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quinta-feira, 24 de maio de 2012

SADISMO MIDIÁTICO

Abaixo o Estado burguês, a polícia assassina,
a mídia criminosa e o jornalismo canalha!
Em defesa dos presos comuns, pretos e pobres,
filhos da classe trabalhadora!
Do Folha do Trabalhador #12 maio de 2012

Com requintes de crueldade e sadismo a TV Bandeirantes noticiou em rede nacional a "reportagem" "Chororô na delegacia: acusado de estupro alega inocência" no programa “Brasil Urgente”. De forma asquerosa e explícita a grande mídia associada à polícia violentou os direitos individuais de Paulo Sérgio Silva Sousa, de 18 anos, pobre e negro, na 12ª Delegacia Circunscricional de Polícia de Itapuã, em Salvador. A "repórter" (algoz), Mirella Cunha, com a cumplicidade do comentarista Uziel Bueno e a vinculação do vídeo em rede nacional pela Band, condenam o preso como estuprador para angariar audiência às custas da dignidade de quem se encontra em situação de vulnerabilidade. Na entrevista, o acusado nega o estupro. No entanto, a jornalista afirma em tom de escárnio “não estuprou, mas queria estuprar!”, faz piadas, debocha com os erros de português do jovem analfabeto, sente-se a vontade para humilhá-lo e chega a pedir "pau nele" na cadeia e insinuar que gosta de ser sodomizado, por ter confundido exame de próstata com exame de corpo de delito.
http://www.youtube.com/watch?v=Ts4vbLAqQPk&feature=related

O rapaz foi preso no dia 31 de março e, desde então, continua na Delegacia de Itapuã. A entrevista em questão foi realizada dois dias após sua prisão. Paulo Sérgio é réu primário, vive nas ruas desde criança, apesar de ter residência. Tem seis irmãos, é analfabeto e já vendeu doces e balas dentro de ônibus. Ao ser questionado sobre como se sentiu durante a entrevista, ele diz: “Eu me senti humilhado, porque ela ficou rindo de mim o tempo todo. Eu chorei porque sabia que ali, eu iria pagar por algo que não fiz, e que minha mãe, meus parentes e amigos iriam me ver na TV como estuprador, e eu sou inocente”. 



"Reportagens" como esta vão ao ar todos os dias nos telejornais cada vez mais policialescos. E uma parte da população  percebe que isto é mais uma humilhação do gênero que fazem contra pobres e pretos, filho da classe trabalhadora que como Paulo Sérgio não encontraram outra perspectiva na vida que roubar em meio à miséria capitalista. Todos viram que o tratamento é oposto quando se trata dos filhos da burguesia, dos “grandes empresários”, de Thor, filho do Eike Batista (o gatuno mais rico do Brasil) que atropela e mata nossos irmãos, ou o Carlinhos Cachoeira, a Delta, a Veja, os governadores (Marconi Perillo/PSDB; Agnelo Queiroz/PT, Sergio Cabral/PMDB) do governo federal que fazem as maiores maracutaias, roubando de forma “legal” e ilegal o dinheiro que poderia servir para construir escolas e hospitais ou para aumentar nossos salários. Ambos os milionários tem como advogado de defesa ninguém menos o ex-Ministro da Justiça e tem garantidos todos seus direitos constitucionais porque pertencem à burguesia. 



A justiça dos ricos, depois de explorar, bater e prender ainda humilha cruelmente as verdadeiras vítimas de sua exploração. Não por coincidência, o perfil do garoto humilhado é o padrão da maioria da juventude brasileira, quem mais sofre torturas, assassinatos e violência pelo racista e criminoso aparato repressivo policial do Estado. 



Como neste caso escandaloso de truculência midiática, diante das greves dos trabalhadores dos transportes coletivos (metrô, ônibus e trens) desta semana, a postura da imprensa burguesa fica ainda mais explícita mesmo para quem percebe menos sua parcialidade. A mídia manipula as informações e as imagens para justificar a condenação de seus adversários de classe. 


A agressão é não apenas produto da canalhice da repórter, ou de “um tipo de mau jornalismo, o sensacionalista” mas da expressão “mais popular” da imprensa de classe, agravado pelo fato de vivermos a época mais decadente do capitalismo, a sua barbárie. Não é de hoje que a mídia participa da luta de classes como um poder coadjuvante da classe dominante para justificar o aumento da opressão policialesca sobre a população trabalhadora de conjunto. 

COMO A CLASSE MÉDIA, A MÍDIA E O ESTADO TRATAM O EPISÓDIO - E COMO OS TRABALHADORES, AS VÍTIMAS DESTE SISTEMA IMUNDO, PRECISAM TRATÁ-LO 

Um setor significativo da classe média, já bastante fascistizado, não viu nada de mais na reportagem, pelo contrário, acredita que é assim que se separam os “cidadãos de bem” da “escória”, defende a pena de morte e incentiva este tipo de linchamento midiático da população pobre seja com contornos “jornalísticos-policialescos” ou “humorísticos”. Este setor crescente se sente cada vez mais a vontade para exercer seu "direito de opinião" para atacar o direito a existência dos setores mais oprimidos da população, como o famoso caso de Mayara Petruso que disse que "nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado” . Na mesma onda, o fascistóidezinho Boris Casoy, hoje também na Band, faz escárnio dos trabalhadores da limpeza ("Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. Dois lixeios, o tom mais baixo da escala do trabalho") ou destila seu veneno contra as greves. 

Outra ala da pequena burguesia se diz chocada com o “deboche exagerado”, com a falta de ética e realiza sua militância virtual das redes sociais, posta no facebook e no twitter denúncias e condenações contra “o sensacionalismo” e contenta-se com a demissão da repórter com ares de dever cumprido. Alguns vão mais além, mas não muito. Limitam-se a defender os direitos e garantias individuais formais constitucionais, repudiam este tipo de programa policialesco e recomendam mudar de canal. Alguns são “mais radicais” e disparam com ar esnobe: é por isto que eu não assisto mais TV aberta! 

A emissora criminosa, para não ser chamada a atenção por seus anunciantes que não desejam ser associados com o preconceito de classe explícito, tratou de tirar o corpo fora, ameaçando demitir a jornalista que, sendo uma canalha, se esforçou ao máximo para levantar o ibope do circo dos horrores e promover-se como uma chicoteadora de animais selvagens. Por um ou dois programas os Datenas nacionais e estaduais e seus similares tratarão de olhar para o lado enquanto os programas CQC, Pânico, “Pegadinhas” da Globo ou do SBT e de outros imbecis seguirão como de costume esculachando a nossa classe e disseminando os preconceitos sociais e raciais da burguesia contra a população trabalhadora em geral. 

As ONGs bancadas com a verba do imperialismo e das grandes empresas tratarão de “protestar” contra o racismo impregnado em toda a sociedade para encobrir que não existe capitalismo sem racismo, como dizia Malcolm X. 

A coordenação do Núcleo Criminal do Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA) apresentou na quarta-feira (23) representação pedindo a adoção de medidas cabíveis contra a repórter da Band. O MPF moverá uma ação, mas apenas contra a repórter, embora ela não responda pela linha editorial do programa da Band. A defensoria pública limitou-se até agora a colher o depoimento de Paulo Sérgio. 

Os parlamentares do PT, PCdoB e PSOL e também dos partidos da oposição burguesa vão fazer algum proselitismo midiático com o tema tentando atrair os eleitores negros baianos e de outros Estados para votarem por suas candidaturas enquanto eles fortalecem o poder deste Estado criminoso, assassino e racista. 

O governo do Estado capitaneado por Jaques Wagner do PT e a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia dão entrevista dizendo que tratarão de “apurar os fatos e tomar as providências cabíveis” até que assunto saia das manchetes. 

A massa trabalhadora, cada vez mais criminalizada, perseguida e reprimida, precisa, por sua sobrevivência e a de seus filhos, pensar como classe trabalhadora, não pode se contentar com as medidas cosméticas e pontuais que conformam e consolam as classes mais abastadas, precisa fazer manifestações nas prisões, delegacias e nas ruas, lutar pela plena garantia de todos seus direitos individuais e civis, pelo indulto, garantir o direito de só dar entrevista a imprensa após possuir advogados, lutar pela expropriação de todos os meios de comunicações para estatizá-los e colocá-los sob o controle dos trabalhadores, pela destruição de todo o aparato repressivo policial. Para impulsionar o conjunto destas lutas imediatas, democráticas e socialistas, para realizar tudo isto, é claro que precisamos de uma organização política a nível superior do que as associações de moradores e sindicatos tal como temos agora, precisamos de um partido que não sirva a esta canalha burguesa nem tenha como fim cargos neste regime cruel, mas a luta pela revolução social e o governo operário e dos trabalhadores. Foi para dar voz e capacidade de organizar-se para defender-se aos que são vítimas desta rede de mentiras institucionalizada que criamos o Folha do Trabalhador.