hoje na Ucrânia – política que nada tem a ver com a criação de qualquer expectativas no sionismo.

Esta é uma lista dos primeiros atos votado pelo parlamento ucraniano no dia 23 de fevereiro sob governo liderado pelos nazistas:

4201 – Lei para proibição a atividade do Partido Comunista da Ucrânia;
4217 - Lei de reparação antecedentes da ocupação soviética da Ucrânia;
4176 - Lei de revogação da proibição da propaganda nazista;
4184 - Lei nomeando V. Avakov como ministro do Interior e os membros do "Setor de Direita" do partido na equipe do ministério (Avakov também pertence a este partido fascista).
4215 - Lei estabelecendo um "panteão dos heróis nacionais";
4203 - Lei reduzindo os gastos do Estado;
4215 - Lei homenageando os participantes dos confrontos durante manifestações pacíficas;
4197 - Lei nomeando Α.Mahnitskogo, o membro do "Svoboda", como Procurador-Geral;
4204 – Lei delimitando os deveres do Presidente do país;
4191 – Lei nomeando Nalivaychenko, membro da “UDAR" (Aliança Ucraniana para a Reforma Democrática)”, como supervisor das Agências de Segurança;
4211 – Lei demitindo todos os funcionários efetivos e pessoal das forças de segurança e substituí-los por novos funcionários (membros de grupos de extrema direita).

O Imperialismo dos EUA é mais consequente na defesa dos interesses do capital financeiro e, portanto, preferem logo o fascismo como seus titeres, não se contentando apenas com uma alternativa de direita pró-União Europeia.
Mas os revisionistas britânicos do Workers Power acredita que:

"Este [novo governo ucraniano] foi o resultado dos esforços bem sucedidos dos EUA para frustrar os planos do imperialismo alemão em nomear para a cabeça do governo seu fantoche ucraniano, o ex-pugilista Vitali Klitschko, da “UDAR" (Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma) que não foi nomeado na distribuição antidemocrática do espólio. Os imperialistas norte-americanos preferem ter pessoas de ‘sua’ confiança no poder – mesmo que isso signifique ir para a cama com os fascistas do Svoboda". http://www.workerspower.co.uk/2014/03/ukraine-kyiv-regime-rules-under-fascist-whip/ Ucrânia : as regras do regime de Kiev sob chicote fascista.

Não é por acaso que, desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA assumiram o papel de polícia mundial e suplantaram o nazismo na arte de manter o controle do planeta para o capital financeiro. Aprendendo e aplicando o método oposto e simétrico da revolução permanente, acreditamos que somente a ditadura do proletariado pode esmagar o fascismo, como a URSS fez contra Hitler. A "democracia" capitalista é incapaz de realizar uma luta constante contra o fascismo porque como se sabe, quando o capitalismo se sente ameaçado leve o fascismo para passear. Como Trotsky observou:

"Nem sempre é possível fazer o exército marchar contra o povo. Frequentemente, ele começa a se decompor e termina com a passagem de uma grande parte dos soldados para o lado do povo. É por isso que o grande capital é obrigado a criar bandos armados, especiais treinados para atacar os operários, como algumas raças de cães são treinados para atacar a caça. A função histórica do fascismo é esmagar a classe operária, destruir suas organizações, e sufocar as liberdades políticas, quando os capitalistas se vêem incapazes de governar e dominar com a ajuda da maquinaria democrática." 

(O desmoronamento da democracia burguesa, Aonde vai a França? 1934)

FRENTE ÚNICA ANTI-IMPERIALISTA E ANTIFASCISTA

Defendemos uma Frente única anti-imperialista e antifascista com a Rússia e os trabalhadores ucranianos do armamento do proletariado em milícias de defesa e pela revolução permanente para vencer a luta. Isso significa uma frente única, sem apoio político a Putin, com os oligarcas do Oriente ou com o diabo e sua avó para esmagar essas "tropas de assalto do capital financeiro".

Putin, a oligarquia russa e parte da ucraniana que é pró-russa, buscam apenas se apropriar da maior naco possível da Ucrânia, em acordo com o imperialismo, dividindo o país com os nazistas de Kiev, se necessário. Nós não nos contentamos com isso, lutamos por Ucrânia independente e soviética e desejamos esmagar o nazi-fascismo em Kiev, tarefa que só o proletariado ucraniano, armado e apoiado pelo proletariado russo, pode cumprir. Por isso, reivindicamos o armamento de toda população trabalhadora ucraniana, a criação de milícias de resistência proletária, para esmagar o nazismo. Como o nazismo é uma criação do capitalismo contra o proletariado, as distintas frações do capital não são consequentes no extermínio do nazismo, pelo contrário, se distinguem entre os que conciliam ou no máximo fazem uma política de contenção, quando ele não entre em conflito com seus interesses, e os que patrocinam o grande capital contra o proletariado, por isso, somente com métodos da ditadura proletária, se pode esmagar o nazismo.

Se a Rússia aproveita para invadir o leste da Ucrânia, esmagando assim o fascismo, a classe trabalhadora deve formar uma frente única com ele, sabendo que no dia seguinte ela teria que lutar contra seus até então aliados e contra qualquer governo que Moscou pode querer instalar no leste como representantes dos oligarcas de lá que, então, tendem a flertar com uma nova aliança com o imperialismo ocidental.

Foi em um episódio da luta de classes em que estava em jogo duas frações burguesas, sendo que uma delas representava o massacre imediato da classe trabalhadora, que Lenin desenvolveu uma trégua temporária com Kerensky contra o perigo principal, a tentativa de golpe de Estado de Kornilov, em agosto de 30 (12 Setembro) de 1917. Foi uma mudança tática forçada pelos acontecimentos como ele explicou:

“Nem mesmo agora devemos apoiar o governo de Kerensky. Isto seria uma falta de princípios. Vamos lutar juntos contra Kornilov? Claro que vamos! Mas não é a mesma coisa [lutar contra o golpe de Kornilov e apoiar Kerensky], há aqui uma linha divisória, que  alguns bolcheviques passaram por cima dela desviando-se para uma posição conciliadora e deixando-se levar pelo curso dos acontecimentos. Vamos lutar e estamos lutando contra Kornilov, assim como as tropas de Kerensky o fazem, mas não apoiamos Kerensky. Pelo contrário, nós denunciamos a sua fraqueza. Existe uma diferença. É uma diferença muito sutil, mas é uma diferença essencial que não deve ser esquecida.
Em que consiste, então, a nossa mudança de tática após a revolta Kornilov?
Estamos mudando a forma de nossa luta contra Kerensky. Sem o menor recuo em nossa hostilidade em relação a ele, sem retirar uma única palavra dita contra ele, sem renunciar a tarefa de derrubá-lo, dizemos que temos de levar em conta a situação atual. Não vamos derrubar Kerensky agora. Vamos realizar a luta contra ele de uma forma diferente, ou seja, chamando a atenção das pessoas (que estão lutando contra Kornilov) as fraquezas e vacilações de Kerensky. Isso já fazíamos também no passado, mas agora isso é o fundamental, nisto se constitui a nossa mudança de tática". 

Https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1917/aug/30.htm

“Embora reconheçamos que qualquer Intervenção militar russa está destinada principalmente a garantir os privilégios da burguesia russa, compreendemos que mesmo assim, a atual intervenção russa oferece uma oposição ao inimigo principal, o capital financeiro imperialista ocidental e o seu governo títere na Ucrânia, composto por uma frente de partidos nazistas.

A classe trabalhadora luta lado a lado com as tropas russas e seus apoiadores no leste ucraniano contra os nazistas que tomaram de assalto o governo para derrotá-los e, em seguida, preparar a derrubada de seus aliados temporários, no dia seguinte, Assim como fez Lenin em setembro de 1917, quando aliou-se taticamente com Kerensky contra o golpe de Kornilov.” (Declaração de solidariedade aos antifascistas ucranianos, Por Socialist Fight e Democracy and Class Struggle, 7/03/2014) http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2014/03/declaracao-de-solidariedade-aos-grupos.html.

E não é uma questão de apoiar o "mal menor", mas de uma orientação tática para enfrentar o perigo principal. Como Trotsky explicou em dezembro 1931:

"Nós, os marxistas consideram Brüning, Hitler e Braun incluído, como partes componentes de um único e mesmo sistema. A questão de saber qual deles é o "mal menor" não tem nenhum sentido, por que este sistema, contra o qual estamos lutando tem necessidade de todos estes elementos. Mas, esses elementos estão momentaneamente envolvidos em conflitos uns contra os outros e o partido do proletariado deve aproveitar esses conflitos no interesse da revolução. Há sete notas na escala musical. A questão de saber qual dessas notas é a "melhor" – si, dó, ré, ou sol – é uma pergunta sem sentido. Mas o músico deve saber quando tocar e quais notas tocar. A questão abstrata de que é o mal menor – Brüning ou Hitler – também carece de todo sentido. É necessário saber qual tecla tocar. Isso está claro? Para o débil mental vamos citar outro exemplo. Quando um dos meus inimigos me coloca diante de pequenas porções diárias de veneno e um segundo, por outro lado, está prestes a atirar diretamente contra mim, então eu vou primeiro tomar o revólver da mão de meu segundo inimigo, isso me dará uma oportunidade para se livrar do meu primeiro inimigo. Mas isso não significa em absoluto que o veneno é um "mal menor" em comparação com o revólver".

(Leon Trotsky, Por un frente único obrero contra el fascismo, Carta a un obrero comunista alemán, miembro del partido comunista alemán, Dezembro de 1931)

A classe operária na Ucrânia deve defender todas as minorias étnicas, tártaros, húngaros, romenos, búlgaros, moldavos, judeus, etc. No entanto, o sionismo não defende os judeus aqui. Assim como os líderes sionistas colaboraram com Hitler durante a Segunda Guerra Mundial, o sionismo na Ucrânia está dando total apoio ao governo golpistas anti-semita. O rabino ucraniano Alexander Dukhovny reuniu-se com o secretário de Estado John Kerry EUA em 4 de março e disse: "A maior parte da comunidade judaica apoia os protestos... Os manifestantes lutaram pela liberdade e pela democracia, pelos valores e padrões europeus" The Jewish News, 06/03/2014 P. 2)

Na medida em que o Exercito russo não realize expedições punitivas contra os trabalhadores ucranianos, defendemos a confraternização dos trabalhadores ucranianos com a tropa russa, o que por sua vez deve estar combinado a uma política de mobilização do próprio proletariado russo contra o governo nazista fantoche do imperialismo.

FRENTE ÚNICA OPERÁRIA OU FRENTE POPULAR?

"Ah!", poderão saltar alguns "mas esta frente que vocês propõem não é uma Frente Única Operária, pois é uma frente com a Rússia e a burguesia do Leste da Ucrânia, uns oligarcas corruptos. Esta não é uma Frente Única Operária trotskista, mas uma Frente Popular sem escrúpulos, oportunista e stalinista!".A Ucrânia não é um país imperialista, mas um país semi-colonial que fazia parte do Estado Operário Degenerado que foi a URSS até seu colapso em 1991. Sua classe capitalista nasceu da aliança com Boris Yeltsin e com o imperialismo dos EUA, nasceu como oligarcas corruptos. No entanto, o surgimento em 2000 de Putin como presidente da Rússia, marcou uma afirmação dos direitos da burguesia nacional para reter mais dos lucros provenientes da exploração dos trabalhadores na Rússia em oposição ao domínio de Wall Street e do capital financeiro de seus aliados. Um processo semelhante ocorreu na Ucrânia, com o conflito entre Yushchenko e Yanukovich durante a “Revolução Laranja” de 2004, e , em seguida, entre Yanukovych e Yulia Tymoshenko em 2010. Por trás dos conflitos entre as oligarquias ucranianas esteve o conflito entre o capital financeiro EUA/UE e a burguesia nacional, uma "semi- oprimida, semi-opressora " classe nas semi-colonial, que a Rússia havia se tornado. Portanto, nossas táticas deve ser baseada não apenas na Frente Única Operária, mas também na Frente Única Antiimperialista, conforme descrito pelo Comintern Revolucionária no IV Congresso, em 1922:

"Nos países do Ocidente, que atravessam um período transitório de acumulação de forças organizadas nós avançamos com a consigna da Frente Única Operária. Da mesma forma, no Oriente colonial no presente momento a palavra de ordem para avançar é a da Frente Única Anti-imperialista. Sua conveniência está ligada a perspectiva de uma luta prolongada contra o imperialismo mundial, que exigirá a mobilização de todos as forças revolucionárias. Esta mobilização torna-se ainda mais necessária pela tendência das classes dirigentes nativas a fazer compromissos com o capital estrangeiro dirigidos contra os interesses fundamentais da massa do povo. Assim como no Ocidente, a palavra de ordem de Frente Única Operária ajudou e ainda está ajudando a desmascarar às traições cometidas pelos social-democratas contra os interesses do proletariado, assim também a palavra de ordem da FUA vai ajudar a expor as vacilações dos diversos grupos do nacionalismo burguês. Este slogan também irá ajudar as massas trabalhadoras a desenvolver sua vontade revolucionária e aumentar a sua consciência de classe, que irá colocá-los nas primeiras fileiras daqueles que lutam não só contra o imperialismo, mas contra os resquícios do feudalismo".
(IV Congresso da Internacional Comunista, 5/12/1922, VI. A Frente Única Antiimperialista) https://www.marxists.org/history/international/comintern/4th-congress/eastern-question.htm

Mas com a diferença de que, hoje, o feudalismo e seus resquícios são insignificantes e a classe trabalhadora nas semi-colônias mais avançados é muito mais numerosa, poderosa e melhor organizado do que na época de Lênin ou mesmo no período posterior de Trotsky. Basta olhar para as federações sindicais na África do Sul, Brasil, Índia ou Egito, para verificar.

QUE TIPO DE IMPERIALISMO ?

No entanto, como Trotsky explica:

"Nós nunca colocamos todas as guerras no mesmo plano. Marx e Engels apoiaram a luta revolucionária dos irlandeses contra a Grã-Bretanha, dos poloneses contra o czar, embora nestas duas guerras nacionalistas os líderes eram, em sua maior parte, os membros da burguesia e às vezes até mesmo da aristocracia feudal. .. em todos os casos, reacionários católicos. ... Falar de " derrotismo revolucionário " em geral, sem distinção entre países exploradores e explorados, é fazer uma caricatura miserável do bolchevismo e colocar essa caricatura a serviço dos imperialistas". 

(Leon Trotsky , sobre a Guerra Sino-Japonesa, 23/09/1937) http://www.marxists.org/archive/trotsky/1937/10/sino.htm

"Mas”, de novo retrucam nossos críticos, “pelo menos vocês devem admitir que a Rússia é imperialista" e continuam "A Rússia e a China são imperialistas, como os EUA, Reino Unido, França e Japão, certo?" Não, Rússia e China não são imperialistas no sentido marxista do termo. Seria falta de rigor em querer caracterizá-los como tal apenas por buscarem expandir a sua esfera de influência, como Trotsky explica aqui em relação à antiga URSS, em 1939:

"A história conheceu o "imperialismo" do Estado romano baseada no trabalho escravo, o imperialismo da propriedade feudal da terra, o imperialismo do capital comercial e industrial, o imperialismo da monarquia czarista, etc .. No entanto, na literatura contemporânea, pelo menos na literatura marxista, o imperialismo é entendido como a política expansionista do capital financeiro, que tem um conteúdo econômico muito bem definido. Ao empregar o termo "imperialismo" para a política externa do Kremlin – sem esclarecer exatamente o que isso significa – simplesmente para identificar a política da burocracia bonapartista com a política do capitalismo monopolista pelo fato de que tanto uma como o outro utilizar a força militar para expansão, tal identificação, que só será capaz de semear confusão, é muito mais própria de democratas pequeno-burgueses do que de marxistas."


Portanto não estamos diante de dois blocos imperialistas, os EUA e a UE, por um lado, e do bloco da Eurásia, Rússia e China, de outro. A Rússia é uma nação burguesa imensa com independência militar em relação ao imperialismo ocidental, responsável pelo fornecimento de 30% do gás para a Europa, mas a exportação de capitais não predominam sobre a exportação de bens (gás, armas) na economia russa.

Desde o ataque dos EUA/UE sobre a Iugoslávia, entre 1995 e 1999; passando pelas recentes investidas contra a Líbia e a Síria em 2011 e agora, na Ucrânia, muitos setores da extrema esquerda centrista vêm caracterizando que estas são guerras interimperialistas. Portanto, diante destas guerras deveríamos ou apoiar o lado pró-imperialismo ocidental, lutando pela "democracia" (que nunca chega a nenhum povo oprimido) ou não podemos tomar qualquer lado na disputa pois nenhum corresponde aos interesses da classe trabalhadora. Faz parte dos princípios marxistas que devemos ser duplamente derrotista em guerras interimperialistas. Mas nem de longe estes grupos de extrema esquerda atualmente se aproximam dos princípios marxistas. No melhor dos casos são terceiros campistas [edificam um muro imaginário para subirem em cima diante dos conflitos], e no pior dos casos são partidários sem vergonha de sua própria classe dominante. Estas desmoralizadas organizações centristas que não vêem qualquer alternativa ao imperialismo "democrático", passaram a defender todas e cada uma das mentiras, todos os itens da propaganda de guerra da ofensiva global imperialista por mudança de regimes e governos adversários.

Em 1916, Lenin forneceu uma definição meticulosa de imperialismo, de cinco pontos:

"1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse "capital financeiro" da oligarquia financeira; 3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância particularmente grande; 4) a formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que partilham o mundo entre si, e 5) o termo da partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes. O imperialismo é o capitalismo na fase de desenvolvimento em que ganhou corpo a dominação dos monopólios e do capital financeiro, adquiriu marcada importância a exportação de capitais, começou a partilha do mundo pelos trusts internacionais e terminou a partilha de toda a terra entre os países capitalistas mais importantes.”

Vladimir Ilyich Lenin , O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo , A ESBOÇO POPULAR , https://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/cap7.htm

Desde que ele fez esta definição uma série de coisas mudaram. Os resultados de duas guerras mundiais e o colapso da União Soviética, em 1991, levaram à dominação global dos EUA como a única superpotência mundial. O "imperialismo" da Rússia e da China são substancialmente diferentes. A definição de pré-imperialistas pode ser um termo mais apropriado.

O IMPERIALISMO HOJE

Hoje Londres continua no topo da lista dos principais centros financeiros do mundo, seguida por Nova York em segundo lugar. De acordo com a última edição do “The Global Financial Centres Index” (Índice de Centros Financeiros Globais). Algumas vezes identificadas como o eixo Ny-Lon, estas duas cidades têm dominado o capital financeiro global nos últimos dois séculos.

Hong Kong e Cingapura, estão ranqueadas como terceiro lugar e quarto lugar, com Zurique, em quinto lugar. Tóquio, Genebra, Boston, Seul e Frankfurt completam o top 10. Cidades dos Estados Unidos e Canadá perfilam-se nos próximos sete lugares, com Chicago, em 11º, Toronto, em 12º, e São Francisco em 13º, Washington DC, em 14º, Vancouver, em 15º, Montreal, 16º, e Calgary (também no Canadá), em 17º. Neste quesito, Moscou e seu “imperialismo” é tão insignificante e tão longe dos EUA que consta apenas na 69º colocação, atrás de Johanesburgo na África do Sul, Manila nas Filipinas e da Cidade do Panamá.

Se olharmos para algumas outras estatísticas econômicas e militares, descobrimos que alguns países que alguns da esquerda chamam de imperialista sequer figuram na primeira divisão mundial, pois eles são insignificantes econômica e militarmente, não têm empresas multinacionais no World’s top 2000, que reúne as maiores transnacionais planetárias, não têm bases militares estrangeiras, ou seja, eles sequer podem competir em todas as categorias com os EUA e seus aliados mais próximos como Reino Unido, França, Japão e Alemanha.

1. MULTINACIONAIS:

A lista da Forbes com as duas mil maiores multinacionais do mundo que nos dá uma boa indicação do equilíbrio global entre as forças econômicas: Dentre as corporações capitalistas que se encontram no topo do mundo em 17 abril de 2013, os EUA possuem 543, Japão 251, China 136, Reino Unido 95, França 64, Coréia do Sul 64, Canadá 64, Índia 56, Alemanha 50, Suiça 48, Hong Kong (China) 46, Austrália 42, Taiwan 41, Brasil 31 , Itália 30 , Rússia 30 , Espanha 28 , Holanda 24 , Suécia 23. http://www.economywatch.com/companies/forbes-list

Os Bancos e diversas companhias financeiras dominam a lista das duas mil, sendo deste setor do capital 469 empresas (9a menos que no ano anterior). Os próximos três maiores setores industriais membros da lista são de petróleo e gás (124 empresas), equipamentos diversos (122 empresas) e companhia de seguros (109 empresas).

Quando a lista apareceu pela primeira vez em 2004, os EUA tinham quase 1.000 companhias nela, mas seu declínio real vem sendo compensado pela posição dominante do dólar como moeda de negociação de reserva do mundo, imposto pelo seu poderio militar e transferindo a sede (HQs) de suas empresas para o exterior para tirar proveito das pequenas economias com regimes de tributação das sociedades muito mais favoráveis a partir dos quais os lucros são repatriados para os EUA. Por exemplo, com 17 grandes empresas, a Irlanda aparece praticamente na mesma colocação que a África do Sul, México e Arábia Saudita, o que projeta artificialmente uma comparação ridícula. Na realidade, metade dessas empresas não são realmente inteiramente irlandesas, exceto pelo nome. Uma das companhias top, a Accenture plc, dirigida para "a prestação de serviços de consultoria de gestão, tecnologia e terceirização" aparece como a 318 colocação na lista, com uma capitalização de mercado de $ 53,34 bilhões, mas se trata claramente de uma corporação transnacional dos EUA.

2. BOLSA DE VALORES

As 10 principais Bolsas de Valores avaliadas na estatística por volume de papéis negociados (em bilhões de dólares, US $ bilhões) são: 1 . NYSE Euronext, Estados Unidos/Europa, 14.085 dólares; 2. NASDAQ OMX Group, Estados Unidos/Europa, $ 4.582; 3. Bolsa de Tóquio, Japão 3.478 dólares; 4. London Stock Exchange, 3.396 dólares; 5. Hong Kong Sock Exchange, 2.831 $; 6. Bolsa de Xangai, 2.547 dólares; 7. TMX Group, Canadá, 2.058 dólares; 8. Deutsche Börse, Alemanha, $ 1.486; 9. Australian Securities Exchange, 1.386 dolares; 10. Bombay Stock Exchange, 1.263 dólares. Observe que as duas bolsas de valores estadunidenses são tão grandes quanto as outras oito bolsas juntas.

3. PRODUTO INTERNO BRUTO

No ranking da ONU (2012) dos 20 países com maior Produto Interno Bruto (em Milhões de dólares dos EUA): PIB mundial: 72.689.734 dólares. 1. Estados Unidos 16.244.600 $; 2. China $ 8.358.400; 3. Japão 5.960.180 dólares; 4. Alemanha $ 3.425.956; 5. França $ 2.611.221; 6. Reino Unido, 2.417.600; 7. Brasil 2.254.109; 8. Rússia 2.029.812; 9. Itália $ 2.013.392; 10. Índia $ 1.895.213; 11. Canadá $ 1.821.445; 12. Austrália $ 1.564.419; 13. Espanha $ 1.322.126; 14. México $ 1.183.655; 15. Coreia do Sul $ 1.129.598; 16. Indonésia $ 878.043; 17. Turquia $ 788.299; 18. Holanda $ 770.067; 19. Arábia Saudita $ 711.050; 20. Suíça $ 631.183. Mais uma vez os EUA , com seus aliados Japão, França e Reino Unido superam todos os outros por uma margem enorme.

4. MAIORES DESPESAS MILITARES

Os 15 principais gastos militares (em bilhões de dólares) de acordo com o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) no ano de 2013: 1. Estados Unidos $ 682; 2. China $ 166; 3. Rússia $ 90,7; 4. Reino Unido $ 60,8 . 5. Japão $ 59,3; 6. França $ 58,9; 7. Arábia Saudita $ 56,7; 8. Índia 46,1 dólares; 9. Alemanha $ 45,8; 10. Itália $ 34,0; 11. Brasil US $ 33.1; 12. Coréia do Sul $ 31.7; 13. Austrália $ 26,2; 14. Canadá $ 22.5; 15. Turquia $ 18,2; Note-se a despesa militar dos EUA é igual ao total combinado de todos os outros 14 países da lista.

5. FROTAS E PORTA-AVIÕES

Em todo o mundo, os EUA possuem cinco frotas de navio de guerra, a Segunda Frota no Atlântico, a Terceira Frota no Pacífico Oriental, a Quinta Frota no Golfo Pérsico e no Oceano Índico, a Sexta Frota no Mediterrâneo e a Sétima Frota no Pacífico Ocidental. Nenhuma outra nação possui frota capaz de rivalizar com este poder militar. Lista de porta-aviões em serviço em 2013: Estados Unidos 10; Itália 2; Reino Unido 1; França 1; Rússia 1; Espanha 1; Índia 1; Brasil 1; China e Tailândia 1, cada.

6. BASES MILITARES

O Instituto Transnacional de relatórios sobre bases militares no exterior contabiliza mais de 100 países e territórios. Os EUA atualmente mantém uma rede mundial de cerca de mil bases militares e instalações (fora os EUA, incluindo  2.639 bases domésticas nos EUA). Além disso, outros países da OTAN, como a França e o Reino Unido têm mais de 200 bases militares dentro da rede de controle militar global.

Os principais países "hospedeiros" são os perdedores das grandes guerras em que os EUA estiveram envolvidos. Alemanha, Itália, Japão e Coréia são os quatro maiores “hospedeiros”. Não por acaso, apesar de possuírem economias imperialistas, as forças militares e governos da Alemanha e Japão não passam de fantoches dos EUA.

França e Reino Unido, principalmente, têm bases nos restos mortais de seus impérios coloniais. O Reino Unido é forte no Atlântico Sul e em todo o Mediterrâneo. A França é forte no Pacífico Sul e na África. A Rússia tem atualmente seis instalações militares nas ex-repúblicas soviéticas, como na Criméia; e a Índia tem uma no Tajiquistão. A China atualmente não possui bases militares no exterior ao estilo estadunidense.

Não basta orientar-se apenas por um índice para determinar se um país é ou não imperialista. Por exemplo, se tomarmos o ranking do PIB isoladamente, imediatamente a questão do PIB per capita surge. O parâmetro fundamental é a relação entre as nações. É isto que define se uma nação é oprimida pelas grandes potências imperialistas ou se sua economia é integrada às estruturas imperialistas mundiais para explorar outras nações pelo benefício mútuo de ambos. No ultimo caso, trata-se de países que tomam carona nas potências imperialistas; eles penetram nos mercados abertos pelas grandes potências. Todavia, em todos os índices Brasil, África do Sul e Índia não são potências imperialistas. Nem o são a Rússia e a China na maioria deles. Mas, “qual é a diferença entre o papel da Rússia e da China para o mercado mundial e o que cumpria a Rússia até 1917, quando Lenin acertadamente qualificava seu país de uma potência imperialista a partir de estatísticas económicas?" Questionam nossos críticos.

Em seu “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, na seção sobre capital financeiro Lenin faz essa diferenciação que tem avançado enormemente desde 1945. Ele ressalta que em 1910:

"Juntos, esses quatro países (Inglaterra, França, Estados Unidos e Alemanha ) possuem 479 mil milhões de francos, isto é, cerca de 80 % do capital financeiro mundial. Quase todo o resto do mundo exerce, de uma forma ou de outra, funções de devedor e tributário desses países, banqueiros internacionais, desses quatro "pilares" do capital financeiro mundial.".

ONDE ESTÁ O CAMINHO PARA A LIBERTAÇÃO HUMANA,
NA MORAL CRISTÃ HIPÓCRITA OU MARXISMO REVOLUCIONÁRIO?

A questão não é apoiar Assad ou os talibãs ou forças anti-imperialistas reacionárias quando estas forças exploram e oprimem a sua própria classe trabalhadora ou as mulheres. Não, a questão é a luta contra o imperialismo e a busca por sua derrota. Claro que é verdade que regimes nacionalistas burgueses como o de Gaddafi na Líbia ou Assad na Síria lutariam em nome do imperialismo se lhes conviesse. Lembre-se dos muitos favores Gaddafi fez para o Ocidente, como podemos esquecer que o terrível massacre de Tel al-Zaatar durante a Guerra Civil Libanesa, em 12 de agosto de 1976, que foi facilitado pelo pai de Assad, Hafez al-Assad? E também os fundamentalistas lutaram em nome do imperialismo no Afeganistão durante a ocupação soviética, na Líbia, e agora na Síria. Mas quando eles estão lutando contra o imperialismo como no Mali, a Palestina ou o Hezbollah no Líbano, devemos estar com eles. A questão é, eles estão lutando a favor ou contra o imperialismo agora? Os marxistas tem como princípio lutar contra o imperialismo ao lado daqueles que estão lutando agora mesmo ao ponto de formar uma Frente Única Anti-imperialista na prática, seja por meio de acordo formal, se possível, mas de qualquer forma politicamente apoiando estas forças contra o imperialismo e seus aliados. Insistimos este é um imperativo absoluto para cada socialista revolucionário. O imperialismo impõe um modo desumano de produção em todo o planeta que induz a alienação, a opressão que degenera todas as relações humanas em todos os lugares, que provoca grande infelicidade pessoal e insanidade, que traz a guerra e a fome para a humanidade em um momento de nossa história que os recursos materiais e os avanços tecnológicos são tantos que se poderia suprir todas as carências e necessidades de cada ser humano do planeta se estes recursos fossem racionalmente planificados. E isso sem contar o grande salto em termos de riqueza e cultura humana que uma economia planificada mundial poderia propiciar. O imperialismo dá à humanidade um panorama de todo um novo mundo possível somente para negar seus benefícios para a grande maioria da humanidade e deixar-nos contemplar o espetáculo obsceno do maior fosso entre os pobres e os ricos que o mundo já conheceu: o 1% mais rico dos adultos sozinho é dono de 40% dos ativos globais e os 10% mais rico dos adultos são proprietários de 85 % da riqueza total mundial. Em contraste, a metade mais pobre da população adulta do mundo possui apenas 1% da riqueza global.

Se entendermos o que é o imperialismo de forma completa devemos tomar o lado de todos os lutadores anti-imperialistas, mas não de forma acrítica, não concedendo-lhes o manto do socialismo ou do comunismo ou mesmo acreditando que realizem a luta anti-imperialista de modo consequente. Mas de uma forma baseada em princípios de lutar juntos para derrotar o inimigo principal de toda a humanidade oprimida, a fim de expor as inconsistências das direções de massas existentes nas semicolônias e os desvios burocráticos nos sindicatos em todos os lugares, e assim estabelecer as bases para uma verdadeira revolução internacionalista e anti-imperialista, reconstruindo a Quarta Internacional. Isso irá fortalecer o internacionalismo e a capacidade de luta mutuamente da classe trabalhadora nos países semi-coloniais e nos países metropolitanos que lutam em seu nome contra seus próprios imperialistas. E isso vai incentivar a classe trabalhadora nos países metropolitanos a rejeitar seus próprios governantes imperialistas e abraçar a causa comum do internacionalismo operário. Trabalhadores do mundo uni-vos, nada têm a perder a não ser seus grilhões!
E o que faz o imperialismo? Há uma boa citação de William Blum (ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, escritor e crítico da política externa de seu país, que ganhou maior notoriedade mundial depois de citado por Osama Bin Laden) em sua obra “Matando a Esperança” (Killing hope: U.S. military and C.I.A. interventions since World War II, 2003) que não deixa qualquer dúvida sobre quem é inimigo principal:

"Pós-Guerra Fria, o tempo da Nova Ordem Mundial, isto soa muito bem para designar a política internacional do MI-IC (complexo de inteligência militar-industrial) e seus criminosos parceiros mundiais, o Banco Mundial e o FMI. A sua Organização Mundial do Comércio, o NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) e o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) estão ditando o desenvolvimento econômico, político e social em toda a Europa do Leste e no Terceiro Mundo. Agora a reação de Moscou a esta ofensiva global não vai além de considerações de restrições. O Código de Conduta sobre Empresas Transnacionais, há 15 anos em elaboração na ONU, está morto. Tudo que se vê está sendo desregulamentado e privatizado. O capital ronda o mundo com uma liberdade voraz que não tem desfrutado desde antes da Primeira Guerra Mundial, operando livre de atrito, livre da gravidade. O mundo foi feito seguro para a corporação transnacional.
Se você levantar a pedra da política externa norte-americana do século passado para ver o que rasteja por baixo verá invasões, bombardeios, governos derrubados, ocupações, esmagamento de movimentos de luta por mudança social, assassinato de líderes políticos, eleições fraudadas, manipulação de sindicatos, fabricação de "notícias", esquadrões da morte, torturas , guerra biológica, ataques com urânio empobrecido, tráfico de drogas, mercenários... É o suficiente para identificar o imperialismo com algo ruim".

Temos demonstrado exaustivamente que a dominação dos povos pelo imperialismo dos EUA e pelo capital financeiro é a principal ameaça para toda a classe trabalhadora e todos os oprimidos do planeta. Os governos e a burguesia nacional das nações oprimidas são inimigos de classe também, mas inimigos secundários quando entram em conflito com o imperialismo. Em toda a política e em todas as guerras e ameaças de guerra devemos identificar o inimigo principal, seus agentes e estratégias para derrotá-los através de alianças táticas com o diabo e sua avó quando necessário. Tal é o programa marxista para a revolução mundial.