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domingo, 26 de agosto de 2012

LIBIA E SIRIA

Os que uivaram com os lobos*, CMI e LIT, sofrem na própria pele o preço da traição à luta antiimperialista

Menos de um ano depois da tomada de Trípoli pela OTAN e, quando uma intervenção similar na Síria converte-se em uma conflagração regional, os que apoiaram e apóiam às "revoluções árabes" na Líbia e Síria, na verdade, "contra-revoluções democratizantes" patrocinadas pelo imperialismo, sofrem baixas militantes em suas fileiras partidárias. A LIT (PSTU no Brasil, cuja sigla em inglês é IWL) e a CMI (Esquerda Marxista do PT, IMT em inglês), duas das maiores internacionais pseudo-trotskistas, começam a sofrer rupturas em suas seções no Canadá e Espanha, respectivamente, por sua capitulação à recolonização imperialista.

A INTERNACIONAL DE ALAN WOODS E
A LIT-QI PERDEM MEMBROS NO CANADÁ E NA ESPANHA

A CMI acaba de sofrer uma ruptura na seção canadense, a Fightback. No dia 08 de agosto de 2012, o camarada Alex C. publicou um documento de ruptura opondo o trotskismo à CMI na defesa das neocolônias atacadas pelo imperialismo em seu documento:

“The International Marxist Tendency Versus Trotsky On The Defence of Neocolonies From An Imperialist Attack”

Alex teve o apoio da regional de Toronto da Fightback para abrir a discussão dentro do grupo contra a linha oficial pró-imperialista da IMT.


A LIT sofreu uma ruptura na Espanha. A “Corriente Roja” (ex-PRT) se dividiu. Como afirma, de uma maneira caluniosa, a própria IWF e o que sobrou da “Corrente Roja”: “Um setor minoritário de Corriente Roja encabeçado pela dirigente Nines Maestro decidiu romper com a organização por razões políticas e desgraçadamente de péssima maneira. Ante as revoluções do norte da África e Oriente Médio, contra a opinião da grande maioria da militância de Corriente Roja, este setor se pronunciou pelo apoio às ditaduras da Líbia e Síria”. O setor dirigido por Nines Maestro chama-se Red Roja que emitiu em julho de 2012 a declaração:

“Como en Afganistán, Iraq y Libia, ¡no a la desestabilización imperialista y a la guerra contra Siria!”

Embora tenhamos divergências em outras questões, concordamos firmemente com o camarada Alex

"Se o imperialismo atacar a Síria, devemos tomar o lado da Síria e reivindicar a vitória deste país contra o imperialismo, mantendo a nossa oposição política ao regime de Assad." Fred Weston [dirigente da IMT e principal editor do site In Defence of Marxism] zombou da idéia de um bloco militar, rindo de que é impossível colocar em prática tal política a partir do Canadá. Ele explicou que havia um grupo na seção argentina do CMI que tinha igualmente esta posição de que devemos lutar pela derrota das tropas imperialistas no Afeganistão. Eles estavam certos e camarada Weston estava errado.

Um bloco militar poderia incluir ações comuns como cartazes em uma manifestação afirmando nossa posição, ou tentando organizar as ações dos trabalhadores no Canadá, como o boicote ao envio de armas. Certamente não é mais fácil pôr em prática (a partir do Canadá), a posição atual do CMI - que é a de chamar todos os trabalhadores e revolucionários a se juntarem ao Exercito Livre da Síria, expulsar sua direção burguesa e reacionária e convertê-la em uma organização proletária a partir de dentro do ELS, tudo ao mesmo tempo, evitando confundir-se entre o apoio e a oposição ao imperialismo. Então, novamente somos levados a acreditar que talvez Weston tenha perdido a esperança de que o proletariado possa realmente desempenhar um papel dirigente na Síria e nas outras neo-colônias, e nos simplesmente resta submetermos, ‘inevitavelmente’, a uma direção não-proletária”.

Aqueles que não confiam nas forças do proletariado para derrotar o inimigo imperialista, acabam por seguir direções não proletárias pró-imperialistas.

Também estão certos os camaradas espanhóis que declaram:

"Red Roja se situará en frente de cualquier fuerza política que, llamándose de izquierdas, declare su apoyo político a los colaboracionistas del imperialismo en territorio sirio. Es hora de no repetir los errores de Libia y de trabajar en la generación de un movimiento de rechazo contra toda eventual guerra imperialista, para presionar al gobierno español tratando de dificultar su participación en cualquier posible intervención criminal, además de denunciar toda intervención indirecta o de baja intensidad que, al estilo de la “contra” nicaragüense (y ésta ya se está produciendo), o a través de Turquía, trate de desestabilizar la región al servicio del imperio."

POR UMA FRENTE ÚNICA ANTIIMPERIALISTA INTERNACIONAL

Ainda que nem por um instante nos esqueçamos que Assad é um ditador burguês, assim como eram Kadafi, Saddan Hussein, Galtieri, Chiang-Kai-shek e Getúlio Vargas e ainda que sejamos inimigos de classe das direções capitalistas na Síria, Líbano (Hezbollah), Palestina (Hamas), Irã, Curdistão, não nos confundimos acerca do inimigo principal da classe operária mundial, a grande burguesia imperialista.

Defendemos neste momento a constituição de uma frente única internacional antiimperialista unindo governos e guerrilhas que se enfrentam contra recolonização (abrindo seus arsenais para o armamento de todo o povo na luta pela libertação nacional) como ponto de apoio para uma grande conflagração pela derrota dos agentes do imperialismo em todo Oriente Médio e África.

LUTAR CONTRA O IMPERIALISMO É LUTAR CONTRA O OPORTUNISMO

Ao mesmo tempo, coincidimos com Lenin que alertava que a luta contra o imperialismo não passa de uma frase vazia e falsa se não está ligada indissoluvelmente à luta contra o oportunismo. Por isto, foi a LC no Brasil quem polemizou frente a frente contra o dirigente principal do CMI, Alan Woods em uma palestra do mesmo em São Paulo, como registramos de forma literal e audiovisual em nossa imprensa e em nosso blog:

“A QUESTÃO LÍBIA E O REVISIONISMO DA CMI: Liga Comunista combate posições de Alan Woods e da CMI na USP

Por isto, denunciamos a LIT e seu braço político (PSTU) e sindical (CSP-Conlutas) no Brasil. O PSTU, que como denunciamos, apoiou in loco a invasão e tomada da Embaixada da Líbia no Brasil em Brasília por agentes da monarquia pró-imperialista.
Ana Luiza, do PSTU-LIT, candidata a prefeita de São Paulo em campanha, na frente do Consulado Sírio
na Av. Paulista em ato pela "derrubar a ditadura de Assad", com o programa eleitoral "internacionalista"
em sintonia com os interesses da Casa Branca em uma frente única pró-imperialista
Agora a LIT convoca atos para preparar a mesma investida contra o território de outro país oprimido, o Consulado da Síria em São Paulo. Também desmascaramos a CSP-Conlutas que cada vez mais se integra ao regime burguês brasileiro, levando a grandes derrota às lutas que dirige (Embraer, Pinheirinho, Metrô e GM), que compõe fóruns tripartite de colaboração de classes com governo e patrões, que tem como principal aliado internacional o grupo Batay Ovriere que recebeu 100 mil dólares da agência golpista NED, braço político da CIA em 2004, ano do golpe militar no Haiti, contra o qual naquele momento e efetivamente o BO não se opôs.

Nosso combate a estes traidores da causa antiimperialista também foram nominalmente desmascarados na

“Declaração aos trabalhadores do mundo e à sua vanguarda internacionalista” assinada pela LC-RMG-SF:

“Em defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo! Frente Única Militar com Kadafi para derrotar a OTAN e os ‘rebeldes’ armados pela CIA! Nenhuma confiança no governo de Trípoli! Somente pelo armamento de todo o povo e pela revolução permanente nós poderemos vencer esta luta!”. Neste documento acusamos:

“Os agrupamentos políticos que se reivindicam marxistas, que caracterizam os levantes populares desviados nos países árabes como “revoluções”, são demagogos, que adulam e entorpecem as massas em favor da estabilização de novos governos fantoches burgueses pró-imperialistas. Mas o pior é quando estes grupos, em nome do apoio às massas líbias e da luta pela democracia, se aliam à propaganda de guerra midiática imperialista mundial para camuflar este Golpe de Estado da CIA. Os que neste momento se negam a estabelecer uma frente única militar com Kadafi para derrotar externa e internamente os interesses do imperialismo, traem a luta antiimperialista mundial e a luta contra o Estado genocida de Israel que massacra os palestinos, em particular.
Denunciamos as principais correntes internacionais revisionistas que compartilham formalmente das seguintes posições:
1) caracterizam a existência de uma "revolução árabe" ou "revoluções democráticas" na África e no Oriente Médio;
2) Apóiam os "rebeldes" pró-imperialistas na Líbia
Neste perfil se incluem o Secretariado Unificado da Quarta Internacional (NPA – França, Enlace/PSOL - Brasil); LIT (PSTU - Brasil); UIT (Izquierda Socialista – Argentina, CST/PSOL - Brasil); CMI (Socialist Appeal - Grã-Bretanha, Esquerda Marxista do PT - Brasil); CIO (Partido Socialista - Grã-Bretanha, LSR/PSOL - Brasil); IST (SWP - Grã-Bretanha); L5I (Workers Power - Grã-Bretanha); FT (PTS - Argentina, LER - Brasil); FLTI (LOI-DO - Argentina)”

CUIDADO OPORTUNISTAS E CENTRISTAS TERCEIRO-CAMPISTAS,
A HISTÓRIA NÃO OS ABSOLVERÁ!

E asseguramos: Estas rupturas sofridas por estes traidores foram apenas as primeiras, destes agrupamentos pseudo-trotskistas por nós acusados virão novas rupturas! Mas não só eles sofrerão na pele. Os agrupamentos que sofrem a influência de suas próprias burguesias se opõem a Frente Única Antiimperialista e adotam posições terceiro-campistas (Espartaquistas e COFI, dos EUA e COREP, da França) acreditando terem achado um lugar confortável e tranqüilo na luta entre a ofensiva neo-colonizadora de suas burguesias imperialistas e as nações oprimidas não passarão incólumes. Não apenas continuarão sem avançar um milímetro no recrutamento de militantes entre os povos oprimidos das nações imperializadas como entre os setores mais explorados e imigrantes de suas próprias nações, quanto degenerarão e continuarão definhando em suas fileiras.

Outras correntes centristas originadas em países imperializados, como a FT (PTS argentino e LER brasileira) – acusada pela LIT de realizar um “recuo castro-chavista”– trataram de conter seus ânimos ao que chamavam de revolução árabe do meio para o final da guerra recolonizadora na Líbia e mantem-se mais cautelosos na Síria, tomando uma distância “quase” prudente do CNT e agora na Síria do ELS, evitando a mesmas exposição a que chegou a LIT como caixa de ressonância da propaganda midiática de guerra do imperialismo, acreditam que serão poupados pela luta de classes. Ledo engano.

POR QUE A OFENSIVA IMPERIALISTA NO ORIENTE MÉDIO
PROVOCARÁ NOVAS RUPTURAS NA ESQUERDA PSEUDO-TROTSKISTA?

Na aparência, e sob influencia do bombardeio initerrupto da mídia imperialista mundial é interpretado como uma guerra civil entre uma ditadura burguesa e a população sublevada tendo a sua frente o Exército de Libertação Sírio e outras forças menores, legitimados pela grande imprensa como libertadores do povo do julgo do “carniceiro de Damasco”.

Como uma caixa de ressonância midiática a esquerda psuedo-trotskista ajuda a vender esta fábula. Todavia, o desdobramento desta guerra só não seguiu rigorosamente o modelo líbio de recolonização imperialista pela presença militar em solo e mar sírios de um grande contingente de tropas russas, iranianas e de uma série de outros elementos de resistencia regional que o regime de Kadafi não dispôs. Vale lembrar que na guerra diplomática, Rússia e China baixaram a guarda no Conselho de Segurança da ONU em relação a intervenção da OTAN na Líbia, permitindo a falaciosa “zona de exclusão aérea”. Erro que não cometem agora na Síria, também uma nação cujos vínculos com Rússia, China e Irã são maiores do que os vínculos mantidos pela Líbia.

Os atuais “exércitos de libertação” em ação nestes países, independente dos nomes que venham a adotar, CNT ou ELS, não passam de tropas terrestres do imperialismo, armadas diretamente pelo mesmo ou por governos cipaios a ele associados, como Turquia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar, para reduzir os custos políticos da operação com uma camuflagem autóctone da recolonização e, ao mesmo tempo, evitar maiores desgastes diretos dos governos ianque e europeus neste momento de crises, mega déficits públicos, imposição de medidas de austeridade à população e eleições presidenciais nos EUA. Enquanto pelo menos não garante sua reeleição, Obama não pode meter diretamente os EUA em uma nova guerra que aumente a espetacular dívida pública americana que em fevereiro de 2012 ultrapassou pela primeira vez na história o PIB do país.

Na verdade, na era em que vivemos, todo e qualquer conflito envolvendo governos e forças internacionais camufladas como nos casos da Líbia e Síria ou não, como no caso do Haiti, são conflitos diretos ou indiretos (por procuração) entre o imperialismo e os povos oprimidos. Por que? Porque o domínio imperialista sobre o planeta ampliou-se após o fim da URSS e da guerra fria.

Desde 2006, quando ocorreu a primeira e única derrota militar de Israel, em meio a mais de um século de criação deste gendarme avançado do imperialismo no Oriente Médio, para o Hizbollah de 10 mil guerrilheiros, uma força insurgente cuja existência só foi viável pelo patrocínio do governo de Damasco, a Síria virou a bola da vez. O governo Assad, queira ou não, virou um obstáculo dos apetites do bloco anglo-saxão imperialista, a ser derrotado na ofensiva militar que avançou sobre o Afeganistão, Iraque, Líbia e tem como próximo alvo o Irã, na disputa da região energética mais cobiçada do planeta contra os rivais do bloco China e Rússia.

O apoio a esta ofensiva com bases em seus aspetos aparentes ou sob a influencia da ideologia imperialista provoca invariavelmente dois fenômenos sobre os partidos da esquerda mundial: 1) capitulação ao imperialismo ou 2) crise intra-partidária. No segundo caso, desejamos e militamos para que os elementos que entram em conflito com suas direções pró-imperialistas venham a se agrupar conosco na luta pela reconstrução da IV Internacional como única alternativa progressista a barbárie da recolonização imperialista.

Não, estas rupturas que se seguirão a outras que se gestam neste momento, não são uma “maldição de Kadafi”. Estas rupturas, invocadas pela LCFI há mais de um ano, quando apelávamos aos militantes honestos destes partidos a romperem com suas direções, agora são uma conseqüência direta da luta de classes e não por acaso começam em países imperialistas. Nós trotskistas temos hoje o direito de acusar de traidores aqueles que uivaram com os lobos na Líbia e agora novamente na Síria salivam por mais uma “revolução” imperialista. Nós temos o direito de continuar convocando, de forma firme e criteriosa, os trotskistas de todo mundo, onde quer que eles estejam, a romper com suas direções liquidacionistas, pró-imperialistas e a reconstruir conosco a IV Internacional.

Humberto Rodrigues
Com a colaboração de Ismael Costa


* Utilizando a expressão “aqueles que uivaram com os lobos” parafraseamos as palavras de Leopold Trepper em sua obra “O Grande Jogo: Memórias do dirigente da Orquestra Vermelha, organização de espionagem soviética sobre Hitler na Segunda Guerra Mundial”:

“Quem levantou a voz de indignação? Os trotskistas podem reivindicar essa honra. Seguindo o exemplo de seu líder, que pagou com sua vida por sua obstinação, eles lutaram contra o stalinismo até a morte, e foram os únicos que o fizeram. Na época dos grandes expurgos, só podiam gritar sua rebelião no deserto congelado onde tinham sido arrastadas para serem exterminados. Nos campos, sua conduta foi admirável. Mesmo que sua voz tenha se perdido na tundra. Hoje, os trotskistas têm o direito de acusar aqueles que outrora uivaram com os lobos. Não esqueçam, no entanto, que eles tinham a enorme vantagem sobre nós de possuir um sistema político coerente capaz de substituir o stalinismo. Eles tinha algo a que se agarrar em meio a angústia profunda de ver a revolução ser traída. Eles não ‘confessaram’, porque sabiam que suas confissões não serviam nem ao partido nem ao socialismo.”

Trepper comentou mais adiante na mesma obra: "Entre o martelo do imperialismo mundial e a bigorna do nacionalismo burguês e do revisionismo centrista, o caminho é estreito para aqueles que como nós ainda acreditavam na revolução mundial." Os comentários do dirigente da Orquestra Vermelha nos dão coragem, inspiração e determinação de lutar para esclarecer e ganhar para o trotskismo as novas forças para a revolução mundial vistas nas recentes revoltas populares na Grã-Bretanha, na Grécia, na Espanha, no Chile e nas que rompem com os aparatos partidários revisionistas.