sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

RESPOSTA DO CLQI AO RCIT

Pela regeneração política e
reconstrução da Quarta Internacional
Resposta ao documento do RCIT
"Healy’s Pupils Fail to Break with their Master" Alunos de Healy não conseguem romper com seu Mestre ]

Socialist Fight / CLQI
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A Liga Comunista reproduz a resposta do Socialist Fight ( SF ) britânico ao RCIT. O SF é membro do Comitê de Ligação pela IV Internacional, do qual a LC é integrante. O RCIT é a internacional criada pelo RKOB austríaco. O RKOB é uma ruptura do Wokers Power britânico, defensor assim como sua matriz da 5a internacional, que apoiou a contrarevolução nos Estados operários e as chamadas "revoluções" na Líbia e na Síria. A polêmica trata dos principais fatos da luta de classes dos últimos 40 anos como a questão polonesa em 1980 - 1981, a restauração capitalista na URSS e Leste Europeu, anexação da Alemanha Oriental pelo imperialismo, o Agosto de 1991 na URSS, eleições na África do Sul em 1994, Guerra dos Balcãs, Quinta Internacional, Programa de Transição, o trotskismo nos Andes, "Primavera Árabe" e ofensiva imperialista contra Líbia e Síria, catastrofismo, a questão da crise de direção, etc.

INTRODUÇÃO

Os fundadores da 5a Internacional,
tanto Wokers Power/LFI quanto sua ruptura, o RKOB/RCIT,
debutam capitulando a restauração capitalista nos Estados operários
e a ofensiva imperialista contra as semi-colônias da Líbia e Síria.

Assim como a LFI acreditava poder pegar carona nos movimentos
anti-globalização, agora o RCIT aposta em poder tomar
um atalho através da "primavera árabe"
Somos gratos ao camarada Michael Pröbsting do RCIT por que ele escreveu um documento longo ( de quase 20.000 palavras ), consumindo um grande tempo e esforço para fazê-lo, com o qual nós de fato aprendemos muito. Apesar de termos acordos sobre a história da Quarta Internacional após a II Guerra Mundial, existem substanciais diferenças entre o SF/CLQI e o RCIT sobre a questão do método, uma vez que ele determina à continuidade do trotskismo o que intimamente se relaciona com a nossa orientação para a reconstrução Quarta Internacional, que se contrapõe ao chamado do RCIT para uma Quinta Internacional. A renúncia do conjunto dos partidos que se reivindicavam trotskistas a defesa do Programa de Transição em seu método e, em particular, do partido que havia sido a principal seção da IV Internacional quando de sua fundação, o SWP dos EUA, provoca a ruptura da Tendência Revolucionária do SWP no início de 1960. Esta ruptura foi liderada por Wolfforth, Madge e Robertson. Os agrupamentos que surgem a partir desta ruptura, vão desembocar em 1974 na divisão do WRP que veio a se tornar a Liga Socialista dos Trabalhadores ( WSL ) e em vários agrupamentos que internacionalmente surgiram a partir dessa luta, incluindo o Comitê Internacional trotskista ( ITC ) e sua seção britânica, a Revolucionário Internacionalista League ( RIL ), a Oposição Trotskista Internacional ( ITO ), que rompeu com a degeneração da ITC, a Liga Internacional dos Trabalhadores ( WIL, não confundir com a LIT morenista, a qual pertence o PSTU brasileiro, cuja sigla em inglês é IWL ) da Grã-Bretanha e seu agrupamento internacional; a Tendência Leninista Trotskista ( LTT ) na Grã-Bretanha, Bélgica, Alemanha e África do Sul e outros na França e na América Latina. A rejeição a defesa do legado de Trotsky por estas correntes também se reflete em muitas questões práticas da luta de classes hoje tanto nacional como internacionalmente, em particular sobre a forma de aplicar o Programa de Transição e o seu método para as condições de hoje e como se relacionar com as organizações de massa da classe trabalhadora, os sindicatos e partidos operários burgueses, como se relacionar com a pequenos movimentos de libertação nacionais burgueses e guerras imperialistas através das forças de resistência dos países semi-coloniais. 

Como veremos em seguida, as diferenças de método são muitas, sobre o chamado a votar pelo Congresso Nacional Africano ( CNA ) na eleição que terminou com o apartheid na África do Sul em 1994; sobre a Primavera Árabe e na caracterização das chamadas "revoluções" na Líbia e na Síria; acerca dos acontecimentos nos Estados Bálticos na década de 1980, sobre a reunificação da Alemanha, a queda da União Soviética e as guerras na antiga Iugoslávia. Isso se reflete em posições opostas acerca do direito das nações à autodeterminação que o Workers Power da Grã-Bretanha [ WPB, principal partido da internacional chamada LRCI, a qual, o RKOB austríaco, hoje principal seção do RCIT, fazia parte ] transformou em um princípio supremo absoluto por sobre a defesa das relações de propriedade nacionalizadas estabelecidas pela Revolução Russa de outubro de 1917 e a liquidação das relações de propriedade capitalistas nos Estados Operários deformados do Leste Europeu, Iugoslávia, Albânia, China , Coréia do Norte, Vietnã e Cuba, após Segunda Guerra Mundial. Se as relações de propriedade capitalista já foram restauradas no Camboja e no Laos é um ponto a ser discutido.

Existem acordos entre a LCFI e o RCIT sobre muitos pontos também que vão desde a necessidade de mobilizar as bases da classe operária contra a burocracia sindical e lutar "com ela quando possível e contra ela quando necessário”. Concordamos que os ex-Estados operários da URSS, Europa Oriental, Iugoslávia, Albânia, China, Vietnã são agora Estados burgueses e que Cuba e Coréia do Norte são os dois únicos Estados operários deformados remanescentes. No entanto nove anos após o contra-golpe de Estado de Yelstin de agosto 1991, WPB ainda descrevia a Rússia como um "Estado operário moribundo” como veremos mais abaixo. E há muitas outras áreas de acordo. Mas, como marxistas, por favor não tomem unicamente como base estes acordos quando lerem este documento cuja maior parte irá concentrar-se sobre as diferenças. Portanto estabelecemos primeiramente os pontos de unidade antes de dar início ao conflito ou então não partiremos de um mesmo ponto de partida capaz de desenvolver as diferenças, acentuando-as de forma necessária à clarificação política para fazer avançar a causa da a revolução mundial .

( Trataremos da polêmica acerca da continuidade do trotskismo em outro documento separado ).

MAS E SOBRE O WORKERS POWER?

Quando as contrarevoluções começaram na Europa Oriental em 1989, o WPB confundia a democracia burguesa e a democracia operária, a defesa dos direitos democráticos conquistados pela classe trabalhadora sob a democracia burguesa e a única maneira da classe trabalhadora poder desenvolver o seu próprio domínio de classe, a ditadura do proletariado, exercida através do poder soviético, a democracia dos Conselhos populares em um Estado operário. Mas essa confusão foi rapidamente superada por uma capitulação definitiva para a opinião pública pequeno-burguesa, expressa nos meios de comunicação de massa; WPB começou abertamente a defender a democracia burguesa em Estados operários deformados e degenerados, assim como faz hoje no mundo semi-colonial. Qualquer marxista sério sabe que reação democrática é o conteúdo ideológico da ofensiva neoliberal do imperialismo contra as conquistas da classe trabalhadora em todo globo; toda guerra imperialista realizada por qualquer exército pró-imperialista por procuração, supostamente estará lutando pela "democracia" e pela "liberdade", embora seja muito difícil de sustentar essa noção hoje na Síria, por exemplo.

Nesta questão fundamental fica óbvio que o WPB nunca rompeu completamente com a concepção cliffista de “capitalismo de Estado” e, apesar do grande esforço feito a partir do início de 1980 ao início de 1990 sob a direção de Dave Hughes, conforme descrito abaixo por José Villa. Naqueles anos, esta ruptura incompleta ficou evidente diante da recusa a apoiar, ainda que apenas criticamente, a todas as lutas do centrismo trotskista no pós-II Guerra, mesmo crítica às tentativas de reafirmar o programa trotskista , e pela adoção como nome para sua internacional, criada no início de 1980 de Movimento por uma Internacional Comunista Revolucionária, mais tarde mudado para a Liga por uma Internacional Comunista Revolucionária ( LRCI ), um reflexo do conflito interno sobre se orientar para a regeneração e reconstrução da Quarta Internacional ou optar por uma Quinta Internacional .

O panfleto de 1995 da Liga Revolucionária Internacionalista, Split in Workers Power [ Cisão no WP ], elaborado por NDM, descreve com muitos detalhes esta degeneração política acerca do stalinismo e das contrarevoluções de 1989-91, especialmente na seção que começa na página 17: The LRCI and the crisis of Stalinism A LRCI e a crise do stalinismo ]. [ 1 ] Por isso WPB fez da abstração stalinofóbica sobre a questão da "democracia" o substituto dos interesses de classe da classe trabalhadora mundial, que é a derrubada do seu principal inimigo, o capital financeiro global, cuja sede central é Wall Street, nos EUA. A Tendência Bolchevique Internacional relatou que “Em maio de 1990, WPB aconselhou: ‘devemos exigir que o governo britânico reconheça a Lituânia e que abasteça a Lituânia com os suprimentos que esta repúblia solicita, incondicionalmente.’ Denunciaram os imperialistas britânicos por oferecer apenas um apoio simbólico às contra-revoluções Bálticas. [ 2 ] Eles abertamente exigiram que Margaret Thatcher ajudasse a classe trabalhadora da Lituânia a promover sua 'revolução' . Eles apoiaram a mobilização contrarrevolucionária de Yeltsin na frente do prédio do parlamento russo, a 'Casa Branca', em oposição ao golpe Yanayev na URSS, entre 19-21 de Agosto de 1991 - "nas palavras de um de seus principais "teóricos" eles se declaravam companheiros de armas, ombro a ombro com Boris Yeltsin", recorda o documento Split in Workers Power. Citamos esta passagem a partir do documento de Jose Villa abaixo, com o qual temos muito acordo. E o WPB apoia hoje a mesma falsa “revolução” patrocinada pelo imperialismo na Líbia e na Síria em nome da mesma abstração de "democracia", que, claramente, nada tem a oferecer a estes povos.

Desde o seu surgimento, em 1974, a partir da Internacional Socialista de Tony Cliff, WPB e suas seções internacionais afiliadas evoluiram para a esquerda para se tornar um agrupamento ortodoxo do centrismo trotskista no início de 1980, mantendo entretanto, alguns dos principais problemas de suas origens. Deve ser reconhecido como uma das mais sérias tentativas de regenerar o trotskismo no pós-guerra. Ele recrutou muitos sérios intelectuais marxistas. Realizou sua reavaliação da história da Quarta Internacional de forma séria, sob a liderança de Dave Hughes. No entanto, depois de 1991, Keith Harvey ( Hassell ) com sua concepção de semi-Estado capitalista exerceu muita influência sobre o grupo, nesse momento eles começaram a abandonar o trotskismo ortodoxo e retroceder mais claramente uma posição semi-Estado capitalista, semelhante ao IS/SWP, a corrente de onde tinham surgido. Tal como ocorrera com a capitulação original de Tony Cliff em 1950-1953, na Guerra da Coréia, que era essencialmente uma capitulação à pressão dos meios de comunicação de opinião pública burgueses e pequenos burgueses ao se recusar a defender os Estados Operários degenerados e deformados na URSS, Europa Oriental, China e Vietnã, realizando um giro para a direita diante da restauração das relações de propriedade capitalistas sob pressão imperialista em 1989-1992.

WPB, A QUINTA INTERNACIONAL E O PROGRAMA DE TRANSIÇÃO

É assim que o panfleto da RIL de 1995, Split in Workers Power, avalia esta questão:

Revendo o ponto de partida fundamental da Quarta Internacional de Trotsky, do Programa de Transição, WPB contesta a noção de que a crise da humanidade se reduz à crise da direção do proletariado. O Manifesto Trotskista do LRCI declara corajosamente:

"No entanto, hoje, seria errado simplesmente repetir que todas as crises contemporâneas estão ‘reduzidas a crise de direção.’ Em nenhuma parte do planeta o proletariado se encontra diante de uma situação decisiva entre a tomada do poder ou a destruição de suas conquistas passadas. No entanto, de fato, em muitos países e continentes inteiros há uma acentuada crise de direção". [ 3 ]

Isso só mostra uma profunda incompreensão dos fundamentos do trotskismo. Eles estão dizendo que a crise de direção só é fundamental em situações revolucionárias. Mas quais fatores conduzem a sociedade a passar de uma situação não-revolucionária para uma situação revolucionária e de uma situação revolucionária para outra contrarrevolucionaria? E que fatores são responsáveis ​​pelos baixos níveis de luta de classes e de atividade política da classe trabalhadora em períodos não-revolucionário. A questão da direção é fundamental para isso. O fator reside na crise da direção do proletariado.

Trotsky nunca afirmou que quando a crise de direção fosse resolvida todos os outros fatores se tornariam favoráveis. Este tipo de abordagem é uma revisão de Trotsky pelo Workers Power, que mostra um abandono da dialética e uma recusa em entender a dinâmica da luta. As derrotas que a classe trabalhadora sofreu nos últimos anos, a desorientação das organizações dos trabalhadores, a desmoralização política e o desinteresse por parte de alguns trabalhadores, todas essas coisas são fundamentalmente causada pela crise de direção. O impacto das derrotas pode reforçar essa crise como a relação entre a classe e sua direção em uma dinâmica dialética.

No entanto, o ponto essencial nessa relação é a crise da direção do proletariado, a época em que vivemos torna as condições para o socialismo maduros e são as direções dos trabalhadores e dos movimentos oprimidos os últimos recursos de salvação do capitalismo. A tarefa fundamental dos trotskistas continua a ser a resolução da crise de direção. Quem faz uma interpretação errada desta questão não compreende a questão central para a criação da Quarta Internacional. A posição do LRCI sobre a crise de direção sugere que a luta por um partido internacional de vanguarda trotskista já não tem primordial importância e que devemos juntar-nos às direções reformistas, stalinistas e centristas para "ajudar" os trabalhadores recuperar a sua combatividade para que no futuro a crise de direção volte novamente a ser um fator central! Associado a este revisionismo, o Workers Power faz uma abordagem centrista das reivindicações transitórias. No papel, eles podem escrever muitas demandas corretas, mas quando confrontados com a prática que eles declinam. [ 4 ]

Sua recusa explicita a lutar pela regeneração política e reconstrução da Quarta Internacional representou sua ruptura incompleta com a concepção de “capitalismo de Estado”, que foi personificada pela presença em suas fileiras de uma minoria defensora da teoria do semi-Estado capitalista liderada por Keith Harvey, que representou essa tendência a capitular a mesquinha opinião pública burguesa fabricada pela mídia, a essência política da tradição de Cliff como vimos acima. Quando o LRCI tornou-se a Liga para a Quinta Internacional ( LFI ) por volta do ano 2000, isto representou a vitória da linha quintainternacionalista do semi-Estado capitalista, e embora utilize o termo 'Estado operário degenerada ( d )’, o uso desta terminologia é agora completamente desprovido de qualquer conteúdo. WPB tomou esta medida porque viram o Fórum Social Mundial e o Fórum Social Europeu como os movimentos que constroem a nova classe supranacional. Os documentos de 2006, de ruptura da minoria, a The Platform of the OppositionPlataforma da Oposição ], explicam esse distanciamento da classe trabalhadora e do trotskismo em detalhes, mesmo que eles foram e são uma parte fundamental do mesmo problema. Eles são, em essência, uma acusação correta contra a maioria WPB com seu brusco e oportunista aprofundamento da linha oportunista original pela Quinta Internacional:

Os desvios criados por esta concepção podem ser demonstrados através do uso de nossa palavra de ordem Pela Quinta Internacional. A orientação que nós demos a esta consigna estava ligada a perspectiva de que o mundo viveria um período pré-revolucionário. Haveria pouco tempo para resolver a crise de direção. Precisávamos da Quinta Internacional agora. Esta posição também tem suas origens nos documentos equivocados do Sexto Congresso. A resolução sobre a construção das seções da internacional hoje: ‘elementos importantes de uma nova internacional de massas estão tomando forma. Este processo foi expresso pela primeira vez na onda de protestos internacionais coordenados contra a globalização capitalista. Assumiu características de massas e proletárias em vastas marchas contra a guerra imperialista. E conseguiu uma expressão política no Fórum Social em Florença, a maior e mais extensa manifestação da classe trabalhadora internacional e nos movimentos anti-capitalistas desde 1920, em uma onda de solidariedade internacional com o povo palestino, e em uma explosão em todo o mundo de raiva contra o imperialismo dos EUA. A convocação para todas as manifestações em 15 fevereiro de 2003, emitidos pela I Conferência ESF conduziu a uma coordenação sem precedentes de protestos em todo o mundo contra a guerra com o Iraque; de 10 a15 milhões reuniram-se nas ruas contra a coalizão de guerra imperialista’.

( ... ) Nem a ESF nem as marchas contra a guerra possuíam predominantemente características ‘de massa e proletárias’ de uma ‘nova forma de agitação internacional em massa". E tampouco seria uma nova organização internacional de massas, no sentido de um novo partido internacional de massas "adquirindo forma". As mobilizações de Florença eram consideravelmente mais complexa do que essa afirmação sugere. Eles envolviam uma coalizão de forças com vastas diferenças de projetos políticos de distintas classes sociais. Postular isso como a manifestação de uma latente Internacional, e então, como temos feito, atribuir demasiada importância a cada encontro do movimento ESF como a reunião do "ou vai ou racha" em que poderíamos dar um passo em direção a esta Internacional, é totalmente falso. O FSE não é uma Internacional latente. Ele tem diminuído em importância desde Florença – como o refluxo de Londres provou conclusivamente – e as forças que o dirigem bloqueam sua evolução para a esquerda em cada novo fórum. Seus apelos à ação tem cada vez menos encontrado resposta desde fevereiro de 2003. Estes são os fatos. Eles devem nos alertar para a realidade – que a formação de uma organização internacional através de uma luta na ESF ou FSM não é o caminho mais provável para forjar uma nova internacional. Além disso, as forças proletárias que o movimento possui, são dirigidas principalmente por reformistas, que jamais devemos qualificar como um movimento de características ‘proletárias’. Só uma perspectiva totalmente distorcida poderia nos levar a tal compreensão. [ 5 ]

No documento de 1999, 10 Years of the LRCI [ 10 anos da LRCI ], um ex-membro do Pode Obrero da LRCI da Bolívia, José Villa, [ 6 ] avaliou sua trajetória trazendo à tona essas questões. Ele descreve com riqueza de detalhes ( veja o artigo original ) como e porque o colapso aconteceu. É evidente que se encontram nesta origem política as atuais concepções empregadas pelo RCIT para as guerras na Líbia e na Síria, herdadas sem questionamentos ou reavaliações. Abaixo alguns trechos dessa estimativa acrítica dos "anos dourados" de WPB, do início dos anos 80 até o início dos anos 90. Nós destacamos as conclusões mais importantes e pontos de análise:


WORKERS POWER TENTA REANIMAR O TROTSKISMO

Várias tentativas frustradas foram feitas por pequenos grupos trotskistas ortodoxos com o objetivo de retomar e atualizar o Programa de Transição diante da terrível destruição. A última significativa tentativa foi feita pela LRCI. Ela foi elaborado a partir de boas posições programáticas e de uma análise internacional.

De certa forma esta organização foi uma tentativa de fundir em torno do Workers Power as tradições de camaradas da Europa Ocidental (enriquecidos com importantes contribuições teóricas) com as desenvolvidas em crises revolucionárias pelos companheiros da Fração Trotskista Operária andina. Mais tarde, outras tradições importantes afluíram à LRCI, a mais importante foi a de um grupo da Nova Zelândia.

Workers Power originou-se da Internacional Socialista de Cliff e durante seus primeiros cinco anos ( 1975-1980 ) manteve-se como um grupo anti-defensista e defensor da tese do “capitalismo de Estado”. Com o advento da Segunda Guerra Fria este grupo fez um giro radical em direção ao trotskismo ortodoxo. Sob a influência Dave Hughes, Workers Power corretamente tomou o lado do governo da Frente Popular no Afeganistão e na URSS contra os Mujahedin pró-CIA [ precussores da Al Qaeda ].

REVOLUCIONÁRIOS ANDINOS

Em 1985-1986, companheiros do Peru e da Bolívia desenvolveram conclusões semelhantes decorrentes de outro continente e condições. Eles foram bastante ativos em duas situações revolucionárias que colocam os chamados trotskistas na vanguarda das lutas naqueles anos. No Peru, os trotskistas alcançado 12% dos votos e foram a maior força anti-imperialista nas eleições e durante várias greves gerais.

Os companheiros peruanos e bolivianos viram como todas as "Quartas Internacionais" traíram tantas boas possibilidades e eles acabaram por adotar uma crítica bastante radical do colapso das chamadas internacionais para uma fração Nova Fração Internacional dos Trabalhadores Trotskistas ( FOT ). Esses camaradas mantiveram ligações muito fortes com o movimento operário. O Poder Obrero da Bolívia uma vez foi eleito direção do principal sindicato dos trabalhadores ( Huanuni ), ele ainda é membro de uma federação sindical nacional e tem representantes nas assembleias e no Congresso da COB ( Central Obrera Boliviana ) e têm hoje camaradas em posições de direção na atual onda de greves que está agitando o país.

A LRCI COMO UM REAGRUPAMENTO SAUDÁVEL

Durante a década de 1980 os grupos que constituíam a LRCI adotaram um claro perfil revolucionário. Nós compreendemos que eles foram diferentes das correntes stalinofóbicas como os morenistas, lambertistas ou cliffistas que apoiaram a reação clerical-feudal no Afeganistão contra a União Soviética ou que lutaram por um governo do Sindicato Solidariedade de Lech Walesa na Polônia. Também foram diferentes dos stalinofílicos como os espartaquistas que saudaram a URSS no Afeganistão e o golpe de Iaruzelski contra o mais forte movimento operário europeu. No Afeganistão nós nos alinhamos com o governo burguês de esquerda e com o exército stalinista contra a reação medievalista, mas condenamos os métodos burocráticos reacionários da União Soviética na invasão e na guerra. Na Polônia, nós defendemos as comissões operárias e os sindicatos contra a repressão stalinista sem reivindicar a derrubada do Estado Operário degenerado em favor de um governo restauracionista e clerical capitalista dirigido pelo Solidariedade, assim como nós também não reivindicamos a libertação dos presos do KPN e de outros partidos burgueses.

Na luta contra o imperialismo nós os diferenciamos de correntes como o SU ou o healysmo que capitularam à OLP, a FSLN e a outros movimentos nacionalistas. Também defenderam a Palestina, Argentina, Irlanda, Irã e outras nações oprimidas em seus confrontos contra o imperialismo, ao contrário dos cliffistas, The Militant e os espartaquistas que adotaram uma posição derrotista, neutral ou ambiguamente pró-imperialista.

UM PERÍODO DE NOVOS TESTES PARA A LRCI

No entanto, o LRCI não entendeu o novo período que se abriu alguns meses após seu Congresso. A desintegração das ditaduras stalinistas do Leste Europeu não levou a revolução política da classe trabalhadora, mas a uma multiclassista e democrática contrarrevolução social. Trotsky sempre defendeu a substituição da ditadura burocrática do proletariado por um revolução apoiada em conselhos operários. No entanto, depois de 1989 um cenário pior aconteceu e as formas de ditadura da burguesia nativa incipientes e das multinacionais substituiu toda forma de ditadura do proletariado até então existente na URSS.

No início dos processos restauracionistas pós-1989 a LRCI adotou posições corretas. Ela lutou contra qualquer tipo de unificação alemã e contra qualquer parlamento burguês no Oriente. Ele lutou pela democracia operária, mas ele acreditava que a restauração da democracia burguesa era ainda pior do que o Estado operário autoritários. Em 1990, a LRCI também tomou criticamente o lado dos stalinistas contra o movimento burguês de independência do Azerbaijão e contra as manifestações estudantis pró-imperialistas, anti-comunistas e democratizantes na Romênia.

A LRCI CAPITULA SOB A PRESSÃO IMPERIALISTA

No entanto, a LRCI sofria uma pressão extraordinária da opinião pública democratizante burguesa por parte dos meios de comunicação imperialistas. Em 1991, ela começou a mudar radicalmente as suas políticas. Ela propôs fazer uma frente única com o movimento restauracionista burguês Sajudis na Lituânia e pedir as potências imperialistas para intervir nos assuntos internos de um Estado operário, a fim de ajudá-los [ na verdade, isto ocorreu em 1990 – nota do Socialist Fight ]. Os trotskista não podem apoiar a repressão dos trabalhadores lituanos por Gorbachev, porque ele não estava defendendo os trabalhadores contra a contrarevolução, mas também os trotskistas não podem se emblocar com o imperialismo.

Em agosto de 1991, quando Yeltsin fez o seu contra-golpe que finalmente desmantelou a União Soviética e criou uma nova república burguesa russa, a LRCI propôs uma frente única com Yeltsin e com todos os partidos burgueses não-fascistas. Esta foi uma mudança radical contra o programa original da LRCI que afirmava que os revolucionários não deveriam ser a favor da liberdade para os partidos burgueses em um Estado operário e, pior ainda, fazer blocos com eles. Durante esses eventos revolucionários eles deveriam se opôs ao golpe Yanayev porque o golpe foi lançado contra os direitos sindicais, mas sem fazer um bloco com a contrarevolução social e considerando sempre que este última era a inimigo principal.

A TENDÊNCIA PEQUENO BURGUESA NO LRCI

A introdução destas novas políticas de direita gerou uma grande crise no II Congresso da LRCI ( Dezembro de 1991 ) em que a direção da Liga foi duramente criticada. Mesmo assim, depois do Congresso, a direção decidiu introduzir novas revisões no programa às escondidas da base partidária. A tese da LRCI de que o direito de autodeterminação é um conceito burguês que não podem ser aplicadas mecanicamente aos Estados operários foi substituída pelo apoio incondicional ao direito de cada nação ou grupo étnico de se separar de um Estado operário, mesmo quando isso pudesse conduzir a restauração capitalista. Harvey tentou introduzir a ideia de que a luta pelos parlamentos burgueses e assembleias constituintes foram progressiva nos Estados Operários. Ele foi derrotado quando tentou rever a nossa linha na Alemanha, ao afirmar que foi um erro não ser a favor de uma Assembleia Constituinte pan-germânica em 1989.

A LRCI estava se tornando uma corrente extremamente eclética tentando conciliar sua origem no defensismo trotskista revolucionário com a pressão da opinião pública democrática ocidental e as teorias anti-defensistas de Harvey. Isso a conduziu para as mais bizarras contradições. Passou a caracterizar a situação mundial como um período revolucionário porque o stalinismo havia sido esmagado, mas também como uma fase de contra-revolucionária. A LRCI confundiu a revolução política com a revolução social, e ambas com uma democrática contra-revolução social.