terça-feira, 22 de maio de 2012

A LUTA CONTRA O CAPITAL PELA SANIDADE MENTAL

Posição sobre a defesa da saúde mental defendida nas
páginas dO Bolchevique é atacada pelos seguidores
de Paulo Delgado/PT e defensores da "reforma psiquiátrica"

O último nº de "O Bolchevique" trouxe um artigo sobre saúde mental que visava fazer um contraponto e levantar em toda a "esquerda" um debate sério sobre a grave problemática da saúde pública, em particular a mental. Tal artigo gerou grande repercussão, devido ao bombardeio ideológico promovido pelas burocracias - a serviço do governo - na sua defesa radical da "anti reforma manicomial".
Procuramos fazer um debate no terreno da ciência médica, um princípio elementar da luta política e ideológica dos comunistas. Foi isso que nos motivou lançar em português "O Método Histórico de Karl Marx", um libelo contra o obscurantismo religioso e filosófico. A discussão sobre a reforma psiquiátrica é encoberta por uma nuvem de fumaça ideológica profundamente obscurantista; foi idealizada e implementada por pessoas que nada entendem de saúde mental, com apoio de uma minoria de médicos cooptados por esta política que, concretamente - como denunciamos - propõe: 1) a desresponsabilização do Estado no que tange ao tramento dos doentes mentais; 2) a divisão dos setores que militam profissionalmente na área da saúde, enfraquecendo seu movimento por ramo de produção, seus sindicatos e organizações; 3) promover a "economia" e o ajuste fiscal, destinando verbas da saúde para o cumprimento dos compromissos com o imperialismo e a burguesia dos governos desde FHC até Dilma.



Os dados apresentados no "O Bolchevique", extraídos de matéria que ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de imprensa em 2008 ("Sem Hospitais Psiquiátricos morrem mais doentes mentais", Soraya Aggege) estão conjugados com a opinião embasada de pessoas como Nora Volkow, bisneta de Trotsky, psiquiatra e especialista em drogadição, Valentim Gentil, mestre em medicina psiquiátrica, professor da USP, Eliza Brietzke, doutora em psiquiatria e autora do blog "A Psiquiatria e Você", Eduardo Kalina, maior autoridade latino americana em dependência química e doenças mentais e diretor médico do "Brain Center" em Buenos Aires, Santiago Kovadloff, filósofo argentino e parceiro de Kalina em várias obras como "Cerimônias da Destruição", e tantos outros. Um de nossos críticos qualificou nossas fontes como "inconfiáveis"... talvez ele prefira a opinião do senhor Paulo Delgado, que por sua defesa dos interesses da classe dominante tornou-se simultaneamente membro do Conselho Permanente de Educação da Confederação Nacional da Indústria, do Conselho de Responsabilidade Social da FIESP e do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo.

A falência dos Centros Assistência Psicossocial é uma crônica de um fato anunciado. O tratamento de enfermidades da gravidade das doenças mentais não pode ser feito de forma puramente ambulatorial, jogando os doentes para suas famílias e posteriormente para a marginalidade.

Resta evidente que o modelo manicomial que teve vigência principalmente na época da ditadura, tinha como um de seus principais objetivos políticos o de "internar" militantes como "loucos" e submetê-los a toda forma de torturas, como o Eletrochoque.

Ocorre que a depressão é hoje uma epidemia própria da crescente barbárie imperialista que se alastrou por quase todos os países do mundo, atingindo mais de 10% da população brasileira. O desenvolvimento de antidepressivos efetivamente eficazes, comprometidos pelos interesses da grandes multinacionais farmacêuticas, estão somente na sua terceira geração e ainda carecem de um desenvolvimento tecnológico muito mais avançado, pois somente na década de noventa, com a descoberta dos chamados "exames por imagem", é que a neuropsiquiatria conseguiu começar a estudar o cérebro humano em uma pessoa viva; até então as experiências eram realizadas com cadáveres ou com animais. O avanço com os exames por imagem têm jogado uma certa luz sobre a ciência médica, mas em particular a neurociência, um dos campos mais obscuros e desconhecidos da humanidade em termos de medicina.

Sabemos que as mazelas crescentes produzidas pelo capitalismo contemporâneo só serão eliminadas com a eliminação do próprio capitalismo através da revolução social. Ao mesmo tempo, fazemos uma frente única com alguns cientistas para tratar de atender as demandas imediatas das vítimas deste modo de produção decadente.

Alem disto, o preconceito é o maior aliado da ignorância, que de mãos dadas apóiam precipitadamente perversas políticas públicas burguesas, que nada são que respostas aos ajustes fiscais propostos pelo FMI e organismos internacionais do imperialismo. No caso da depressão, mas da metade dos casos graves chegam a um ponto em que o doente não responde a nenhum tipo de medicação antidepressiva, permanecendo em um estado de semi-catatonia e com risco elevado de suicídio. O Eletrochoque era uma prática bárbara, mas assim como o uso de sangue sugas deu origem a transfusão de sangue, este método deu origem à moderna Eletro Convulso Terapia - ECG, aplicada em última instância, quando o deprimido usou todos os medicamentos sem reação. A medicina - a boa medicina psiquiátrica - é criteriosa e tem obtido bons resultados com esta terapêutica. Reproduzimos a opinião da médica psiquiátra, Doutora, Elisa Brietzke, formada pela UFRGS e hoje clinicando em São Paulo:

“A eletroconvulsoterapia (também conhecida como ECT) consiste na aplicação de uma corrente elétrica na região das têmporas, sob condições de anestesia (com o paciente dormindo e sem sentir nada). É sabidamente um dos tratamentos mais eficazes da psiquiatria para depressões muito graves, no transtorno bipolar e na esquizofrenia, e também tem uma indicação naqueles casos em que, por algum motivo, o paciente não pode fazer uso de medicamentos, como na gravidez. É interessante que, esse método, permanece no imaginário de algumas pessoas não como um método de tratamento, mas como um método de tortura, como se fosse um tratamento cruel ou desumano. Acho interessante que, a maioria das pessoas que criticam o ECT nunca presenciou uma sessão de ECT e muitas vezes, sequer conversou com um paciente ou com um familiar de paciente que tenha sido submetido a esse método. Recentemente o programa "Profissão Repórter" exibiu uma sessão de ECT, o que foi muito esclarecedor pra muita gente. Depois do programa, algumas pessoas que não são médicas, vieram comentar comigo o assunto, sempre com aquele teor de"Nossa! Tanto barulho por uma coisa tão simples!". O que acaba acontecendo, sempre que o preconceito ocupa o lugar da ciência, é que a controvérsia acaba tomando uma cara muito mais política e econômica do que propriamente médica. O que acontece com a ECT é que ela não faz parte da tabela do SUS. E o que isso quer dizer? Quer dizer que se o hospital quiser oferecer o ECT para os seus pacientes, ele vai ter que arcar com todos os custos, sem receber absolutamente nada por isso. O que acaba acontecendo é que somente hospitais universitários, que tem interesse em oferecer formação em ECT aos seus residentes ou que sejam de serviços de ponta possuem preparo e aparelhagem para ECT. E, o que é mais grave. A grande maioria dos hospitais com esse perfil estão concentrados nas regiões sul e sudeste, deixando uma grande parte da população desassistida. E, justamente, uma parcela da população que é portadora de quadros psiquiátricos graves. Está na hora da sociedade refletir sobre o que precisa ser feito para proteger as pessoas que são portadoras de transtornos mentais e oferecer a elas o melhor tratamento possível para o seu caso. Esse é um direito fundamental de todo o ser humano.”

A consciência política da Doutora Brietzke são louváveis, mesmo ela não sendo uma militante marxista. É uma cientista, estando conosco no combate ao obscurantismo. Reproduzimos aqui no blog o quadro publicado no "O Bolchevique" e convidamos nossos leitores, simpatizantes e adversários a lerem a matéria com critério e se são realmente pessoas comprometidas com o avanço social, cultural e político da humanidade, juntem-se a nós na luta para que o  preconceito e o obscurantismo sejam eliminados.

Yuri Iskhandar