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domingo, 8 de junho de 2014

GREVE DO METRÔ DE SÃO PAULO

Justiça tucana condena greve, trensaleiro Alckmin ameaça com demissões,
população passa por cima dos fura-greves e adere a catraca livre,...
Mas não será abrindo mão do reajuste salarial e da reposição das perdas, como vem fazendo a direção do sindicato, que vamos vencer!

O sindicato dos metroviários de São Paulo foi obrigado a entrar em greve na primeira semana de junho. Trata-se de uma forte greve que se liga diretamente com a população trabalhadora da maior cidade do país, não só por ser o metrô um dos principais meios de transporte, mas porque a vitória ou a derrota da greve influirá na luta de classes da cidade no próximo período.

Mas, até então, a atual direção do sindicato, ligada ao PSTU e PSOL, gastava, desde 2010, o capital político adquirido quando capitalizou a derrota imposta pela categoria sobre a pelegada da CTB/PCdoB que estava no sindicato há mais de 20 anos. Acreditava que era possível conter o descontentamento da categoria contra o sufoco apenas anunciando que iria fazer greve durante as campanhas salariais e conquistando umas migalhas de cala boca.

Vários elementos foram cruciais para forçar a diretoria a fazer greve este ano: primeiramente o arrocho salarial, que os levou a reivindicar 35,47% de reajuste (7,95% de inflação + 25,5% de reposição das perdas dos últimos três anos segundo o Dieese) [ 1 ]; a piora das condições de trabalho, que fez com que a empresa tivesse um aumento de 50,6% em sua arrecadação, em virtude do aumento de passageiros, enquanto dispararam as panes e os acidentes de trabalho; o estouro da denúncia do trensalão tucano, fazendo com que os trabalhadores fiquem ainda mais revoltados com a tecnocracia corrupta que dirige a empresa e o governo do Estado enquanto passam o maior sufoco; o rechaço de 66,29% da categoria à filiação do sindicato à CSP-Conlutas no plebiscito de quatro de abril que acabou por demonstrar uma profunda desconfianca dos trabalhadores com o conjunto das burocracias sindicais; a onda de greves que faz com que as lutas sejam um bom exemplo para toda a classe e pressione os burocratas, inclusive e principalmente nos transportes coletivos (ferroviários da central do Brasil/RJ e da Sorocabana/SP, condutores de várias cidades do país, incluindo os de São Paulo e do ABC), passando por cima das burocracias pelegas sabotadoras das greves e aproveitando da copa para tensionar a burguesia.

Em assembleias massivas, piquetes e manifestações os metroviários fortalecem a paralisação. Enfrentam a ameaça de demissões do governo Alckmin, o assédio dos chefetes convocando os grevistas a trabalhar por telegramas, e a repressão policial. Passam por cima da justiça burguesa que julgou a paralisação como “abusiva” mas segue tratando ao trensalão como permissivo. É uma luta também contra toda a guerra midiática que esconde a culpa do tucanato pela destruição do transporte coletivo que torna a vida da população um inferno, mas demoniza aos trabalhadores que reivindicam melhores condições de trabalho e de serviço para a população. Em algumas estações abertas por fura greves, como na estação Capão Redondo (linha lilás), no domingo (08/06), a população pulou as catracas por uma hora até a chegada da PM.

Não só o governo Alckmin (PSDB), mas também os governos petistas federal e municipal e o conjunto da burguesia estão extremamente preocupados tanto pelos atrasos e faltas ao trabalho de seus explorados na capital economicamente mais importante do país, quanto pelos prejuízos atuais e futuros que a greve vem a causar há poucas horas do inicio da copa do mundo de futebol em São Paulo. Por este motivo, o governo Dilma cogita cooptar o MTST, agrupamento com maior capacidade de mobilização popular nos últimos meses, incluindo-o no programa "Minha casa minha vida".

DEVIDO A COPA, O TEMPO ESTÁ A FAVOR DA GREVE DOS METROVIÁRIOS

Em campanha eleitoral, o governador deseja demonstrar mão de ferro contra a onda grevista e aplicar uma punição exemplar aos metroviários, mantendo a contraproposta miserável de 8,7%. Alckmin conta com a política do PSTU como partido organizador de derrotas, como nos casos da GM e Pinheirinho, em que o governador tucano conseguiu o que queria a burguesia.

No entanto, apesar da condição estratégica desta categoria para o capitalismo brasileiro, do enorme força do movimento e do tempo estar a favor da paralisação, a direção do sindicato vem por todos os meios buscando um acordo ao custo do rebaixamento da proposta de reajuste salarial de 35% para 16%, depois para 12%, depois para 10%, cogitando agora aceitar algo em torno dos 9,5% sugeridos pelo mesmo Tribunal Regional do Trabalho que julgou a greve ilegal. Esta política, ao contrário do pensamento conciliador do PSTU, conduz a demoralização tanto da categoria quanto da população que começa a pensar que por míseros 1% não vale a pena toda essa luta, jogando assim água no moinho da campanha midiática da direita que chama a greve de "oportunista". Essa política se aproxima do que os pelegos da CTB vem defendendo, e sendo derrotados nas assembleias, de que "a greve em si já é vitoriosa e que é preciso recuar". O PSTU vem seguindo o mesmo script das lutas que traiu no passado, conduzindo à derrota da luta de sem tetos (Pinheirinho) e metalúrgicos (GM e Embraer), inclusive estendendo a política de exigências a Dilma agora também a Fifa.

Os metroviários devem seguir o exemplo dos garis que arrancaram 37% de reajuste passando por cima dos limites políticos de sua direção política e sindical. Alguns dirão que o reajuste dos garis foi correspondente ao seu baixo salário e que não seria possível pagar o mesmo reajuste para os defasados salários dos metroviários. Nós dizemos que o metrô de São Paulo, que transporta cerca de quatro milhões de passageiros por dia, ou seja, que arrecada mais que 10 milhões de reais diários, que pode abrir mão de bilhões de investimentos para alimenar multinacioanais e trensaleiros, também pode pagar muito melhor aos seus escravos e oferecer um serviço melhor aos usuários trabalhadores. Enquanto o PSTU grita que "não vai ter copa", o Sindicato segue a política centrista de ameaçar mas não querer ingressar com a greve dentro da Copa e de alimentar ilusões na multinacional Fifa para que intervenha mais ainda no Brasil. Contra toda a ingerência patronal corrupta e criminosa os revolucionários devem lutar pela catraca livre para toda a população e pelo controle operário do metrô!

É preciso cobrir de solidariedade a greve, ampliando os piquetes e reivindicando o índice de reajuste que está na pauta de reivindicações aprovado no início da campanha salarial de 35,47%. Devemos explorar ao máximo esta condição excepcional que aflinge os nossos adversários de classe que o risco da Copa sem metrô. Esta situação faz com que o tempo esteja a favor desta greve dos metroviários. Por isso: os escravos assalariados do metrô devem tomar o curso inverso ao da política de derrotas adotado pela diretoria sindical e lutar pela conquista do maior número de pontos possível das reivindicações. Nenhum arrego! Greve por tempo indeterminado, durante a copa, até a vitória!

Notas:
1. http://www.metroviarios.org.br/site/images/documentos/pauta_reivindicacoes_2014_oficial.pdf