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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

NOVA CRISE ECONÔMICA MUNDIAL

O imperialismo enfrenta sua pior crise financeira, econômica e política desde os anos 30
Declaração do Comitê de Ligação pela Quarta Internacional - CLQI
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dO Bolchevique # 6

As revoltas populares britânicas que começaram em Tottenham em 06 de agosto, após a polícia ter baleado Mark Duggan, foram o resultado da contenção da luta de classes pela burocracia sindical em favor da classe capitalista
Os EUA ainda são a única superpotência importante em termos de poderio militar. O bloco da potência imperialista rival e dos países emergentes composto pela Alemanha e pelos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que se absteve de votar a favor de uma zona de exclusão aérea na Líbia na ONU, se vê forçado a aceitar esta situação. A  Alemanha, a Rússia e a China foram obrigadas a aceitar que o poder militar dos EUA e seus aliados Grã-Bretanha, França e outros pequenos países europeus imperialistas não pode ser contestado em uma escala global. É claro que este bloco rival é muito mais fraco, pois não tem poder econômico para substituir o dólar e sua força militar nem de longe se aproxima da força militar dos EUA e seus aliados.



Existem, fundamentalmente, duas teorias opostas sobre o imperialismo mundial. Como leninistas não acreditamos que seja possível, em última instância, que os conflitos inter-imperialistas possam ser plenamente resolvidos como pensava Karl Kautsky. Estes conflitos conduzirão, inevitavelmente, a uma Terceira Guerra Mundial em que a saída da revolução mundial estará colocada frente à alternativa da barbárie.

Acreditamos que a terminologia sociológica de um mundo multi-polar possa agora receber algum crédito, com o declínio do imperialismo estadunidense e a ascensão das economias asiáticas – estas últimas correspondem a quase 36% do PIB mundial, enquanto os EUA e a UE, detém cerca de 20% cada e o resto do mundo aproximadamente 24%. Mas a relação é muito diferente quando se trata de gastos militares. O orçamento militar dos EUA corresponde a 43% das despesas mundiais, quase seis vezes mais que seu rival mais próximo, a China. Os EUA têm acusado a China de maquiar os seus gastos militares, mas "não existe este tal ocultamento das despesas militares da China", contestou Li Zhaoxing, porta-voz da Quarta Sessão da 11ª Assembléia Popular Nacional, em 4 de março deste ano, em uma coletiva à imprensa anunciando o orçamento do país. Seja qual for a verdade dessa alegação o grande desequilíbrio nos orçamento militares não pode ser negado.

Mas em termos econômicos, o movimento é diferente. Basta ver o gráfico do PIB. A Ásia passa por um forte crescimento, tendo a China na vanguarda. Os EUA e a Europa estão em declínio, não só relativamente, mas em termos absolutos também. Portanto, as rivalidades imperialistas e as tensões continuam a crescer. De acordo com o site de David Marsh, o Observador Econômico, em 22 de agosto de 2011, “A Alemanha foi forçada a fazer uma escolha: nós ou eles?”:

"A reunião entre o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã Ângela Merkel, que trouxe mais promessas de criação de um "governo econômico" (chamado, inutilmente, de "direção econômica" em alemão), previsivelmente não conseguiu acalmar os mercados. Como não há um comprador final capaz de repelir o contágio do mercado de títulos, o assalto viral chegou agora a Berlim. Muitos empresários apoiadores de Merkel estão desconfortavelmente cientes de que o comprometimento da Alemanha e de outros países credores com o endividamento dos outros estados do euro marca o fim gradual da própria invulnerabilidade econômica da Alemanha."

A lógica da crise está forçando a Alemanha a escolher pela redivisão do bloco europeu, independente do que seja feito. Se for para salvar a Itália e a Espanha, depois do salvamento da Grécia, Irlanda e Portugal - e a França também está em apuros - como se conseguirá evitar a hiperinflação e um colapso econômico? Como Marsh diz:

"Wolfgang Reitzle, o bem conceituado chefe da gigantesca indústria de gás Linde, diz que apoia o euro 'mas não a qualquer preço'. Kurt Lauk, o chefe do Conselho Econômico democrata cristão de Angela Merkel e ex-diretor financeiro do grupo Daimler e da empresa energética Veba (ex-Eon), chega a cogitar uma 'reforma monetária' se as medidas de apoio ao euro não surtirem resultado".

A China que está sendo invocada desesperadamente para comprar dívidas públicas europeias a fim de recuperar o valor do Euro, exige uma nova moeda de reserva internacional estável para substituir o dólar. Mas, no momento, há poucas perspectivas de que estes movimentos venham a acontecer. As guerras no Iraque e na Líbia forçaram os regimes a abandonar o dólar. O Iraque segue o Irã e propõe comercializar o petróleo em euros. A Líbia reivindica usar o ouro como reserva para o dinar, pressionando por um novo movimento internacional pela restauração do padrão-ouro para todas as moedas.

“SEGUNDO MERGULHO” PÓS-2008 OU UMA NOVA E MAIOR CRISE GLOBAL?

Em que estágio se encontra a crise econômica global? É claro que a teoria do chamado "segundo mergulho" não explica nada. O CLQI suspeita que a atual crise expressa o esgotamento de um ciclo marcado pela hegemonia do padrão-dólar. Estamos entrando em uma nova crise do capitalismo global.

Quando Nixon abandonou o padrão-ouro em 1971 (e de forma eficaz impôs uma moratória em sua dívida internacional) cada onça de ouro valia 35 dólares [A cotação internacional do preço do ouro é realizada pela medida da onça troy que equivale a 31,10 gramas de ouro 24 quilates]. Agora a onça troy custa aproximadamente 1.700 dólares [de 1971 a 2011 o dólar se desvalorizou 4.857% frente ao ouro, uma expressão de que o resto do mundo financia a dívida pública dos EUA]. 


O estabelecimento de uma divisa global baseada no ouro hoje exigiria ouro a um preço muito mais alto e também exigiria a liquidação das dívidas acumuladas ao longo dos últimos 40 anos desde a decisão fatídica de Nixon, o que está fora de cogitação para o imperialismo. Mas, não há alternativa. Preparar o planeta para o estabelecimento desta moeda global significa incrementar a exploração da classe trabalhadora de forma combinada nas metrópoles e semi-colônias, o que exigiria de fato uma III Guerra Mundial, porque a classe trabalhadora não vai tolerar isso e os imperialismos rivais não aguentam continuar sustentando a economia dos EUA através da manutenção do dólar como moeda de reserva global. O resultado da capacidade do Tesouro dos EUA para imprimir dólares em exercícios de “Flexibilização Quantitativa" obriga aos demais países do mundo a pagar as dívidas dos EUA e, portanto, a financiar os enormes gastos militares dos EUA que visam, em última instância, a guerra contra eles.

As manobras da França contra a Itália durante a Guerra contra a Líbia revelam o crescimento do protecionismo no pensamento da classe dominante e uma aparente irracionalidade da unidade entre os invasores. Mas, na realidade estes são interesses de classe perfeitamente racionais dos capitalistas que se sobressaem nesta crise.

Os EUA estão provocativamente patrulhando o Mar da China Meridional e fomentando a disputa por quatro grupos distintos de ilhas reivindicados pela China. Um artigo recente do jornal estatal China Daily Times descreveu o Mar da China Meridional como um "segundo Golfo Pérsico". Segundo um artigo do site WSWS sobre a crise entre os EUA e a China em 26 de Julho de 2011:

"O Mar da China Meridional é também a passagem principal para as importações energéticas chinesas. Cerca de 80% de todo o petróleo dirigido à China passa pelo Oceano Índico a partir do Oriente Médio e da África, entrando no Mar da China Meridional, através do Estreito de Malaca. Outras economias asiáticas, incluindo o Japão e a Coréia do Sul, são igualmente dependentes da passagem diária de navios petroleiros através do Mar da China Meridional, fazendo a rota naval um ponto estratégico fundamental"

Após a guerra imperialista contra a Líbia, a China, que vem sofrendo uma evidente perda de influência e de contratos comerciais naquele país e no restante do continente africano, fez um alerta contundente aos EUA. Segundo o Times da União Européia em 22 de maio de 2011:

"A China alertou oficialmente aos Estados Unidos que o ataque planejado de Washington sobre o Paquistão será interpretado como um ato de agressão contra Pequim. Este aviso contundente representa o maior ultimato recebido pelos EUA em meio século, recordando ao alertas da União Soviética durante a crise de Berlim de 1958-1961 e indica um grave perigo de guerra geral crescente para além de um conflito EUA-Paquistão... Imediatamente após a operação que assassinou Bin Laden, respondendo aos repórteres, o representante da China pediu aos EUA que respeite a soberania do Paquistão. O porta-voz da diplomacia chinesa, Jiang Yu, afirmou de forma categórica, na conferência de imprensa de 19 de maio, que Pequim reivindicava que 'a soberania territorial e a integridade do Paquistão devem ser respeitadas.'"

De acordo com fontes diplomáticas paquistanesas citadas pelo Times da Índia, a China


"advertiu em termos inequívocos de que qualquer ataque contra o Paquistão seria interpretado como um ataque à China". Este ultimato teria sido entregue no dia nove de maio no Diálogo Econômico Estratégico China-EUA em Washington, onde a delegação chinesa foi liderada pelo vice-primeiro-ministro Wang Qishan e pelo Conselheiro de Estado Dai Bingguo. Os avisos chineses estão implicitamente apoiados por mísseis nucleares, incluindo 66 mísseis balísticos intercontinentais, alguns capazes de atacar os Estados Unidos, além de 118 mísseis faixa intermediária, 36 mísseis lançados por submarinos, e numerosos sistemas de curto alcance."


Os EUA são responsáveis por 43% do total de gastos militares do mundo, seguido de longe pela China (7,3% da quota mundial), Reino Unido (3,7%), França (3,6%) e Rússia (3,6%)


O que isso significa para o futuro do mundo semi-colonial? É claro que há uma nova guerra de rapina pela África, uma guerra que, aparentemente, não custou uma única vida da OTAN e que irá desembocar no plano que o General Wesley Clark revelou à repórter Amy Goodman na famosa entrevista em setembro de 2001, logo após os ataques ao WTC, onde ele relata uma conversa dentro da alta cúpula do Pentágono:


"Eu perguntei: Ainda vamos fazer uma guerra contra o Iraque? Ele disse: Pior que isso! E pegando um papel de cima da mesa, me mostrou e disse: Isto acabou de chegar do Secretário de Defesa. Aqui diz que vamos tomar sete países em cinco anos, começando pelo Iraque e depois a Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e terminando pelo Irã." (Democracy Now, 02/03/2007).

Eles estão um pouco atrasados, mas estão chegando lá. Fica claro que a Síria é o próximo alvo, sendo a oposição a Assad, apesar das exigências legítimas dos protestos iniciais, completamente subordinada aos interesses do imperialismo. A "Guerra ao Terror" trouxe morte e destruição para milhões no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Somália, Iêmen, etc., mas tem encontrado uma resistência feroz; as vitórias não tem sido fáceis para o imperialismo.


As guerras minaram a força econômica e política dos EUA e fortaleceram o Irã como potência regional, o oposto das intenções dos EUA, que estão sofrendo uma derrota no Afeganistão. Além disso, na última década, a ascensão da China avançou em ritmo acelerado, enquanto as potências imperialistas mundiais dos EUA e da Europa têm declinado. Agora os tambores de guerra voltam a rugir. Os EUA estão ameaçando novamente o Paquistão e a Síria. O novo governo do CNT na Líbia está ameaçando a Argélia e a guerra contra o Irã parece inevitável. Na verdade, podemos estar vendo guerras precursoras de uma III Guerra Mundial. Mas as conflagrações globais trazem em seu bojo revoluções que para serem vitoriosas precisam se desenvolver em escala global.

Temos a certeza de que as revoltas populares na Grã Bretanha que começaram em Tottenham em 06 de agosto, após a polícia ter baleado Mark Duggan, são lições para as revoluções futuras. As revoltas foram um reflexo da profunda raiva e desespero de toda uma geração de jovens para os quais foi negado o futuro, que foram jogados na criminalidade e submetidos a opressão. A economia entra em uma nova fase de crise. A crise do sub-prime e das dívidas dos bancos vem sendo substituída pela crise das dívidas de nações inteiras, crises de dívidas insolúveis. Os comentaristas burgueses voltam a citar Marx e Lenin fazendo referências à crise cambial. Estas revoltas foram o resultado da contenção da luta de classes pelas burocracias sindicais em favor da classe capitalista, como também a luta dos estudantes secundaristas e universitários chilenos exigindo um ensino gratuito e de qualidade expressa a revolta contra a política neo-liberal do governo da extrema direita que provocou terríveis níveis de desigualdade. Estes movimentos foram semelhantes às revoltas da França no final de 2005 e dos piqueteiros na Argentina, em 2001-2.

Nos próprios EUA, a potência imperialista mais poderosa que o mundo já viu, onde praticamente os sindicatos foram proibidos após os ataques aos direitos sindicais em Wisconsin em fevereiro de 2011, os relatos do site WSWS sobre as últimas estatísticas da pobreza nos EUA são os seguintes:

"A taxa de pobreza aumentou quase um ponto percentual completo, de 14,3% em 2009. Foi o terceiro aumento consecutivo anual na taxa de pobreza e o quarto aumento consecutivo anual do número de pessoas que vivem na pobreza. Em 2010 havia 46,2 milhões de pessoas, quase 1 em cada 6 habitantes, vivendo abaixo da linha-oficial da miséria, incluindo 16,4 milhões de crianças. Destes, cerca da metade, ou 20 milhões, foram descritos como vivendo na extrema pobreza, sobrevivendo com menos de metade da renda que o governo dos EUA diz que é necessário para cesta-básica, moradia, roupas e bens de consumo. Essa medida do governo que estabelece uma fronteira para a pobreza - cerca de US$ 22 mil para uma família de quatro e US$ 11 mil para uma única pessoa com menos de 65 - é insuficiente para manter um padrão de vida decente. A medida mais precisa seria o dobro da linha oficial da miséria, ou seja, cerca de US$ 44 mil para uma família de quatro pessoas. Mais de 100 milhões de americanos, 1 em cada 3, estão abaixo deste limiar.”

Como Trotsky afirmava, “as leis da história são mais poderosas que o mais poderoso aparelho burocrático”. Os burocratas serão varridos e o conjunto da classe vai voltar a lutar pela sua vida e pelo seu futuro em nível mundial. Isto requer uma nova internacional trotskista, uma quarta internacional recriada. Essa é a tarefa primordial que a crise atual apresenta para todos os militantes marxistas internacionalistas.

Para que os trabalhadores saiam da defesa e partam para o ataque, é preciso ter a compreensão da nova conjuntura que se apresenta no horizonte, de crises inter-imperialistas e mais ofensivas contra o proletariado mundial. Só então poderemos estabelecer um programa de ação para organizar a resistência política das massas. Para organizar esta resistência na perspectiva da revolução permanente e internacionalista é que nasce o CLQI.

15 de setembro de 2011
Liga Comunista - Brasil
Luta Socialista - Grã Bretanha