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segunda-feira, 6 de junho de 2016

CARTA SOBRE A LUTA NA FRANÇA

Jovens e trabalhadores franceses anunciam Greve Geral para 14 de junho, durante a Eurocopa
“À medida em que esta lei toca a economia dos trabalhadores, vamos atingir a economia do Euro... até que seja retirada”
Joana Ferreira

Reproduzimos abaixo um importante relato enviado de Paris pela companheira Joana Ferreira, sobre as greves que sacodem o país. A população trabalhadora e a juventude francesas vem sendo ameaçada de perda de direitos históricos similares as medidas do governo golpista de Temer (ataques que Dilma já havia anunciado e iniciado). Assim como aqui, a alegação é a de que a flexibilização trabalhista diminuirá o desemprego. Buscando recuperar seus lucros aumentando a exploração e o parasitismo estatal, os patrões querem impor o tal “negociado sobre o legislado” com negociações individuais ou sob condições desfavoráveis para os trabalhadores e rever os direitos conquistados coletivamente e estabelecidos em períodos favoráveis aos trabalhadores (ascenso operário e estudantil, existência da URSS e dos Estados operários do Leste europeu com pleno emprego e acesso gratuito a saúde, educação que obrigaram as burguesias da Europa Ocidental a instituir o “Estado do Bem estar social”). Segundo o relato da companheira, os lutadores sociais que ocupam as ruas e os locais de trabalho e estudo hoje na França estão determinados porque sabem que estão ameaçados estabilidade e segurança e prometem paralisar tudo. Assim como o Brasil está às vésperas das Olimpíadas, a França sediará a Eurocopa em algumas semanas. As centrais sindicais francesas ameaçam com uma greve geral se o governo não recuar. Aprendamos, mais uma vez, com a luta de classes na França.


Sou estudante, tenho 21 anos, natural do Rio de Janeiro, cheguei na França no fim de 2015, para estudar em Paris. Atualmente estudo francês, e pretendo cursar artes visuais. Venho acompanhando os protestos que a mais de um mês tomam todas as ruas na França, em Paris e cidades regionais, como Lyon, Marseille, Bordeaux, Nantes, Toulouse. Em outras regiões noticiam a paralisação de fabricas, manifestações de caminhoneiros e bloqueio das refinarias de petróleo. Isso ocorre por conta da nova lei do trabalho, que não agradou a 70% da população e por isso exigem a revogação do projeto, pois consideram um retrocesso social nas leis e direitos trabalhistas.

O projeto criado pela Ministra do Trabalho, Myriam El-Khomri, aprovado a força pelo atual Presidente da França, François Hollande, e com o apoio do Primeiro Ministro Manoel Valls, que acusa as mobilizações e paralisações e massas de ser apenas uma "minoria" que está bloqueando o País. O governo alega que essa nova lei do trabalho dará mais flexibilidade aos trabalhadores, e que diminuirá o desemprego, porém os trabalhadores, secundaristas e estudantes, que fazem parte linha de frente nas manifestações, temem pelo seu futuro, eles alegam que com essa nova lei perdem toda a estabilidade e a segurança dos seus direitos trabalhistas, e os patrões poderão achacar diretamente com seus funcionários através de negociações individuais ou acordos coletivos certos direitos que hoje são garantidos por lei.
Os trabalhadores, secundaristas e estudantes com o apoio dos sindicatos como GCT ( Confederação geral dos trabalhadores), CFDT (Confederação Francesa dos trabalhadores), FO ( Força Operária), estão organizando uma greve geral para o dia 14 de junho, e nesse mês a França irá sediar a Eurocopa, com jogos ao redor de Paris, no Stade de France. Eles prometem paralisar tudo: Trem, metro, a distribuição de alimentação nos mercados, até que o governo anule a nova lei do trabalho. Aqui em Paris o confronto das forças de repressão e choque tem utilizado de violência e força abusiva contra todos os manifestantes, que revidam para se defenderem contra essa violência arbitrária.

Eu sinto a energia dos trabalhadores, estudantes e o apoio dos sindicatos, que não baixam as cabeças, diante desse governo autoritário, pseudo "socialista", os trabalhadores franceses resistem fortemente, como um dos líderes do movimento disse em uma reportagem "Foi decidido que à medida em que esta lei toca a economia dos trabalhadores, vamos atingir a economia do Euro... até que seja retirada", ou seja, estão determinados. Com essa determinação vemos já a paralisação da SNCF (Companhia de Trens), que não tem prazo para terminar que tem o apoio de 15 % de grevistas, entre eles os maquinistas. Além disso a luta contra a nova a lei de ataque aos direitos trabalhistas está sendo transplantados de outros movimentos cujo as reivindicações são mais setoriais, como na greve dos sindicatos da Air France que visava a lei El -Khomri.

A luta contra a retirada dos direitos trabalhista na França se alastrou por todo o país, e hoje combina luta econômica com luta contra a retirada de direitos trabalhistas e sociais, e assim, vendo essa determinação dos trabalhadores da França, eles com certeza sairão vitoriosos. 

Notas relacionadas:

Protestos contra a Lei El-Khomri (em francês e inglês)