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terça-feira, 4 de outubro de 2011

LÍBIA

A queda de Trípoli revela o novo equilíbrio mundial de forças entre as classes
Declaração do Comitê de Ligação pela Quarta Internacional - CLQI
do O Bolchevique # 6
A OTAN toma Trípoli sob a máscara dos ‘rebeldes’ monarquistas do CNT
Na noite de 21-22 de agosto de 2011, Trípoli caiu para os “rebeldes” do CNT, agentes do imperialismo mundial, com o auxílio de bombas da OTAN, das Forças Especiais de vários países imperialistas e das tropas envidadas pelo Qatar e pelos Emirados Árabes Unidos.
Apesar do fato de que segue existindo uma potencial resistência, é claro que a OTAN e os seus lacaios, os rebeldes do CNT, desferiram um duro golpe contra a independência da Líbia. Nós não sentimos nenhuma satisfação em ter as nossas piores previsões confirmadas.
Na DECLARAÇÃO AOS TRABALHADORES DO MUNDO E À SUA VANGUARDA INTERNACIONALISTA, da Liga Comunista do Brasil, Grupo Revolucionário Marxista da África do Sul e Luta Socialista da Grã-Bretanha, 21 de abril de 2011, nós dissemos:


"A maior prova de que os “rebeldes” líbios não passam de carniceiros agentes do imperialismo é o fato de invocarem o bombardeio da OTAN contra o seu próprio povo, como fizeram os colaboracionistas em todos os momentos da luta de classes, desde Thiers na Comuna de Paris (1871) até o Líbano (2006). A cada dia que passa fica mais evidente que os agentes nativos do imperialismo são meros abre-alas para a intervenção multinacional no país. São racistas e xenófobos, inimigos da classe operária negra africana que trabalha na Líbia. Em nome da caçada aos ‘mercenários de Gadafi’, perseguem os negros para de fato desvalorizar ainda mais a força de trabalho no país, preparando-a para a super-exploração da nova era de extrema rapina imperialista. Os ‘rebeldes’ líbios são um bando burguês, de trânsfugas do regime Gadafi a serviço do grande capital internacional."

Nós não fazemos qualquer concessão aos apologistas da burguesia nacional do chamado terceiro mundo que procuram embelezar Gadafi, anular ou desculpar seus crimes contra a classe operária e assim marginalizar a luta política internacionalista do trotskismo pela revolução mundial:

"Foi a política anti-operária e neoliberal de Gadafi da última década que pavimentou o caminho desta ofensiva reacionária imperialista. Gadafi estabeleceu novos acordos com o imperialismo, destruindo as conquistas dos processos de nacionalização dos meios de produção e das riquezas energéticas pós-1969. Gadafi proibiu os sindicatos e as greves e realizou acordos racistas anti-imigrantes com Berlusconi, patrocinou a campanha eleitoral do fascistóide Sarkozy, privatizou e fez leilões com as riquezas energéticas da Líbia. Deste modo, o caudilho de Trípoli perdeu popularidade junto à população líbia e africana e alimentou o apetite de setores da burguesia nativa em negociar diretamente com o imperialismo, livrando-se do Clã Gadafi."

Há hoje entre as organizações de esquerda uma idéia muito difundida:

"Apesar das contradições do processo, a vitória dos rebeldes na Líbia fortalece as chances da revolta na Síria, Iêmen e no Bahrein. Se Gadafi tivesse vencido, Assad e outros tiranos teria se fortalecido para reprimir com maior vigor."

O que nós temos a dizer sobre isto? Que certamente esta não é a situação atual. Como Trotsky explicou muito bem sobre a Abissínia, China e Brasil (de maneira hipotética), em 1936, 1937 e 1938, respectivamente. Qualquer vitória do imperialismo reforça o chauvinismo e a reação propagados pela burocracia sindical sobre a classe operária das metrópoles onde o imperialismo deve ser fundamentalmente derrotado, abalando assim o avanço da luta da classe operária mundial. Esta vitória também fortalece as direções pró-imperialistas em todos os demais países envolvidos na "Primavera árabe". Esta vitória só pode apontar na direção de nossa derrota. O argumento de que a derrota de Gadafi vai permitir que a classe trabalhadora se organize como classe nesta região ignora o fato de que a classe operária é uma classe global; e um ataque sobre seus setores mais organizados não vai facilitar a ação dos demais. Este foi um argumento utilizado por boa parte da vanguarda para aderir a Ieltsin em 1991. Quem considerando-se um marxista sério não reconhece agora que aquele acontecimento [o fim da URSS pela mão de Ieltsin] foi uma vitória para o neoliberalismo imperialista e uma derrota para a classe trabalhadora mundial? Não foi por acaso que este outro "04 agosto" para a maioria da esquerda, estes agrupamentos saíram na defesa da "democracia" em detrimento das relações de propriedade nacionalizadas da URSS. [Fazemos referência aqui ao 4 de agosto de 1914, quando o partido mais identificado com o marxismo revolucionário em todo planeta, a social democracia alemã, votou em favor da concessão de créditos de guerra para o Kaiser para patrocinar a Primeira Guerra Mundial e começar sua matança em massa de toda uma geração de jovens para resolver a crise da queda da taxa de lucro. Acreditamos que assim como em 1914 e em 1991, a posição da maioria dos que se dizem marxistas revolucionários sobre a Líbia também foi um “04 de agosto”, uma traição histórica a luta antiimperialista do proletariado mundial].

Na Líbia, uma derrota do imperialismo não o permitiria restabelecer seu status quo. Gadafi seria obrigado a prometer a re-nacionalização da indústria petroleira e a realizar o armamento das massas. Como Trotsky argumentou sobre o Brasil:

"Se a Inglaterra saísse vitoriosa, ela colocaria outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. Se o Brasil, pelo contrário, se saísse vitorioso, isto daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura Vargas. A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, desferiria um golpe sobre o imperialismo britânico e daria um impulso para o movimento revolucionário do proletariado britânico. Realmente, é preciso não ter nada na cabeça para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. É preciso saber distinguir os exploradores, os escravagistas e os ladrões por trás de qualquer máscara que eles utilizem!” ("A luta anti-imperialista é a chave para a libertação", Uma entrevista de Leon Trotsky a Mateo Fossa, 23/09/1938)

O ponto central de nossa declaração anterior foi o chamado a Frente Única Militar Anti-Imperialista (FUMAI). Nossa posição foi leninista porque mantivemos nossa completa independência política do Imperialismo e de Gadafi. Com esta posição, tivemos uma enorme vantagem sobre outros agrupamentos. Honramos o trotskismo enquanto outros "trotskistas" traíram a sua essência. Acreditamos que esta tática dá continuidade no que há de melhor da tradição de frentes defensivas do bolchevismo e do trotskismo: Rússia 1917 (Kornilov), Alemanha 1933 (Adolph Hitler), Abyssinia 1935 (Haile Selassie), China 1937 (Chiang Kai-shek), Brasil 1938 (Getúlio Vargas).

É importante abstrair as lições desta luta sobre a Líbia. Este conceito de defesa tem uma vasta aplicação a outras situações similares. A derrota dos Estados Operários ainda existentes da Coréia do Norte e Cuba, de qualquer nação oprimida semi-colonial ou das organizações guerrilheiros que combatem militarmente o imperialismo, como os republicanos irlandeses, as FARC colombianas, o Talibã, os combatentes iraquianos, os maoístas na Índia e no Nepal [onde há um setor a romper com os que ingressaram no governo de coalizão burguês], etc. é uma derrota para a classe trabalhadora global na sua luta contra suas próprias classes dominantes. A luta anti-imperialista é uma parte absolutamente essencial da luta de classes. Ao mesmo tempo, não podemos ser identificados com os falsos trotskistas como Michel Pablo, Ernest Mandel, Guillermo Lora, Nahuel Moreno, James Cannon, Joseph Hansen, Pierre Lambert, Pierre Frank, Alain Krivine, Gerry Healy, etc, que ideológica e politicamente capitularam perante o stalinismo e a pequena burguesia nacionalista semi-colonial, como Tito, Mao, Bella Ben na Argélia, Castro, Gadafi, Saddam Hussein, Yasser Arafat, etc. e muitos outros. Temos que marcar as diferenças de classes na nossa orientação de luta contra o imperialismo. Nós reivindicamos de uma forma crítica mas incondicional a defesa dos estados operários burocratizados, das nações oprimidas e das organizações guerrilheiras contra o imperialismo. Esta é a pedra de toque pela qual julgamos todos os movimentos internacionais; a favor ou contra o capitalismo financeiro global, o imperialismo, ou seja, o inimigo principal de todo progresso da humanidade.

Como o Comintern em seu início, nós consideramos esta como uma extensão natural da tática da Frente Única (FU), na luta de classes nacional, com os dirigentes sindicais do movimento operário, em uma frente sem patrões e contra eles sempre que necessário para levar a luta à vitória. Esta é uma frente única da base a cúpula para desmascarar as falsas direções da classe trabalhadora e mobilizar as massas de forma independente para que estas superem sua direção no decorrer da luta. Este é o princípio central da tática de organização das bases nos sindicatos, sem capitular a burocracia sindical, agitar as massas para mobilizar a classe em uma ação combinada com uma propaganda focada em ganhar para o trotskismo a consciência dos líderes naturais da classe que emergem das lutas mais sérias.

Por tudo isto, parafraseando as famosas palavras de Leopold Trepper em sua obra “O Grande Jogo: Memórias do dirigente da Orquestra Vermelha, organização de espionagem russa sobre Hitler na Segunda Guerra Mundial” nós podemos dizer: "Entre o martelo do imperialismo mundial e a bigorna do nacionalismo burguês e do revisionismo centrista, o caminho é estreito para aqueles que como nós ainda acreditavam na revolução mundial."

Os comentários do dirigente da Orquestra Vermelha nos dão coragem, inspiração e determinação de lutar para esclarecer e ganhar para o trotskismo as novas forças de que a revolução mundial vistas nas recentes revoltas populares na Grã-Bretanha, na Grécia, na Espanha, no Chile e em outros lugares. Trepper comentou mais tarde, no mesmo livro:

“Quem levantou a voz de indignação? Os trotskistas podem reivindicar essa honra. Seguindo o exemplo de seu líder, que pagou com sua vida por sua obstinação, eles lutaram contra o stalinismo até a morte, e foram os únicos que o fizeram. Na época dos grandes expurgos, só podiam gritar sua rebelião no deserto congelado onde tinham sido arrastadas para serem exterminados. Nos campos, sua conduta foi admirável. Mesmo que sua voz tenha se perdido na tundra. Hoje, os trotskistas têm o direito de acusar aqueles que outrora uivaram com os lobos. Não esqueçam, no entanto, que eles tinham a enorme vantagem sobre nós de possuir um sistema político coerente capaz de substituir o stalinismo. Eles tinha algo a que se agarrar em meio a angústia profunda de ver a revolução ser traída. Eles não ‘confessaram’, porque sabiam que suas confissões não serviam nem ao partido nem ao socialismo.”

18 de setembro de 2011
Liga Comunista - Brasil
Luta Socialista - Grã Bretanha



Em seguida serão publicadas as declarações do CLQI:


“Aqueles que 'uivaram com os lobos' e aqueles que
tomaram uma posição neutral sobre a guerra na Líbia”
14 de setembro de 2011

O imperialismo enfrenta sua pior crise financeira,
econômicas e políticas desde os anos 30'
15 de setembro, 2011