terça-feira, 20 de novembro de 2012

DA PALESTINA A PARAISÓPOLIS

“Não há capitalismo sem racismo!” 
Logo, é preciso acabar com o capitalismo
para livrar a humanidade do racismo!
por Geisa Amaral, Leon Carlos e Humberto Rodrigues


Todos os dias cerca de 20 pessoas são assassinadas em Gaza pelo exercito israelense. Aproximadamente a mesma quantidade de vítimas é fuzilada nos bairros proletários da grande São Paulo atribuídas a “motoqueiros fantasmas” que executam preferencialmente quem tenha passagem pela polícia, mas que ataca a toda a população pobre e trabalhadora, espalhando terror estatal “invisível”.

No gueto de Gaza as vítimas são palestinos impedidos de possuírem um Estado, exercito, marinha ou aeronáutica, a maioria criança, uma vez que boa parte da população adulta já foi massacrada ou se encontra presa nas masmorras de Israel.

No local de moradia da população trabalhadora paulista as vítimas são os de sempre: pobres, pretos e jovens trabalhadores, arrancados de casa ou perseguidos pelas ruas, capturados, torturados ou sumariamente fuzilados sozinhos ou nos bares. Ainda que os acontecimentos detonadores das duas guerras sejam completamente distintos, os massacres são cometidos por justificativas ideológicas igualmente racistas. Também nos dois casos, o objetivo é aterrorizar as vítimas com bombas de fósforo branco disparados por caças e ameaça de invasão de Gaza pelos tanques israelenses ou grupos de extermínio, que impõem um estado de sítio nas periferias e as ocupam militarmente. Ainda há a ameaça da a intervenção policial e militar em comunidades como Paraisópolis (na capital paulista) ou as UPPs no Rio de Janeiro em larga escala. O interesse motriz que está por trás de ambos é aumento da acumulação capitalista.

TERROR DE ESTADO
E EXPLORAÇÃO DE CLASSE

Na Palestina, trata-se de reprimir uma resistência de quase 70 anos contra os interesses expansionistas na África e Oriente médio, usando a tragédia dos judeus na segunda guerra mundial para aumentar o controle imperialista sobre a região onde se encontra a Palestina, Síria, Iraque, Líbia, Líbano e Irã,... No segundo, os alvos são as trabalhadoras e os trabalhadores legais, seus filhos ou os reles funcionários da hiper-lucrativa empresa ilegal do narcotráfico (os verdadeiros patrões desta companhias multinacionais do ramo da droga são membros intocáveis da burguesia e, portanto, sócios do Estado e seu aparato repressivo). Trata-se de uma ofensiva aterrorizante contra a população trabalhadora que superficialmente é apresentada como uma disputa entre a PM e o narcotráfico. A burguesia utiliza inclusive do fato do sujeito ter caído no lumpesinato, passando a trabalhar para o tráfico para sobreatrerrorizar a população proletária de conjunto, fazendo do Brasil o país de 4ª maior população carcerária do planeta (500 mil!) em cárceres medievais que o próprio ministro da justiça petista, uma vez que tem alguns de seus companheiros correndo o risco de passar alguns dias lá pelo mensalão, reconheça que prefere morrer do que passar alguns dias em uma prisão brasileira. Muitos nunca tiveram passagem por prisões onde seus irmãos já se encontram. Muitos foram parar lá por terem sido convencido pela vida a desistirem antes de serem explorados de forma legal e terem ido trabalhar para patrões do narcotráfico, associados ao Estado e membros intocáveis da burguesia.

E porque o terror estatal e o racismo se associam para favorecer o capitalismo? Por que isto garante que o valor da força de trabalho de um trabalhador negro valha 60% da de um trabalhador não negro. As mulheres negras, duplamente oprimidas pelo racismo e pelo machismo custam 47% do gasto da mão de obra de um trabalhador branco (segundo o Dieese).

Assim, como compreendia Malcolm X, lutar contra o racismo é lutar contra o capitalismo. Vale a pena então entender a trajetória da luta contra o racismo nos EUA para tirarmos lições. Nos EUA que possuíram no sul de seu país uma economia sustentada sobre a escravidão negra como no Brasil foi onde a luta anti-racista mais desenvolveu-se. A década de 60 foi o ápice da maturidade e organização política deste movimento negro estadunidense e palco de expressivos protestos anti – racistas. Foi quando o movimento transitou da posição de desobediência civil não violenta de Luther King, que já significava um avanço em relação a concepção de retorno a África e o getoísmo, para a introdução das concepções materialistas defendidas no final da vida por Malcolm X que superava suas concepções religiosas.

Por fim, inspirados em Malcolm, assassinado pela CIA, surge a organização da autodefesa armada dos Panteras Negras. Bobby Seale, fundador dos Panteras Negras junto a Huey Newton, proclamava: “Não combatemos racismo com racismo. Combatemos racismo com solidariedade. Não combatemos capitalismo explorador com capitalismo negro. Combatemos capitalismo basicamente com socialismo. Não combatemos o imperialismo com mais imperialismo. Combatemos o imperialismo com o internacionalismo proletário”.

Todavia, o movimento negro estadunidense, o mais avançado já existente na terra, não conseguiu ultrapassar o maoísmo, um desvio stalinista que se combinou com as tendencias getoistas pré-existentes, desprezando a necessidade da organização política do conjunto do operariado branco e negro contra o capitalismo racista e cultivando o foquismo urbano como principal método de resistência.

A burguesia imperialista reagiu de forma avassaladora, precisava assegurar a estabilidade política na luta de classe interna em meio a guerra contra o Vietnã. Então, tratou de combinar uma brutal repressão policial, com a infiltração espiã e narcotraficante contra os Panteras Negras e, sobretudo, a partir de 1965, o então presidente dos EUA, Lyndon Johnson lança mão das chamadas ações afirmativas, ou seja, a reserva de cotas para negros nas universidades, empresas, etc cooptando o movimento negro com a concessão de migalhas e ao mesmo tempo, preservando a lógica da superexploração da força de trabalho de negros e pardos.

O resultado desta política de concessão de migalhas divisionistas do conjunto da classe operária foi a cooptação do movimento negro e o estabelecimento de uma pequena burguesia e burguesia negra. Obama e Condolessa Rice são os melhores expoentes da conversão da luta anti-racista como fator implosivo da dominação imperialista para porta-vozes da dominação imperialista contra os povos oprimidos dos EUA e de todo o globo. Enquanto o movimento negro foi sendo cooptado, desarticulado e desarmado, a reação racista cresceu 755% no governo Obama.

Os casos de Rice e Obama que não tiveram problemas em avançar na política genocida do imperialismo são a melhor demonstração de que as considerações de raça, etnia, sexo, orientação sexual e origem migratória podem ser progressivas se forma parte de lutas que tenha como estratégia a vitória do proletariado sobre a burguesia sobre a base da unidade classista de todas as diferenças apontadas. Do contrário, as reivindicações destes setores oprimidos podem servir para espaço de manobra da burguesia em seu intento de cooptação e até convertê-las em um véu elegante com o qual oculte sua verdadeira face classista, genocida e opressora do imperialismo.

AS AÇÕES AFIRMATIVAS VÃO EM DIREÇÃO
A COLABORAÇÃO COM O CAPITALISMO 
RACISTA OU A RUPTURA COM ELE?

Como dizia Trotsky “A sociedade socialista não será construída sobre povos subjugados, mas de um povo livre. O caráter progressista ou reacionário da Autodeterminação está definido pelo fato de fazer progredir ou não a revolução social. Eis o critério.” (…) “As questões a resolver são as seguintes: isso ajudará na destruição do imperialismo americano? (…) Estamos indo em direção a um acordo com o capitalismo ou para romper com ele?”(Autodeterminação para os negros americanos, 11/4/1939). Através da cooptação das ações afirmativas e cotas o movimento é integrado de forma submissa ao regime burguês que não pode existir sem o racismo. Ao conceder 30% das algumas dezenas de vagas na universidade a negros a burguesia esvazia a luta pelo fim do vestibular na universidade elitista-racista mantendo fora do ensino superior milhares de trabalhadores e negros.

Por tudo isto, defendemos que na luta contra o racismo há tarefas fundamentais que a política social democrata adotada pela atual direção do movimento de massas, cooptada pelo PT e pelo “lulodilmismo” se nega a defender, como a dissolução do conjunto do aparato repressivo do Estado capitalista, construção de comitês de auto-defesa baseados nos sindicatos e demais organizações de massa, a solidariedade internacional pela destruição do Enclave racista e sionista de Israel, a legalização incondicional de todos os imigrantes, o fim do vestibular, o pagamento de salário igual para trabalho igual, a estatização sem indenização e sob controle dos trabalhadores de todo o ensino, etc. Esta luta só um partido revolucionário da classe trabalhadora pode levar adiante, pois na luta contra o racismo só será definitivamente vitoriosa com a derrota do capitalismo.