terça-feira, 20 de agosto de 2013

73 ANOS SEM TROTSKY, TRÊS ANOS DA LC E O PROLETARIADO

Conquistar o proletariado, condição essencial
para a reconstrução da IV Internacional!



"Queridos amigos, não somos um partido igual aos outros. Não ambicionamos somente ter mais filiados, mais jornais, mais dinheiro, mais deputados. Tudo isso faz falta, mas não é mais que um meio. Nosso objetivo é a total libertação, material e espiritual, dos trabalhadores e dos explorados por meio da revolução socialista. Se nós não a fizermos, ninguém a preparará nem a dirigirá. As velhas internacionais estão completamente podres.” (...) “Sim, nosso partido nos toma por inteiro. Mas, em compensação, nos dá a maior das felicidades, a consciência de participar na construção de um futuro melhor, de levar sobre nossos ombros uma partícula do destino da humanidade e de não viver em vão.”"


Nesta semana refletimos sobre três situações importantes para nossa organização:

1) Estamos há 73 anos do assassinato do fundador de nossa vertente do marxismo, Leon Trotsky, que com sua elaboração deu continuidade teórica e metodológica ao marxismo no século XX, na era imperialista e após a degeneração da primeira experiência de Estado operário da história. Trotsky foi assassinado por agentes stalinistas, que encarnavam a negação revisionista do marxismo e haviam realizado uma contra-revolução política, orgânica, por dentro do partido bolchevique, expropriando politicamente a direção da URSS, a qual o próprio Trotsky, ao lado de Lenin e do partido bolchevique haviam fundado quando conduziram a luta de classes a tomada revolucionária do poder pelas massas na Rússia e repúblicas vizinhas.

UM CÂNCER PEQUENO-BURGUÊS, SHACHTMANISTA,
DESTRUIU A IV INTERNACIONAL

Trotsky fundou a IV Internacional em 1938, uma organização bolchevique internacionalista que lutava para adquirir uma influência real no movimento operário, e que chegou a dirigir importantes lutas políticas da classe em sua maior seção, o SWP estadunidense, na década de 1930, como a luta dos caminhoneiros de Minneapolis. Todavia, Trotsky sabia do risco de que tanto o SWP e sobretudo as seções menores pudessem ser hegemonizadas pela pequena burguesia.

O maior combate realizado por ele em seus últimos anos de vida foi contra a tendência pequeno burguesa instalada dentro da IV Internacional. A fração minoritária do SWP era dirigida por Max Shachtman, um intelectual centrista que renunciou à defesa da URSS na II Guerra mundial, à dialética materialista e por fim ao marxismo. Nesta trajetória reacionária, Shachtman acabou por defender a invasão da Baía dos Porcos pelos gusanos mercenários contra Cuba e a intervenção dos EUA contra o Vietnã. Os epígonos do trotskismo hoje, como a LIT, IMT, L5I, UIT, FT, FLT, RCIT e outras “internacionais” que se auto-proclamam trotskistas, defenderam objetivamente a intervenção de mercenários agentes do imperialismo na Líbia e agora na Síria contra governos burgueses semi-coloniais, embelezando esta tática imperialista como sendo uma “revolução”.


A doença foi fatal, destruiu a IV Internacional. Mas agora vivemos o pior, a quase totalidade dos que se dizem trotskistas, quando não unem diretamente a bandeira da IV Internacional às da recolonização imperialista, na melhor das hipóteses elegem um terceiro campo ideal para não defender a vitória da nação oprimida na guerra, criando confusão e aversão pelo trotskismo por parte de todo trabalhador antiimperialista. O propagandismo estéril e pequeno-burguês, típico de Schachtman, tomou conta da IV Internacional. O que era uma tendência minoritária no SWP no tempo de Trotsky, tornou-se hegemônica na Internacional após sua morte por uma simples questão de que a classe social dominante entre os propagandistas e jornalistas da IV Internacional foi a pequena burguesia.

Ainda que em um primeiro momento a ala anti-pablista, o Comitê Internacional (CI), tenha representado o setor progressista frente ao liquidacionismo revisionista de Pablo e Mandel, dirigentes do Secretariado Internacional (SI), hoje, todas as alas são completamente imprestáveis para a reconstrução do partido mundial da revolução proletária. Apenas as rupturas principistas com o pseudo-trotskismo que pivotearem para o movimento operário, poderão talvez se regenerar, como também já alertara Trotsky: “Os propagandistas e jornalistas da Quarta Internacional devem iniciar um novo capítulo em sua própria consciência. É necessário rearmar-se. É necessário fazer uma rotação sobre o próprio eixo: voltar as costas aos intelectuais pequeno-burgueses e olhar para os operários.” (idem).

A LC VOLTOU AS COSTAS AOS INTELECTUAIS PEQUENO-BURGUESES
E FOCOU SUA ESTRATÉGIA NO MOVIMENTO OPERÁRIO

2) A segunda situação importante para a LC reside no fato de que neste momento nossa organização completa três anos de existência. Nascemos de uma ruptura com o conservadorismo propagandista estéril da confraria dos intelectuais pequeno-burgueses para abrir um novo capítulo em nossa consciência, para nos construirmos prioritariamente no movimento operário fabril e entre os trabalhadores assalariados em geral, a partir do principal conglomerado urbano de concentração proletária da América Latina, a grande São Paulo e cinturões industriais de cidades vizinhas. Simultaneamente, expandimos nossa militância para importantes categorias de trabalhadores como os professores da rede estadual, cujo sindicato, a APEOESP, é o maior do continente; e para os bancários, trabalhadores da saúde, etc.

A I Conferência da Liga Comunista, realizada em julho, aprofundou este curso, consciente de que a chave da crise que liquidou as organizações trotskistas como instrumento de emancipação do proletariado se encontra no conservadorismo dos elementos pequeno-burgueses: “Seria difícil conceber um erro mais perigoso para o partido do que considerar como causa da sua crise atual o conservadorismo do seu setor operário, a procura de uma solução para a crise através do triunfo do bloco pequeno-burguês. Na realidade, a chave da atual crise consiste no conservadorismo dos elementos pequeno-burgueses que passaram por uma escola puramente propagandística, e não encontraram ainda uma trilha em direção ao caminho da luta de classes. A crise atual é a luta final destes elementos pela sua autoconservação. Como indivíduo, todo oposicionista pode encontrar, se assim desejar, firmemente, um lugar para si dentro do movimento revolucionário. Como fração, estão condenados a morrer.” (idem).

Enquanto isso, à nossa volta, vemos que sob a pressão das crises econômicas e das guerras, o centrismo de todas as colorações transita em direção ao oportunismo porque seus vícios dão um salto de qualidade neste momento: “Como sempre, nestes casos, seus traços fortes passaram para segundo plano, enquanto que, por outro lado, seus traços débeis assumiram uma expressão particularmente acabada... Shachtman esqueceu um detalhe: a sua posição de classe. Daí os seus extraordinários ziguezigues, seus saltos e improvisos. Substitui a análise de classe por anedotas históricas desconexas, com o único propósito de ocultar a sua própria mudança, de camuflar a contradição entre o seu passado e o seu presente. Assim procede Shachtman a respeito da história do marxismo, da história do seu próprio partido e da história da Oposição russa. Ao fazê-lo, acumula erros sobre erros. Como veremos, todas as analogias históricas a que recorre falam contra ele. É bem mais difícil corrigir os erros do que cometê-los.” (idem)

Nossa opção pela “trilha em direção ao caminho da luta de classes” foi realizada sem desprezarmos a construção orgânica internacional do partido, também desprezada pelos pseudos. Criamos, em conjunto com camaradas trotskistas da Argentina (Tendência Militante Bolchevique) e da Inglaterra (Socialist Fight), uma proto-internacional trotskista nucleada em três países, o Comitê de Ligação pela IV Internacional (CLQI).

Todas estas múltiplas tarefas não são apenas necessárias para todo agrupamento que reivindica a continuidade do legado do velho Leon, são complementares e nos consomem hoje por completo.

“O NOSSO PARTIDO PODE SE VER INUNDADO POR ELEMENTOS NÃO-PROLETÁRIOS E PODE ATÉ PERDER O SEU CARÁTER REVOLUCIONÁRIO... A TAREFA CONSISTE EM ORIENTAR PRATICAMENTE TODAS AS ORGANIZAÇÕES PARA AS FÁBRICAS, AS GREVES, OS SINDICATOS...”

3) A terceira situação é consequência da evolução progressiva da luta pela inserção da LC no movimento operário fabril: a nossa participação, com uma delegação de camaradas através da corrente Vanguarda Metalúrgica, do Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, o terceiro maior sindicato desta categoria fabril em São Paulo.

Para os que se reivindicam trotskistas e acreditam que o movimento operário é apenas um dos setores da classe trabalhadora sobre o qual pode-se mas não necessariamente deve-se militar, para os que nunca deram a atenção e interesse à construção orgânica do partido no operariado fabril, para os que no máximo realizaram esta tarefa de modo a ter um amuleto operário no partido, ou para os que realizam uma política não bolchevique, trade-unionista, oportunista ou obreirista dentro do movimento operário Trotsky é categórico:

“Em 3 de outubro de 1937, escrevi, para Nova Iorque:
‘Assinalei centenas de vezes que o operário que permanece despercebido nas condições 'normais' da vida partidária, revela notáveis qualidades numa mudança de situação, quando já não bastam as fórmulas gerais e trabalhos teóricos fluentes, quando é necessário conhecer a vida dos operários e suas capacidades práticas. Nessas condições, um operário bem dotado revela segurança em si próprio e revela também a sua capacidade política geral.
‘O predomínio dos intelectuais na organização é inevitável no primeiro período do desenvolvimento da organização. Ao mesmo tempo, é um grande obstáculo para a educação política dos operários mais dotados... É absolutamente necessário que no próximo Congresso se introduzam tantos operários quanto seja possível nos comitês central e locais. Para um operário, a atividade nos corpos dirigentes do partido é ao mesmo tempo uma alta escola política...
‘A dificuldade é que em toda a organização há membros tradicionais de comitês, e aquelas diferentes considerações secundárias, fracionais e pessoais, desempenham 'um papel demasiado grande na composição da lista de candidatos’.
Nunca mereci a atenção e o interesse do camarada Shachtman em questões desta índole.
O partido só tem uma minoria de verdadeiros operários fabris... Os elementos não-proletários representam uma levedura necessária, e creio que podemos estar orgulhosos da boa qualidade destes elementos... mas... o nosso partido pode se ver inundado por elementos não-proletários e pode até perder o seu caráter revolucionário. A tarefa não consiste, naturalmente, em impedir a afluência de intelectuais mediante métodos artificiais... mas sim orientar praticamente todas as organizações para as fábricas, as greves, os sindicatos...
'Um exemplo concreto: não podemos dedicar forças iguais ou suficientes a todas as fábricas. As nossas organizações locais podem escolher para a sua atividade no próximo período, uma, duas ou três fábricas dentro de sua área e concentrar todas as suas forças sobre essas fábricas. Se numa delas temos dois ou três operários, podemos criar uma comissão especial de apoio de cinco não-operários com o propósito de ampliar nossa influência nessas fábricas.
'O mesmo pode se fazer nos sindicatos. Não podemos introduzir militantes não-operários nos sindicatos operários. Mas podemos formar, com êxito, comissões de apoio para a ação oral e literária, relacionadas aos nossos camaradas do sindicato. As condições invioláveis deveriam ser: não mandar nos operários, mas sim apenas ajudá-los, dar-lhes sugestões: armá-los com os fatos, ideias, jornais de fábrica, boletins especiais, etc.
'Semelhante colaboração teria uma enorme importância educativa, de um lado, para os camaradas operários, e, de outro lado para os não-operários que precisam de uma sólida reeducação.
'Por exemplo, vocês possuem em suas fileiras um importante número de elementos judeus não-operários. Eles podem ser uma levedura muito valiosa se o partido conseguir retirá-los de um meio fechado e ligá-los através da atividade quotidiana aos operários fabris. Creio que esta orientação asseguraria também uma atmosfera mais saudável no interior do partido...
'Podemos estabelecer de imediato uma regra geral: um membro do partido que não consiga ganhar um novo operário para o partido em 3 ou 6 meses não é um bom membro do partido.
'Se estabelecemos, seriamente, esta orientação geral, e se verificamos a cada semana os resultados práticos, evitaremos um grande perigo; a saber, que os intelectuais e os assalariados de outros setores afoguem a minoria operária, silenciando-a e transformem o partido num clube de discussão muito inteligente, mas absolutamente inabitável para os operários.
'As mesmas regras devem ser elaboradas da mesma forma para o trabalho e recrutamento da organização de juventude; do contrário, corremos o perigo de formar bons elementos jovens como diletantes revolucionários, e não como combatentes revolucionários'.
Creio que esta carta deixa claro que não mencionei o perigo de um desvio pequeno-burguês no dia seguinte ao pacto Hitler—Stalin ou no dia seguinte ao desmembramento da Polônia, mas sim que adiantava essa possibilidade, com persistência, já há dois anos ou mais. Além disso, como assinalei então, levando-se em conta sobretudo a fração 'inexistente' de Abern, para poder purificar a atmosfera do partido, era absolutamente indispensável que os elementos judeus pequeno-burgueses da seção de Nova Iorque fossem retirados do seu ambiente conservador habitual e distribuídos no verdadeiro movimento operário.” http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1940/01/24.htm