sexta-feira, 24 de junho de 2011

SUMÁRIO E EDITORIAL DO BOLCHEVIQUE #5

SUMÁRIO DO JORNAL O BOLCHEVIQUE #5 JUNHO DE 2011
EDITORIAL
Sem teoria nem direção revolucionárias, não há movimento revolucionário

OS ‘INDIGNADOS’ ESPANHÓIS SÃO UMA VERSÃO DAS GREVES GREGAS E DA LUTA EGÍPCIA SEM O PROTAGONISMO OPERÁRIO • SEM DIREÇÕES ANTIIMPERIALISTAS A “PRIMAVERA ÁRABE” FACILITA O AVANÇO DA “RECOLONIZAÇÃO DEMOCRÁTICA” DA ÁFRICA E DO ORIENTE MÉDIO  • NO BRASIL, MUITAS GREVES, MAS OS BUROCRATAS SINDICAIS, INCLUINDO OS DA CSP-CONLUTAS NOS METROVIÁRIOS-SP, IMPEDEM A UNIDADE DA CLASSE  •  FRENTES ÚNICAS DE AÇÃO E ORGANIZAÇÃO POR LOCAL DE TRABALHO, ESTUDO E MORADIA PARA CONSTRUIR A ÚNICA FERRAMENTA CAPAZ DE COORDENAR A RESISTÊNCIA E DETER A REAÇÃO IMPERIALISTA E PATRONAL
CORRESPONDÊNCIA
O critério do anti-imperialismo e o pablismo
CORRESPONDÊNCIA
Dilemas da construção do partido no proletariado fabril
Política de alianças: Proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades • SOBRE A CONSTRUÇÃO DO PARTIDO OPERÁRIO  •  1- A ORGANIZAÇÃO CONSPIRATIVA  • 2 - A EXPERIÊNCIA DOS PARTIDOS NO BRASIL  •  Resposta da Liga Comunista à Rádio Pião e seus leitores  •  PROVINCIANISMO OU INTERNACIONALISMO  • ECONOMICISMO OU COMUNISMO  •  “CRISE DE DIREÇÃO” E PRECONCEITOS ANTI-TROTSKISTAS
BANCÁRIOS - SÃO PAULO
Contra os banqueiros, Dilma e a burocracia sindical, avançar na organização política de base
GREVE NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS
Derrotar os governistas na Fasubra, nos Sindicatos e assembléias para derrotar o governo Dilma!
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Basta! • Nestas eleições para Reitor nós não vamos apoiar a continuidade de uma ditadura contra nós mesmos
RODOVIÁRIOS - SÃO LUIS
Greve contra os patrões, a mídia, Roseana Sarney, o TRT e a tropa de choque da PM
MANIFESTO AO CONGRESSO DA ANEL E À PLENÁRIA ESTUDANTIL NACIONAL CLASSISTA E COMBATIVA DA RECC
A luta pela consciência da juventude trabalhadora e quem são seus aliados hoje
"O papel da juventude não é o de apoiar as reacionárias greves do aparato repressivo (bombeiros), não é apoiar a ofensiva de Obama ao lado dos contrarrevolucionários de Bengasi, nem desejar ainda mais entorpecimento (uso de drogas). O lugar da juventude é lutar com os trabalhadores em greve nas universidades federais contra Dilma e pela educação pública gratuita e estatal, com os terceirizados contra a precarização trabalhista, com os povos oprimidos em sua luta anti-imperialista e para ter consciência de que seus interesses históricos só poderão ser plenamente satisfeitos na luta pela construção do partido e da revolução comunista!"
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Fora a PM do campus!
BOMBEIROS – RJ
Nenhum apoio às reacionárias greves policiais nem defesa da “desmilitarização” do aparato repressivo burguês. Fim de todas as polícias! Por comitês sindicais e populares de socorro mútuo e auto-defesa!
LER E LBI DEFENDEM A REFORMA DO APARATO REPRESSIVO
“MARCHA DA MACONHA”
Nossa posição sobre as drogas
“UM ASSUNTO PRIVADO PARA O ESTADO, MAS NÃO PARA O PARTIDO”
ATIVIDADE INTERNACIONAL
Relato do Socialist Fight sobre o Festival anual organizado por Lutte Ovrière na França
“O Bolchevique” da LC participa do ‘Festival’ de Lutte Ovrière na França, lançando sua versão em inglês: “The Bolshevik”
PRISIONEIROS REPUBLICANOS IRLANDESES
Pelo reconhecimento da condição de presos políticos e pela liberdade para os prisioneiros republicanos irlandeses das garras do imperialismo britânico!
PASSEATA EM SÃO PAULO DENUNCIA OCUPAÇÃO DO HAITI E INTERVENÇÃO NA LÍBIA
Frente Única de Ação versus Frente Popular de colaboração
Balanço do Comitê Anti-imperialista e polêmica em torno de um velho tema
BOICOTE DOS QUE CAPITULARAM AO IMPERIALISMO E AO GOVERNO DO PT • FRENTE ÚNICA, FRENTE POPULAR E ULTIMATISMO OPORTUNISTA • DESERÇÃO DA LUTA ANTIIMPERIALISTA E ANTICAPITALISTA E CONSTRUÇÃO DA UNIDADE
DEBATE ANTIIMPERIALISTA
Saudação do grupo Socialist Fight da Grã Bretanha
SAUDAÇÕES REVOLUCIONÁRIAS PROLETÁRIAS INTERNACIONALISTAS DO RMG (ÁFRICA DO SUL) AO DEBATE ANTIIMPERIALISTA
Viva os trabalhadores em luta para derrotar o imperialismo!



EDITORIAL
Sem teoria nem direção revolucionárias, não há movimento revolucionário

Em meio a um novo ciclo de expansão e acumulação capitalista após a crise econômica de 2008-2009, acentuou-se a corrida interburguesa pela recapitalização das economias e Estados. A fórmula da capitalização é antiga: por um lado, fazer baixar o custo da força de trabalho para aumentar a produtividade, e por outro, realizar uma nova ofensiva colonialista sobre os povos oprimidos, que teve início na África e Oriente Médio.

A tragédia grega está por completar um ciclo reacionário. Após um breve e convulsivo interlúdio, os partidos conservadores e corruptos que administraram a destruição econômica da Grécia após a fusão de sua frágil economia com potências como a Alemanha, através da adoção da moeda única europeia, tendem a voltar a governar, pelo ódio que os socialistas (Pasok) que controlam as organizações sindicais e populares conseguiram adquirir tentando convencer as massas a pagar pela liquidação praticada na administração conservadora. Isto depois que os trabalhadores gregos conseguiram a proeza, inédita na história da luta de classes, de realizarem em menos de dois anos quase uma dezena de greves gerais. Para se ter uma noção do tamanho da tragédia grega graças a falta de protagonistas revolucionários que derrotem os planos de ajuste, em toda a história do Brasil só tivemos duas greves gerais. A primeira, em 21 de julho de 1983, na crise da ditadura militar, contra o arrocho e o desemprego crescente. Mas a paralisação foi parcial, em São Paulo, cidades do interior paulista e no Rio Grande do Sul. No resto do país só houve manifestações nas capitais. A segunda, foi em 14 e 15 de março de 1989, cujas palavras de ordem foram contra o arrocho e pelo "Fora Sarney!" (o mesmíssimo que agora governa o Congresso graças ao PT) que cumpria seus extensos 5 anos de mandato. Foi a maior greve geral do país, quando 15 milhões de trabalhadores cruzaram os braços. Na Grécia, as centrais sindicais são social-democratas e a juventude desempregada que protesta nas ruas sofre uma significativa influência anarquista. Como está provado que nem com protagonismo operário e greves de massa nenhum destes setores é capaz de dar uma saída proletária revolucionária para a crise capitalista, a direita tende a retomar o leme do país e, em nome da recuperação econômica e da ordem social, organizar um recrutamento escravagista da enorme massa de desempregados (regado a xenofobia e patriotismo), provocando uma profunda desvalorização da força de trabalho no país e nivelando por baixo os salários em todo o continente. Enquanto isto, os "empréstimos de socorro" que aprofundarão a dependência tanto da Grécia (US$160 bi) quanto de Portugal (US$ 115 bi) vão direto, sem nem chegar a Atenas, para os bolsos do capital financeiro alemão, inglês e estadunidense, os maiores credores do governo e das empresas privadas gregas.

Logo atrás, mas não muito, estão os outros países da periferia da União Europeia, Portugal, Irlanda e Espanha, qua juntamente com a Grécia são os chamados PIGS, cujo destino econômico, social e político segue o mesmo roteiro trágico.

Apesar das massivas manifestações portuguesas contra os planos de ajuste que o governo socialista de Sócrates queria lhes impor, a orientação economicista politicamente correta do PS e do PCP conduziram as massas para um beco sem saída e reconduziram a direita ao poder.

Os ‘indignados’ espanhóis são uma versão das greves gregas e da luta egípcia sem o protagonismo operário

Pior ainda é a situação na Espanha, onde o movimento dos "indignados", adorado pela esquerda revisionista, é apresentado como a versão européia da chamada "primavra árabe", e o acampamento nas praças espanholas apresentado como uma reedição da Praça Tahir egípcia. Tudo isto não passa de cretinismo movimentista, a esmagadora maioria dos "indignados" faz parte de uma juventude vítima do maior índice de desemprego no continente. Sem dispor sequer do protagonismo das greves proletárias gregas e portuguesas, o movimento além de mais impotente que seus pares europeus e africanos, potencia o que há de mais reacionário no anarquismo, o apartidarismo, o apoliticismo e até o anti-sindicalismo. Tal movimento, cretinamente embelezado por correntes como o PSTU e a LER, não apenas aponta no sentido contrário ao da organização da luta pela tomada do poder pelas massas, quanto pavimenta de forma vertiginosa uma base cultural e social da extrema-direita européia.

Na Irlanda, a situação não é diferente e como fazemos notar em um artigo nesta edição dO Bolchevique, como parte da recolonização do país sob a coadjuvância do Sinn Féin, está o aumento da truculência das forças britânicas sobre os lutadores republicanos irlandeses.

Sem direções antiimperialistas a "primavera árabe" facilita o avanço da "recolonização democrática" da África e do Oriente Médio

No final de maio, os representantes das oito maiores potências econômicas e políticas do planeta se reuniram para a planificação e reacordo em torno dos rumos que darão para a "primavera árabe". Os "novos" títeres da Tunísia e Egito levaram US$ 3,5 bilhões dos US$ 40 bilhões que o G-8 deliberou investir para expandir seu domínio na suculenta região do Oriente Médio e África. Como parte deste plano, o Conselho de Segurança (CS) da ONU deverá agir contra a Síria, se Assad não renunciar. Embora o governo de Assad não mereça a menor confiança das massas que devem organizar uma oposição operária e revolucionária para lutar contra o mesmo, várias fontes independentes internacionais apontam que assim como comprovadamente ocorreu no golpe de Estado em 2002 na Venezuela, boa parte dos assassinatos cometidos contra os manifestantes sírios, utilizados para demonizar o governo e justificar a intervenção imperialista, é realizada por agentes da CIA infiltrados no país.

Como parte da repactuação entre os bandidos das grandes potências capitalistas, o governo russo se candidatou a mediar a capitulação de Gadafi que negocia sua permanência no governo de Trípoli pela balcanização do país, um acordo jurídico de reconhecimento do governo paralelo de Bengasi como legítimo proprietário e negociador das riquezas da Cirenaica, similar ao acordo realizado por Evo Morales com as oligarquias governantes das províncias da chamada meia lua boliviana que passaram a ter o direito de negociar, contra a soberania do país altiplano, a entrega do gás boliviano ao imperialismo.

Esta desenvoltura do imperialismo na manipulação dos acontecimentos só é possível porque o descontentamento popular espontâneo não é canalizado contra os alvos imperialistas ou sionistas, mas sim contra os governos a serem substituídos para o incremento da pilhagem neocolonial pós-crise econômica. Segundo as novas regras imperiais, cedo ou tarde os atuais títeres e sua superestrutura burocrática terão de dar lugar a governos mais estáveis, menos corruptos e custosos, mas seguramente não mais democráticos, a fim de permitir uma maior drenagem da riqueza destas semi-colônias para as grandes potências.

No Brasil, muitas greves, mas os burocratas sindicais, incluindo os da Csp-Conlutas nos Metroviários-sp, impedem a unidade da classe

O governo Dilma está dançando conforme o ritmo mundial e, paralelo ao "ajuste fiscal" de cortes estatais com gastos sociais e salários, vem impulsionando agressivamente a nova fase expansiva imperialista no Brasil, fazendo com que toda a espetacular lucratividade que o grande capital obteve na era Lula venha a ser um mero "covert" do banquete oferecido agora por sua sucessora. Mais neoliberal que Collor, FHC e Lula juntos, para poder saciar o imperialismo, empreiteiros, banqueiros, multinacionais, latifundiários, pós-crise, em nome de "agilizar as obras da Copa e das Olímpíadas", Dilma vem realizando de forma escancarada a privatização de suculentos nacos do Estado brasileiro, aeroportos, correios e intitucionalizando a corrupção na contratação das construtoras para as mega-obras do PAC.

Todavia, combinados a esta política entreguista está o aumento da expropriação da classe trabalhadora, com um dos menores salários mínimos da história, a tentativa de congelar por uma década os salários do funcionalismo (PL 549), e para o conjunto, inflação, o estabelecimento do reinado do terror no campo com a aprovação do Código Florestal ao custo dos cadáveres de dirigentes da luta camponesa, seguido pela prisão de mais sete membros da luta camponesa, dentro os quais José Rainha Jr.

Ao contrário da Espanha, o Brasil viu de forma crescente nos últimos dois anos uma captação grande do exército industrial de reserva e o país chegou a marca rercorde de utilização de 85% da capacidade instalada do capital. Os trabalhadores foram pagos não pela lucratividade que criaram mas pelo crescimento do crédito, ou seja, não receberam, apenas comprometeram o seu futuro econômico devendo até a alma de seus filhos para o capital. Não por acaso a taxa de inadimplência anual medida em abril disparou para 21,7%. Em um ano o número de famílias brasileiras endividadas disparou de 58,7% para 64,2%, ou seja, 2/3 das famílias brasileiras estão endividadas ou sobreendividadas. Os aumentos salariais que mal se equipararam à falaciosa inflação oficial no ano passado, festejados como vitórias pelas burocracias sindicais de todas as colorações, demonstraram que não passaram de migalhas, tapeação, nos últimos meses. Os gastos principais das famílias proletárias, alimentos, aluguéis e transporte, elevaram-se muito além da "inflação oficial", utilizada como base por governo, patrões e burocratas sindicais para estabelecer o reajuste das campanhas salariais. Enquanto os salários "subiram" no máximo de 6% no último ano, os alimentos subiram em média 22% e os aluguéis 15%. Ônibus, trens e metrôs foram insultuosamente reajustados no começo de 2011. Os banqueiros e empresários lucram com a elevação dos preços das mercadorias sobre os salários arrochados dos trabalhadores. Mas, cinicamente, os economistas burguesas culpam a "falta de educação financeira" e o "enorme consumo" das famílias proletárias pela volta da inflação. A partir de abril, em nome de conter a inflação o governo vem tomando uma série de medidas como o aumento da taxa de juros para o "desaquecimento" da economia. Este anúncio é um sinal para o empresariado transferir novamente suas apostas da produção para a especulação. Para a endividada família do trabalhador significa que alguém em casa vai perder o emprego e que as condições de vida vão piorar.

Tudo isto faz os trabalhadores sentirem uma corrosão vertiginosa do valor dos salários, o que tem garantido já neste primeiro semestre o aumento do número de greves e lutas sociais em relação ao ano passado. A onda de greves foi aberta pelos operários da construção civil das obras do PAC, e foi seguida pelos metalúrgicos em abril e maio, quando cerca de 40 mil paralisaram a GM, Renault, Volvo, Honda, Volks e outras fábricas menores. Em São José dos Pinhais os operários da Volks paralisaram por quase 40 dias, realizando a greve mais duradoura em toda a história da montadora no Brasil. É importante assinalar que, a exceção da Honda onde a greve se realizou contra as demissões (400), nenhuma destas paralizações metalúrgicas tiveram um ganho salarial superior à falaciosa inflação oficial. As direções sindicais fizeram a greve para descomprimir o descontentamento proletário com o superendividamento, em meio aos superlucros das montadoras com a venda de carros (+ 4,5% em relação a 2010) com um cala-boca de, em média, 12 mil reais de PLR, que mal dará para pagar as dívidas acumuladas nos últimos meses.

Neste meio, as trabalhadoras terceirizadas da empresa União, lotadas no campus Butantã da USP, entraram em greve contra o atraso de seus salários e tiveram o apoio dos estudantes. A LC que recém ingressou no movimento estudantil daquela universidade e agora luta contra a ocupação do campus pela PM (vide matéria nesta edição), reivindicou que a USP pagasse diretamente os salários atrasados, efetivasse as companheiras (todas ameaçadas de demissão com a ruptura do contrato USP-União) e que o modo de obrigar a Reitoria a adotar estas medidas era uma greve de todos os trabalhadores da USP, efetivos (que sofreram 271 demissões em janeiro passado) e terceirizados, mas a LER-QI que co-dirige o SINTUSP preferiu "fazer mídia" com as terceirizadas e usá-las simbolicamente do que realizar uma unidade efetiva dos trabalhadores da USP.

Também houve greves de professores em Santa Catarina, Alagoas, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Amapá, Rio Grande de Norte, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro por planos de cargos e carreiras e contra o reajuste salarial. Nos transportes, os rodoviários de São Luiz (ver artigo neste "O Bolchevique"), Rio Grande do Norte, e ABC paulista pararam, reivindicando aumento salarial.

Também os ferroviários da CPTM passaram por cima dos sindicatos pelegos da categoria e impuseram uma greve, assim como os trabalhadores de água e esgoto paulistas puseram contra as cordas a CTB/PCdoB. Ocorre que estas duas categorias haviam se coordenado para uma paralisação geral do proletariado do serviço público estadual paulista juntamente com os metroviários, cujo sindicato renovou a diretoria com a derrota do PCdoB para a chapa PSTU-PSOL(CSOL-CST)-PPS. Havia uma expectativa, maior ainda, principalmente dos novos metroviários, por uma mudança política, principalmente na luta contra a precarização trabalhista, embora o slogan da chapa era de "negociar de verdade", apostando em um sindicalismo de resultados e na conciliação mais favorável com a direção tucana da empresa. Apesar do bombardeio midiático anti-greve, a população que amarga a superlotação e a precarização do serviço com os trens quebrando toda hora e todo o dia, também nutria expectativa de o metrô melhorar com uma vitória dos metroviários na campanha "chega de sufoco". Em uma assembléia histórica de quase 2 mil metroviários, PSOL e PSTU se articularam para confundir, cansar e desmoralizar a base, onde o PSTU defendeu a greve e o PSOL foi contra, mas quando a proposta de greve ficou visivelmente majoritária no plenário, o PSTU retira sua proposta dizendo que a categoria estava dividida e assim não dava para aprovar a greve. Mesmo que a divisão fosse de 1000 a favor da greve e os demais contra, nenhuma das últimas greves, nos últimos 20 anos da história da categoria, teve início com uma assembléia de mil operários votando a favor. Ainda assim, PSTU e PSOL justificam sua sabotagem com um argumento de só fazer greve com a unanimidade, uma nova política pelega, de "sindicalismo cidadão", contrário à democracia operária, da decisão da maioria da assembléia. Trairam a maior greve que poderia ter ocorrido no Estado de São Paulo, a própria base da categoria, aos sabespianos, aos ferroviários, aos rodoviários do ABC e ao conjunto da população trabalhadora usuária que desejava uma vitória contra o sufoco.

Neste momento também tem início a primeira greve nacional por tempo indeterminado dos servidores públicos federais contra o governo Dilma, a greve da Fasubra, da qual a LC participa fazendo parte do grupo de Trabalhadores de Base da Universidade Federal do Maranhão (ver artigo "Derrotar os governistas na Fasubra, Sindicatos e assembléias para derrotar o governo Dilma!" e os panfletos "Basta!" e "Nestas eleições para reitor..." reproduzidos nesta edição), um agrupamento de oposição à diretoria do Sintema dirigido pela CTB/PCdoB. Por meses os Trabalhadores de Base vêm organizando a indignação do conjunto da categoria contra os péssimos salários, humilhações e a precarização trabalhista na UFMA. Desde o primeiro momento tem ficado claro que para realizar uma greve forte é preciso derrotar as direções governistas dentro do movimento que todo o tempo e por todos os meios tratam de sabotar a greve. Durante a greve, a luta dos Trabalhadores de Base se dá pela disputa do controle do Comando de Greve contra os governistas do Sindicato e pela unificação do conjunto da comunidade universitária, trabalhadores efetivos e terceirizados, professores e estudantes, cobrindo de solidariedade a paralisação.

Frentes únicas de ação e organização por local de trabalho, estudo e moradia para construir a única ferramenta capaz de coordenar a resistência e deter a reação imperialista e patronal

Sem partido, sem teoria, sem protagonismo operário, sob um profundo retrocesso ideológico e sob renovados apetites patronais para elevar a produtividade do trabalho, a contrarrevolução se movimenta no planeta e no Brasil. Por isto, a partir de suas pequenas forças, a LC desenvolveu nos últimos meses um trabalho intenso para construir uma frente única de ação para derrotar a intervenção imperialista.

No Brasil, impulsionamos o Comitê de Ação Antiimperialista para potenciar a luta contra a ocupação militar do Haiti e a intervenção imperialista na Líbia (ver artigos sobre as atividades do Comitê nesta edição). Os comunistas constroem frente únicas de ação, defensivas, em meio ao refluxo geral da luta antiimperialista, do avanço da recolonização na África e Oriente Médio e do crescimento das tendências à reação, à xenofobia e ao neonazismo na Europa e EUA. Quando quase toda a esquerda mundial faz coro com Obama e seus contras (como na Nicarágua na década de 80) de Bengasi gritando "Fora Gadafi", quando a patrioteira vanguarda brasileira já se acostumou com a ocupação do Haiti, um punhado de lutadores antiimperialistas marcharam no centro de São Paulo bradando "Fora já, fora já daqui, Obama da Líbia e Dilma do Haiti!".

Na Líbia, Síria, Irã e Palestina reivindicamos o armamento da população trabalhadora para lutar contra a OTAN e os agentes imperialistas. Nenhuma ilusão na democratização do domínio imperialista através da falaciosa "primavera árabe", derrotar os governos pró-imperialistas, revolução permanente contra os governos títeres, as multinacionais, o estado nazi-sionista de Israel e o conjunto da burguesia cipaia. Superar o apoliticismo e o anarquismo que marcam os movimentos "indignados" da Espanha e as greves gerais gregas, que vem pavimentando o caminho da reação. Ocupar as praças, mas também organizar-se contra o patronato e seu Estado nos locais de trabalho, estudo e moradia. Pela construção do partido revolucionário da classe trabalhadora que unifique a juventude trabalhadora, os imigrantes e o conjunto do proletariado pela tomada do poder

Os comunistas combatem pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária e ao mesmo tempo defendem e representam no movimento atual o futuro deste movimento, entendem que o verdadeiro triunfo das lutas operárias sindicais não são as conquistas econômicas efêmeras e imediatas, mas a crescente união dos trabalhadores. Nestas jornadas do primeiro semestre no Brasil, esta união foi duramente torpedeada por todas as correntes do movimento. Novas jornadas virão no segundo semestre, encabeçadas por categorias com tradição de luta como metalúrgicos, bancários, correios e petroleiros. É preciso organizar desde já a vanguarda combativa contra a descoordenação e despolitização das lutas impostas pela burocracia governista e pelega. Sem esta unidade, retarda-se a construção da oposição operária e revolucionária ao governo Dilma. A burocracia sindical sabe disto e os trabalhadores também precisam ter plena consciência que o custo deste retardo é extremamente doloroso. Defendemos assembléias intercategorias, a unificação das campanhas salariais, nenhum apoio às greves do aparato repressivo, que uma vez aprimorado se voltará mais forte contra nossas greves. Sem a unidade e o protagonismo operário nas lutas, a juventude se mostra seduzida por aprofundar seu apoliticismo, sua alienação. Por isto, ao mesmo tempo que lutamos incondicionalmente pelos plenos direitos individuais, democráticos, de expressão (vide artigo "Marcha da Maconha"), também alertamos que é preciso ficar atento e forte para resistir ao avanço da barbarie imperialista, construir uma nova direção, tomar consciência de classe e organizar a luta revolucionária.

Só há um meio para deter a barbárie imperialista que ameaça e salvar o futuro da civilização humana: a construção de uma organização internacional dos explorados a tomada do poder pela juventude trabalhadora e pelo conjunto das massas. Afora isto, tudo mais são ilusões. "A crise de direção do proletariado, que se tornou a crise da civilização humana, somente pode ser resolvida pela Quarta Internacional." Leon Trotsky