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Contra o ceticismo, construir o partido trotskista revolucionário da classe operária!

Contra o ceticismo, construir o partido
trotskista revolucionário da classe operária!

"Nenhuma situação, por cinzenta e pacífica que seja, como tampouco nenhum período de decaimento do espírito revolucionário exclui a obrigatoriedade de trabalhar pela criação de uma organização de combate, nem de levar a cabo a agitação política; mais ainda, é precisamente em tais circunstâncias e tais períodos que é especialmente necessário o trabalho indicado porque em momentos de explosão e estouros é tarde para criar uma organização. A organização tem que estar pronta para desenvolver sua atividade imediatamente."
Lenin, Por onde começar, 1900

Apresentamos aos trabalhadores, a juventude e a van­guarda do movimento operário os motivos de nossa ruptura com a Liga Bolchevique Internacionalista.

Como em nenhuma época histórica anterior, a carên­cia de uma direção revolucionária do proletariado cobra hoje seu preço. Faz um século que o capitalismo entrou em sua decadência senil. Embora goze do maior grau já atingido pela humanidade em sua evolução tecnológica, arrasta a civilização para a barbárie, degradando o ser hu­mano e todo o resto da natureza. Concomitantemente, as correntes que se reivindicam marxistas estão reduzidas a pequenos agrupamentos de propaganda sem absoluta­mente nenhuma influência real sobre as massas proletá­rias, as únicas que podem liquidar a agonia capitalista.

Marx e Engels tinham o direito legítimo de consti­tuir uma liga de propaganda na aurora do socialismo científico. Todavia encontrar-se nesta condição 150 anos depois da elaboração do Manifesto do Partido Comu­nista não é mais um direito, mas uma deformidade re­tardatária que contribuiu decididamente com o agra­vamento das condições de vida da classe trabalhadora sob a decadência do capitalismo. A inexistência de uma direção revolucionária para a luta das massas se rela­ciona com a barbárie imperialista de forma dialética, como causa e efeito. Como Trotsky prognosticara, as condições objetivas para a revolução proletária apo­drecem e a humanidade caminha para uma catástrofe.

Também não é válido justificar a impotência atual usando como parâmetro a debilidade das primeiras or­ganizações trotskistas na década da fundação da IV In­ternacional. Trotsky e seus camaradas estavam submeti­dos a uma caçada de extermínio físico por parte da GPU (futura KGB), aos Processos de Moscou, no auge da degeneração burocrática e policialesca do primeiro Es­tado operário e da III Internacional. Simultaneamente, graças ao stalinismo, a revolução chinesa foi afogada em sangue, os processos revolucionários na França e Espanha foram abortados pelas frentes populares e ditaduras nazi-fascistas passaram a controlar importantes Estados capitalistas. Além de criar a reação fascista, como contra­ponto à URSS, o imperialismo tratou de resolver a crise de superprodução de 1929 através da II Guerra mundial [1].

Sob terríveis perseguições, a vanguarda revolucio­nária do proletariado, o núcleo fundador da IV Inter­nacional, foi, segundo a expressão do próprio Trots­ky, “exilado de sua própria classe”. A repressão física fatal que liquidou todo o comitê central bolchevique, os melhores elementos da geração que realizou a re­volução de 1917, também assassinou os melhores qua­dros da IV Internacional. Nem de longe esta eliminação física e objetiva pode ser comparada ao isolamento ideológico de hoje. São duas circunstâncias desfavo­ráveis que exigem táticas de sobrevivência distintas.

A atrofia política da LBI só pode ser compreendida no marco das consecutivas derrotas da classe operária nos últimos 20 anos. É preciso destacar: compreendida, mas não justificada. A LBI nasceu depois de todas as on­das do movimento de massas brasileiro (greves metalúr­gicas contra a ditadura que desembocaram na fundação do PT e da CUT, movimento nacional pelas “Diretas-Já!”, polarização eleitoral de 1989, Fora Collor) e sob a ofensiva anticomunista gestada pela principal derrota do proletariado mundial, a contrarevolução que restau­rou o capitalismo na URSS e no Leste Europeu (1989-1991). Para piorar, se a desmoralização da era pós-URSS se abateu sobre a esquerda mundial na década de 1990, no Brasil, este quadro se agravou, particularmente, pela consolidação do mais aprimorado mecanismo de coop­tação da vanguarda operária existente no planeta, com a ascensão da frente popular [2] ao governo federal em 2002.

A jovem corrente nasceu órfã e solitária por suas po­sições programáticas principistas, defendendo retrospec­tivamente um Estado operário, a URSS, que já não exis­tia mais e combatendo a frente popular que tornou-se o principal instrumento da dominação burguesa no Brasil e do imperialismo no continente. Neste quadro se impôs de maneira crescente um sentimento de impotência e confor­mação diante de situações cada vez mais desfavoráveis para a luta dos trabalhadores. No último período, ciente da nova ofensiva reacionária gerada pela crise econômi­ca, a LBI cristalizou um curso político de reduzir suas atividades de combate ao revisionismo no âmbito literal-virtual, dentro do pequeno mundo da fração de esquerda da frente popular que orbita em torno do PSOL e PSTU.

A QUE HERANÇA RENUNCIAMOS?

Este pequeno universo da oposição pequeno-bur­guesa tornou-se mais esquálido nas eleições de 2010, sendo esmagado pela pressão da frente popular e da oposição burguesa, reciclada em torno da simbiose petista-tucana que foi a candidatura Marina. Elegen­do como centro de sua intervenção a ala esquerda des­ta oposição pequeno-burguesa, a LBI limita-se a rea­lizar uma admoestação completamente inócua sobre o pseudotrotskismo que gravita neste meio político.

Diante da reação crescente, os revisionistas em geral vendem as derrotas da classe como se fossem vitórias. Assim, a contrarevolução na URSS foi vendida como al­gum tipo de “revolução política”; o crash financeiro mun­dial que justificou o agravamento do saque aos salários e aos direitos históricos dos trabalhadores, foi anuncia­do como o prenúncio de uma implosão do capitalismo.

O objetivo destas delirantes falsificações da realida­de é dissimular a desmoralização e a própria impotência diante da reação e euforizar a militância. Não comun­gando destes métodos, mas padecendo de mesma im­potência, a LBI cai na prostração, quando é obrigada a constatar que sua intervenção sobre o revisionismo não surte qualquer efeito político e menos ainda organizativo.

Enquanto os pseudotrotskistas desespera­dos para sair da marginalidade adaptam-se às di­reções oportunistas e às pressões da reação ideológica, adotando cada vez mais um caráter vergon­hosamente colaboracionista de aconselhadores de esquer­da da frente popular, a LBI contenta-se em fazer parte desta cadeia sendo a extrema esquerda dedicada a fazer admoestação crítica aos que aconselham a frente popular.

Os fundadores da IV Internacional foram executados pelo stalinismo e seus seguidores declinaram da tarefa de reconstruí-la, abandonando os princípios mais elemen­tares das teses da revolução permanente e do programa de transição para seguir a reboque, primeiro, do próprio stalinismo, depois da social-democracia e do nacionalis­mo burguês. Do mesmo modo e mais cedo ainda deser­taram do combate pela consciência da classe operária, onde se localiza a reserva social e política para romper com o isolamento político e a “solidão revolucionária”.

Também desprezando o trabalho paciente por formar quadros operários por fora do círculo hiperdeformado da pequena-burguesia e da aristocracia operária brasilei­ras, a LBI impôs a si um beco sem saída. Vítima pas­siva de conjunturas cada vez mais desfavoráveis à luta da classes, a LBI chegou a meados de 2010 prostrada diante da reação ideológica anticomunista pós-URSS e em especial da pressão da frente popular no Brasil.

Mesmo que se possa objetar que frente à militância virtual que caracteriza centenas de agrupamentos de es­querda do século XXI a LBI seja uma das mais ativas cor-rentes, a auto-exclusão do movimento operário, o traba-lho exclusivamente microvanguardista em uma militância sindical escolada no anticomunismo e antibolchevismo petistas, nunca construirá uma organização revolucioná­ria do proletariado. Está mais do que provado que prog­nósticos corretos, acertos políticos e iniciativas dirigidas a este tipo de gente tão profundamente desmoralizada, por mais justos que sejam, por si só não elevam a classe trabalhadora à altura de suas tarefas históricas. Na me­lhor das hipóteses, podem gerar, na expressão de Trots­ky, “um clube de discussão de alto nível” (A composição social do partido, Escritos, 10/10/1937), completamente à margem da luta para elevar a classe trabalhadora ao nível da luta por seus interesses históricos, de libertação da idiotia e da bestialidade a que está submetida para dar à história um curso diferente da barbárie imperialista.

Renunciamos à herança dos que desprezam o trabalho de elevar o proletariado à consciência bolchevique, co­mum à totalidade do revisionismo, e que a LBI não foi ca­paz de superar, nem o quis. Todas as organizações de es­querda no Brasil abandonaram o trabalho de formação de quadros operários pelo menos desde a década de 1980. As mais novas, já educadas pela escola petista, de relações completamente deformadas com a classe (trade-unismo, cretinismo parlamentar, populismo, assistencialismo), re­produzem desvios do lulismo como o PSOL e o PSTU.

Quando falamos de educação da classe não nos referi­mos a escolinhas de socialismo para estudantes e trabalha­dores, realizadas completamente à margem da luta política de partidos. Nem temos a ilusão de que os trabalhadores encontrarão o socialismo a partir do acúmulo de experiên­cias sindicalistas, movimentistas ou “de lutas”. É neces­sário o recrutamento das massas nas lutas, nos locais de trabalho e estudo para a compreensão estratégica da orga­nização política, instruí-las na ideologia comunista rumo à construção de um partido de vanguarda. Em nível imediato e direto ajudá-las a combater ao principal câncer do movi­mento de massas brasileiro, o lulismo e seus satélites que sabotam a luta de classes do caminho da revolução social.

VOLTAR AO MOVIMENTO OPERÁRIO PARA PREPARAR A NOVA GERAÇÃO DE QUADROS REVOLUCIONÁRIOS QUE SUPERARÃO A DEFORMAÇÃO DA ERA LULISTA!

Para nadar contra a corrente, enfrentar o oportunismo encastelado no Estado, seus satélites centristas adaptados ao regime em meio ao refluxo das lutas espontâneas, du­rante uma situação cinzenta, pacífica e de decaimento do espírito revolucionário, nosso trabalho precisa ser sobre­tudo paciente e abnegado. Temos claro que não há outro modo de superar o período lulista da história do movi­mento operário brasileiro sem que uma nova geração de quadros operários sejam preparados sob um programa trotskista. O que indica, portanto, que devemos começar a tarefa voltando ao movimento operário. Não há atalho.

O novo curso requer desenvolver a agitação polí­tica revolucionária sobre as massas, atividade que as pequenas organizações abandonaram ou a fazem de modo extremamente atrofiado e os centristas e gran­des partidos oportunistas a fazem de modo deforma­do. Isto não implica em qualquer desprezo pela luta teórica ou ideológica em defesa dos princípios. Sem esta propaganda não haverá formação genuinamen­te marxista e menos ainda movimento revolucionário.

A história não acabou, toda a vida política é uma luta sem fim composta de um número infinito de elos. É hora de furar o cerco oportunista restabelecendo estreitos vínculos com a classe que, por seu papel na produção, é a mais pro­gressista da sociedade atual. Sem qualquer pretensão de inventar uma fórmula nova de organização política, reivin­dicamos a luta pela construção de um partido de revolucio­nários profissionais, centralizado, conspirativo, composto pela vanguarda consciente do proletariado do século XXI.

Apropriando-se dos melhores recursos logísticos de hoje para levar adiante a tarefa, é preciso retomar os bons e velhos métodos bolcheviques de agitação, propaganda e organização política que levou mais adiante a luta pelo socialismo, que foram capazes de levar os trabalhadores conscientemente à tomada do poder através da revolução social e à instauração de sua ditadura revolucionária.

DA PROSTRAÇÃO AO CETICISMO, VÁRIOS PASSOS ATRÁS

O reconhecimento da classe operária como protago­nista histórica da revolução socialista consta nos pontos programáticos da LBI. É repetido em muitas conclusões de seus artigos. Mas converteu-se em letra morta na me­dida em que o próprio agrupamento convenceu-se após três ofensivas mundiais do imperialismo (restauração capitalista nos Estados Operários, guerra ao terror pós 11/9/2001 e crise econômica de 2008) de que não apenas a revolução não era mais uma tarefa para nossas vidas, mas que a luta pela própria construção do partido bolche­vique da classe operária já não tinha mais vigência práti­ca efetiva. Daí a conclusão catastrófica da maioria da di­reção na reunião do dia oito de setembro de 2010: “frente ao atual retrocesso ideológico na classe é impossível a um núcleo revolucionário inserir-se no proletariado”. Trata-se, nada mais, nada menos, do que da fórmula da pros­tração, como caracterizamos durante a própria reunião.

Esta concepção norteou outro passo atrás. Em meio a uma crise desagregadora com um militante da regional paulista no mês de julho de 2010, a maioria do CC, contra as posições de Humberto, decidiu por baixar as portas da regional São Paulo e reconcentrar a LBI em Fortaleza.

A decisão significava uma reversão autofágica da acertada orientação política deliberada na IV Conferên­cia da LBI, tomada cinco anos antes, que orientou o deslocamento gradual da direção política da corren­te de Fortaleza para São Paulo, justificado pelo fato de a capital paulista ser a principal cidade operária da América Latina e centro político nacional do Brasil.

E o pior é que tamanho recuo não se­guia nem um plano estratégico, apenas cris­talizava o curso de prostração da corrente.

A maioria da direção da LBI dava um passo atrás em uma orientação de estruturação que até então mar­cava uma das principais diferenças entre a ousadia da corrente e a prostração dos demais pequenos agrupa­mentos regionais. Com esta medida a LBI retrocedia do seu nacional-trotskismo para o que poderíamos chamar de forma muito otimista de municipal-trotskismo. Ao completar 15 anos de existência, 200 edições do Jornal Luta Operária e ter se tornado uma referencia política principista na vanguarda de esquerda nacional e inter­nacional, a LBI retrocedia em direção a converter-se em um organismo monocelular. A renúncia à luta pela cons­ciência da classe conduz, invariavelmente, à revisão do ABC do trotskismo. O próximo passo é responsabilizar o proletariado e não sua covarde direção política pela situação sem saída em que se encontra a humanidade.

Em nenhum país, sob nenhuma circunstância, o pro­letariado por si só foi capaz de compreender sua tarefa histórica. Somos obrigados a lembrar que a alienação ou a falta de consciência política do proletariado não são fenômenos novos para o marxismo. Muito pelo contrário, aprendemos que as ideias dominantes en­tre os trabalhadores, são as ideias das classes domi­nantes, que os operários não desenvolvem sozinhos a consciência socialista, que esta só pode ser introduzida de fora da classe pelos intelectuais materialistas dia­léticos como foram Marx, Engels, Lenin e Trotsky.

Mas, se a vanguarda marxista, oriunda da pequena bur­guesia, acomodou-se e só faz política entre si, recorrendo à classe operária apenas para lhe pedir apoio em eleições sindicais ou burguesas, como pode o trotskismo penetrar na classe? Esperar que o proletariado, sob o impacto das derrotas históricas e da educação ministrada pelo creti­nismo parlamentar, trade-unismo, onguismo,... não retro­ceda por décadas em sua compreensão política, é idea­lizar um proletariado que não existe nem nunca existiu.

As massas repletas de contradições internas só terão sua consciência modificada em favor da revo­lução se os marxistas o fizerem. Pensar de outro modo é apostar no espontaneísmo que nada tem a ver com o leninismo. Lavar as mãos para esta tarefa, consideran­do-a “impossível” consolida o pernicioso divórcio da teoria política com a classe, conduz à ruptura progra­mática com o trotskismo e, seguramente, ao ceticismo.

EM DEFESA DA LUTA PELA CONSCIÊNCIA DOS TRABALHADORES

A derrota do proletariado da Europa em geral e grego, em particular, obrigado a pagar de maneira exemplar o cus­to da farra dos especuladores europeus e ianques depois de várias greves gerais, comprova de maneira cabal que para qualquer futuro triunfo proletário é imprescindível que as massas sejam conduzidas por uma direção revolucionária. Mesmo que entre o cinzento momento atual e a próxima “explosão”, para usar a expressão de Lenin na frase que abre este documento, dure décadas, acreditamos que o fun­damento de nossa existência deva ser criar a organização de combate e fazer a agitação política que salve o porvir.

A maioria da direção da LBI também argumenta que tais concepções de nossa parte não justificam a ruptura, uma vez que mesmo que as críticas da minoria estejam certas, a LBI “não atravessou o Rubicão”, “não rompeu programaticamente com a fronteira de classe”. A reali­dade não é bem assim. Nem a cisão entre bolcheviques e mencheviques nem a ruptura entre defensistas e derro­tistas dentro da IV Internacional, importantes divisões do marxismo pareceram essenciais ao primeiro momen­to. No entanto, depois de 15 anos sem tomar para si a tarefa de construir-se dentro do proletariado, de mais de 10 anos de isolamento nacional no plano organizati­vo, encontrando-se hoje com seu pequeno trabalho sin­dical agonizando, a crise da direção cobrou seu preço também para a LBI, levando-a a prostração ceticista.

O próprio Trotsky que no início do século XX não achou justa a ruptura entre bolcheviques e mencheviques russos, avalia, duas semanas antes de seu assassinato, a cisão, desta vez, no interior do SWP estadunidense: “Se tomarmos as diferenças políticas tais como são, pode­mos dizer que não eram suficientes para uma cisão, mas se elas desenvolveram uma tendência para se desviar do proletariado, indo em direção aos círculos pequeno-burgueses, então essas mesmas diferenças podem ter um valor absolutamente diferente; um peso diferente; se estão ligadas com um grupo social diferente. Este é um ponto importante. (...) Isto é muito característico do intelectual desmoralizado. Vê a guerra, a terrível época que temos pela frente, com perdas, com sacrifícios, e tem medo. Começa a propagar o ceticismo e acredita que é possível unificar o ceticismo com a devoção revolucio­nária. Só podemos desenvolver uma devoção revolu­cionária se estamos certos de que é racional e possível, e não podemos ter tal certeza sem uma teoria operante. Aquele que propaga o ceticismo teórico é um traidor. (Sobre o Partido “Operário”, Leon Trotsky, 7/8/1940).

Retrocedendo em direção ao ceticismo prático a LBI estagnou com o passar dos anos. Restringiu-se a impulsio­nar um recrutamento ocasional, relativamente anárquico e empírico de sua cada vez mais limitada área de influência sindical dispersa pela inexistência sequer de plenárias da Tendência Revolucionária Sindical (TRS) em Fortaleza. Contentou-se em marcar presença testemunhal-crítica ao calendário sindical do bloco de aconselhamento pela es­querda ao lulismo conduzido pelo PSTU. Vale destacar que a crise partidária de julho se agravou após uma importan­te participação sindical da corrente no Conclat de Santos.

Realizamos brilhantes denúncias do caráter buro­cratizado, impotente e liquidacionista, oposto a armar a classe contra a frente popular, da direção da Conlutas. Todavia, a falta de uma nucleação permanente e estru­tural, de formação de quadros revolucionários agravou profundamente o isolamento político que o cerco da frente popular e seus satélites impuseram à LBI. Nossa estéril intervenção na vanguarda de esquerda do movi­mento operário é dirigida a ativistas viciados que há mui­to vivem do aparato sindical a trair a própria categoria.

A modo de conclusão, por uma década e meia reivindi­camos às raposas que não comam as galinhas, recusando-se ao trabalho de ensinar às galinhas as habilidades das águias.

A LBI é vista como um agrupamento que até pode fazer críticas e prognósticos acertados, mas que não se dispõe a lutar de forma consequente pela consciên­cia do proletariado contra o entorpecimento frente-po­pulista a que o conduzem os oportunistas que critica.

Romper com uma orientação que renuncia à disputa pela consciência do proletariado contra o oportunismo e o revisionismo é uma obrigação daqueles que têm como estratégia de vida a militância revolucionária trotskista.

As concepções do trotskismo e do ceticismo são in­conciliáveis. Recordamos uma vez mais o velho bol­chevique diante dos céticos que sob pressões hostis da reação anticomunista germinaram dentro das fileiras da IV Internacional: “Formar-se-á uma verdadeira direção revolucionária, que seja capaz de dirigir o proletaria­do rumo à conquista do poder? A Quarta Internacional responde esta questão afirmativamente, não só através do texto de seu programa, mas também através do fato mesmo de sua existência. Todas as distintas variedades de representantes desiludidos e atemorizados do pseudo-marxismo, atuam, pelo contrário, baseados na suposição de que a bancarrota da direção “reflete” somente a inca­pacidade do proletariado para levar a cabo sua missão revolucionária. Nem todos nossos opositores expressam claramente este pensamento, mas todos eles – ultraes­querdistas, centristas, anarquistas, para não mencionar os stalinistas e os socialdemocratas – descarregam sua res­ponsabilidade pelas derrotas nas costas do proletariado. Nenhum deles assinala sob que condições precisas o pro­letariado será capaz de levar a cabo a virada socialista.

Se admitirmos que é verdade que a causa das derrotas residem nas qualidades sociais do próprio prole­tariado, então a situação da sociedade moderna deverá ser considerada como desesperadora. Sob as condições do capitalismo decadente, o proletariado não cresce nem numericamente e nem culturalmente. Portanto, não existem motivos para esperar que em algum mo­mento se coloque à altura das tarefas revolucionárias.

A questão se apresenta de forma completamente di­ferente para aquele que tem claro o profundo antago­nismo que existe entre a exigência orgânica, profunda e insuperável das massas trabalhadoras para se liber­tarem do sangrento caos capitalista, e o cadáver con­servador, patriótico e completamente burguês da di­reção do movimento operário, que sobrevive por si mesma. Devemos escolher entre uma destas duas con­cepções irreconciliáveis.” (O proletariado e sua di­reção, A URSS na Guerra, Leon Trotsky, 25/09/1939).

De fato, nem todos os céticos expressam clara e for­malmente sua crença de que o proletariado tornou-se in­capaz de seguir uma estratégia revolucionária. No caso da LBI, após a nossa ruptura, a corrente vem tentando dissi­mular sua prostração com condenas literais à prostração, uma elevada dose de ufanismo, um ritmo de redação de textos frenético, acima do habitual e até com a reconsti­tuição urgente da recém liquidada regional de São Paulo. Temos razões de sobra para acreditar que estes gestos te-nham fôlego curto, visando apenas camuflar a nível bas­tante imediato a prostração cristalizada ao longo dos anos.

POR UMA VANGUARDA PROLETÁRIA DA IV INTERNACIONAL

Tomamos a iniciativa de romper com a LBI, cien­tes das pressões voluntaristas, basistas e obreiristas que ameaçam nosso novo curso. Não deixaremos de cometer erros nesta nova empreitada. A princípio nosso programa será inevitavelmente incompleto e confuso. Recorreremos ao estudo da cara experiência dos comunistas do passado para tratar de dissipar tais confusões. Sobretudo, trataremos, juntamente com os setores da classe que conosco militarem, de aprender com os erros. Não há outro modo de ter acesso direto aos trabalhadores e ganhar sua con­fiança mediante táticas corretas sem uma experiência desenvolvida em comum. Só é possível ganhar o proletariado para uma organização revolucionária estreitando os vínculos com suas camadas mais conscientes ainda não deformadas pelos numerosos tentáculos do imenso aparato governista da frente popular, incluindo as Intersindicais e a Conlutas.

Isto significa abandonar a luta nos fóruns destas entidades? De modo algum. Significa que, além disto, é preciso construir oposições de base, comunis­tas, revolucionárias dentro de cada sindicato contra as direções das centrais burocráticas controladas abertamente pelos governistas ou por seus satélites.

Contamos com a enorme vantagem de ter a favor do sucesso da tarefa a ex­trema carência que sofre o proletariado de uma organização política disposta a criar em seu meio uma militância de quadros bolcheviques armados de um programa trotskista. A tarefa do mo­mento é construir uma oposição operária e revolucionária ao governo Lula e ao governo burguês que o substituirá.

Ao cair nas mãos daqueles canalhas que sempre foram acertadamente o alvo das denúncias da LBI este documento corre o risco de provocar alguma perversa satisfação moral. Aconselhamos a estes senhores que desfrutem deste primeiro e curto instante ao máximo. De agora em diante, não poderão mais se aproveitar do fato de que a organi­zação trotskista que os condena estará isolada dos destacamentos de vanguarda da classe operária que sobre vós marcharão na luta contra a colaboração de classes e pela tomada do poder pelos trabalhadores rumo à edificação de um futuro socialista para a humanidade.

Humberto Rodrigues
fundador e ex-membro do Comitê Cen­tral da LBI, integrante do conselho edi­torial do Jornal Luta Operária e da Re­vista Marxismo Revolucionário;

Nádia Silva
ex-militante da LBI e da TRS;

Luiza Freitas
ex-militante da LBI e da TRS;

Pilar Oliveira
ex-militante da LBI e da TRS

Outubro de 2010



Obs.: Após a I Conferência da LC, em julho de 2013, LC e TMB fazem um balanço do documento acima. Este balanço, chamado "Crítica e Autocrítica" está disponível em http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2013/07/critica-e-autocritica.html